Champanhe geralmente era usado para comemorações. Mas, claramente, não seria necessário nesta noite. Coloquei a champanhe de volta no armário e escolhi o vinho tinto que Bruno tinha preparado para beber. Servi uma taça para mim mesma. Lá fora, a neblina densa cobria toda a Cidade J, enquanto as luzes de néon, vibrantes e ofuscantes, formavam um rio de brilho que perfurava o véu nebuloso com um toque de mistério. Com a taça na mão, caminhei até a janela panorâmica. A visão lá fora era obscurecida pela neblina; tudo o que eu conseguia ver era o reflexo da minha própria figura, solitária e colorida, espelhada no vidro. No dia seguinte, ao contrário do que Bruno havia sugerido, eu não fui diretamente à Assistente Isabela para assinar o acordo de transferência do Escritório de Advocacia X. Em vez disso, fui ao Grupo Oliveira. Como presidente do Grupo Oliveira, parecia que eu ainda não tinha feito uma aparição oficial na empresa. Porém, hoje, minha intenção não era me exibir, m
Olhei para a pessoa que estava falando. Quando eu era pequena, já a tinha visto antes. Era um velho veterano, subordinado do meu pai, que havia sido convidado inúmeras vezes para jantar em nossa casa.Porém, após a morte de meu pai, ele não poupou esforços para dificultar a vida da minha mãe por causa dos assuntos do Grupo, e agora, fazia o mesmo comigo.Senti um silêncio em meu coração, meu rosto se tornou frio, e minha voz saiu suave:— Claro que há uma boa proposta, mas não existe almoço grátis. Posso me retirar, sim, mas transfiro minhas ações e vocês as compram!Essa era a decisão que eu havia pensado cuidadosamente. Também já havia considerado depender da proteção de Bruno para fazer o Grupo Oliveira crescer ainda mais forte, mas entre nós dois, o segredo não poderia ser mantido para sempre.Eu sabia que não era adequada para o mundo dos negócios. Se chegasse o certo dia, eu não tinha confiança de que poderia manter o Grupo Oliveira sozinha. Seria melhor sair logo, antes que Bru
Eu ainda não fui diretamente encontrar Bruno, mas liguei para marcar um encontro com Luz. Quando nós duas finalmente chegamos ao escritório dele, já era fim de tarde.Ao abrir a porta, a primeira coisa que vi foi Bruno, reclinado na cadeira, descansando com os olhos fechados. Todo o seu corpo estava banhado pela suave luz alaranjada do pôr do sol. A camisa branca que vestia suavizava seus traços, fazendo-o parecer incrivelmente tranquilo. Seu queixo estava ligeiramente levantado, e o perfil que costumava ser marcado por linhas fortes parecia agora menos imponente. Seu pescoço longo e firme exibia uma marca escura, um beijo deixado da noite anterior, que se destacava ainda mais contra a luz do entardecer. Fiquei pensando em quanta força usei naquela noite...Era uma cena rara de beleza estática, mas Luz não estava no clima para apreciar. Assim que entrou, antes mesmo de dar alguns passos, tropeçou na perna da mesa em frente ao sofá.Bruno abriu os olhos, alerta. Quando viu uma estra
Depois de acalmar Luz, voltei ao escritório de Bruno. Assim que entrei, fui agarrada pela cintura e pressionada contra a pesada porta de madeira. — Sra. Henriques, você é realmente generosa. Tantas pessoas passariam a vida implorando por essas riquezas, e você as entrega a outros como se fosse nada.Agarrei seus dedos, que apertavam minha cintura, acariciando-os suavemente para acalmá-lo. Ele foi relaxando aos poucos, e só então consegui me virar em seus braços, ficando de frente para ele.— Amor, quantos bons amigos uma pessoa pode ter na vida? — Enlacei sua cintura suavemente, encostando meu rosto em seu peito. — No fim das contas, tenho vinte e seis anos, e só tenho dois.Luz era um deles, e Agatha também, embora esta estivesse no exterior há muito tempo, fazendo um curso, e eu não a visse há anos.— E eu? O que sou para você? — Bruno segurou meu queixo, inclinando-se para me beijar, suas palavras saindo abafadas contra meus lábios. — Sra. Henriques, quando é que você vai ser tão
Assim que as palavras saíram da minha boca, arrependi-me. Ao ver o sorriso evidente no rosto de Bruno, que ele nem teve tempo de esconder, perguntei a mim mesma por que não consegui me conter.Bruno não me deu tempo para lamentar. Ele inclinou a cabeça, cobrindo com o polegar a marca do beijo em seu pescoço, enquanto as veias em sua mão pulsavam com uma tensão contida.Ele me repreendeu friamente:— Se não fosse por você, minha relação com minha irmã não estaria tão frágil quanto está agora.— Está dizendo que sou desnecessária?Senti como se meu coração tivesse sido atingido por um soco, encolhendo-se de dor de forma incontrolável. Em questão de segundos, o homem que, um instante atrás, estava me cortejando, agora me olhava com um desprezo gelado.Eu...Levantei minha mão trêmula, tentando tocá-lo. Não queria começar uma briga com ele naquele momento. Ele ainda estava tão perto, no entanto, evitou meu toque, se afastando.Ajustando a gravata, ele me olhou com uma expressão profunda
Bruno, aquele homem irritante, veio se encostar em mim de novo, e eu o empurrei com uma bofetada.— Pode falar o que quiser. — Mais uma vez, me afastei de seus braços. — Mas uma advogada não pode ser acusada injustamente, então eu preciso dizer que acabei de ter uma crise de hipoglicemia. Vou encontrar a Luz para jantar.Bruno lambeu o vestígio de sangue nos lábios, claramente insatisfeito com minha reação.— Seu marido está aqui, e eu não posso jantar com você?Assenti com a cabeça.— Abro mão de qualquer coisa que você chame de competitividade. Daqui em diante, todo o seu tempo é para Gisele. Eu não preciso.Bruno segurou meu braço, e seu rosto mudou ligeiramente.— Está querendo brigar comigo?— Não. — Sorri levemente. — Eu só acho que, se você realmente se considerasse meu marido, como poderia suportar me deixar competir com outra pessoa?Bruno hesitou por um momento, seus olhos astutos se movendo brevemente. Em instantes, ele se levantou e me acompanhou para fora.Olhei para o lad
Bruno assentiu e, com um sorriso cavalheiresco no rosto, finalmente me soltou.— Sobre o que você mencionou a respeito de competição, isso realmente me fez pensar. Eu sou bom em refletir, se o que você diz faz sentido. Sabe, naquele momento em que você correu para os meus braços no hospital, lá no exterior, foi a única vez que, por completo, abaixei minha guarda com alguém. Deixei de lado o seu passado, e todos os nossos desentendimentos, apenas porque você disse que precisava de mim. Isso, como seu marido, me deu uma sensação de satisfação emocional. Por isso, em algumas pequenas coisas, também estou disposto a ceder. Entendo suas sutilezas, e nunca achei que você fosse desnecessária. Pelo contrário, você é minha esposa, e estou disposto a gastar tempo para lidar com as questões dentro da nossa família.Ele fez uma breve pausa e continuou:— Tenho vinte e nove anos, e no ano novo farei trinta. Já te falei que acho o amor algo imaturo, mas ainda assim desejo que meu lar seja harmonioso
Divertimo-nos por um tempo no estacionamento subterrâneo, antes de, finalmente, ceder à fome e à sensação de tontura, subirmos no carro dele.Embora a essa altura a noite já estivesse avançada, a rua comercial ainda estava cheia de gente. As luzes de néon cintilavam nas fachadas dos edifícios, e o cenário era de pura prosperidade.Em certo momento, sem que eu percebesse, Bruno havia reservado o andar mais alto do restaurante giratório mais prestigiado da cidade.Lembrei-me das palavras de Luz durante nossos tempos de escola. Ela me disse que algumas pessoas chegaram a uma grande cidade e continuavam trabalhando arduamente, sem tempo para aproveitar nada, como se apenas o salário fosse um pouco maior, mas, no fundo, não houvesse diferença em relação à cidade natal.Na época, eu não entendia o que ela queria dizer. — Só quando você gastar trezentos mil reais em uma única noite, entre jantar e diversão, é que realmente vai conhecer o que é uma grande cidade.As palavras, carregadas de