Capítulo 05

Nyla | dia 8 de agosto de 2019

As horas passavam, mas eu não conseguia desligar minha mente. Era como se uma parte de mim estivesse em constante alerta, esperando algo. Thorne estava por toda parte — em meus pensamentos, nos meus sonhos e até nos meus pesadelos. O problema? Eu não sabia mais distinguir o que era real do que era imaginado.

Dois dias se passaram desde o último encontro com ele na floresta, e eu fiz de tudo pra me manter ocupada. Ajudei minha mãe com as tarefas, limpei a casa, até dei uma volta pela cidade, só pra tentar afastar os pensamentos que insistiam em voltar. Mas nada adiantava. A cada segundo que passava, o desejo de voltar à floresta crescia. Como se algo me puxasse para lá, um chamado impossível de ignorar.

UM

Eu ainda tentava entender o que Thorne tinha dito — sobre ser marcada, sobre a conexão, e principalmente, sobre ele ser um lobisomem. Por mais absurdo que isso soasse, uma parte de mim sabia que era verdade. Meu corpo estava reagindo de maneiras que eu não conseguia explicar. Era como se estivesse esperando por alguma coisa… ou por alguém.

Sentei na varanda de casa, tentando apreciar o silêncio da tarde, mas minha mente estava longe, sempre voltando para ele. Lembrei de suas palavras. "Você vai me desejar mais do que qualquer coisa." O pior é que, no fundo, eu sabia que ele estava certo. Cada vez mais, eu sentia a força dessa conexão crescendo. Meu corpo vibrava quando pensava nele, mesmo que minha cabeça gritasse que era errado.

Levantei de um pulo, irritada comigo mesma. Eu não podia deixar isso acontecer. Não podia. Eu não pertencia a ninguém, muito menos a um cara como Thorne, por mais irresistível que ele fosse.

— Preciso de ar — murmurei, andando em direção à floresta antes mesmo de perceber.

Era sempre assim. Eu dizia que não voltaria lá, mas, de alguma forma, meus pés me levavam de volta. Era como se o lugar tivesse vida própria, como se eu não pudesse evitar. Cada passo parecia mais pesado, e ao mesmo tempo, mais certo. Quanto mais eu me aproximava da trilha que levava à clareira, mais meu corpo respondia.

Quando finalmente entrei na floresta, o ar parecia diferente. Estava mais quente, mais denso, como se o próprio ambiente estivesse carregado de energia. Minhas pernas começaram a tremer levemente, e eu sabia que ele estava por perto. Eu sempre sabia.

O silêncio foi cortado por um movimento rápido, e quando olhei para o lado, lá estava ele. Encostado numa árvore, me observando. Parecia que ele já sabia que eu viria. Aquele mesmo olhar intenso, como se pudesse ver direto através de mim. Thorne tinha esse efeito — ele não precisava dizer nada, só o jeito como me olhava já fazia minha cabeça girar.

— Achei que estivesse tentando me evitar — ele disse, com um sorrisinho torto.

— Talvez eu esteja — respondi, cruzando os braços, tentando parecer indiferente, mas minha voz tremia um pouco.

Ele se afastou da árvore e começou a andar em minha direção, os passos leves, mas firmes. Cada movimento dele parecia premeditado, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. E eu, claro, estava completamente envolvida.

— Então por que voltou? — A voz dele era suave, mas carregada de uma provocação que fez meu estômago revirar.

Tentei pensar numa resposta, mas a verdade era que eu não tinha uma. Eu deveria estar fugindo dele, não voltando. Mas, de alguma forma, estar perto de Thorne parecia inevitável.

— Eu só… queria entender — murmurei, olhando para o chão.

Thorne parou bem na minha frente, e o calor que emanava dele me fez esquecer o frio da floresta. Quando levantei os olhos, ele estava tão perto que eu podia sentir sua respiração. Meu coração disparou, como sempre acontecia quando ele estava por perto. Era irritante como meu corpo respondia a ele, como se fosse automático, sem que eu pudesse controlar.

— Entender o quê, exatamente? — Ele inclinou a cabeça, o olhar queimando nos meus.

— Tudo isso — gesticulei, tentando dar um passo para trás, mas meu corpo parecia preso. — Você diz que sou sua, mas eu não sou. Eu não pertenço a ninguém, Thorne. Isso que está acontecendo… não faz sentido.

Ele sorriu de leve, aquele sorriso predatório que sempre me deixava tensa.

— Ah, Nyla… faz mais sentido do que você imagina. Você já sente isso, não sente? Essa ligação entre nós. Cada dia que passa, ela só vai ficar mais forte. É inevitável.

Eu queria negar. Queria dizer que ele estava errado, que eu ainda tinha controle sobre meus sentimentos e meu corpo. Mas a verdade era outra. Eu sentia. Sentia a cada segundo que passava, essa conexão que parecia me arrastar para ele. Era uma mistura de desejo, medo e uma sensação de perda de controle que eu odiava, mas ao mesmo tempo… queria mais.

— Isso não é justo — murmurei, tentando esconder o quão vulnerável me sentia naquele momento. — Eu não escolhi isso.

Ele ergueu a mão e roçou levemente os dedos no meu braço, e foi como se uma corrente elétrica atravessasse meu corpo. Eu engoli em seco, tentando me manter firme, mas minha pele queimava onde ele me tocava.

— Não é sobre escolhas, Nyla. É sobre o que já está destinado. — A voz dele era um sussurro, rouca e suave ao mesmo tempo. — A lua cheia está quase aqui. E quando ela chegar, você vai entender tudo. Você vai se entregar ao que já é seu.

Minha respiração ficou entrecortada. As palavras dele pareciam um presságio, como se algo grande estivesse à espreita, esperando para me engolir.

— E se eu quiser fugir? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Thorne riu, um som baixo e provocador.

— Você pode tentar. Mas não vai conseguir. Vai sentir o chamado. Vai me desejar como nunca desejou nada. E quando a lua cheia estiver no céu, você vai ser minha, Nyla. Para sempre.

As palavras dele se infiltraram na minha mente como veneno doce, e por mais que eu quisesse lutar, algo dentro de mim ansiava por aquilo. Era assustador e, ao mesmo tempo, viciante.

Thorne deu mais um passo para trás, os olhos ainda presos aos meus, mas eu sabia que ele estava me deixando ir, por enquanto.

— Aproveite seus últimos momentos de negação — ele disse, com aquele tom de certeza. — Porque, quando a lua cheia chegar, não haverá mais como resistir.

Eu fiquei ali, parada, enquanto ele sumia na escuridão da floresta. O coração ainda batia forte, os pensamentos uma bagunça. Cada palavra que ele disse ecoava na minha mente.

E, no fundo, eu sabia que ele estava certo.

A lua cheia estava chegando. E, quando ela chegasse, eu não teria como fugir mais.

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