Eu mordi os lábios e sacudi a cabeça, tentando afastar as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Eu tinha trinta anos. Como uma mulher de trinta anos ainda poderia chorar só porque foi insultada? Tão ridículo! Eu não daria mais a ele a chance de me humilhar. — Bruno, faça o que quiser. Não vou mais me intrometer na sua vida. Porém, assim que terminei de falar, seus braços ao meu redor quase se apertaram, segurando-me com tanta força que a dor atravessou minha pele e chegou aos ossos. Até respirar doía. Eu comecei a me debater, desesperada, perdendo completamente minha máscara. Naquele momento, parecia que eu havia regredido a uma garota inexperiente, sentindo pela primeira vez o sabor amargo do amor. — Não me toque! Enquanto lutava para manter a calma, algo dentro de mim parecia prestes a explodir, impossível de ser contido. Desde o momento em que voltei e vi Bruno novamente, ele me olhava com aquele mesmo olhar desdenhoso e provocador. Era como se, aos olhos dele,
Meus olhos se arregalaram, tingidos por um vermelho intenso. Minhas mãos apertaram os pulsos dele com força, enquanto meu olhar permanecia fixo em seu braço esquerdo. — Por quê? Respirei fundo, tentando afastar os pensamentos. Não conseguia imaginar a dor de ter uma área tão grande tatuada, a agulha perfurando incessantemente a pele. E por que era a minha imagem? Na minha mente, fazia mais sentido ser Gisele, isso tornaria tudo mais crível, mais lógico para mim. As cicatrizes complexas estavam unidas por linhas negras, formando traços tão detalhados que pareciam uma obra de arte. Consegui distinguir até fios de cabelo delicadamente desenhados. A única parte intacta de sua pele formava o contorno do meu rosto. A área ligeiramente avermelhada coincidia com os lábios, e eu, ingenuamente, pensei que fosse resultado de queimadura recente. Mas as palavras seguintes de Bruno demoliram por completo as minhas suposições. — A tatuagem que você está vendo levou três anos para ser con
— Bruno, seu desgraçado! Minha voz tremia junto com minha respiração, e meus dentes batiam involuntariamente enquanto eu falava. Bruno se aproximou, segurando a gola da minha roupa com a mão esquerda e me puxando do chão com força. Ele me trouxe tão perto de seu corpo que era impossível não sentir a respiração dele roçando meu pescoço, fria como o gelo. Seus olhos negros e estreitos estavam cobertos por uma camada fina de algo que parecia gelo derretendo lentamente. Mesmo ouvindo meus xingamentos, ele apenas me lançou um sorriso despreocupado. Mas aquele sorriso... Por mais que eu tentasse interpretar, só conseguia sentir uma ameaça sutil e carregada de significado. ... Bruno estendeu a mão e afastou com delicadeza os fios de cabelo que caíam sobre meu rosto, ajeitando-os atrás da minha orelha. Em seguida, endireitou as roupas que ele próprio tinha desarrumado, com movimentos cuidadosos e uma expressão que lembrava alguém arrumando sua boneca favorita. Tentei me esquivar,
As palavras de Bruno, eu só poderia acreditar pela metade. Quando minha mãe foi para o exterior para tratar sua doença, aquelas pessoas faziam questão de ligar incontáveis vezes todos os dias. E quando finalmente assumi o Grupo Oliveira, eles sequer tentaram esconder suas ambições na minha frente. Naquela época, eu não tinha intenção de administrar o Grupo Oliveira a longo prazo, então não me importava muito. Mas foi por causa do homem à minha frente que comecei a me importar com poder. Foi ele quem me deu esse poder. Suspirei profundamente, lamentando ter confiado tanto nele, ao ponto de lhe dar a chance de me apunhalar pelas costas. Bruno pensou que eu estivesse com medo. Sua expressão sombria se suavizou, tornando-se quase gentil. Ele segurou minha mão, e enquanto caminhávamos, disse: — Você não precisa ter medo. Enquanto estiver ao meu lado, eu não permitirei que eles te machuquem. Então, é melhor você não me irritar. Até que tudo fosse esclarecido, eu realmente não podi
A voz de Bruno cessou de repente. Vi seu corpo endurecer bruscamente, como se fosse um personagem de um mundo virtual que, de repente, travasse, tornando-se estranhamente irreal. Ele permaneceu imóvel por alguns segundos, com os olhos avermelhados de raiva e uma dor indescritível estampada no olhar. Rangendo os dentes, ele cambaleou para fora, e logo em seguida ouvi um som estrondoso vindo da direção do bar, como algo se partindo em pedaços, reverberando pelo ambiente. Segui até lá e, como suspeitava, vi taças quebradas e vinho espalhados pelo chão. Não muito longe, o tapete também não havia sido poupado, manchado por respingos do líquido vermelho. O homem que, há poucos instantes, exibia sua arrogância diante de mim, agora parecia uma criança desamparada. Ele apertava os punhos com força, enquanto encarava o caos no chão, com os braços tremendo incontrolavelmente. Bruno, como se temesse ser visto naquela condição, cruzou os braços em frente ao peito num gesto de proteção.
O homem, que havia se acalmado por um momento, agora voltou a encarar com um olhar afiado. Eu permaneci imóvel, mas minhas mãos, escondidas atrás de mim, apertavam firmemente a alça da bolsa. Parecia que só assim eu poderia encontrar um pouco de segurança diante do olhar opressor dele. — Eu realmente não lembro mais. Além disso, meu celular nem funciona aqui. Vou precisar esperar o Zeca providenciar o chip para mim... Antes que eu pudesse terminar, Bruno me interrompeu: — Ou você liga, ou eu ligo por você. Ele franziu as sobrancelhas, seu rosto ficando cada vez pior, de forma evidente. Ele acreditava que Ana não poderia se esquecer de tudo sobre ele, mas, ao mesmo tempo, temia que isso fosse exatamente o que tinha acontecido. Se alguém decidisse, de coração, esquecer, como seria possível ainda lembrar? Bruno percebeu que, se Ana estava dizendo a verdade, então ela havia escolhido apagá-lo da memória, o que era muito mais doloroso do que o simples esquecimento natural.
— Dayane, vem dar um abraço! Ajoelhei-me na entrada, de braços abertos, esperando por ela. Embora soubesse que Dayane dificilmente correria para mim como outras crianças, não conseguia evitar a fantasia: e se, desta vez, ela viesse? Rui, ao me ver, se levantou do chão e ajeitou as roupas antes de pegar a pequena Dayane, que parecia absorta em seus próprios pensamentos. Com passos decididos, ele caminhou até mim. Ele tirou a bolsa das minhas mãos e colocou Dayane delicadamente em meu colo, brincando com as bochechas macias dela enquanto perguntava de forma casual: — Como foi o dia? Encontrou alguma creche adequada? Precisa que eu entre em contato com mais algumas? Assenti enquanto cobria as bochechas perfumadas e macias de Dayane com beijos. Em seguida, compartilhei com Rui algumas das opções de creches que havia visitado e finalizei: — Mas, no final das contas, preciso levar a Dayane para que ela veja pessoalmente. Os professores precisam avaliá-la, e também quero saber se
Eu, desconcertada, levantei o braço e o aproximei do rosto para cheirar minhas próprias roupas, lançando um olhar furtivo para Rui. — O que foi? Estou com algum cheiro estranho? Rui se inclinou ainda mais para me cheirar, aproximando-se tanto que eu não consegui recuar mais. Meu corpo quase tocou a janela, e a proximidade me fez sentir um misto de vergonha e irritação. — Rui Sampaio! Não chega tão perto assim de mim! Rui endireitou o corpo, colocou as mãos na cintura e me encarou com uma expressão carregada de seriedade. — Cheiro de cigarro, de bebida... E de um homem. Fiquei paralisada por um momento, surpresa por ele realmente ter notado. Tentei disfarçar, respondendo com uma voz evasiva: — Deve ser o motorista... Hoje saí de táxi. Achei que, por ter acabado de voltar, poderia estar desatualizada sobre o trânsito, então decidi não dirigir. Não é de se admirar que a Dayane estivesse tentando sair do meu colo o tempo todo. Quando você for embora, vou tomar banho. As pal