Na sala de reuniões, Bruno estava parado diante da janela, com uma das mãos no bolso, suas longas pernas cruzadas com uma elegância casual, sem o menor sinal de desconforto por estar em território alheio. Mesmo apenas ficando ali, imóvel, oferecendo apenas a visão de suas costas, ele emanava uma opressão natural, típica de um superior. Quem poderia imaginar que um homem tão imponente e impecável fosse o mesmo que, dias atrás, esteve à beira de um colapso, parado no topo de um prédio? Só de lembrar daquela cena, senti uma onda incontrolável de desespero me invadindo. Acabei soltando uma risada autodepreciativa, sem saber ao certo se estava devastada por ter sido a causa da pressão que quase o esmagou ou por me sentir culpada por ter alimentado pena por ele.A porta da sala de reuniões foi aberta por Zeca, e no momento em que Bruno se virou, seus olhos captaram o leve sorriso sarcástico em meus lábios. Ele lançou um olhar de canto para Gisele, que estava sentada à mesa de reuniões, e
Na noite passada, eu não dormi nem um instante. O dinheiro era praticamente onipotente, e em momentos especiais, Zeca usou métodos igualmente especiais. Quem poderia ser subornado uma vez, poderia ser subornado sempre. Negociei um por um os nomes fornecidos por Nelson, e agora eu já tinha em mãos as informações que desejava. Durante a diálise de Pietro, Gisele retirou o tubo do respirador que o mantinha vivo. Chamar isso de crueldade talvez fosse um eufemismo. Bruno deu um sorriso amargo. O que mais ele ainda precisava preparar? — Fale. — Ele me instigou. Nunca me senti tão dividida como agora. Bruno deveria continuar com Gisele ao seu lado? Seria que Gisele jamais desistiria dele? Mesmo quando ele estava doente, necessitando de cuidados, já não sendo o irmão protetor de antes? Minha mente foi tomada por uma sucessão de perguntas. Depois de muito refletir, percebi que não havia como encontrar respostas. Mantive meu olhar sereno sobre o homem à minha frente. —
Agora, ao olhar para algo assim, Bruno já não sentia raiva ou ressentimento. O que restava era apenas a incompreensão. Ele tinha se esforçado tanto para manter a família unida. Mas, no fim, as coisas nunca aconteciam como ele desejava. Sua mente lhe dizia que deveria reagir de alguma forma, mas isso parecia além de suas forças. Eu, exausta, me recostei na cadeira, apoiando o rosto com uma das mãos enquanto o observava, aguardando sua resposta. Finalmente, ele ergueu a cabeça do arquivo e me encarou com uma expressão vazia. Não sabia quanto tempo se passou. Bruno sempre foi alguém decidido, que agia sem hesitação. No entanto, o silêncio entre nós se estendeu por pelo menos dois ou três minutos. Com as mãos trêmulas, ele se apoiou na mesa e se levantou, saindo sem sequer olhar para trás. Antes de ir, lançou uma última frase: — Sobre Karina, não vou me meter mais. Para mim, parecia mais uma declaração de que ela não era mais sua mãe. Fugir seria a palavra mais adequada p
Quando Zeca entrou, me encontrou de olhos fechados, pressionando as têmporas com os dedos. Ele perguntou com preocupação: — Srta. Ana, está tudo bem? Abri os olhos e lhe lancei um sorriso que mal conseguia disfarçar o cansaço. — Estou bem. Prepare o carro para o Escritório de Advocacia X e ligue para Luz. Vamos fazer uma reunião. — Luz já ligou dizendo que está esperando por você, e o carro já está pronto. Podemos sair agora mesmo. Não hesitei mais. Levantei-me e saí primeiro. Quando a questão de Karina fosse resolvida, seria minha hora de partir. Tudo precisava ser feito com rapidez. A viagem foi curta. Assim que entrei no escritório de Luz, vi que ela estava com um sorriso largo, exibindo todos os dentes. Sua expressão de alegria suavizou um pouco a nuvem pesada que pairava sobre meu coração. — O que a deixou tão feliz? Conte para me animar também! — Perguntei, tentando parecer descontraída. Luz piscou para mim com um ar travesso. — Veja só. Essa declaração da Karin
Zeca ficou ao lado, claramente desconfortável, e encontrou uma desculpa para se afastar. Enquanto observava sua silhueta se distanciar, uma onda de inveja tomou conta de mim. Ah, se eu pudesse simplesmente ir embora também! Se alguém pudesse me dar uma resposta, eu adoraria saber qual caminho deveria seguir. Quando disse a Luz que estava disposta a proteger Gisele, senti um vazio profundo crescer dentro de mim. — Luz, faça como eu pedi. — Levei a mão ao meu ventre, acariciando-o suavemente. — Vou para o exterior repousar e cuidar da gravidez. Preciso me afastar por um tempo. Luz piscou, atônita, e perguntou, quase por reflexo: — Tão longe assim? Assenti com a cabeça. — Agatha pediu que eu fosse até ela. Disse que seria mais fácil cuidar de mim, e eu realmente preciso respirar novos ares. Notei um sorriso amargo surgir nos lábios de Luz. — E você ainda carrega o filho dele. Se fosse eu, nunca partiria assim! — Exclamou, com uma intensidade que quase me surpreendeu. — A
Conversei com Luz por mais de três horas antes de finalmente sair do Escritório de Advocacia X. Zeca me entregou o celular, com uma expressão preocupada. — Srta. Ana, seu celular não parou de vibrar. — O quê? Peguei o celular para verificar, e a tela mostrava quarenta e oito chamadas não atendidas. Apertei o celular na mão, olhando para Zeca. — Não tem problema. Leve-me para o hospital primeiro, ainda não tomei a injeção de hoje. Zeca não contestou, apenas foi buscar o carro. Enquanto ele se afastava, fiquei sozinha na beira do estacionamento, perdida em pensamentos. Jamais imaginei que Bruno me ligaria, ou que algum dia meu celular mostraria uma lista tão longa de chamadas perdidas dele. Apenas dois meses atrás, era impossível conseguir falar com Bruno. Sempre que eu ligava, era Gisele quem atendia. Naquela época, confessava que fiquei irritada. Afinal, que mulher manteria a calma diante de um homem que, minutos antes, estava se entregando a você na cama e, no in
O olhar de Bruno perdeu o brilho num instante, mas sua voz ainda carregava uma profunda ternura: — Por que não? Só depende de você querer. Eu permaneci em silêncio, escutando. Bruno, no entanto, parecia cada vez mais aflito. Com os dentes cerrados, ele disse: — Ana, eu ainda não comi. Vamos jantar juntos? Faz muito tempo que não consigo comer direito. Você pode, por favor, me fazer companhia? — Bruno, comer bem é importante para cuidar da sua saúde e ter forças para lidar com os pensamentos ruins. Cuide de si mesmo, mas eu não estou com fome agora, então não vou com você. De repente, um estrondo do outro lado da linha me assustou, como se algo tivesse sido violentamente arremessado ou quebrado. A mão de Bruno, que segurava o encosto da cadeira, tremia visivelmente. Com uma voz marcada pela tristeza, ele falou: — Só vou tomar um pouco do seu tempo. Eu realmente preciso conversar com você. Se não quiser jantar, podemos ir a um café, tomar um café juntos... Acho que há alg
Os dias aguardando o processo de abertura do tribunal pareciam se arrastar lentamente, mas, ao mesmo tempo, dois meses passaram em um piscar de olhos. Quando vi Bruno novamente, estávamos no caminho arborizado em frente ao tribunal. Zeca abriu a porta do carro para mim, e, ao sair, notei Bruno parado sob uma grande árvore, olhando para mim em silêncio. Ele parecia inexplicavelmente nervoso, e seus dedos, pendendo ao lado do corpo, tremiam levemente. Tentou controlar suas emoções e, como havia ensaiado muitas vezes, começou a caminhar em direção de Ana, tentando encenar um encontro "casual" cuidadosamente planejado. Seus passos eram largos, e, no momento em que saí do carro, ele já havia chegado diante de mim. — Vamos entrar, já está quase na hora. Pude ver claramente o suor escorrendo por sua testa. O calor daquele dia era realmente sufocante, com o som incessante das cigarras ecoando no ar. A minha postura calma pareceu trazê-lo de volta à realidade. Bruno imediatamen