Aquela noite havia sido um pouco insana, tanto que, quando acordei, minha mente estava completamente confusa e turva. Perguntei à dona Rose que horas eram e ela me informou que já estávamos no segundo dia.Dei um tapa forte na própria testa. A essa altura, Kevin provavelmente já havia sido transferido para o centro de detenção.Apressei-me a lavar o rosto e a me maquiar. Assim que saí do quarto, Gisele apareceu na minha frente no momento exato.Seus lábios cor-de-rosa esboçaram um sorriso estranho, que, embora tivesse durado apenas um instante, eu fui rápida o suficiente para capturar. Era como se um pequeno demônio de asas e cauda longa, com dentes afiados, estivesse ali.Ela mudou o olhar e colocou no rosto uma expressão de inocência.— Ana, o meu irmão não está em casa, quero conversar com você. — Era a primeira vez que ela me procurava com tanta seriedade. — Ana, meu irmão disse que vai me mandar de volta para a Antiga Mansão da família Henriques. É porque estou dormindo no quart
Gisele, no fim, não conseguiu mais se conter. Fiquei em silêncio por um momento, puxando minha mão, que estava ficando pálida de tanto que ela a apertava. Sorri.— Então, você contratou alguém para te ferir e depois jogar a culpa em mim, foi isso que você fez, certo?O sorriso de Gisele desapareceu, seus olhos cheios de malícia enquanto falava com desdém:— E daí? Meu irmão nunca acreditaria que fui eu. E mesmo que soubesse, ele daria um jeito em tudo por mim. Esqueceu daquela vez, na minha escola, quando uma mulher gorda te deu um tapa? Vou te contar a verdade, eu contratei uma atriz também. Aquele tapa foi planejado por mim! Você se lembra? Naquela vez, você também queria me expulsar! Ana, eu não ajo sem motivo, foi você que me forçou a fazer isso!De repente, Gisele começou a rir descontroladamente...No segundo seguinte, ela cobriu o rosto com as mãos e se agachou, chorando baixinho...Fiquei um pouco atordoada, tentando processar tudo o que Gisele havia acabado de me contar. Entã
Depois de acalmar meus pensamentos, ainda fui procurar o Kevin.Ao entrar novamente no centro de detenção, senti um turbilhão de emoções. Eu tinha acabado de sair de lá, mas parecia que todos haviam perdido a memória. Minhas dores foram levemente ignoradas, esquecidas...— Adv. Ana! — Uma voz masculina urgente me chamou, quebrando meus pensamentos. Levantei o olhar e vi que era Kevin.— Não me chame de Adv. Ana. — Estendi a mão para ele, sorrindo suavemente. — Hoje, não vim aqui como advogada. Aliás, como advogada de sua esposa, não seria adequado conversar diretamente com você.Ele apertou minha mão de leve, logo soltando. Eu podia sentir o esforço dele para controlar suas emoções.— Desculpe. — Ele murmurou em voz baixa.Balancei a cabeça.— Não tem problema. Vamos falar sobre o que importa. Hoje, vim aqui como amiga de sua esposa, apenas para bater um papo.— Ela está bem? — Kevin perguntou, com um tom um pouco abatido.Lembrei-me da única vez que vi Ursula. Mesmo com uma maquiagem
— Ana. — Eu estava prestes a sair quando uma voz masculina de repente me chamou. Mesmo sem me virar, eu sabia exatamente de quem era aquela voz. Olhei para a porta próxima de mim, suspirei profundamente e, com um sorriso no rosto, me virei. — Nelson.Eu não esperava encontrar Nelson aqui. Afinal, ele já tinha sofrido bastante por minha causa. Eu lhe devia isso. Repeti a mesma pergunta que fiz a Kevin: — Você está bem?Ele apertou os lábios. O homem, vestido com seu uniforme, parecia forte e resoluto, mas o leve rubor no canto dos olhos o traiu. Atravessando o longo corredor, ele se aproximava de mim, passo a passo. — Obrigado.— Desculpe.Quando ele chegou à minha frente, nós dois falamos ao mesmo tempo. Ele sorriu de repente, mostrando uma fileira de dentes brancos sob a aba do boné. — Tem um tempo? Vamos comer algo juntos. — Hesitei por um momento, e ele acrescentou: — Lembro que você ainda me deve um jantar.Fiquei em silêncio, então ele continuou: — Se você achar que nã
Depois de sair do centro de detenção, eu não sabia para onde ir. Peguei a gravação da conversa entre mim e Kevin e a enviei para Ursula. Assim que ela ouvisse, entenderia que, além de ir ao tribunal como esperado, não havia outra escolha. Eu disse a ela que, se não quisesse comparecer, eu mesma poderia ir. Ela me respondeu que precisava pensar um pouco e também dependeria de como estaria sua saúde no mês seguinte. — Se meu corpo permitir, eu gostaria de vê-lo uma última vez. Eu, claro, respeitei a decisão dela, mas uma de suas frases quase me fez perder o controle. Ela disse: — Talvez essa seja a última vez que o verei em toda a minha vida. O sol já havia se posto no horizonte, e o crepúsculo não durou muito. Quando desliguei o celular, as luzes de néon na rua começaram a brilhar. Minha intenção era ir diretamente para a Mansão à beira-mar, mas Luz me ligou naquele exato momento. Desde que assumi o caso de divórcio de Ursula, a atenção online por causa do envolvimen
Despedi-me de Luz, puxando um pouco mais a gola do meu vestido enquanto saía, cambaleando levemente. O motorista de Bruno, ao me ver, correu para me ajudar, mas eu o afastei, abrindo sozinha a porta do carro. Dentro, Bruno estava sentado lá, com os olhos fechados, a cabeça apoiada no encosto do banco. Seu pomo de Adão subia e descia inconscientemente. Ele parecia exausto, nem notou minha chegada, dormindo profundamente, sem qualquer sinal de alerta.— Sra. Henriques, o Sr. Bruno teve uma série de reuniões hoje. Depois correu para casa e agora veio direto buscá-la. Por favor, não leve a mal. O motorista indicou que eu deveria entrar pela outra porta. Olhei para trás e vi Luz, com um olhar preocupado à distância. Para não a deixar mais ansiosa, ignorei o que o motorista disse e entrei no carro, meu corpo se pressionando contra o de Bruno. Sentei-me de frente para ele, montada em seu colo, e com um sorriso, fiz sinal para o motorista fechar a porta. Ultimamente, a relação en
Recomeçar? Que proposta tentadora e maravilhosa. Sorri suavemente enquanto meus dedos deslizavam pelo rosto de Bruno, acariciando levemente suas sobrancelhas e olhos. Ele achou que eu estava feliz e apertou minha cintura com força, roubando um beijo intenso dos meus lábios. — Feliz? O rosto do homem transbordava confiança. Era a expressão mais falsa de alguém que estava acostumado a ocupar o topo e controlar tudo ao seu redor! — Certo. — Respondi com indiferença. Sempre fui uma pessoa minuciosa, que gostava de esclarecer as coisas e de fazer tudo com clareza. Mas, naquele momento, pressionei meus lábios, segurando todos os pensamentos que passavam pela minha cabeça. Não perguntei nada. Ele era um mestre na arte de construir castelos. E, além da pequena princesa que já habitava seu castelo, ele também me queria ali. — A felicidade simples assim está ótima. — Ele disse. — Eu me lembro que, quando começamos, você disse algo parecido. Ele arqueou as sobrancelhas.
Eu subestimei a determinação de Luz em me ajudar a seduzir meu marido...Ao abrir a porta do quarto de hotel, fui recebida por uma visão impressionante: uma enorme janela de vidro que permitia uma vista panorâmica da cidade à noite, as luzes brilhando intensamente, revelando o esplendor do centro urbano. Mas esse não era o foco. O que chamou minha atenção de verdade foi um balanço pendurado de frente para a janela... Quanto ao motivo de estar de costas para a vista... Acreditava que Bruno entendeu muito mais rápido do que eu. Ao levantar o olhar e ver o desejo não disfarçado em seus olhos, percebi que ele tinha entendido perfeitamente! — Sra. Henriques, quem diria que você conhecia um lugar como este. Ao ouvir a voz de Bruno, um arrepio percorreu minha espinha. Eu não conseguia imaginar o preço doloroso que teria que pagar essa noite para conseguir o Escritório de advocacia X. Estendi a mão para cobrir seus olhos, mas claramente já era tarde demais. Ele segurou minha