Passei algum tempo chorando, cada soluço parecendo ecoar em meu próprio peito. As lágrimas eram como véu, obscurecendo a clareza de que tanto precisava naquele momento.As palavras de Victor, a frieza em seu olhar, as ameaças veladas, tudo me fazia questionar não apenas o amor que acreditava existir entre nós, mas também minha própria segurança.E se um dia eu fizesse algo mais grave do que apenas circular em minha própria casa sem avisar onde eu estava? Era uma questão que eu não parava de me perguntar.Após um tempo, me levantei, o rosto úmido com as lágrimas recentes e fui até aquela parede de vidro e admirei o mar. Precisava agir como as ondas, recuar para ganhar força, e nesse momento, alguém bateu à porta.Respirei fundo e abri, tentando conter as lágrimas que teimavam em continuar rolando pelo meu rosto. Era Chiara, com Clara nos braços.— Helena, eu… eu ouvi o que aconteceu. Está tudo bem? — Chiara perguntou, a preocupação estampada em seu rosto.— Não, Chiara, não está. — Res
VICTOR SALVATOREO silêncio da noite era quase opressivo. As sombras das cortinas pesadas dançavam com o vento que entrava pela janela que eu mesmo havia aberto. Sentei-me no sofá, na escuridão da sala, segurando um copo de uísque na mão, observando o líquido âmbar girar enquanto eu o balançava lentamente.O som do gelo tilintando contra o vidro era a única coisa que preenchia a sala. Meu peito estava apertado, minha cabeça uma bagunça.Eu sabia que tinha sido duro com Helena, mas não conseguia me conter. A raiva, a possessividade, o medo de perdê-la. Tudo isso era como uma corrente elétrica, pulsando e me consumindo.Eu sabia que ela não merecia isso, mas a ideia de perdê-la para alguém, ou até mesmo de Diego ter a atenção que ela não estava me dando, me deixava cego de raiva.O problema era que eu não entendia o que estava sentindo. O amor era um luxo que eu nunca havia permitido a mim mesmo. No nosso mundo, sentimentos eram uma fraqueza.Lealdade, respeito, poder, isso, sim, eram c
Percebi que Matteo estava seguro com o que falava. Provavelmente, recebeu as informações dos nossos hackers. Refleti por um momento sobre o que ele tinha me falado durante a madrugada sobre não machucar Helena.Olhei mais uma vez para minha esposa. Olhei ao redor, para a praia e para as pessoas que estavam sob minha responsabilidade. Mesmo meu irmão afirmando onde aquele desgraçado estava, eu não poderia arriscar a segurança deles em um local tão aberto.— Vou convidar todos para a piscina. Lá podemos garantir mais segurança e manter minha bambina e Helena longe de riscos. Além disso, quero usar essa oportunidade para tentar reparar o que fiz ontem. — Falei, tentando soar confiante.— Boa ideia. Além disso, podemos aproveitar hoje com nossa família e começar a planejar nossa estratégia para lidar com Dominik mais tarde. — Matteo respondeu, sorrindo. — Vamos pegar esse stronzo juntos, fratello, mas antes, faça as pazes com sua esposa.Assenti e voltamos para próximo de todos. Matteo ch
HELENA BORGESFiquei feliz que Victor tenha realmente percebido e admitido seu erro. Quando ele se aproximou para me oferecer a bebida, notei que ele estava se esforçando e procurando uma maneira para se desculpar.Não queria tornar as coisas mais difíceis para ele, então aceitei suas desculpas, mas isso não queria dizer que o medo de perder minha identidade e até minha liberdade tivesse desaparecido. Observei-o brincando com Clara e nem parecia o mesmo Victor de ontem.Depois de um tempo, observei Matteo caminhando em minha direção. Seu rosto sempre sorridente, com um toque de gentileza no olhar. Ele parou ao meu lado e olhou para a piscina, onde Victor brincava com a filha, uma imagem que não parecia muito normal, devido à tensão que ele sempre carregava consigo.— Ele está tentando, você sabe disso, certo? — Matteo disse, sem rodeios. — Pode até parecer um pouco estranho, mas acredite, ele está fazendo o melhor que pode.— Sei disso, mas não é fácil, Matteo. Depois do que aconteceu
Poderia questioná-lo se era de fato o que eu havia escutado, mas isso poderia causar algum outro tipo de mal-entendido, e eu não queria voltar a brigar com Victor. Dessa forma, apenas continuamos nosso banho.Se um dia ele estiver pronto para me falar novamente as palavras que imaginei escutar, ele o fará.Após o almoço, os rapazes se reuniram no escritório. Algo estava acontecendo. Victor não havia me dito nada, mas ele nunca falava quando o assunto era a máfia. Sentei na sala com Chiara, enquanto Clara estava com seu caderno de desenho deitada no chão, desenhando.— Você sabe informar se vamos partir ainda hoje? — Chiara perguntou.— Partir? Vamos para a Itália? — Ela me encarou como se uma segunda cabeça tivesse crescido em meu pescoço.— O Victo não comentou nada com você?— Não. O que está acontecendo?— Me perdoe, Helena, comentei imaginando que você estava sabendo. — Ela disse, parecendo constrangida.— Para onde vamos? Itália? — Perguntei e ela negou com a cabeça, o que eu não
VICTOR SALVATOREEssas horas que passei na enfermaria com Helena, enquanto escutava seu coração e o coração de nosso bambino baterem, me lembraram a chegada dela nessa ilha. Nem naquele dia me senti tão desesperado quanto hoje, quando escutei os gritos de Chiara e me deparei com Helena tendo aquela crise.Sabia que em algum momento meu mundo seria revelado para ela, mas estava com medo. Medo de que ela não aceitasse essa minha outra versão. Nesse mundo, eu era impiedoso, frio e calculista, totalmente diferente do Victor Salvatore que ela conhecia.Matteo me disse que nossos hackers conseguiram localizar Dominik Rossi. Também conseguiram a planta da casa onde ele morava com Yasmin Cassi, filha do capo que executei, e com sua mãe, Úrsula Rossi.Conseguiram invadir o celular dele e encontraram algumas mensagens da tal Yasmin ameaçando expor a traição dele, além de uma série de fotos estarrecedoras das garotas que ele estava traficando.Conseguimos infiltrar um dos nossos na casa deles, en
Entrei no quarto em silêncio, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho. Helena estava deitada, dormindo profundamente, uma das mãos descansando sobre a barriga, onde nosso filho crescia a cada dia.Era nesses momentos de tranquilidade que eu encontrava a paz em meio ao caos de minha vida. Admirei aquela mulher por alguns minutos. Seus cabelos espalhados sobre o travesseiro, sua boca um pouco entreaberta e sua respiração tranquila e ritmada.Sorri suavemente, pensando em como ela havia mudado meu mundo desde o momento que entrou em minha vida. Ela deu cor a uma tela totalmente escura.Sentei-me na beira da cama, tomando cuidado para não acordá-la. O fato de estar ali, ao lado dela, vendo-a dormir tão calmamente, encheu meu coração de uma sensação que raramente sentia: esperança. Sabia que meu mundo estava longe de ser seguro, mas ao lado dela, comecei a imaginar um futuro diferente, um futuro em que poderia viver sem essas ameaças constantes.Passei a mão suavemente pelos seus cab
HELENA BORGESNão era fácil entrar em outra aeronave depois do que passei naquele voou. O pânico parecia que ia me consumir em algum momento, mas eu estava tentando controlá-lo. Pior ainda era saber para onde estávamos indo, em outra circunstância teria ficado feliz em voltar para minha terra, mas não agora.A sensação esquisita que eu tinha me acompanhava desde o momento em que acordei, antes mesmo de saber que viajaríamos para cá, hoje. Não sei explicar o que era, mas não era uma sensação boa. Quase um sexto sentido que algo aconteceria.Respirei fundo enquanto o avião começava a sua descida. A conversa ao redor trazia um pouco de normalidade à cena, mas eu não conseguia afastar o frio que sentia no estômago. A última vez que estive em Portugal, tudo havia desmoronado, e agora voltava a esse país sob o véu de medo e incerteza.Victor estava aqui para acabar com a família Rossi, uma família com um longo histórico de crueldade e violência, que pude sentir na pele, e eu estava presa ne