Procurei por toda a Mansão à beira-mar, e finalmente avistei Bruno, ereto, no jardim dos fundos coberto de neve. Seu casaco preto estava coberto por uma fina camada de flocos brancos, evidenciando que ele estava ali há um bom tempo. Normalmente, essa época do ano seria a mais agitada para ele, mas ali estava ele, perdido na contemplação da neve que caía.Seu olhar parecia fixo em um ponto distante, ao mesmo tempo vago, como se estivesse perdido em pensamentos, sua expressão etérea mais leve do que os próprios flocos de neve.— Bruno. — Chamei suavemente.Uma sensação me dizia que, se não o chamasse, ele poderia se congelar, fundindo-se com o inverno. Queria contar a ele sobre meus planos de ir para o exterior, embora já estivesse preparada para sua possível reprovação.Ele se virou, com um semblante tão frio quanto as geleiras de mil anos atrás. Cada traço de seu rosto parecia delicado, mas escondia uma crueza cortante. Seus olhos foram se focando em mim lentamente, e após um momen
O escritório estava silencioso, e por um momento só se ouvia o som das folhas sendo viradas. Bruno me abraçava, repousando a cabeça em meu ombro, sem interromper meu pensamento.— Esta é a segunda vez que você me ajuda. Senti-me feliz. Antes, pensei que ele estivesse agindo rapidamente para me ameaçar, mas agora via que ele estava me oferecendo, de forma generosa, as ações do Grupo Oliveira novamente. Comparado a isso, as precauções que fiz com Zeca pareciam um tanto desonestas.— Onde você pretende focar seu trabalho daqui para frente?A pergunta de Bruno me pegou de surpresa. Virei-me para olhar para ele. Minha sombra cobria boa parte de seu rosto, e o olho que restava exposto brilhava em um jogo de luz e sombra.Ele disse calmamente:— Se você quiser aprender a administrar a empresa, posso arranjar alguém para te ensinar.Puxei uma caneta do porta-canetas, destampei-a e me preparei para assinar.— Não quero aprender. Tenho o Zeca, confio nele para cuidar das coisas.— Ele é um est
À meia-noite, Bruno ainda não havia voltado para o quarto. Isso já era normal, mas hoje eu tinha algo a discutir com ele: eu queria viajar para o exterior, e não poderia esconder isso dele. A mansão estava envolta em escuridão, com o escritório também sem luz. Presumi que ele estivesse no quarto do andar de baixo, mas, após procurá-lo por toda parte, não encontrei seu semblante. Voltei-me para o escritório, onde a porta estava entreaberta. — Bruno? Ninguém respondeu. À luz da lua que entrava pela janela, vi que a escada ao lado da estante estava derrubada, e alguns livros tinham caído do alto da prateleira. O ambiente parecia ao mesmo tempo arrumado e caótico. Bruno estava inclinado sobre a mesa, dormindo levemente, com os longos cílios tremulando, como se seu sono não fosse tranquilo. Aproximando-me, toquei-o suavemente. — Bruno, volte a dormir. Ele abriu os olhos lentamente, focando o olhar em meu rosto, parecendo confuso. Com a voz rouca, ele me perguntou: — O que você e
Bruno virou o rosto, sua linha de mandíbula era perfeita, e seus olhos negros estavam cheios de expectativa. — A partir de hoje, estou de férias. Até o Ano Novo, terei tempo para ficar com você. Fiquei surpresa. — Você disse que está de férias? Bruno confirmou com um aceno silencioso. Minhas mãos, debaixo do lençol, se agarraram firmemente ao cobertor, e um gosto amargo tomou conta de mim. Nos anos anteriores, quando eu queria sua companhia, ele sempre dizia que estava ocupado, e agora, quem parecia tão ansioso era ele. Mas, mesmo que ele tivesse tempo, eu não queria ir com ele ao casamento do Rui. Se, em algum momento, um deles tivesse uma crise de raiva, o casamento poderia não acontecer. Isso me deixou hesitante em contar a verdade. — Então... — Fiz uma pausa, um pouco nervosa. — Então, aproveite bem o tempo com seu pai. Antes, prometi que não sairia de casa até o Ano Novo, mas talvez eu tenha que quebrar essa promessa e sair um pouco. Bruno ergueu a cabeça e sorriu leveme
Ultimamente, arrumar minha mala se tornara uma tarefa muito familiar. Levei apenas duas mudanças de roupas e fui encontrar a Luz no aeroporto. Como esperado, ela estava acompanhada de um homem alto, como um marco no meio da multidão. Quando o vi ao longe, soube que a Luz estava ao lado dele. Ele, usando sua altura a seu favor, me avistou e acenou com os lábios cerrados. Apesar de já tê-lo visto algumas vezes, sua presença ainda me incomodava; havia algo nele que não transmitia boa índole, era difícil distinguir se era amigo ou inimigo. Mas ao lado de Luz, ele não parecia tão ameaçador; ela se encostava delicadamente nele, quase como uma flor ao lado de uma árvore alta. Luz ficou surpresa ao me ver sozinha. Pegou minha mala e a empurrou em direção a Tristão. — Obrigada, o homem que ajuda uma amiga da namorada a carregar a mala é o mais bonito! Ela se aproximou para conversar, mas Tristão a puxou para mais perto, e logo os dois estavam se beijando apaixonadamente no meio do aerop
— Desde o dia em que ele anunciou publicamente seu casamento, isso deixou de ser uma questão apenas dele, tornando-se um assunto entre duas famílias. O que podemos fazer no meio disso? Não temos nem mesmo uma fração de poder. E além disso, quem pode afirmar que está bem, entre nós dois?Minhas palavras eram frias, mas ele, afinal, não era um estranho para mim, o que me impedia de adotar uma perspectiva totalmente distante.Independentemente da escolha que fizesse, o melhor que eu podia fazer era apoiá-lo.A transmissão do aeroporto anunciou, e eu peguei minha mala das mãos de Tristão.— Vamos.— Isso é coisa que ela não me deixou pegar, não tem nada a ver comigo! — Tristão brincou.Luz estava pesada, não respondeu a Tristão, e logo me alcançou, seguindo ao meu lado.De repente, ela apontou à frente.— Ana! Aquela pessoa não se parece com o Bruno?Meu coração disparou, mas quando olhei, não vi ninguém que se parecesse com ele.— Onde? Não tem ninguém.Luz também pareceu alarmada, e sua
O homem caminhou rapidamente, ignorando completamente o grupo atrás dele.Gisele, apressada, chamava pelo irmão, seguida de dois secretários que eu já havia visto no escritório do Grupo Henriques.A comoção era maior até do que a de Rui, o noivo.Rui finalmente reagiu, segurou meu braço e me escondeu atrás dele, ficando de peito aberto na minha frente.— O que você está fazendo aqui? Eu não me lembro de ter te convidado.Bruno olhou fixamente em nossa direção e deu um passo à frente.Rui me puxou para trás.Ele soltou um riso frio.Nesse momento, a Assistente Isabela se aproximou rapidamente, usando seus saltos altos.— Presidente Rui, o convite para o nosso presidente foi entregue pessoalmente pelo seu pai, que enfatizou a importância de sua presença. — Disse ela, tirando um convite dourado de sua pasta, que era ainda mais luxuoso do que o que eu havia recebido.Rui cerrou os punhos, olhando para mim com uma expressão de desculpas:— Ana, eu realmente não sabia.— Não se preocupe. — R
Eu parei, e ele também interrompeu seus passos.A maioria das pessoas nas ruas do exterior andava apressada, mas ali estávamos nós, trocando olhares em meio à multidão, onde só existíamos um para o outro.Não pude evitar pensar que, quando o vi pela primeira vez naquela festa, se eu soubesse que ele ocuparia a maior parte dos momentos felizes e desesperadores da minha vida, eu conseguiria controlar meu olhar, evitando que ele se fixasse nele.Tentei desviar o olhar, mas ele parecia ter um encanto indescritível, fosse amor ou ódio, que me obrigava a mantê-lo fixo em seu rosto.Uma raiva inexplicável começou a surgir em mim. — Você realmente precisa me seguir assim?Estava irritada, e ele certamente já sabia que eu participaria do casamento do Rui, mas nada me disse. Precisava aparecer no momento em que eu e Rui nos encontrássemos, puxando-me de volta para seu lado.Quando ele viu nossas expressões surpresas, provavelmente se sentiu vitorioso.Bruno mantinha os lábios comprimidos, com