— O filho dele ainda está vivo. Diga a ele para viver também! — Senti um nó na garganta e minha voz tremeu. — Uma criança não pode crescer sem o pai! — O filho dele? — Gisele repetiu suavemente, surpresa, levantando os olhos para mim. — Você está esperando um filho do meu irmão!? Eu assenti com a cabeça. Um sorriso estranho e perturbador curvou os lábios de Gisele, e sua voz, subitamente doce demais para a situação, me deixou desconcertada: — Ana, venha comigo. Se meu irmão souber que você está esperando um filho dele, ele com certeza ficará muito feliz! Aquela que antes me impedia de ver Bruno agora estava me convidando a subir. Levantei os olhos mais uma vez para o topo do prédio, onde Bruno estava. O medo de que ele desaparecesse com o vento me consumia, e, em pânico, sem conseguir pensar sobre isso, concordei: — Tudo bem. Nelson, porém, segurou meu braço com firmeza, seu olhar sério fixo em mim. — Ana, deixe que Gisele suba. Se vocês têm algo importante a dizer, e
A silhueta de Bruno vacilava ao vento, e eu segurava com força a maçaneta da porta do carro, sentindo meu coração quase saltar pela garganta. Não podia mais me dar ao luxo de hesitar. Se isso continuasse, Bruno estaria em perigo! — Nelson, eu preciso tentar. E se ele quiser me ver... Antes que eu pudesse terminar a frase, ouvi o som do travamento das portas. — Os resgatistas e os especialistas em negociação já estão a caminho. Enquanto Gisele conseguir ganhar mais cinco minutos, mesmo que Bruno pule, ele não vai morrer! — E se ele não aguentar até lá? Nelson, seja profissional e deixe suas emoções de lado. Estamos falando de uma vida! — Meu rosto endureceu completamente. — Abra a porta! Nelson, sentado ao meu lado, tremia ligeiramente, seu rosto congelado em uma expressão fria. — Minha responsabilidade é garantir a segurança de todos, inclusive a sua! Olhe para a direção de uma hora, para a direção de três horas, e observe a troca meticulosa de posições da equipe que patr
Uma pessoa que normalmente tinha tanto medo de sentir dor, naquele momento já não se importava mais. O som agudo das algemas chacoalhando era claro e penetrante, enquanto a voz de Gisele, embargada pelo choro, soava ainda mais desoladora no vento uivante. — Irmão, a Ana mandou a polícia me prender. A mamãe também está na delegacia agora. Se você realmente acha que viver é tão difícil, que precisa nos abandonar, então vá mais devagar. Espere por mim e pela mamãe, porque a Ana com certeza vai nos matar! Ao ouvir isso, o olhar disperso de Bruno começou a focar nos pulsos de Gisele. Só então ele percebeu que ela estava algemada. Ele moveu os lábios, perguntando com dificuldade: — Por quê? — A mamãe foi incriminada pela Ana, envolvida em um caso econômico. Disseram que ela desviou dinheiro público. Eu não sei por quê! A mamãe só disse que a Ana fez isso para se vingar! Bruno olhou para o céu azul com uma expressão apática, acreditando que ele próprio era o motivo de Ana ter per
Meu cérebro parecia agir sem pensar, como se as palavras escapassem de minha boca sem custo algum, apenas para garantir que Bruno sobrevivesse. No meu mundo interno, além do nome dele, não havia nenhum outro pensamento coerente. Se eu considerasse o futuro, essa era a maior concessão que eu poderia fazer. Contanto que ele descesse daquele terraço, eu estaria disposta a destruir todos os planos que levei dois meses para construir. Eu não entendia como fui capaz de tomar uma decisão tão drástica em tão pouco tempo, mas tinha certeza de que não era porque ainda o amava. Talvez, eu só não quisesse me arrepender. Não queria passar noites sonhando com um homem saltando de um lugar alto, nem carregar o peso da culpa por minha frieza no passado. Não queria remorso, não queria ser consumida por essa dor! Por isso, não precisei pensar. Não precisei ponderar prós e contras. Eu só queria que ele vivesse! Mas o que eu não sabia era que, assim que proferi as palavras "jamais vou perdoá
Desde quando Ana se tornou tão importante para ele? Seria desde o momento em que, com os olhos vermelhos, ela o confrontou, perguntando quem ele escolheria entre ela e Gisele? Ou talvez tivesse sido quando, obediente e sensual, ela se entregou ao prazer sob ele? Ou ainda, seria quando, com uma determinação inabalável, ela insistia em pedir o divórcio repetidas vezes? Talvez tivesse sido quando ele percebeu que ela possuía um brilho próprio, capaz de atrair a admiração de outros homens, tornando-se o centro das atenções deles. Nem mesmo seu pai havia deixado uma marca tão profunda em sua vida. E, no entanto, aquela mulher, que antes ele desprezava, conseguiu fazê-lo. Ana dissera: "Mortos não conseguem proteger os vivos!" Talvez ele ainda tivesse alguém que desejava proteger. Ele estava disposto a suportar a dor por essa pessoa. Lutaria para viver, para protegê-la, para garantir que ela não fosse ferida. Com passos vacilantes e as pernas já rígidas, Bruno desceu do terr
Esperei até o cair da noite na nova mansão. Estendi a mão, como se pudesse desenhar o contorno dos arranha-céus e a silhueta daquele homem distante. A escuridão da noite envolvia tudo, e o vidro da janela refletia meu rosto exausto. Era como se eu já soubesse de antemão qual seria o desfecho, mas simplesmente não conseguia me desprender. O ponteiro do relógio se moveu lentamente até marcar meia-noite. O som abrupto do celular cortou o silêncio. [Ana, os policiais cercaram a Mansão à beira-mar. Se você quiser que meu irmão morra, deixe que eles entrem para me prender!] Uma mensagem. A provocação nua e crua de Gisele. Estendi a mão, passando os dedos pela janela como se quisesse apagar o incômodo dentro de mim. Mas o que consegui foi apenas uma mão cheia de poeira. Eu admitia: Gisele tinha me atingido. A verdade era exatamente como ela dissera. Se ela desaparecesse, era muito provável que Bruno também não resistisse. Diante da situação de hoje, eu não sabia até que pont
Na sala de reuniões, Bruno estava parado diante da janela, com uma das mãos no bolso, suas longas pernas cruzadas com uma elegância casual, sem o menor sinal de desconforto por estar em território alheio. Mesmo apenas ficando ali, imóvel, oferecendo apenas a visão de suas costas, ele emanava uma opressão natural, típica de um superior. Quem poderia imaginar que um homem tão imponente e impecável fosse o mesmo que, dias atrás, esteve à beira de um colapso, parado no topo de um prédio? Só de lembrar daquela cena, senti uma onda incontrolável de desespero me invadindo. Acabei soltando uma risada autodepreciativa, sem saber ao certo se estava devastada por ter sido a causa da pressão que quase o esmagou ou por me sentir culpada por ter alimentado pena por ele.A porta da sala de reuniões foi aberta por Zeca, e no momento em que Bruno se virou, seus olhos captaram o leve sorriso sarcástico em meus lábios. Ele lançou um olhar de canto para Gisele, que estava sentada à mesa de reuniões, e
Na noite passada, eu não dormi nem um instante. O dinheiro era praticamente onipotente, e em momentos especiais, Zeca usou métodos igualmente especiais. Quem poderia ser subornado uma vez, poderia ser subornado sempre. Negociei um por um os nomes fornecidos por Nelson, e agora eu já tinha em mãos as informações que desejava. Durante a diálise de Pietro, Gisele retirou o tubo do respirador que o mantinha vivo. Chamar isso de crueldade talvez fosse um eufemismo. Bruno deu um sorriso amargo. O que mais ele ainda precisava preparar? — Fale. — Ele me instigou. Nunca me senti tão dividida como agora. Bruno deveria continuar com Gisele ao seu lado? Seria que Gisele jamais desistiria dele? Mesmo quando ele estava doente, necessitando de cuidados, já não sendo o irmão protetor de antes? Minha mente foi tomada por uma sucessão de perguntas. Depois de muito refletir, percebi que não havia como encontrar respostas. Mantive meu olhar sereno sobre o homem à minha frente. —