2. MABEL

A tarde está muito agradável, saio na varanda, olho para o céu, parece mais que vai chover e com ela me visto de coragem e vou visitar a horta do meu sítio. Horta que é colhida todas as manhãs para ser vendida todas as manhãs na cidade e é dessas vendas que sobrevivo e mantenho tudo aqui após ter abandonado a minha carreira de jornalista e mantenho também a família que vive aqui e trabalha comigo. Assis, Denise que são um casal que me acolheu desde que comprei o sítio e Kaique uma criança albina muito especial e carinhoso que o adotei depois da partida da sua mãe que também aqui vivia o que seria de mim sem Kaique que desde pequeno me alegra e me faz sorrir e ressurgir todas as manhãs, nos tratamos sempre como tia e sobrinho, ele sempre soube quem verdadeiramente foi a sua mãe e hoje com 8 anos ele já compreende muito coisa e ao chegar na plantação já encontro Assis.

— Patroa Mabel ainda bem que veio até aqui, notei pequenos insetos nas verduras, não sei que tipo de praga é essa, venha ver.

— Me mostre por favor! — Assis me mostra o pequeno inseto.

— O que faremos patroa? A senhora não costuma usar agrotóxicos nas verduras e nem em legumes.

— Não sei o que fazer Assis, não é de hoje que o nosso sítio está precisando de uma reforma, precisamos urgentemente de estufas novas, melhorei muito isso aqui, mas precisa de mais e você sabe da minha história e da minha real situação. — Falo tentando conter as lágrimas.

— Entendo, patroa Mabel, trabalhamos duro para ter o pouco que temos. A senhora é uma guerreira.

— Não sou rica Assis, e cada dia que passa me vejo cada vez sem o controle de tudo, se o banco me ajudar com um empréstimo tocaremos tudo para a frente e se não terei que pôr o sítio a venda.

— B**e na madeira patroa, eu não tenho para onde ir depois daqui, nem em sonho me vejo indo embora do sítio. — Assis fala triste.

Enquanto isso sigo andando olhando o meu plantio sendo ameaçado por uma praga, quanto mais ando mais a tarde fica triste, levando-me de volta ao passado dia hoje está parecido com o dia que Caio terminou o nosso casamento. O dia em que me quebrei em cacos e até hoje tento juntar o que restou, o coração acelera ao lembrar do que vivi de bom, do que eu achava que era verdadeiro e tudo se acabou por ambição e dinheiro.

Voltei para a minha realidade, Caio não merecia sequer um pensamento meu, olho ao meu redor e eu não queria me desfazer do meu sítio, tudo aqui foi comprado com um pouco do dinheiro deixado pela minha mãe para mim.

Não aceitei nenhum centavo do meu divórcio com Caio, voltar ao passado só me traz angústia e por mais tempo que tenha passado não consigo esquecer o que se passou anos atrás.

Voltei imediatamente para o sítio quando os pingos de chuva caem fortemente sobre a minha cabeça, andei a passos largos até chegar em casa toda molhada, o dia hoje não está sendo fácil e Kaique em plena chuva chega acompanhado da Denise que foi buscá-lo na escola.

— Graças a Deus chegaram, obrigada por trazer Kaique Denise. — Falo aflita.

— Tia a senhora está molhada, estava na chuva? — Kaique pergunta.

— Estava olhando toda a plantação, por isso acabei me molhando, agora entra que a tia já vai. — Falo tentando disfarçar a minha preocupação.

Relatei com Denise a minha atual preocupação que é a falta de investimentos aqui na plantação do sítio e a mesma diz que me acompanhará ao banco caso eu queira tentar buscar um empréstimo.

Fui conversar com Kaique para saber como foi o dia dele, e quando conversamos sinto-me bem por que vejo pureza e lealdade nas crianças e como é lindo ver que tudo para eles tem uma solução.

— Tia Mabel, estou te achando triste. — Kaique fala olhando nos meus olhos.

— Não é nada Kaique, são uns probleminhas que tenho para resolver, mas já estou cuidando disso.

— Vai dar tudo certo, tia saiba que eu te amo muito e vou te obedecer sempre.

O coração fica quentinho e em paz quando ele fala assim, ele é razão do meu viver após anos de dor.

Preparo um chocolate quente e fico vendo a chuva cair e Kaique do meu lado em silêncio, sinto um aperto no peito e como é ruim sentir ansiedade.

Não parou de chover até o anoitecer, pus Kaique para dormir e ao procurar uma roupa mais quentinha acabo encontrando uma caixa com fotos e ao abrir lá estão todas as lembranças da época em que eu e Caio namorávamos na faculdade no Canadá, fotos também do nosso casamento lá no civil. Fecho a caixa com a decisão de queimar tudo, com as mãos trêmulas fui até a cozinha levando a caixa e acendo o isqueiro e o coração começa acelerar quando segurei uma das fotos para queimar e não tive coragem.

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