A voz do homem era baixa: — Se você está cansada, durma. Fico aqui com você. Na última fração de consciência, eu sacudia a cabeça internamente; isso não poderia ser Rui, senão como sua voz teria o poder de acalmar? O pior foi que Rui devia ter visto minha expressão desolada e não saberia como me zoar. Mas isso não importava; eu já aceitava até que Bruno tivesse um filho com outra mulher, então, o que era a provocação de Rui? Eu estava exausta. Após retornar ao país, fui direto ao tribunal e vivi uma noite de tortura. Minhas emoções eram uma montanha-russa, e eu me dizia que era hora de dormir. Em um instante, abandonei toda resistência, entregando-me ao abraço de Rui, perdendo totalmente a consciência. Sonhei com o início do meu casamento com Bruno, quando Gisele adoeceu gravemente, e desde então ela se tornou parte da minha vida. Algumas dúvidas talvez não precisassem ser comprovadas; todas as respostas estavam ali. Ao acordar, minha consciência se desprendeu do sonho,
Rui se endireitou, olhando para mim de cima enquanto gritava: — Você é a louca, dormindo como um porco! Chamei você para levantar e comer tantas vezes, e você nem acordou nenhuma! E eu? Não tinha dignidade? — Não vou comer, não estou com fome! Levantei a coberta para me levantar, mas então percebi que a roupa que usava não era o vestido roxo que eu havia escolhido. Em vez disso, estava vestindo uma camisa branca, masculino... Fiquei paralisada. Nem mesmo estava usando sutiã... Gritei e rapidamente puxei o cobertor para me cobrir, olhando para Rui com uma fúria incontrolável, meu dedo indicador apontando para ele: — Onde estão minhas roupas? Rui riu, com as mãos na cintura, olhos semicerrados. — Você não acha que as roupas que você arrastou pelo chão podem ir para a minha cama, né? Até achei sujas ao te abraçar. Ele falava como se estivesse comentando sobre o clima, sem um pingo de arrependimento em seus olhos castanhos. Minhas mãos segurando o cobertor tremiam,
Meu pulso foi agarrado por Rui, e tentei me soltar, mas ele tinha muita força. — Você vai me bater? — Não quero falar com você. Solte-me! Saia daqui! — Esta é a minha casa! — Então se afasta, eu vou embora! Rui de repente sorriu. — Que crueldade! — Na fração de segundo seguinte, ele segurou minha mão e me pressionou na cama. — Ana, hoje não vou mais me importar. Prefiro que você me odeie para sempre do que permitir que você fique com o Bruno! Nos seus olhos castanho-escuros, eu via meu próprio rosto pálido. Ele fechou os olhos e, sem hesitar, se inclinou para baixo. Tentei desviar o rosto, mas seus lábios tocaram o travesseiro ao meu lado, enquanto seu corpo, que pressionava o meu, tremia.Eu nunca estive tão próxima dele, a ponto de uma fina coberta não conseguir esconder os corações que pulsavam freneticamente. Não sabia por que, mas entre nós, duas pessoas vivas, pairava uma quietude mortal. Após um breve silêncio, como se tivéssemos iniciado algum ritual misterios
Nunca imaginei que a minha relação com Bruno acabaria envolvendo todos. Principalmente entre adultos, como é que duas pessoas poderiam brigar por causa de sentimentos? Era extremamente vergonhoso! Bruno lentamente virou a cabeça, seu olhar gelado como uma lâmina afiada. — Você me mordeu por causa dele? O gosto de sangue invadiu minha boca; não era porque eu tinha quebrado a pele do pulso dele, mas sim porque seus músculos estavam tão tensos que fizeram minhas gengivas sangrarem. Ele não parecia se importar nem um pouco com a dor que causei. Levantei lentamente a cabeça e, diante do olhar questionador de Bruno, percebi que sua raiva não era apenas por ciúmes. Era mais uma questão de dignidade, de traição. Para ele, isso era uma humilhação que nenhum homem poderia suportar. Ele sempre teve tudo fácil na vida e, provavelmente, nunca havia enfrentado algo tão constrangedor, como flagrar sua própria esposa na cama com outro homem... A pressão em seu punho aumentou, e Rui a
Fiquei um pouco atordoada; não esperava que Bruno dissesse isso. Acompanhando sua respiração, fui gradualmente me acalmando, como se a situação que eu achava insuportável não o afetasse em nada. As notícias que quase explodiram minha cabeça eram, na verdade, sobre nós dois, mas eu era a única em pânico. Forcei um sorriso enquanto começava a vestir o paletó de Bruno. — O que você queria de mim? — Desviei o olhar para a janela, incapaz de encarar o sangue escorrendo de sua cintura. — Deixe-me em algum lugar e volte para o hospital. Cuide-se, e quando você se recuperar, poderemos nos divorciar. Era uma proposta digna, não? Senti um orgulho silencioso, interpretando o papel de uma mulher independente. Ele deveria estar aliviado por eu não insistir em discutir Maia. Estava tão satisfeita que até me impressionei com minha própria determinação, sorrindo para não deixar lágrimas brotarem nos meus olhos, repetindo para mim mesma que não estava triste. Mas ele não respondeu, e me
Isso não era um beijo. Era mais como uma punição que me fazia sufocar. Eu estava envolta em um cheiro de sangue, sem saber se era do Bruno ou de nós dois. De qualquer forma, era uma experiência pior do que qualquer outro beijo que já tive. Era tão horrível que me fez ter uma ilusão risível e absurda: parecia que, mesmo esgotando suas últimas forças, ele queria que morresse em meus braços. Parecia que me acostumei a ele sempre me olhando, me puxando para perto e me dando um beijo sem mais nem menos. Acostumei-me ao seu sorriso gentil e cortês, a este homem que me tratava como sua esposa. De repente, percebi que Bruno me havia domesticado. Através de inúmeras primeiras vezes, ele me fez sentir o amor de uma forma nova, mostrando que a paixão unilateral era sem sentido; o amor verdadeiro era aquele que se dava em duas vias. A consequência disso era que não sabia mais como recusá-lo.Eu de repente deixei de lado minha resistência, permitindo que ele batesse seus dentes no
Gisele hesitou por um momento, sua voz imediatamente tingida de choro: — Irmão, você não sabe? — Explique-se! O que eu deveria saber? A força de Bruno aumentava, a ponto de ele nem perceber que estava me machucando. Senti um tremor de culpa, então apenas suportei. Naquele momento, minha raiva me cegou; a mistura de realidade e sonho trouxe um impulso que não considerei o corpo frágil de Pietro e como ele poderia reagir a isso... Embora quisesse me vingar de Gisele, nunca pensei em machucar a família de Bruno. Pela primeira vez, vi os olhos dele, tremendo de uma fúria desenfreada, enquanto Gisele gritava, em prantos: — Ana, foi a Ana quem enviou as provas contra mim no grupo! Irmão, tudo o que ela disse eu nunca fiz! O áudio é falso, você precisa acreditar em mim... Bruno não ouviu mais nada e desligou rapidamente o celular. Seus dedos longos e elegantes tremiam ao abrir o aplicativo verde; ele me perguntou em voz baixa: — Que grupo? Permaneci em silêncio. Bruno
De repente, perdi toda a vontade de me justificar. Explicar seria, de certa forma, admitir meus erros. Bruno quebrou o silêncio, a voz carregada de mágoa: — Ana, sabe qual é a coisa mais cruel que você fez? Lancei-lhe um olhar, meu semblante tão calmo que não havia o menor traço de emoção. Se eu realmente fosse capaz de ser fria com ele, não estaria nesse tipo de situação, enfrentando-o em um espaço apertado e sufocante. De repente, Bruno soltou uma risada. — O mais cruel é que você voltou para o meu lado e fez com que eu me ame por você. Amor? Por um momento, duvidei do que tinha ouvido. Levantei a cabeça, surpresa, e o encarei. Naquele instante, quase me esqueci do conflito entre nós, tudo por causa daquela palavra leve e despretensiosa: amor. Ele tentou levantar a mão para me tocar, mas o movimento agravou o ferimento em sua cintura, e seu braço caiu pesadamente. No segundo seguinte, ele declarou com frieza: — Mas é uma pena, eu nunca poderei te amar. Ah.