Na verdade, eu nunca tive o direito de ensinar nada ao Bruno. Eu sabia melhor do que ele o que significava dar tudo de si, sem pensar nas consequências. Quando eu o amei por tantos anos, nunca imaginei que haveria um dia em que eu deixaria de amá-lo. Quando pressionei uma lâmina contra o meu próprio pescoço, também não me perguntei se minha mão tremeria e acabaria cortando minha artéria. Quando aceitei ficar com o Rui, eu não previa que nós dois nos separaríamos antes mesmo de realmente estarmos juntos. Em cada decisão que tomamos, sempre existia uma razão incontornável para seguir em frente, mas também devemos estar preparados para suportar as consequências. — Você está certo. Respondi casualmente, enquanto espalhava o antisséptico sobre o ferimento dele, os movimentos rápidos e precisos, minha expressão focada. — Só quando se trata de você, eu ajo impulsivamente. Minha mão parou por um instante ao ouvi-lo dizer isso de repente. Senti, por um momento, que o corte e
Soltei uma leve risada, segurei o rosto de Bruno entre as mãos e dei um beijo suave em seus lábios. — É assim? Bruno estreitou os olhos enquanto me observava. — Ainda não é o suficiente. Fechei os olhos, obediente, tentando aprofundar o beijo, mas o toque nos meus lábios não era o dele. Em vez de sentir a suavidade de seus lábios, meu beijo encontrou sua bochecha. Ele virou o rosto, evitando-me. — Ana, você sabe o que está fazendo? Um lampejo de confusão passou pelo meu olhar. Eu não estava apenas fazendo o que ele pediu? — Não consigo ver nenhuma emoção nos seus olhos. — Havia uma sombra de tristeza no olhar de Bruno enquanto ele me empurrava para o assento ao lado. — Nem mesmo posso chamar isso de tentativa de agradar. O que isso significava? Eu tomei a iniciativa, e agora ele não queria mais? Bruno deixou apenas o perfil visível para mim, sua mandíbula cerrada, e seus olhos ganharam um brilho afiado, quase cortante. Depois de um longo silêncio, perguntei: —
Eu e Zeca saímos do escritório de advocacia já tarde da noite, e aproveitei para convidá-lo para jantar. Durante o tempo em que estive ausente, foi graças a Zeca que o Escritório de Advocacia X não afundou. A chegada repentina de um assistente para cuidar das decisões importantes gerou muitos comentários, e eu sabia disso, mesmo que ele não dissesse nada. Em agradecimento, dei a ele um bônus em meu nome pessoal, afinal, daqui para frente, eu precisaria de sua dedicação em muitos aspectos. Enquanto esperávamos a comida, Zeca passava os dedos ao redor da borda do copo, com uma expressão um tanto estranha. — Se tem algo a dizer, fale. Não precisamos esconder nada entre nós dois. — Ah, não é nada demais, só que... Não sei se você está sabendo, mas parece que Luz está namorando. ... Luz? Namorando? Ela sempre foi focada apenas na carreira, como poderia estar envolvida com algum homem? — Não fale sobre suposições. Se ela está ou não namorando, eu saberia. Zeca deu de ombros e,
— Tudo bem, então vamos tomar uma taça. — Ouvi Bruno dizer isso a Maia no outro cômodo.Abrir uma garrafa de vinho caro ali garantira uma comissão ao gerente, que ficou visivelmente animado. Ele logo saiu para chamar um garçom, ansioso por servir aquelas pessoas generosas.Com os estranhos fora da sala, Maia e Bruno pararam de se conter na conversa.— Bruno, você tem se mostrado demais ultimamente. A reconciliação entre você e Ana já chegou até mim.Bruno não negou ao ouvir aquilo.— Mas, afinal, somos oficialmente um casal. Se eu for embora, você, no mínimo, deveria me dar uma separação digna. Não posso ser alvo de chacota pelas costas.O bom tratamento de Bruno a Maia não era novidade. Ele cuidava dela desde que eram pequenos.Por isso, quando ele perguntou o que Maia queria, não fiquei surpresa. Bruno sempre cedia às pessoas que ele mantinha no coração.— O próximo episódio que eu vou gravar será o encerramento do programa. Vai ter muita gente presente, e a audiência vai aumentar. Q
— Ana?Foi a primeira vez que vi Luz assim, deslumbrante ao lado de um homem, sem o peso de seu uniforme de trabalho. E aquele homem à sua frente me parecia estranhamente familiar.Ele aparentava ter por volta de vinte e seis ou vinte e sete anos, com traços ligeiramente mais suaves do que os de Bruno, mas ainda assim, sua face era esculpida com uma beleza marcante. Seus olhos, levemente gélidos, davam a ele um ar de desdém, um toque de rebeldia, mas havia um brilho sutil em seu olhar que sugeria uma inteligência astuta, algo que não se podia subestimar.Ele parecia ser alguém com planos muito bem calculados.Pelo visto, este era o namorado que Zeca havia mencionado, o novo companheiro de Luz.— Ana, ainda não te apresentei. Este é meu namorado, Tristão. Estava comentando com ele sobre você, dizendo que eu queria muito que ele conhecesse a minha melhor amiga. E olha só, você apareceu justamente agora!— Tristão, essa é a Ana, minha melhor amiga, aquela de quem eu tanto falo.Sorri e
O olhar de Tristão se tornou profundo. Ele já desejava conhecer Ana há muito tempo, não era algo recente. Esse pensamento o acompanhava há anos. No entanto, parecia que Ana havia esquecido completamente dele.Durante o último ano da faculdade, Ana defendeu uma senhora idosa em um processo judicial. Essa senhora sempre o tratou muito bem, especialmente em tempos difíceis, quando ele mal tinha o que comer. Ela sempre lhe guardava um pouco de comida. Mais tarde, a idosa adoeceu e, por falta de recursos, acabou comprando medicamentos de um fabricante inescrupuloso, o que agravou ainda mais sua condição.Ana, vendo a situação financeira precária da senhora, não cobrou pelos seus serviços. No entanto, por causa desse caso, acabou sendo alvo de vingança premeditada. Tristão, em gratidão, reuniu alguns amigos para escoltar Ana discretamente de volta para casa todos os dias. No entanto, havia um jovem policial que seguia Ana de perto, o que impediu que ele tivesse qualquer oportunidade de
Bruno não demonstrou nenhuma surpresa. Parecia que ter mais uma pessoa no círculo já não era segredo, apenas ele não o tinha visto antes. — Fique longe da sua irmã. Ele não fez questão de poupar Tristão, deixando apenas essa frase antes de me levar para o carro. Pelo visto, um filho ilegítimo nunca conseguiria o respeito dele. Olhei para trás e vi Tristão com uma mão no bolso, sorrindo levemente, sem saber no que ele estava pensando. De repente, minha cabeça foi virada de volta, e Bruno se inclinou para colocar o cinto de segurança em mim. — Ainda olhando. — Não estou mais olhando. — Bruno ligou o carro com o rosto impassível. — Achei que você achou interessante ter ganhado um irmão. Por causa de Bruno, agora sempre que ouço a palavra "interessante", me sintia desconfortável. Se tinha alguém que deveria entender o que era novidade, seria ele. Afinal, Gisele não tinha laços de sangue com ele, e mesmo assim ele a mimou por tantos anos. — Não achei interessante. — Respond
O vidro da janela foi abaixado por ele, deixando que o vento fresco da noite entrasse, dissipando um pouco da emoção que pairava no ar. Bruno apoiou uma mão na borda da janela.— Vou pensar sobre isso. No caso da Maia, afinal, foi a Gisele que deve desculpas a ela primeiro.Ao ouvir isso, não fiquei surpresa. No coração dele, só as mágoas que os outros causaram à Maia importavam, nunca as que ela causou aos outros. Mesmo assim, ele estava com a Maia por causa da culpa que sentia? Se ele acompanhá-la ao evento de encerramento, seria mais uma vez uma declaração pública ao mundo de que Maia era a sua mulher. E todo o esforço que fiz ao levá-lo propositalmente para jantar comigo seria apenas um teatro. Tudo já havia sido decidido na mente de Bruno. Mesmo que ele fosse tão impositivo ao me manter ao seu lado, ele jamais me escolheria. Eu me esforcei para me soltar de seus braços. — Vamos voltar.— Já está brava? — Bruno riu levemente, levantando a mão para acariciar meu cabelo. — Po