Gisele pisava descalça no chão, seus passos rápidos e molhados ressoando de forma incômoda. Ao avistar a silhueta de Bruno de costas, ela não conseguiu conter o grito: — Irmão! Irmão, você finalmente está disposto a me ver! — Pare aí. Bruno se virou lentamente, o olhar frio como uma lâmina analisando a mulher à sua frente, vestida com roupas escassas e encharcadas. Sua voz saiu sem qualquer emoção, um tom gélido que fazia tremer: — Seque-se. Gisele olhou ao redor, procurando algo para usar. A única coisa disponível era a toalha jogada aos pés de Bruno. Em sua mente, ela se convenceu: "Ele ainda se importa comigo. Por que mais ele me faria tirar as roupas e aparecer assim tão perto dele?" Três anos. Três anos sem ninguém ao lado de Bruno. Para ela, isso era prova suficiente de que ele devia estar solitário, como qualquer homem estaria. Escondendo o sorriso frio que ameaçava brotar em seus lábios, ela caminhou em direção a ele, o olhar cheio de um apego quase doentio. —
Na festa de celebração, Rui fez um anúncio alto e claro: ele me contrata oficialmente como consultora jurídica especial de sua empresa. Alguém não perdeu tempo em me bajular: — Srta. Ana, você é realmente incrível! Desde que conseguiu sua primeira vitória internacional há um ano, deve ter recebido inúmeras propostas de trabalho, não é mesmo? — Nem precisa perguntar! O título de advogada internacional de prestígio não é à toa. Mas, veja só, quem conseguiu essa honra foi o nosso Presidente Rui. Rui e eu trocamos um olhar e sorrimos levemente. — Ela agora não é apenas uma advogada internacional de sucesso. É também uma jovem empresária que possui uma empresa renomada e um patrimônio invejável. Prestem atenção, hein? Não me venham ofendê-la e fazê-la ir embora! Sorri discretamente e ergui minha taça, brindando com as pessoas à minha frente. — Vamos, parem de me elogiar e falem mais sobre o seu presidente. Caso contrário, ele vai acabar ficando descontente comigo. Na realida
Rui ainda tentou continuar me consolando, mas eu o interrompi. — Rui, vou voltar para país. Ao ouvir minhas palavras, ele ficou completamente atônito. Seus olhos estavam fixos, perdidos, e levou um tempo até que ele reagisse. Quando finalmente conseguiu, esboçou um sorriso incerto, quase nervoso. — Ana, você disse que nunca mais queria voltar para lá. Três anos atrás, ele voltou ao país para me buscar. No aeroporto, Bruno parecia tão frágil quanto os comprimidos que ele deixava cair no chão, e junto com ele, minha memória também parecia quebrada. Cada fragmento era doloroso. Quando embarquei no avião, disse a Rui: — Eu nunca mais quero voltar. Eu não queria ver aquele Bruno novamente. Balancei a cabeça, respondendo suavemente: — Por causa da Dayane, não tenho escolha. Preciso oferecer a ela um ambiente mais adequado. — Posso te ajudar a encontrar isso! E, se não der certo, nós mesmos podemos fundar uma escola. Será uma escola exclusiva para crianças brasileiras. Cont
Reencontrar Bruno aconteceu no jantar que Zeca havia organizado para mim. A mulher que um dia fugiu apressada para o exterior carregando o título de esposa de Bruno agora retornava como alguém que todos queriam agradar. Nem mesmo o fato de, no passado, eu ter sido cruelmente atacada por causa de Bruno. No período logo após minha partida, acompanhei algumas notícias na internet. O vídeo de Bruno ajoelhado com uma perna só no aeroporto, implorando para que eu não fosse embora, permaneceu durante três dias no topo do ranking de assuntos mais comentados. [Ela com certeza vai se arrepender.] Esse foi o comentário mais curtido na época, com mais de um milhão de likes. Agora, de volta ao país, alguém, não sabia quem, desenterrou aquele vídeo esquecido há muito tempo. No vídeo, o homem de olhos avermelhados e cheios de lágrimas parecia completamente diferente do homem sombrio que estava agora diante de mim. Três anos se passaram, e, embora sua aparência tivesse adquirido um ar mais
Eu só então notei a jovem ao lado de Bruno. Fiquei longe por três anos, tempo suficiente para muitos especularem se entre Bruno e Gisele poderia surgir algo mais. Afinal, foi Gisele quem esteve ao lado dele em cada passo até aqui. No entanto, após sua recuperação, Bruno fez questão de esclarecer em entrevistas que ela era como uma irmã para ele, transformando completamente a relação dos dois em um vínculo fraternal. Agora, outra pessoa estava ao lado dele. A garota era bonita e de aparência pura, com um ar de ingenuidade que lembrava uma recém-formada, alguém que acabava de ingressar na sociedade. Era impossível acreditar que ela não tivesse nenhum tipo de ligação com Bruno; do contrário, certamente não estaria presente em um evento desse nível. Olhando com mais atenção, percebi que, exceto pela altura um pouco maior, ela tinha características muito parecidas com as de Gisele. O olhar da garota para Bruno carregava uma admiração quase palpável, enquanto ele, com uma express
Rui olhou para mim com surpresa e alegria ao ouvir minhas palavras. Sem hesitar, ele levantou a mão e bagunçou suavemente meu cabelo, antes de se dirigir a Bruno com um tom cortês: — Eu e Ana temos outros compromissos. Vamos indo, mas quem sabe possamos conversar em outra ocasião. Ele se inclinou levemente e murmurou próximo ao meu ouvido, em um tom que só nós dois pudéssemos ouvir: — Dayane está te esperando em casa. A menção de Dayane amoleceu meu coração, mas isso não me impediu de repreendê-lo em voz baixa: — Quem te chamou aqui? Isso é uma loucura! Rui não se defendeu, apenas sorriu para mim, com aquele olhar tranquilo de sempre. Eu sabia que não havia como impedir alguém de fazer o que quisesse. Suspirei, resignada, e apenas disse: — Vamos embora. Quero voltar para casa. Antes de sair, lancei um último olhar para Bruno. Ele estava com os olhos fechados, claramente sem nenhuma paciência restante. Fiz um leve aceno de cabeça em despedida, mesmo sem saber se ele
O carro se aproximou, mas quando tentei abrir a porta, ela não cedeu. Rui abaixou o vidro da janela e zombou: — Que tipo de bobinha é essa? Use mais força! ... Ele havia arranjado um carro novo de algum lugar, um veículo alto e imponente. Não importava o quanto eu tentasse, simplesmente não conseguia abrir a porta. Por um instante, parecia que havíamos voltado ao passado, como se aquele homem que havia se forçado a aguentar três anos sozinho no exterior tivesse finalmente relaxado. A rigidez de antes cedeu, e seus gestos agora lembravam aquele jovem arrogante de outrora, sem mais a necessidade de fingir maturidade excessiva. Ver essa mudança nele me trouxe alegria. Afinal, quem no mundo gostaria de viver carregando o peso de tantas pressões? — Anda logo! Vem me ajudar! — Imitei seu tom, mesclando autoridade e um charme provocador. Ele desceu do carro e caminhou até mim. Parando atrás de mim, uma das mãos se apoiou na lateral do carro enquanto a outra segurava a maçaneta
Rui já tinha trinta anos, então, mesmo que estivesse muito feliz, logo se acalmou. Ele me colocou no chão, mas não me soltou de imediato. Inclinou a cabeça com cuidado, tentando deixar um beijo em minha testa. — Rui. — Chamei seu nome. Seu movimento parou no mesmo instante. Em seguida, seus olhos transbordaram uma emoção intensa, que, ao cruzar com os meus, irrompeu de vez, sem mais disfarces. — Ana, sou um homem. Sentir desejo por você é a coisa mais natural do mundo. Eu quero te abraçar, quero te beijar, quero te ter de verdade. Esperei por você por mais de vinte anos. Não me faça esperar mais, está bem? A voz de Rui era tão suave, e o olhar que lançava para mim estava carregado de amor. Talvez fosse o efeito sutil do álcool, ou talvez fosse a dureza de tantos anos finalmente mostrando um vislumbre de luz. Em meu coração, perguntei a mim mesma: “Ana, você ainda não conseguiu superar o fracasso do seu casamento? Ana, você tem tanto medo assim de se permitir viver outra r