Sophie

O som do alarme irrita Sophie mais do que qualquer coisa no mundo. Odeia acordar cedo. Ela levanta rápido para desligar o alarme e se arrepende na hora, porque toda vez que isso acontece ela fica tonta. "Minha mãe me daria uma bronca." pensou. Sua mãe era médica, e sempre priorizava pela saúde da filha mesmo que às vezes a irritasse.

Ela só deixou Sophie se mudar para a Ilha de Maya para estudar e dar início ao seu projeto se ela prometesse se cuidar e seguir com a mesma alimentação que seguia em casa.

Sophie não pode dizer que não tentou.

Sua colega de quarto já tinha saído, melhor assim. Ela não teria que lidar com a garota sempre acordando de bom humor e cantarolando. Sophie demorava mais algum tempo para realmente ficar desperta.

Ela vai até o banheiro, não iria escovar os dentes antes do café porque a comida iria ficar com um gosto ruim, tomou banho e voltou para o quarto. Sophie procura a roupa que usou ontem e sente o cheiro, para ver se ainda podia usar, e para sua infelicidade, não dava mais.

Procurou outra roupa no armário, alguns livros estavam guardados ali, presentes ou alguns que ela comprou por achar a capa bonita. Ela os guardava no guarda roupa porque sua colega de quarto tem a mania irritante de ficar pegando eles e ficar folheando sem o menor cuidado e isso fazia Sophie querer cometer uma brutalidade.

Ela pega um short jeans e uma camisa preta escrito "meu reino por um travesseiro" em fundo amarelo com o contorno azul, e depois calçou seus tênis amarelos mostardas com cadarços pretos.

Os Campos são grandes áreas com vários cursos de várias áreas, estão espalhados por todo o continente Oeste. O da capital era o maior deles por ter sido o primeiro. O da Ilha de Maya não é tão antigo, mas era grande, com dez prédios, um para cada curso, cada andar é um nível e cada prédio tinha uma decoração diferente. O da Sophie era o de engenharia, com sete andares, era apenas um bloco branco com janelas panorâmicas nos dois últimos andares. Na entrada, o porteiro a cumprimenta com um aceno de cabeça e um sorriso gentil, ele tinha um cabelo ralo nas laterais da cabeça e seu rosto era enrugado e com várias sardas. Já era um idoso feliz com seu trabalho, pelo menos parecia.

- Bom dia, senhor Hector. - Sophie cumprimenta acenando para ele.

- Bom dia, Sophie. - Ele diz sorridente.

Ela entra no prédio, no térreo tinha apenas uma escada com piso de granito preto, o balcão onde ficava o pessoal da secretaria e alguns bancos estofados para as visitas. Sophie sobe as escadas pulando um degrau de cada vez. Sua sala era no quinto andar, já tinha alguns alunos dentro. Todos combinando, com roupas sociais finas e segurando seus celulares, ela não gostava daqueles idiotas. Não pelas roupas, Sophie simplesmente não suporta a presença deles, falando uma idiotice atrás da outra e se acham os donos do mundo. Eles também não gostavam dela, e Sophie se sentia honrada por ter algo tão maravilhoso quanto o ódio deles.

Ela sentou na segunda cadeira da fileira próxima à porta e pegou o celular da mochila, a professora sempre demorava a chegar mesmo. Sophie sempre mandava mensagens para sua mãe quando chegava na aula. Agora, ela apenas espera que a mãe responda. Sophie passava o tempo ouvindo músicas românticas, achava lindo como os cantores retratavam que o amor é uma coisa perfeita e com problemas fáceis de resolver sendo que na verdade é um estresse do caramba.

Outros dois alunos chegam, um garoto e uma garota, a garota senta na frente de Sophie e o garoto atrás. Ambos olham para ela empolgados.

- Oi, Sophie! - A menina cumprimenta. Era gordinha, com o cabelo castanho, longo e encaracolado. Seus olhos eram castanhos e sua pele era parda.

Sophie levanta a cabeça para olhar para ela e sorri.

- Oi, Naomi! - Sophie cumprimenta.

O garoto atrás de Sophie a cutuca no ombro, ele tinha o cabelo penteado para trás, olhos também castanhos, mas sua pele era azul bebê.

- Oi, Adam! - Sophie cumprimenta o cutucando também.

- Oi! - Adam cumprimenta rindo.

Adam e Naomi eram os únicos amigos da Sophie ali no campo, eram totalmente relaxados e tranquilos com as coisas. Sophie admirava isso.

- Você não tinha ido visitar a família? - Sophie pergunta apoiando o braço em cima da cadeira.

- Eu ia, mas minha avó tá doente e não gosta de ser vista desse jeito. - Ele explica dando de ombros. - Queria tanto ver meu primo. - Ele lamenta.

- O que tem um lado bom! - Naomi diz. - Já que não é nada de mais e ela vai ficar bem. - Acrescenta rápido olhando para Adam.- Assim podemos seguir com os testes para a feira do final do semestre.

- Verdade. - Sophie concorda.

Os três iriam tentar criar um projeto que, se fosse aprovado, eles poderiam ser transferidos para a Capital Imperial, Gedeon, onde ficava o maior Campo de todos, já que foi o primeiro a ser construído. Lá eram quadras inteiras para uma única área, esportes, artes, etc. "Bota as escolas dos livros que eu já li pra pedir esmola." Sophie pensa toda vez que lembra das fotos daquele Campo.

- Sair desse calor infernal. - Adam diz, sonhando.

- Vãs do próprio curso para nos levar até lá. - Naomi diz, fechando os olhos. Sua pregiça se superava cada vez mais. - Não vamos ter que andar.

- Festas de verdade. - Sophie complementa.

- Ai! Queria ter ido para lá desde o início. - Adam comenta triste.

Adam é de Escarion, o país onde mora a Imperatriz do Oeste, todos lá têm a pele em tons diferentes de azul, alguns até têm poderes especiais. Adam não tem nenhum, pelo que ele mesmo saiba, e se mudou para a Ilha de Maya ainda criança e os pais o matricularam em uma escola independente. Ele não morava na capital, mas quer ir para lá por motivos óbvios: tudo lá é perfeito.

Sophie cresceu em Therese, um lugar bem chato para falar a verdade, não tinha feriados nem datas comemorativas, o país mais chato do continente inteiro. Sophie queria tentar ganhar uma bolsa para Gedeon, mas sua mãe deu um ataque por causa disso, então ela foi para a Ilha de Maya. Não era ruim, mas também não era o melhor.

Naomi era a única que de fato era estrangeira. Ela veio do Leste, do outro Império, poucos escarianos realmente gostavam dela por causa de uma guerra que houve anos atrás. Mas ela era legal, não tinha esse preconceito com os escarianos que eles diziam que toda pessoa do Leste tem com eles.

- Todos nós vamos para Gedeon. - Naomi diz otimista. - Porque nós não estudamos tanto para nada.

- Com menos chances de ser obrigada a conviver com um bando de idiotas que mais parecem estar aqui pra aquecer as cadeiras. - Sophie diz com o punho cerrado e em seguida olha para dois alunos que estavam olhando para ela. - Vocês mesmo!

Naomi segura o ombro de Sophie e Adam cobre o rosto com a mão.

- Ficou louca, menina? - Naomi pergunta, mantendo Sophie na cadeira. - Sabe quem eles são?

- Outro motivo para eu querer ir para Gedeon. - Adam diz em voz baixa. - Falei com um amigo meu de lá e ele disse que lá não tem isso, todos os alunos são tratados igualmente e olha que tem filhos de nobres, governantes e generais estudando lá. Até o príncipe do império estudava em Gedeon. Mesmo que tivesse esse favoritismo com os alunos, esses dois aí não seriam nada.

Alguém bate na porta, uma secretária com cabelo liso, escariana e olhos estreitos. Ela olha para todos na sala, procurando por alguém.

- Sophie Hauser? - Ela chama gentilmente.

Sophie arregala os olhos quando ouve seu nome, tentou lembrar do que ela fez na semana anterior. Não brigou com ninguém, não gritou. Essa semana, ela foi um verdadeiro anjo. Levantando a mão, relutante, Sophie chama a atenção da moça.

- Sou eu. - Ela diz gentilmente, a secretária olha para ela.

- Um oficial da força de Íris está procurando por você. - A secretária aponta para trás com o polegar.

- Quê? - Sophie congela.

Ela se perguntou o que fez em toda a vida. Já mordeu uma criança no jardim de infância; quebrou um vaso da professora no fundamental quando tinha uns oito anos por ter falado mal do desenho que ela tinha feito; bateu em um menino que chamou ela de velhinha no ano seguinte; gritou com o porteiro da escola que espantou um gato; colocou uma tachinha na cadeira do professor do nono ano porque ele humilhou um aluno por causa da nota dele... mas por que a polícia iria atrás dela só agora? E por que viria? Sophie já pagou por tudo isso, suspensa porque se recusou a pedir desculpas. Menos a tachinha, até hoje ninguém sabe que foi a Sophie, e antes nem tiveram como provar porque ela "faltou" no dia.

"Vai me dizer que o professor morreu de infecção na bunda por causa da tachinha?" Sophie pensou. "Se for sobre aquilo de novo..." Ela começou a lamentar, triste e sem energia para passar por isso.

- Um oficial quer falar com você na entrada. - A secretária gesticula para que ela venha logo. - É de Gedeon.

Sophie levanta olhando para Naomi e Adam, que também ficaram preocupados, os outros alunos começam a cochichar entre si e até rir. Sophie ouve um deles dizer "Já era a hora, essa delinquente."

- Cala a boca, seu metidinho! - Ela grita para ele. - Você vende drogas com o pessoal da química! Delinquente aqui é você!

Ela sai, quase empurrando a secretária, e desce as escadas. No térreo, tinha um rapaz um pouco mais velho que ela, seu cabelo preto estava preso em três grandes tranças que passavam de seu pescoço, sua pele era negra e seus olhos eram laranjas. Ele usava um uniforme azul marinho com o símbolo da bandeira de Escarion e o do império Íris abaixo. O único que parece ser um oficial ali, sem contar que ele estava encarando a Sophie. Ela vai até ele com passos largos.

- Você é o oficial que quer falar comigo? - Sophie pergunta.

Ele assente com a cabeça e fica com a coluna reta.

- Sim. - Ele diz tirando as mãos dos bolsos e apontando para o símbolo no bolso dianteiro do casaco, o símbolo de um relâmpago branco em um círculo azul. - Meu nome é Hank Fowller, da força do império Íris, da ordem do General Supremo Urano Febe, e sirvo em Gedeon.

Hank falava em um tom completamente convencido, Sophie torce o nariz em desgosto, sem contar que parecia bem arrogante esse oficial.

- E o que você quer comigo, Hank? - Sophie perguntando gesticulando para ele.

Ele cerra os lábios, irritado, e puxa um bocado de ar pelo nariz.

- Gostaria de fazer umas perguntas. - Ele respondeu tentando manter a calma. - Me acompanha?

Sophie revira os olhos, não gostou do Hank e achou ele um completo metidinho, mas por causa desse uniforme chique ele tem todo o direito de se achar o maioral.

- Beleza. - Ela responde dando de ombros.

Os dois vão para o refeitório, não era longe, leva no máximo três minutos do prédio de Sophie até lá. Os dois sentam um de frente para o outro em uma mesa de granito com cadeiras de ferro presas a ela.

- O que você quer? - Sophie perguntou, indo direto ao assunto.

Hank olha em volta, parecia menosprezar o campo, Sophie apostou que ele passou a vida toda no Campo de Gedeon. Ficou um pouco preocupada que lá tivesse alunos ainda piores do que os da Ilha de Maya.

- Vim fazer umas perguntas - Hank responde olhando para ela finalmente. - sobre a sua mãe.

Sophie pisca, por um segundo, abaixa a guarda. "Aquilo de novo, não... por favor... não"

- O que tem ela? - Ela pergunta tentando manter a calma e entrelaçando os dedos sobre a mesa.

- Teve notícias dela? - Hank pergunta de uma maneira totalmente insensível.

Ela faz que não com a cabeça, apertando a mão com mais força.

- Como eu poderia ter notícias dela? - Sophie desdenha. - Ela sumiu tem...

- Fez três anos. - Hank diz por ela. - Dois meses atrás.

Sophie pensou em quantos anos de prisão ela teria se desse um soco em Hank, bem no nariz empinado dele. Faz exatamente três anos, sete meses e cinco dias que sua mãe sumiu. A polícia apareceu no Campo, fizeram perguntas para Sophie sem parar, ela odiou aquilo, tanto que quase chorou. Passou a noite mandando mensagens para sua mãe, mas elas nunca chegavam. Sophie ficou sem saber dela por todo esse tempo, seu pai também quase não mandava notícias, os dois ficaram estranhos e ela ficou sozinha.

A polícia apareceu no Campo de novo, poucos meses depois. A levaram presa perguntando de novo se Sophie viu a mãe, doeu falar sobre isso. Assim como dói agora. Como dói toda vez que ela lembra daquela fase. Seu quadril parecia queimar.

- É isso aí mesmo. - Sophie diz em desinteresse. - Por que estão me fazendo a mesma porcaria de pergunta de novo se eu já disse várias vezes que não a vi?

Hank dá de ombros e puxa o celular do bolso, desbloqueia ele e mostra uma foto para Sophie. Uma foto de sua mãe, ela estava diferente. Sophie quase não a reconheceu, estava com o rabo de cavalo bagunçado, com o rosto sujo, uma roupa preta de gola alta com escamas de metal cobrindo os antebraços e a parte de frente e de trás do corpo, junto com várias facas presas no cinto. Ela estava de pé em uma floresta, a foto foi tirada por um drone, sua mãe estava o encarando com raiva. Estava assustadora, Sophie nunca a viu desse jeito, sua mãe é médica, seu olhar e seu toque eram gentis, nem nas vezes em que Sophie aprontava ela a olhava assim.

- Caraca, minha mãe tá foda nessa imagem. - Ela diz apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos, escondendo o que sentia. Escondendo o medo crescente que tomava conta do seu coração toda vez que falavam com ela sobre sua mãe. - Tiraram quando?

Hank arregala os olhos como se ela tivesse mandado a imperatriz tomar naquele lugar, engole seco e bloqueia a tela do celular. Sophie observa a imagem de sua mãe desaparecer e a tela ficar escura. Pouco importava se esse metido estava irritado, ela estava mais preocupada com o que aconteceria com ela agora.

- Já te mostraram essa foto. - Hank diz com os dentes à mostra. - Você tem noção do que ela fez?

Ele perguntou indignado, a encarando com total desgosto.

"Claro que eu sei, seu idiota. Ninguém me deixa esquecer nessa porcaria de Campo." Sophie pensou.

- Ela matou um cara, não foi? - Sophie finge desinteresse. Na verdade, ela não acredita que sua mãe tenha feito aquilo nem sabe se um dia será capaz de acreditar.

- Não foi só um cara. - Hank sussurra furioso, se aproximando dela com raiva. - Foi o filho da imperatriz Miriam. Sua mãe o matou e deixou o corpo para trás sem o menor remorso.

Sophie sente o bile subir e olha para o lado, ignorando a raiva de Hank. Ela não é obrigada a lidar com a raiva das pessoas nem queria, sua raiva e confusão já eram demais para aguentar.

- Então ela poderia matar qualquer outra pessoa que vocês não seriam esses babacas arrogantes? - Sophie perguntou erguendo as sobrancelhas para ele.- Nem estariam me enchendo a paciência?

Hank cerra o punho, provavelmente queria bater em Sophie, mas ela não se importava. Pouco se importava agora com a maioria das coisas que poderiam acontecer.

- Tem notícias dela ou não? - Ele pergunta, batendo na mesa. - Preciso saber para-

- Não. Não tenho! - Sophie bate as mãos na mesa e se levanta, se encurvando na direção de Hank com raiva. - Me deixa em paz!

Por um instante, ela esqueceu do seu poder e o efeito que seu temperamento causava nos metais, as cadeiras se encurvam e Hank cai no chão. Ele a olha apavorado e Sophie percebe que ele não é o único. Um inspetor que estava a poucos metros deles, alguns alunos que também estavam ali comendo ou conversando nas outras mesas e outros alunos que passavam por ali.

Todos olhavam para ela apavorados, Sophie morde o interior do lábio, ela sente as lágrimas querendo sair e vai embora. Não iria voltar para a aula, não estava com cabeça para isso e nem queria ir antes. Provavelmente nem vai mais.

O diretor deixou ela ficar no Campo com a condição de que a garota não usasse o poder ali, agora ela usou e muita gente viu, gente que teria o maior prazer em ver ela expulsa do Campo. Ela não usava a influência que tinha sobre o metal em nada, mesmo quando podia montar máquinas e usar suas ferramentas. Sophie descobriu esse poder quando tinha oito anos, no dia em que ela entortou todos os talheres da casa de seu avô de parte de pai. Quando o diretor do Campo deixou claro a condição para ela ficar, Sophie não viu problema com isso. Agora, ela se descontrolou e provavelmente só teria tempo de fazer as malas e sair.

Hank deve ter a chamado, mas Sophie ignorou e se afastou dali, se odiando por isso. Ela apressa os passos e começa a correr em direção ao dormitório, um prédio de tijolos vermelhos com uma varanda para cada quarto. Sophie bate a porta com toda a força possível e se apoia nela, desliza até o chão e se abraça como se estivesse com frio.

Não gostava de chorar, era ridículo. As lágrimas que inundavam seu rosto não se importavam com isso.

Seu celular estava no bolso, ele começa a tocar. Sophie pensou que fosse a Naomi ou o Adam e deixou tocar. O toque era a música de abertura de sua série favorita, não tinha problema deixar assim. Depois de cinco chamadas, Sophie pega o celular furiosa, era um número desconhecido, ela atendeu já se preparando para desligar ou dizer que não estava interessada.

- Alô? - Sophie atende, se surpreendendo como sua voz estava fraca.

- Sophie Zander? - A voz de um homem diz, era aveludada como a de um narrador de filme infantil.

- Não. Aqui é Sophie Hauser. - Sophie responde revirando os olhos, prestes a desligar, mas a voz a impede.

- Filha de Lídia Zander? - O homem pergunta com a voz neutra.

Esse era o nome da mãe de Sophie antes dela se casar, mas nunca tinha dito isso. Sophie apenas soube disso quando ela desapareceu. Lídia tinha colocado o nome de casada até mesmo na certidão de nascimento da filha.

- Sim. - Ela bufa. - Um policial já veio aqui e ele é muito babaca, ok? Vocês deviam m****r um pessoal mais simpático. Isso é abuso de poder. E não é primeira vez que isso acontece comigo, mas vocês não sabem porque não tá nos registros.

- Na verdade, venho em nome de sua mãe. - O homem explica.

Sophie quase deixa o celular cair, ela fica muda por alguns segundos, encarando o nada e esperando que aquilo fosse um sonho. Se fosse, já teria acordado. Nem seu subconsciente tinha piedade dela.

- Isso é algum golpe? - Sophie pergunta ao celular, fingindo irritação, mas não conseguia ignorar a esperança que surgia em seu peito.

"É golpe, Charles. Não vai nessa." Pensou.

- Não. - O homem responde. - Meu nome é Tyr, gostaria de falar com você, Sophie Zander.

- É Hauser. - Sophie relembra.

- Você poderia sair do seu dormitório? - Ele pergunta a ignorando completamente. - Eu estou aqui embaixo.

- Para quê? - Sophie pergunta.

- Para você poder falar com a sua mãe.

- Você é um daqueles lunáticos que finge que fala com os mortos? - Sophie franziu a testa, não poderia fazer uma idiotice de acreditar em alguém que liga falando que ela poderia ver sua mãe e pede para ela sair do quarto. - Minha mãe não morreu, moço.

- Eu sei. - O homem diz, permanecendo com a voz neutra. - Ela sumiu, e não entrou em contato com você por anos, e agora está aqui fora querendo falar com você.

- Então, deixa eu falar com ela. - Sophie desafia, querendo ver a cara do idiota que estava tentando enganá - la.

- Como? - Ele pergunta, foi pego desprevenido.

- Você disse que minha mãe quer me ver. - Sophie diz. - Só acredito se eu ouvir ela.

Sophie escuta alguma coisa acontecendo do outro lado da ligação, a chamada fica fazendo um barulho estranho por alguns segundos, depois outra voz fala. E Sophie agradece por já estar no chão.

- Oi, Sophie. - A voz de sua mãe chama.

Ela consegue se segurar para não chorar, mesmo sem entender o motivo disso, há anos não ouvia a voz da sua mãe. Toda a raiva por ela tinha sumido, por ter feito aquilo e deixado Sophie para trás encarando os policiais e soldados descontando a raiva nela por algo que ela não fez, desapareceu por completo. Tudo o que resta ali é a saudade, a saudade imensa que sentia das ligações no final do dia, dos avisos para que ela comesse direito e saísse do laboratório de vez em quando. Sua mãe estava ali, falando com ela.

- Caraca, é verdade. - Sophie diz, quase sem ar. - Oi, mãe.

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