Na plateia, de repente, uma pessoa vestida com roupas casuais pretas, usando óculos escuros e um boné da mesma cor, se levantou de forma abrupta e jogou seu copo no chão, gritando alto:— Se a apresentadora não é profissional, então que vá embora! Se não sabe falar, doe a boca!Ele rangia os dentes, e os óculos enormes faziam sua mandíbula parecer ainda mais afiada, como uma lâmina pronta para cortar. Sua raiva parecia prestes a explodir e preencher todo o estúdio. Com suas longas pernas, ele avançou em direção ao palco com passos determinados.Era Rui.Fiquei preocupada com ele, pois não havia dado nem meia dúzia de passos quando os seguranças ao lado de Bruno, como se já estivessem preparados, se levantaram e o agarraram. Ele, sozinho, não conseguiu resistir aos vários homens, e foi imobilizado, com os braços presos, sendo arrastado para fora do estúdio...Bruno mantinha os olhos baixos, sem fazer nenhum movimento desnecessário durante todo o incidente. A confusão não foi suficiente
Assim que saí do estúdio, antes mesmo de ver alguém, ouvi passos apressados se aproximando.Rui, que estava agachado nos degraus do lado de fora, correu na minha direção assim que me viu, envolvendo-me em um abraço apertado.Seu abraço era quente, quase febril, e ele tremia. Sua voz saiu engasgada:— Eu voltei!— Sim. — Respondi, batendo levemente em suas costas.— Meu irmão recuperou o controle das operações da minha empresa, me mandou para o exterior e confiscou meu celular e meu passaporte. Voltei escondido de barco.Ele claramente nunca tinha passado por esse tipo de dificuldade. Mesmo com os óculos escuros, eu podia sentir que, por trás deles, seus olhos estavam marejados.Querer ficar comigo era algo impossível desde o início. Se ele insistisse em seguir esse caminho, mesmo sabendo que não havia futuro, o que estava vivendo agora seria apenas o começo de seu sofrimento.— Meu pai quer que eu me case com alguém que ele escolheu, e quando recusei, ele até me bateu. — Ele parecia um
— Ana Oliveira!O grito de Bruno era contido e calmo, como se ele estivesse chamando alguém sem importância. No entanto, havia uma desesperança sutil, como um eco sombrio de um pesadelo. A mão que estava sobre meu ombro apertou levemente, e o corpo de Rui tremeu um pouco. Ele murmurou baixinho, pedindo minha opinião: — Ana, não olha para trás, tá bom? Vamos comer algo gostoso.Olhar para trás?Para onde eu poderia voltar?Depois de todos esses anos de enredo com Bruno, o que restou além de lembranças ilusórias? Não havia mais nada para onde retornar. Levantei o olhar para o vazio à minha frente e soltei um sorriso de desdém.— Você tem dinheiro no bolso? — Perguntei, resignada.Atrás de mim, Bruno chamou meu nome mais uma vez, mas dessa vez fui eu quem se afastou primeiro, deixando-o observar minha partida decidida. Havia muitas pessoas na entrada da emissora, e o chamado de Bruno já havia atraído alguns olhares curiosos. Alguns, inclusive, sacaram seus celulares para gravar o momen
Sob o olhar cheio de expectativa de Rui, assenti levemente com a cabeça. — Se esse dia realmente chegar, estou disposta a tentar com você.Ao vê-lo partir com um sorriso satisfeito, afundei-me exausta na cadeira. Toda aquela comida na mesa já não me despertava o menor apetite. Rui estava simplificando as coisas demais.Embora eu não me considerasse uma pessoa ruim, a verdade era que fui casada, perdi um bebê, e era a ex-mulher de Bruno. Isso era uma barreira que jamais poderia ser ignorada. Não sabia o quanto Rui precisaria sacrificar para que sua família deixasse de nutrir esse preconceito contra mim. Naquele momento, senti-me egoísta. Se eu realmente gostasse dele, deveria estar ao seu lado, enfrentando tudo junto, vencendo esses preconceitos. Mas, agora, percebia que já não tinha mais forças para me entregar a outra relação. Balançando a cabeça, peguei o celular e liguei para Rui. Queria dizer a ele que talvez fosse melhor desistir, que aquilo não era justo com ele. Uma voz fri
À noite, quando estava prestes a dormir, ouvi um som de algo arranhando a porta. Achei que fosse algum gatinho ou cachorrinho de rua perdido, mas, quando olhei pela fresta, vi Bruno. Ele estava com a cabeça levemente inclinada para trás, o pomo de Adão subindo e descendo, e os olhos avermelhados fixos em mim. O cheiro de álcool misturado com o ar úmido da chuva me envolveu imediatamente.Dei dois passos para trás e abri a porta. Sem o apoio, ele caiu diretamente no chão. Era como se ele não sentisse dor; seu rosto estava inexpressivo, olhando para mim, sem dizer uma palavra. Ele nunca foi assim, tão descontrolado. Raramente bebia ou fumava. Eu estava mais acostumada a olhá-lo de baixo para cima, e não assim, de cima, vendo tão claramente o desespero, a mágoa e a confusão em seus olhos. Ouvi sua voz rouca dizer:— Não quis te incomodar.Ele lutava para se levantar, a voz baixa e áspera, enquanto se encostava à porta. Sentado ali, de cabeça baixa, esboçou um sorriso amargo.— Pode
Dei um leve chute no braço de Bruno, que escorregou mole para o chão como se não tivesse ossos. Ele estava com febre, a testa tão quente que me assustou. Bati no rosto dele com força, tentando despertá-lo. Seus olhos se abriram, cheios de uma ferocidade escura, mas, ao perceber que era eu, seu olhar suavizou, e ele me fitou como se estivesse em um sonho.Eu estava prestes a falar, mas ele me abraçou de repente, murmurando:— Se o tempo pudesse parar para sempre neste momento, seria perfeito.Houve uma época, em nossa breve intimidade, em que eu também tinha esse tipo de fantasia irreal. Naquela época, eu tinha uma família que me amava, uma mãe que me adorava e o homem que eu amava. Mas agora, eu não tinha mais nada disso.— Bruno, você é muito egoísta.Inclinei levemente a cabeça, e minha voz suave se aninhou em seu ouvido, penetrando fundo.O corpo febril de Bruno pareceu esfriar um pouco, e ele lentamente me soltou.— Ana, não queria te incomodar!Levantei-me, respirando fundo.— Se
As palavras de Maia não despertaram em mim nenhuma emoção. Pensei por um momento e calmamente disse a ela: — Então você menos ainda deveria ter vindo me provocar, afinal, sem mim, você não teria nada do que tem hoje. — Srta. Ana, você é muito confiante! Ela não admitiu, mas em seu coração era como se tivesse levado um golpe certeiro, apertando os punhos com força. Ela sabia melhor do que ninguém como havia conquistado tudo o que tinha, mas ainda assim, não se conformava. Afinal, o preço que pagou foi alto demais. Um sentimento de humilhação subiu em seu peito. — O Bruno é bom para mim, e isso não tem muito a ver com você. Ele só não gosta de você, Srta. Ana, não alimente ilusões. — Sendo assim, do que você está com medo? Não está na hora de ir embora? Minha expressão permanecia serena, mas uma profunda melancolia se apoderava do meu coração. Apesar de não ter muito contato com Maia, aos poucos fui entendendo sua personalidade. Ela era diferente de Gisele, não jogava palavr
Maia cruzou os braços diante do peito, assumindo a postura de uma vencedora e soltou um riso frio: — Bruno só estava interessado em você no começo porque era novidade. Mas, no final das contas, homens são todos iguais, até mesmo o Bruno. Srta. Ana, não fique tão triste. Bruno agiu rapidamente. Com apenas algumas palavras, a gravação do meu programa foi interrompida no mesmo dia. O diretor, acompanhado de várias pessoas, veio apressadamente, pegando o roteiro que eu havia preparado por dias e colocando-o nas mãos de Maia. Eles invadiram a sala de maquiagem como verdadeiros ladrões, mas trataram Maia com grande reverência. Ela levantou a mão e, na minha frente, rasgou o roteiro em pedaços. — Não preciso das coisas dela! Depois disso, sorriu para mim, mexendo os lábios sem emitir som, mas claramente dizendo "desculpe" de forma provocativa. Eu só havia assinado contrato para gravar um episódio, com a promessa de que, se o primeiro fosse bem recebido, poderíamos negociar uma ex