De manhã, enquanto me preparava para levar Dayane ao jardim de infância, fui impedida pelos dois seguranças na porta.Eles estavam visivelmente desconfortáveis e disseram que eu e Dayane não podíamos sair da casa ao mesmo tempo. Eu poderia sair sozinha, mas para Dayane ir ao jardim de infância, teria que ser acompanhada pela dona Rose, que levaria ela com os seguranças.Olhei para trás e vi Bruno parado no andar de cima, com uma expressão neutra. Sabia que tudo aquilo era por ordem dele.Não discuti, nem havia o que dizer. Sabia que, não importa o que eu falasse, nada mudaria a situação. Além disso, devido à situação peculiar de Dayane, ela era extremamente sensível. Se minha atitude estivesse um pouco fora de lugar, ela sentiria pavor.Como Bruno disse, nós dois desempenhávamos o papel de um casal amoroso e perfeito na frente de Dayane.Eu acenei para Dayane, que estendia sua pequena mãozinha.— Diga tchau para o papai, filha. Agora, a Dayane vai para a escola.Dayane olhava para Brun
No momento em que Bruno se virou para me chamar, uma barra de ferro voou em sua direção. Ele não teve tempo de desviar e só conseguiu proteger a cabeça com o braço. O som metálico e estridente ecoou, e só de ouvir já dava para sentir a dor.O suor frio começou a brotar na testa de Bruno. Quando a barra de ferro o atingiu, o braço dele tremeu involuntariamente.— Estão batendo nele!Não sei quem gritou, mas o pânico logo se espalhou pela multidão ao redor, e as pessoas que antes não haviam notado o que estava acontecendo, agora viram tudo. Nas proximidades da escola infantil, a maioria das pessoas eram mães levando seus filhos para a aula. Elas começaram a fugir, tentando se proteger, e em um instante, fui a única a permanecer ali, perto da confusão.Os três homens violentos estavam com os olhos cheios de raiva, e logo mudaram seu alvo para mim.Bruno percebeu e rapidamente agarrou a gola de um dos agressores que se aproximava de mim, puxando ele e jogando ele na direção dos outros do
Meus olhos se encheram de lágrimas involuntárias, mas eu desviei o olhar, piscando para segurar o que queria escapar.— Dona Rose, vamos embora. — Falei tentando soar descontraída, como se nada tivesse acontecido. — Vai de carro comigo?— Está bem.Dona Rose respondeu sem saber o que fazer, lançando olhares rápidos entre Bruno e eu, claramente perdida. Ela não sabia como nos reconciliar, nem entendia o motivo da nossa briga, então só baixou a cabeça e entrou no carro.Eu já estava prestes a entrar no veículo, quando uma mão forte agarrou minha cintura, e no segundo seguinte, meus pés já estavam no ar.Bruno estava preocupado que eu percebesse que ele estava me seguindo. Ele havia estacionado bem longe.Ele me carregou por uma boa distância, e eu não fiz nenhum esforço para me soltar. Já estava acostumada com esse jeito dele de agir.Ele me colocou no carro, mas não parecia com pressa de sair. Colocou os braços sobre o volante e abaixou a cabeça, a voz tremendo.— Eu só me preocupo com
Eu e Bruno voltamos para a Mansão à beira-mar, entrando pela porta em uma ordem bem definida, um atrás do outro.Os empregados da casa perceberam imediatamente que o clima estava estranho, ao ponto de não se atreverem a respirar com força.Eu me sentia um pouco tonta. No caminho de volta, Bruno tinha acelerado o carro sem nenhum cuidado, tudo por causa de uma única frase minha.— Você sabe o que eu quis dizer. Eu não queria mais pensar nisso. Fui direto para o quarto de Dayane descansar, enquanto Bruno seguiu diretamente para o escritório.Após descansar um pouco, fui chamada por dona Rose para almoçar. Eu praticamente não tinha comido nada ontem, e depois dos acontecimentos dessa manhã, com as emoções oscilando tanto, não tinha fome, então comi só um pouco.Enquanto eu conversava com dona Rose à mesa, uma das empregadas, com uma expressão preocupada, apareceu trazendo uma bandeja e, ao se aproximar de dona Rose, balançou a cabeça em sinal de desaprovação.Olhei para a bandeja que ela
O olhar de Bruno era como uma corda invisível, prendendo meu corpo e minhas extremidades diante dele. Eu o encarei, mergulhando em seus olhos negros, e uma sensação de perigo me envolveu, me fazendo querer fugir.— Não tem nada de interessante. Girei-me apressadamente, querendo sair o mais rápido possível. Mas ele estava tão seguro de si, seus olhos estavam tão firmes, como se tivesse total confiança de que conseguiria mudar a minha impressão sobre ele. Ele realmente tinha confiança. Mas eu não queria mais participar do jogo dele. Instintivamente, levantei as mãos, puxando-as para o peito, e, claro, uma grande mão deslizou pelo meu lado e tentou me alcançar, mas ficou no vazio. Um sorriso irônico surgiu nos meus lábios. Eu conhecia bem os seus movimentos. No entanto, antes que eu pudesse me alegrar demais, sua mão percorreu minha cintura, contornou-me e me agarrou com firmeza. Em um giro rápido, fui puxada para sentar em seu colo, com meu corpo entre ele e a mesa de madeira.
Bruno parecia ter sido completamente despojado de suas forças; com um simples empurrão, me desvencilhei facilmente de seu abraço. Quando me aproximei da porta, olhei para trás e o vi, com o olhar perdido e fixo nos pedaços de papel espalhados pelo chão. Alguns fragmentos caíam até sobre sua cabeça, mas ele nem percebeu. Dentro de mim, uma tristeza imensa se formava, uma dor que eu não conseguia esconder. A impotência de outrora, ao revivê-la, ainda me cortava o coração. Era uma sensação sufocante, aquela que destrói tudo sem piedade, uma dor avassaladora que faz você se sentir como se o mundo inteiro estivesse desabando sobre si. Eu entendia muito bem essa sensação de isolamento, essa sensação de que a única opção era seguir em frente, sem se importar com os danos. E também sabia o que eu havia perdido para poder sobreviver. Quando comparado a tudo o que ele já havia me dado, aquilo não representava nada. Além disso, eu sentia que essa punição dele era tardia, e sua intensidade aind
A dona Rose apareceu silenciosamente atrás de mim.— Você nunca viu uma cena assim, não é? Mas as pessoas dessa casa parecem já estar acostumadas. Nos últimos anos, o Sr. Bruno desenvolveu o hábito de beber. Perguntei a ele o motivo de beber, e no começo ele disse que, ao beber, o corpo ficava fora de controle, e assim ele não teria a impulsividade de se machucar. Depois, quando a saúde dele melhorou um pouco, ele continuou bebendo. Ele disse que, ao beber, não pensava em você. Ele se tornou cada vez mais indiferente, suas táticas no mundo dos negócios se tornaram mais duras, ele conseguiu muitas coisas, mas continuou bebendo. Ele dizia que, ao beber, conseguia dormir bem, que poderia dormir por muito tempo, e que nos seus sonhos com você ele não queria acordar. Eu ouvi tudo isso quando ele estava bêbado, ele nunca me contaria essas coisas, Ana. Ele disse a verdade quando estava bêbado, eu acredito no que ele disse. O coração dele está cheio de você, e só de você. Ambos passaram por ta
O teto era um livro sem palavras, um livro que eu havia lido por quatro anos, mas ainda não tinha conseguido terminar. Nesta noite, esse livro ganhou som.A voz, embriagada e turva, falava devagar, com esforço, como se tentasse articular claramente cada palavra, com medo de que eu não conseguisse entender, ou pior, de que eu o rejeitasse.Senti umidade no pescoço, não sabia se era por causa dos beijos de Bruno ou se a umidade vinha dos meus próprios olhos. Eu queria perguntar a ele: “Se soubesse que tudo teria chegado a esse ponto, o que teria feito naquele momento?” Por que ele tinha forçado, passo a passo, nossa relação a se transformar nisso?Mas ele estava bêbado, e mesmo que eu perguntasse, ele não entenderia. Então, apenas dei um sorriso, como se nada tivesse acontecido.— Ana, você sorriu. Você sorriu para mim. Agora eu sei que você não quer me ver triste. Seu sorriso é tão bonito.A voz de Bruno estava cheia de alegria, suave, agradável. Se eu tivesse ouvido esse tipo de elo