Lembrei das palavras de Lara na noite anterior, quando ela veio até mim. Talvez ela finalmente não conseguisse mais conter seus sentimentos, fazendo Bruno perceber o que realmente estava acontecendo. Logo, minha suposição se confirmou. A voz de Lara continuou do outro lado da porta. — Presidente Bruno, vou ser franca com você, é muito provável que o casamento de hoje não aconteça. Rui talvez já tenha fugido com Ana. Bruno soltou uma risada sarcástica, sua voz carregando um tom despreocupado e a autoconfiança típica de um homem. — Parece que você enlouqueceu. Os que estavam do lado de fora ficaram paralisados; se Luz não tivesse tampado a boca de Tristão, ele teria soltado uma risada. Rui se virou para me olhar, seus olhos refletindo uma pitada de esperança. Porém, ao encontrar o meu olhar racional, ele imediatamente se acalmou. A proposta de Lara era suficientemente insana. Eu não sabia até que ponto Rui estava ciente desse plano ou se, na verdade, era ele quem havia ar
Eu e Bruno nunca nos divorciamos?As palavras de Bruno ecoavam repetidamente em minha mente, colidindo como ondas em um mar tempestuoso, e eu mal conseguia pensar. O zunido em meus ouvidos tornava tudo mais confuso.Luz rapidamente se aproximou e segurou minha mão fria, claramente incrédula com o que acabara de ouvir. Levantei os olhos para Rui, que assentiu em silêncio, confirmando o que Bruno dissera. Nunca nos divorciamos...Se eu não tivesse me divorciado dele, o que significava aquelas horas que passei na chuva? O que representava aquele documento de divórcio que eu recebi? E o que era tudo isso, se eu finalmente acreditava que estava me afastando de Bruno, tentando aceitar Rui em minha vida? Quando voltei para Bruno, tornando-me um mero objeto para seus desejos, o que isso significava?Tudo isso... O que era?Não era de admirar que Rui, ao me cortejar, fosse intenso mas contido, nunca se atrevendo a se aproximar demais. Não era respeito; ele sabia que eu carregava um fardo mora
Foi Tristão quem me segurou.Quando Rui abriu os braços para mim, usei todas as minhas forças para mudar de direção.O olhar de Rui estava carregado de dor, chamando meu nome:— Ana!Para minha surpresa, Tristão não se manteve mais na sombra, mas se colocou à frente para me defender.— Você não vai levar sua esposa e sair logo? Está apenas atrapalhando aqui!Luz também se manifestou:— Como pude confiar em você? Pensei em entregar Ana a você, mas o que você fez? Guardou um segredo tão grande sem dizer nada a ela!Nesse momento, não sabia como expressar meu sentimento.Era como se Rui estivesse erguido diante de mim, e sua figura se tornava inacessível.Mesmo quando ele se curvou, eu desviei da mão estendida, entre nós sempre haveria um abismo intransponível.Rui parecia estar consumindo algo indescritível, como se engolisse o veneno mais amargo do mundo, incapaz de pronunciar uma palavra.Queria vomitar essa amargura, mas o veneno já havia se espalhado por seu corpo, misturando-se a el
Bruno vestia um elegante terno preto para o casamento, perfeitamente ajustado ao seu corpo, acentuando seus ombros largos e cintura estreita, realçando ainda mais sua beleza.Ele caminhou em minha direção, expressão impassível, enquanto seus sapatos de couro preto pisavam suavemente no carpete macio.Eu não tinha ânimo para apreciar.Seus lábios estavam comprimidos, a expressão tão severa que ele parecia um demônio prestes a cobrar minha alma.Tristão se colocou à minha frente, e Bruno lhe lançou um olhar afiado, com os olhos levemente semicerrados, como um falcão focando sua presa.— Saia do caminho.Tristão estava coberto de suor.Luz correu atrás dele, desferindo uma chuva de socos em suas costas.— Quem te autorizou a ameaçar meu homem?A paciência de Bruno se esgotava.Ele tolerou Luz por causa de Ana, mas agora, após tantas provocações, estava decidido a agir.Seu olhar escuro se fixou em Tristão, com uma calma que mais parecia um aviso.— Leve-a embora, vocês não são dignos nem
Tristão não conseguiria me levar embora.Como Bruno disse, todos eles juntos não eram suficientes contra ele.Para garantir que o casamento de Rui ocorresse sem problemas hoje, ele trouxe muitos seguranças, mas a função deles mudou completamente.Eu observava, aturdida, enquanto Tristão lutava com os seguranças que Bruno havia trazido, notando Luz, tensa, apertando as mãos.Independentemente do motivo que a levava a estar com Tristão, pelo menos os dois estavam ganhando algo nessa relação; isso já era um sinal de que estavam sendo sinceros.Aqueles que eu inicialmente não confiava pareciam estar se saindo bem juntos, pelo menos melhor do que eu.Bruno apareceu ao meu lado, seu rosto sério iluminado por um brilho sedutor.— Se continuarem assim, ele não vai aguentar.Sua voz, quente e próxima ao meu ouvido, me fez sentir um frio súbito percorrer meu corpo.Tremendo, recuei, afastando-me da mão que Bruno estendia em minha direção.Sua mão lentamente se fechou em um punho, batendo no ar,
— Você realmente não fez nada? — Sorri levemente. — Então, queime uma grande queima de fogos em homenagem ao nosso bebê.Bruno, com os olhos avermelhados, assentiu e imediatamente pegou o celular para fazer a ligação.A grandiosa queima de fogos superou em calor a do casamento de Rui, mas eu não a vi.De volta ao hotel, comecei a sentir febre. Era uma infecção causada por arranhões no corpo.Receber atendimento médico no exterior não era fácil; para uma enfermidade como essa, não havia um tratamento que se adequasse à cultura, apenas algumas pílulas e a expectativa de que a temperatura do meu corpo diminuísse por conta própria.Na escuridão do quarto, Bruno se sentou na beira da cama, vigiando-me.Eu me sentia atordoada, apenas ouvindo o barulho constante dos fogos de artifício do lado de fora. Ouvi Bruno dizer:— Na verdade, a queima de fogos do seu aniversário também era para você, mas na época você queria se separar de mim. Mas não faz mal, hoje está ainda mais linda.Ele me chamou
Bruno me encarava, os olhos fixos, sem o menor movimento, parecendo vazio e desolado. Sua voz também estava embotada.— Hoje é Ano Novo.Meu coração ainda batia com força devido ao pesadelo, mas eu acenei com a cabeça levemente, correspondendo ao olhar dele.Pensei que ele quisesse voltar para casa o quanto antes, então segui o raciocínio dele e continuei:— Você conseguiu resolver as coisas por aí? Sinto-me bem melhor, já podemos voltar a qualquer momento.Bruno estava agachado na minha frente. Após ouvir minhas palavras, seu corpo pareceu desinflar, como se fosse um balão murchando. Ele se deixou cair no chão, com os braços abraçando as pernas e o rosto enterrado nos joelhos.— Meu pai morreu.As palavras dele foram como uma mão forte apertando meu coração, fazendo com que o batimento acelerado parasse de repente. Fiquei sem respirar por um momento.— Mas antes do Ano Novo, ele ainda estava bem... — Falei, incrédula.Bruno se permitiu ser vulnerável por apenas um segundo, antes de se
Desde o começo do ano, Bruno e eu tínhamos continuado a viver na Antiga Mansão da família Henriques. O escritório de Pietro parecia ainda mais sério que o de Bruno. O estilo de decoração em madeira escura, quase preta, fazia com que a figura do homem sentado na posição de honra parecesse ainda mais imponente e opressiva. Ele havia emagrecido bastante. Quando franzia a testa, suas bochechas se afundavam. O cigarro, que já fazia um bom tempo que ele não fumava, foi novamente colocado entre seus lábios, sem qualquer elegância, mas sem estar aceso. Ele me olhou, e, de repente, deu um sorriso muito sutil.— Você forneceu todos os fundos disponíveis do Grupo Oliveira para Rui, através de uma parceria. Sabe o que aconteceria se essa informação vazasse? Nem precisaria de mim para agir, o primeiro a se prejudicar seria você. Na verdade, ele nunca soubera como construir uma família que fosse sua, de verdade. No passado, acreditava que, com Gisele, já era o suficiente. Ele a tratava com extr