Zeca ficou ao lado, claramente desconfortável, e encontrou uma desculpa para se afastar. Enquanto observava sua silhueta se distanciar, uma onda de inveja tomou conta de mim. Ah, se eu pudesse simplesmente ir embora também! Se alguém pudesse me dar uma resposta, eu adoraria saber qual caminho deveria seguir. Quando disse a Luz que estava disposta a proteger Gisele, senti um vazio profundo crescer dentro de mim. — Luz, faça como eu pedi. — Levei a mão ao meu ventre, acariciando-o suavemente. — Vou para o exterior repousar e cuidar da gravidez. Preciso me afastar por um tempo. Luz piscou, atônita, e perguntou, quase por reflexo: — Tão longe assim? Assenti com a cabeça. — Agatha pediu que eu fosse até ela. Disse que seria mais fácil cuidar de mim, e eu realmente preciso respirar novos ares. Notei um sorriso amargo surgir nos lábios de Luz. — E você ainda carrega o filho dele. Se fosse eu, nunca partiria assim! — Exclamou, com uma intensidade que quase me surpreendeu. — A
Conversei com Luz por mais de três horas antes de finalmente sair do Escritório de Advocacia X. Zeca me entregou o celular, com uma expressão preocupada. — Srta. Ana, seu celular não parou de vibrar. — O quê? Peguei o celular para verificar, e a tela mostrava quarenta e oito chamadas não atendidas. Apertei o celular na mão, olhando para Zeca. — Não tem problema. Leve-me para o hospital primeiro, ainda não tomei a injeção de hoje. Zeca não contestou, apenas foi buscar o carro. Enquanto ele se afastava, fiquei sozinha na beira do estacionamento, perdida em pensamentos. Jamais imaginei que Bruno me ligaria, ou que algum dia meu celular mostraria uma lista tão longa de chamadas perdidas dele. Apenas dois meses atrás, era impossível conseguir falar com Bruno. Sempre que eu ligava, era Gisele quem atendia. Naquela época, confessava que fiquei irritada. Afinal, que mulher manteria a calma diante de um homem que, minutos antes, estava se entregando a você na cama e, no in
O olhar de Bruno perdeu o brilho num instante, mas sua voz ainda carregava uma profunda ternura: — Por que não? Só depende de você querer. Eu permaneci em silêncio, escutando. Bruno, no entanto, parecia cada vez mais aflito. Com os dentes cerrados, ele disse: — Ana, eu ainda não comi. Vamos jantar juntos? Faz muito tempo que não consigo comer direito. Você pode, por favor, me fazer companhia? — Bruno, comer bem é importante para cuidar da sua saúde e ter forças para lidar com os pensamentos ruins. Cuide de si mesmo, mas eu não estou com fome agora, então não vou com você. De repente, um estrondo do outro lado da linha me assustou, como se algo tivesse sido violentamente arremessado ou quebrado. A mão de Bruno, que segurava o encosto da cadeira, tremia visivelmente. Com uma voz marcada pela tristeza, ele falou: — Só vou tomar um pouco do seu tempo. Eu realmente preciso conversar com você. Se não quiser jantar, podemos ir a um café, tomar um café juntos... Acho que há alg
Os dias aguardando o processo de abertura do tribunal pareciam se arrastar lentamente, mas, ao mesmo tempo, dois meses passaram em um piscar de olhos. Quando vi Bruno novamente, estávamos no caminho arborizado em frente ao tribunal. Zeca abriu a porta do carro para mim, e, ao sair, notei Bruno parado sob uma grande árvore, olhando para mim em silêncio. Ele parecia inexplicavelmente nervoso, e seus dedos, pendendo ao lado do corpo, tremiam levemente. Tentou controlar suas emoções e, como havia ensaiado muitas vezes, começou a caminhar em direção de Ana, tentando encenar um encontro "casual" cuidadosamente planejado. Seus passos eram largos, e, no momento em que saí do carro, ele já havia chegado diante de mim. — Vamos entrar, já está quase na hora. Pude ver claramente o suor escorrendo por sua testa. O calor daquele dia era realmente sufocante, com o som incessante das cigarras ecoando no ar. A minha postura calma pareceu trazê-lo de volta à realidade. Bruno imediatamen
Acelerei o passo, desaparecendo do campo de visão dele. Quando olhei para trás, eu também não conseguia mais vê-lo. Meu coração pulsava em um ritmo anormal, incrivelmente acelerado, como se a cada passo que eu dava, estivesse me afastando mais do que havia sido a minha vida até agora. Parei e me apoiei contra a parede, respirando com dificuldade. Minha atenção estava completamente fixada naquele canto onde ele havia desaparecido. Sentia como se a multidão, já naturalmente barulhenta, tivesse ficado ainda mais ensurdecedora e irritante. Bruno havia vindo correndo atrás de mim desde o tribunal, e agora os jornalistas também o seguiam, com câmeras nas mãos. — Presidente Bruno, podia nos dizer para onde sua esposa está indo? Aqui é um terminal de voos internacionais, houve algum problema no casamento de vocês? — Presidente Bruno, é verdade que sua mãe foi o motivo que levou sua esposa a te deixar? — Presidente Bruno... — Presidente Bruno... As vozes caóticas não apenas a
Depois de meses sem vê-lo, o homem diante de mim parecia diferente do jovem destemido que só sabia avançar sem olhar para trás. A face antes cheia de arrogância agora trazia traços de maturidade e serenidade. Ele claramente havia enfrentado tempos difíceis. Sua vida parecia repleta de incertezas, e, enquanto ele e Lara preparavam o divórcio, Rui precisava manter sua posição estável no mercado internacional, o que era um grande desafio para ele. — Por que você voltou ao país? Já resolveu as coisas por lá? — Perguntei. Rui balançou a cabeça lentamente. — Algumas coisas ainda precisam da sua ajuda. Assenti, pensando que era como antes, e respondi: — Dinheiro não é problema. Rui sorriu, pousando novamente sua mão quente sobre minha cabeça e bagunçando meu cabelo levemente. — Ah, então a garotinha de anos atrás agora consegue me proteger contra as tempestades. Sorri de leve, apreciando aquele momento breve e tranquilo. Rui continuou: — Luz me pediu para vir te buscar.
Três anos depois, em uma noite de tempestade. A Mansão à beira-mar estava mergulhada na escuridão, exceto pela luz fraca que brilhava na sala de estar. Bruno estava sentado em uma poltrona reclinável junto à janela, com os olhos semicerrados, deslizando o dedo pelo celular enquanto assistia ao vídeo que havia dominado as redes sociais naquele dia. No primeiro ano, Rui havia arquitetado para que a empresa de sua esposa acumulasse uma dívida de bilhões de reais, ao mesmo tempo em que iniciava um processo de divórcio. No segundo ano, Ana processou ela por inadimplência, venceu a ação e fez com que a antiga dominadora da moda mudasse de nome em uma única noite. No terceiro ano, Ana obteve outra vitória nos tribunais, garantindo que ela não ficasse com absolutamente nada do patrimônio. Ela ajudou o Rui a concluir o divórcio sem perder um centavo. Em três anos, o nome de Rui estava intrinsecamente ligado ao de Ana, enquanto Bruno, além do vídeo viral onde ele chorava desesperado
Gisele pisava descalça no chão, seus passos rápidos e molhados ressoando de forma incômoda. Ao avistar a silhueta de Bruno de costas, ela não conseguiu conter o grito: — Irmão! Irmão, você finalmente está disposto a me ver! — Pare aí. Bruno se virou lentamente, o olhar frio como uma lâmina analisando a mulher à sua frente, vestida com roupas escassas e encharcadas. Sua voz saiu sem qualquer emoção, um tom gélido que fazia tremer: — Seque-se. Gisele olhou ao redor, procurando algo para usar. A única coisa disponível era a toalha jogada aos pés de Bruno. Em sua mente, ela se convenceu: "Ele ainda se importa comigo. Por que mais ele me faria tirar as roupas e aparecer assim tão perto dele?" Três anos. Três anos sem ninguém ao lado de Bruno. Para ela, isso era prova suficiente de que ele devia estar solitário, como qualquer homem estaria. Escondendo o sorriso frio que ameaçava brotar em seus lábios, ela caminhou em direção a ele, o olhar cheio de um apego quase doentio. —