A primeira vara da infância e da juventude
Lembro-me como se fosse hoje: éramos quatro filhos; eu, o caçula; acima de mim havia três: um irmão, depois minha irmã e então o mais velho de todos.
Eu era um traquinas. Um autêntico moleque! Aprontava todas e, por isso, claro, levava surras homéricas, tanto de minha mãe quanto de meu pai (estas as piores, mais dolorosas e que muitas vezes deixavam cicatrizes), mesmo assim eu era um reincidente contumaz. Estava no DNA... Logo, apanhava com frequência.
Pois bem, num belo dia, e hoje já não me recordo se era de manhã ou de tarde, após brincar até a exaustão no quintal com meu irmão mais velho, voltei para casa e fui atrás de mamãe, pois sentia fome. Chamei por ela e nada. Silêncio na casa. Então subi correndo a escada, pulando os degraus até seu quart
A Figura na Janela Lá estava ela: mais uma vez debruçada à janela... um olhar absorto, de quem vaga como quem divaga ao léu, para a comprida rua que caminha para além do horizonte...até se encontrar com o céu. Não, não se trata simplesmente de estar à toa na janela de sua casa. Não! É algo maior, para além do acaso... mais profundo, portanto. É a própria espera no afã de seus sonhos ocultos na magia daquela cena perfeita – como a pintura em que Salvador Dali retrata sua irmã – Ana Maria, perscrutando o mar ao fundo: A Figura na Janela. Perfeitas as duas imagens. Uma, aqui, em minha imaginação, em busca do real; a outra, acolá, na tela e na estética de um gênio da pintura surreal, mas ambas as mulheres
A turma do fundão Eu sempre fui da turma do fundão. Sempre! É como se fosse um eterno pertencimento entre mim e aquele lugar lá do fundo, e vice-versa. Um permanente namoro desses para toda a vida... Sempre foi assim, acho que desde o Big Bang... sim, já nos primeiros dias de escola, lá no maternal... sei lá, só sei que na primeira aula, lá estava eu – resoluto – determinado a fazer parte daquela panelinha, daquele apaixonante e atraente espaço: a turma do fundão. Parecia, para mim, que o restante da sala não existia! Eu só via aquele mundo lá! Havia uma sensualidade latente no fundo que sempre me atraía, que me puxava para acolá. Um místico e fortíssimo encontro de Yin & Yan ali se
Estou em Cuiabá desde 11 de setembro. Vim passar uns dias com minha namorada, Telma. Não sei se é pela companhia dela e por estarmos nos curtindo intensamente, não sei se é pelo calor ao qual não estou acostumado – que aumentou muito e até recordes bateu neste setembro que terminou e neste início de outubro – não sei se é pela alegria e pelo prazer em conhecer esta agradável e linda cidade Verde, pois é... Não sei se é por tudo isso que não conseguia escrever! Isso mesmo. Não produzia uma poesia ultimamente, somente algumas Crônicas. Poucas. Não sei por que ocorre este vazio. Sei sim, que andava pobre de inspiração, escrevia muito pouco, quase nada e, quando isso acontece, principia em mim uma angústia, uma dolorosa sensação de perda... Essa in&e
A sabedoria do povo poderia ser transformada em livros de filosofia, de sociologia, de autoajuda, de psicologia, enfim, um grande esforço deveria ser feito por romancistas, psicólogos, estudiosos, filósofos, sociólogos e intelectuais para que essa fecunda escola da vida fosse sempre retratada em obras literárias.Sim, não tenho dúvidas de que é no cotidiano do povo que se encontram grandes ensinamentos para se viver e viver bem. O Universo é a Universidade; a vida, as aulas e o povo, seus mestres.Era o ano de 2017, em uma bela manhã de primavera, bem cedo, enquanto fazia minha caminhada matinal, acompanhado de minha irmã. Falávamos, andando, sobre ‘abobrinhas’, considerando que o horário e o motivo de estar ali naquele espaço e momento são adequados a diálogos despretensiosos, sem nenhum compromisso com nada, senão uma terapi
Num domingo de julho do abençoado ano de 2018, enquanto fazia minha rápida, rotineira e saudável caminhada de todos os dias – dos dias todos da vida – estava mentalmente fazendo minhas petições do Ho’oponopono e minhas preces, quando assisti a uma violenta batida entre dois carros; isso ocorreu no trajeto em que caminho, num cruzamento da ponte do Bezerrão com a avenida Leite de Castro, onde a preferência, claro, é dos veículos que atravessam a ponte no sentido bairro-cidade: uma caminhonete cabine dupla que ia pela avenida bateu violentamente contra um carro que terminara de atravessar a ponte. Ao parar e observar rapidamente o acidente, pude perceber que a motorista (uma senhora) e seu acompanhante, um senhor, que estavam no primeiro veículo sa&iacut
Era o ano de 2018, dezembro, e eu acabara de entrar de férias.Tinham sido quatro longos meses de atividades e aulas ininterruptas, um intenso e exaustivo trabalho com 60 alunos (59 mulheres e 1 homem), concorrendo a um concurso público para professor. A entrega e a dedicação deles ao estudo provavelmente trariam resultados satisfatórios, não só a eles – os alunos – mas também para nós – professores e direção – por termos contribuído com o seu sucesso nas provas.A partir do encerramento, fiquei livre, totalmente livre para qualquer coisa: pensar, ler, ouvir música, escrever (o que já é praxe eu fazer, principalmente quando bate a inspiração, não importa a hora), conversar, meditar, fazer minhas caminhadas diárias, andar à toa pela cidade, espiando as coisas, o comércio, apreciando uma coisa aqui outr
Reduza a velocidade! Escrevi esta crônica há dois anos e pouco, mas por causa desta pandemia que atravessamos e que atravessa cruelmente nossas vidas desde março de 2020, retomo do tema que, aliás, inspira muito o momento ora vivido por todos nós, e aproveito para convidar vocês, caros leitores, a fazermos uma reflexão séria sobre nossas vidas. Sobre os propósitos de nossa existência e o que esperamos quando tudo isso terminar. Reflitamos, pois. Era um sábado do mês de outubro, de 2018, em plena primavera e véspera do dia em que começaria o horário de verão (último ano desse sistema), resolvi ir a Tiradentes depois de um bom tempo sem por lá aparecer. É tão perto, dista apenas 8 quilômetro
Série CausosNaquela chuvosa tarde do verão carioca, o calor judiava de nós e fazia com que todos procurassem a praia na ilusória esperança de que a brisa marítima atenuasse o mormaço que a tudo e a todos sufocava, como se em chaleira fervente tivesse se transformado o dia naquele longínquo dezembro, no Rio de Janeiro da minha juventude.Mais uma vez deixei-me ficar, preguiçoso, naquela lerdeza da fila do guichê, onde se lia “Registrado”, à espera de ser atendido pel