À meia-noite, Bruno ainda não havia voltado para o quarto. Isso já era normal, mas hoje eu tinha algo a discutir com ele: eu queria viajar para o exterior, e não poderia esconder isso dele. A mansão estava envolta em escuridão, com o escritório também sem luz. Presumi que ele estivesse no quarto do andar de baixo, mas, após procurá-lo por toda parte, não encontrei seu semblante. Voltei-me para o escritório, onde a porta estava entreaberta. — Bruno? Ninguém respondeu. À luz da lua que entrava pela janela, vi que a escada ao lado da estante estava derrubada, e alguns livros tinham caído do alto da prateleira. O ambiente parecia ao mesmo tempo arrumado e caótico. Bruno estava inclinado sobre a mesa, dormindo levemente, com os longos cílios tremulando, como se seu sono não fosse tranquilo. Aproximando-me, toquei-o suavemente. — Bruno, volte a dormir. Ele abriu os olhos lentamente, focando o olhar em meu rosto, parecendo confuso. Com a voz rouca, ele me perguntou: — O que você e
Bruno virou o rosto, sua linha de mandíbula era perfeita, e seus olhos negros estavam cheios de expectativa. — A partir de hoje, estou de férias. Até o Ano Novo, terei tempo para ficar com você. Fiquei surpresa. — Você disse que está de férias? Bruno confirmou com um aceno silencioso. Minhas mãos, debaixo do lençol, se agarraram firmemente ao cobertor, e um gosto amargo tomou conta de mim. Nos anos anteriores, quando eu queria sua companhia, ele sempre dizia que estava ocupado, e agora, quem parecia tão ansioso era ele. Mas, mesmo que ele tivesse tempo, eu não queria ir com ele ao casamento do Rui. Se, em algum momento, um deles tivesse uma crise de raiva, o casamento poderia não acontecer. Isso me deixou hesitante em contar a verdade. — Então... — Fiz uma pausa, um pouco nervosa. — Então, aproveite bem o tempo com seu pai. Antes, prometi que não sairia de casa até o Ano Novo, mas talvez eu tenha que quebrar essa promessa e sair um pouco. Bruno ergueu a cabeça e sorriu leveme
Ultimamente, arrumar minha mala se tornara uma tarefa muito familiar. Levei apenas duas mudanças de roupas e fui encontrar a Luz no aeroporto. Como esperado, ela estava acompanhada de um homem alto, como um marco no meio da multidão. Quando o vi ao longe, soube que a Luz estava ao lado dele. Ele, usando sua altura a seu favor, me avistou e acenou com os lábios cerrados. Apesar de já tê-lo visto algumas vezes, sua presença ainda me incomodava; havia algo nele que não transmitia boa índole, era difícil distinguir se era amigo ou inimigo. Mas ao lado de Luz, ele não parecia tão ameaçador; ela se encostava delicadamente nele, quase como uma flor ao lado de uma árvore alta. Luz ficou surpresa ao me ver sozinha. Pegou minha mala e a empurrou em direção a Tristão. — Obrigada, o homem que ajuda uma amiga da namorada a carregar a mala é o mais bonito! Ela se aproximou para conversar, mas Tristão a puxou para mais perto, e logo os dois estavam se beijando apaixonadamente no meio do aerop
— Desde o dia em que ele anunciou publicamente seu casamento, isso deixou de ser uma questão apenas dele, tornando-se um assunto entre duas famílias. O que podemos fazer no meio disso? Não temos nem mesmo uma fração de poder. E além disso, quem pode afirmar que está bem, entre nós dois?Minhas palavras eram frias, mas ele, afinal, não era um estranho para mim, o que me impedia de adotar uma perspectiva totalmente distante.Independentemente da escolha que fizesse, o melhor que eu podia fazer era apoiá-lo.A transmissão do aeroporto anunciou, e eu peguei minha mala das mãos de Tristão.— Vamos.— Isso é coisa que ela não me deixou pegar, não tem nada a ver comigo! — Tristão brincou.Luz estava pesada, não respondeu a Tristão, e logo me alcançou, seguindo ao meu lado.De repente, ela apontou à frente.— Ana! Aquela pessoa não se parece com o Bruno?Meu coração disparou, mas quando olhei, não vi ninguém que se parecesse com ele.— Onde? Não tem ninguém.Luz também pareceu alarmada, e sua
O homem caminhou rapidamente, ignorando completamente o grupo atrás dele.Gisele, apressada, chamava pelo irmão, seguida de dois secretários que eu já havia visto no escritório do Grupo Henriques.A comoção era maior até do que a de Rui, o noivo.Rui finalmente reagiu, segurou meu braço e me escondeu atrás dele, ficando de peito aberto na minha frente.— O que você está fazendo aqui? Eu não me lembro de ter te convidado.Bruno olhou fixamente em nossa direção e deu um passo à frente.Rui me puxou para trás.Ele soltou um riso frio.Nesse momento, a Assistente Isabela se aproximou rapidamente, usando seus saltos altos.— Presidente Rui, o convite para o nosso presidente foi entregue pessoalmente pelo seu pai, que enfatizou a importância de sua presença. — Disse ela, tirando um convite dourado de sua pasta, que era ainda mais luxuoso do que o que eu havia recebido.Rui cerrou os punhos, olhando para mim com uma expressão de desculpas:— Ana, eu realmente não sabia.— Não se preocupe. — R
Eu parei, e ele também interrompeu seus passos.A maioria das pessoas nas ruas do exterior andava apressada, mas ali estávamos nós, trocando olhares em meio à multidão, onde só existíamos um para o outro.Não pude evitar pensar que, quando o vi pela primeira vez naquela festa, se eu soubesse que ele ocuparia a maior parte dos momentos felizes e desesperadores da minha vida, eu conseguiria controlar meu olhar, evitando que ele se fixasse nele.Tentei desviar o olhar, mas ele parecia ter um encanto indescritível, fosse amor ou ódio, que me obrigava a mantê-lo fixo em seu rosto.Uma raiva inexplicável começou a surgir em mim. — Você realmente precisa me seguir assim?Estava irritada, e ele certamente já sabia que eu participaria do casamento do Rui, mas nada me disse. Precisava aparecer no momento em que eu e Rui nos encontrássemos, puxando-me de volta para seu lado.Quando ele viu nossas expressões surpresas, provavelmente se sentiu vitorioso.Bruno mantinha os lábios comprimidos, com
Ao ouvir Bruno dizer isso, pude confirmar que a situação definitivamente tinha a ver com ele. Eu não conseguia compreender seus pensamentos; meu sangue parecia ter coagulado em um instante. — Eu já estou ao seu lado!— Ana, não quero discutir isso com você. Bruno apenas pronunciou essas palavras e ligou para chamar um carro. A partir daí, só restou o silêncio entre nós.Para Bruno, todos os envolvidos no casamento do Rui, exceto Ana, achavam que era um bom enlace. Ela continuava sendo aquela mulher que só sabia amar e gostar, mas esse amor e essa preferência nunca mais se refletiriam nele.Ele não queria mais discutir o assunto com Ana; temia perder o controle, e isso só faria com que ela se afastasse ainda mais.Quando chegamos ao hotel, ainda era cedo. Gisele finalmente conseguiu o que queria e puxou Bruno para sair novamente.Não demorou muito para Luz me ligar, convidando-me para jantar. A primeira coisa que ela fez foi criticar Bruno: — Aquele idiota do seu namorado, levan
Lara falava com a cabeça levemente inclinada para cima, uma verdadeira princesa mimada. Eu imaginava que ela provavelmente já sabia da relação que tive com Rui, uma história que nem chegou a começar. Diante dela, tentei ser gentil, pois, afinal, qualquer noiva se importaria com isso. Era compreensível que ela não quisesse me ver ao lado de Rui.Peguei o vestido que ela me entregou. — Entre. Servi-lhe uma xícara de café, sabendo que, por trás do seu convite para eu ser sua madrinha, estava uma verdadeira intenção de afirmar domínio.— Em nosso país, mulheres casadas não podem ser madrinhas. Queria dizer a ela que, independentemente da sua presença, não haveria mais nada entre mim e Rui, pois eu já era casada.O sorriso de Lara congelou no rosto. — Ouvi da irmã do Presidente Bruno que você é apenas uma mulher que ajuda o Presidente Bruno a atender suas necessidades físicas. Atender necessidades físicas... Quase não consegui processar. Essa era a primeira vez que alguém expunh