Os dias aguardando o processo de abertura do tribunal pareciam se arrastar lentamente, mas, ao mesmo tempo, dois meses passaram em um piscar de olhos. Quando vi Bruno novamente, estávamos no caminho arborizado em frente ao tribunal. Zeca abriu a porta do carro para mim, e, ao sair, notei Bruno parado sob uma grande árvore, olhando para mim em silêncio. Ele parecia inexplicavelmente nervoso, e seus dedos, pendendo ao lado do corpo, tremiam levemente. Tentou controlar suas emoções e, como havia ensaiado muitas vezes, começou a caminhar em direção de Ana, tentando encenar um encontro "casual" cuidadosamente planejado. Seus passos eram largos, e, no momento em que saí do carro, ele já havia chegado diante de mim. — Vamos entrar, já está quase na hora. Pude ver claramente o suor escorrendo por sua testa. O calor daquele dia era realmente sufocante, com o som incessante das cigarras ecoando no ar. A minha postura calma pareceu trazê-lo de volta à realidade. Bruno imediatamen
Acelerei o passo, desaparecendo do campo de visão dele. Quando olhei para trás, eu também não conseguia mais vê-lo. Meu coração pulsava em um ritmo anormal, incrivelmente acelerado, como se a cada passo que eu dava, estivesse me afastando mais do que havia sido a minha vida até agora. Parei e me apoiei contra a parede, respirando com dificuldade. Minha atenção estava completamente fixada naquele canto onde ele havia desaparecido. Sentia como se a multidão, já naturalmente barulhenta, tivesse ficado ainda mais ensurdecedora e irritante. Bruno havia vindo correndo atrás de mim desde o tribunal, e agora os jornalistas também o seguiam, com câmeras nas mãos. — Presidente Bruno, podia nos dizer para onde sua esposa está indo? Aqui é um terminal de voos internacionais, houve algum problema no casamento de vocês? — Presidente Bruno, é verdade que sua mãe foi o motivo que levou sua esposa a te deixar? — Presidente Bruno... — Presidente Bruno... As vozes caóticas não apenas a
Depois de meses sem vê-lo, o homem diante de mim parecia diferente do jovem destemido que só sabia avançar sem olhar para trás. A face antes cheia de arrogância agora trazia traços de maturidade e serenidade. Ele claramente havia enfrentado tempos difíceis. Sua vida parecia repleta de incertezas, e, enquanto ele e Lara preparavam o divórcio, Rui precisava manter sua posição estável no mercado internacional, o que era um grande desafio para ele. — Por que você voltou ao país? Já resolveu as coisas por lá? — Perguntei. Rui balançou a cabeça lentamente. — Algumas coisas ainda precisam da sua ajuda. Assenti, pensando que era como antes, e respondi: — Dinheiro não é problema. Rui sorriu, pousando novamente sua mão quente sobre minha cabeça e bagunçando meu cabelo levemente. — Ah, então a garotinha de anos atrás agora consegue me proteger contra as tempestades. Sorri de leve, apreciando aquele momento breve e tranquilo. Rui continuou: — Luz me pediu para vir te buscar.
Três anos depois, em uma noite de tempestade. A Mansão à beira-mar estava mergulhada na escuridão, exceto pela luz fraca que brilhava na sala de estar. Bruno estava sentado em uma poltrona reclinável junto à janela, com os olhos semicerrados, deslizando o dedo pelo celular enquanto assistia ao vídeo que havia dominado as redes sociais naquele dia. No primeiro ano, Rui havia arquitetado para que a empresa de sua esposa acumulasse uma dívida de bilhões de reais, ao mesmo tempo em que iniciava um processo de divórcio. No segundo ano, Ana processou ela por inadimplência, venceu a ação e fez com que a antiga dominadora da moda mudasse de nome em uma única noite. No terceiro ano, Ana obteve outra vitória nos tribunais, garantindo que ela não ficasse com absolutamente nada do patrimônio. Ela ajudou o Rui a concluir o divórcio sem perder um centavo. Em três anos, o nome de Rui estava intrinsecamente ligado ao de Ana, enquanto Bruno, além do vídeo viral onde ele chorava desesperado
Gisele pisava descalça no chão, seus passos rápidos e molhados ressoando de forma incômoda. Ao avistar a silhueta de Bruno de costas, ela não conseguiu conter o grito: — Irmão! Irmão, você finalmente está disposto a me ver! — Pare aí. Bruno se virou lentamente, o olhar frio como uma lâmina analisando a mulher à sua frente, vestida com roupas escassas e encharcadas. Sua voz saiu sem qualquer emoção, um tom gélido que fazia tremer: — Seque-se. Gisele olhou ao redor, procurando algo para usar. A única coisa disponível era a toalha jogada aos pés de Bruno. Em sua mente, ela se convenceu: "Ele ainda se importa comigo. Por que mais ele me faria tirar as roupas e aparecer assim tão perto dele?" Três anos. Três anos sem ninguém ao lado de Bruno. Para ela, isso era prova suficiente de que ele devia estar solitário, como qualquer homem estaria. Escondendo o sorriso frio que ameaçava brotar em seus lábios, ela caminhou em direção a ele, o olhar cheio de um apego quase doentio. —
Na festa de celebração, Rui fez um anúncio alto e claro: ele me contrata oficialmente como consultora jurídica especial de sua empresa. Alguém não perdeu tempo em me bajular: — Srta. Ana, você é realmente incrível! Desde que conseguiu sua primeira vitória internacional há um ano, deve ter recebido inúmeras propostas de trabalho, não é mesmo? — Nem precisa perguntar! O título de advogada internacional de prestígio não é à toa. Mas, veja só, quem conseguiu essa honra foi o nosso Presidente Rui. Rui e eu trocamos um olhar e sorrimos levemente. — Ela agora não é apenas uma advogada internacional de sucesso. É também uma jovem empresária que possui uma empresa renomada e um patrimônio invejável. Prestem atenção, hein? Não me venham ofendê-la e fazê-la ir embora! Sorri discretamente e ergui minha taça, brindando com as pessoas à minha frente. — Vamos, parem de me elogiar e falem mais sobre o seu presidente. Caso contrário, ele vai acabar ficando descontente comigo. Na realida
Rui ainda tentou continuar me consolando, mas eu o interrompi. — Rui, vou voltar para país. Ao ouvir minhas palavras, ele ficou completamente atônito. Seus olhos estavam fixos, perdidos, e levou um tempo até que ele reagisse. Quando finalmente conseguiu, esboçou um sorriso incerto, quase nervoso. — Ana, você disse que nunca mais queria voltar para lá. Três anos atrás, ele voltou ao país para me buscar. No aeroporto, Bruno parecia tão frágil quanto os comprimidos que ele deixava cair no chão, e junto com ele, minha memória também parecia quebrada. Cada fragmento era doloroso. Quando embarquei no avião, disse a Rui: — Eu nunca mais quero voltar. Eu não queria ver aquele Bruno novamente. Balancei a cabeça, respondendo suavemente: — Por causa da Dayane, não tenho escolha. Preciso oferecer a ela um ambiente mais adequado. — Posso te ajudar a encontrar isso! E, se não der certo, nós mesmos podemos fundar uma escola. Será uma escola exclusiva para crianças brasileiras. Cont
Reencontrar Bruno aconteceu no jantar que Zeca havia organizado para mim. A mulher que um dia fugiu apressada para o exterior carregando o título de esposa de Bruno agora retornava como alguém que todos queriam agradar. Nem mesmo o fato de, no passado, eu ter sido cruelmente atacada por causa de Bruno. No período logo após minha partida, acompanhei algumas notícias na internet. O vídeo de Bruno ajoelhado com uma perna só no aeroporto, implorando para que eu não fosse embora, permaneceu durante três dias no topo do ranking de assuntos mais comentados. [Ela com certeza vai se arrepender.] Esse foi o comentário mais curtido na época, com mais de um milhão de likes. Agora, de volta ao país, alguém, não sabia quem, desenterrou aquele vídeo esquecido há muito tempo. No vídeo, o homem de olhos avermelhados e cheios de lágrimas parecia completamente diferente do homem sombrio que estava agora diante de mim. Três anos se passaram, e, embora sua aparência tivesse adquirido um ar mais