Três anos depois
Hank lembra daquele dia como se fosse ontem, a sala do trono estava uma bagunça, todos tentando erguer a voz acima de outra pessoa, da conversa civilizada até um completo caos. Ele ficou quieto no seu canto, esperando que decidissem qual seria seu futuro, por causa do seu grande fracasso. Hank tinha direito a defesa, mas parecia que o resto queria apenas descontar sua frustração nele, podia ver a decepção nos olhos de algumas pessoas. O pior foi estar na presença dela.
A imperatriz estava lá também, parecia que poderia transformá-lo em cinzas apenas com o olhar, apenas com a presença dela ele quis desaparecer totalmente, mas Hank conseguiu uma chance de se redimir, por muito pouco, mas conseguiu. Até hoje lembra do que o levou até aquela sala.
Agora, Hank tinha que compensar por esse erro.
A Ilha de Maya é mais quente do que ele lembrava, seus pontos turísticos são todos focados no quesito "praia", por isso o centro das cidades não são tão lotados em certas temporadas. Mas isso não faz a menor diferença, porque Hank não veio fazer turismo, mas sim atrás de algo que pode ajudá-lo. Ele está em um prédio da força do Império Íris, com dez andares com janelas panorâmicas e vista para o mar, em uma sala para entrar em contato com o general Urano para explicar o porquê dele vir.
Ele insistiu que Hank explicasse, mesmo que ele não fosse encarregado de nada naquela missão.
A seu próprio pedido, Hank ligou para ele, direto para a sala de comunicação. A sala escurece automaticamente e um holograma do general aparece a sua frente. Ele estava de pé, usando um terno azul marinho e algumas medalhas, o terno combinava com sua pele que era de um azul claro, a maioria das pessoas do país onde ele vive são azuis, mas seu cabelo era branco e sedoso e seus olhos eram azuis como o céu.
- Boa tarde, general Urano.- Hank cumprimenta com um aceno.
- Boa tarde, Hank. - Ele responde aborrecido, não deve estar em um bom dia.
- O senhor pediu que eu entrasse em contato. - Hank relembra mantendo a expressão neutra, não mostrando sua irritação com isso.
- Sim. Quero saber porquê você foi até a Ilha de Maya e o que pretende aí. - Ele diz.
Hank se esforçou para não revirar os olhos, não precisa explicar o motivo, em teoria. Sem contar que ele recebeu ordens da imperatriz, que estava acima de Urano. Comparado a autoridade dela, ele não passava de uma placa escrito "Jogue o lixo no lixo" em uma rua suja.
- Recebi ordens da imperatriz de vir aqui atrás de uma pessoa que pode ajudar com o caso. - Hank responde em tom burocrático.
- Eu sei. Ela me mandou entrar em contato com você. - Urano diz no mesmo tom e com autoridade.- A partir de agora, você deve relatar o seu progresso para mim. Eu estou no comando agora.
- Claro. - Hank diz, cerrando o punho. - Recebi informações sobre uma pessoa que mora aqui. Ela pode estar relacionada com os traidores e nos levar até eles.
Era muito difícil para ele esconder sua raiva com isso, agora o general Urano o vigiaria durante toda a missão e continuaria insistindo para ele esquecer isso. "Diz isso porque você não estava lá." Hank pensou na primeira vez em que eles conversaram sobre o que aconteceu.
- Quem é essa pessoa? - Urano pergunta erguendo as sobrancelhas.
- O nome dela é Sophie Hauser. - Hank responde, mas Urano logo o interrompe.
- "Hauser"? - Ele questiona. - Como essa garota pode ter alguma relação com os traidores? Já investigamos e ela não sabe de nada. A menos que os policiais da ilha fossem idiotas ao ponto de m****r relatórios errados.
Hank começa a mexer no monitor mais uma vez e entre eles a foto de uma garota aparece. Ela tem o cabelo grisalho, olhos pretos e estreitos, a pele rosada e o nariz pequeno e fino.
- Embora não pareça. - Ele diz enquanto aparece uma ficha sobre a garota ao lado da foto. - Sophie Hauser é filha da mulher que matou o rei de Denver, já mostrou saber sobre o próprio poder e é um verdadeiro prodígio em engenharia, mas ainda está no Campo da Ilha de Maya estudando.
Urano acena para que ele continue.
- Acredito que podem vir atrás dela agora. - Hank acrescenta.
- Com base em quê? - Urano pergunta curioso. - E por que agora?
- Durante as minhas investigações sobre ela, percebi que vários dados a respeito dela estavam sendo completamente deletados da rede, como se tentassem apagar a existência dela. - Hank explica. - Acho que eles estavam esperando a poeira abaixar, porque depois do assassinato, a polícia passou um tempo a investigando e interrogando até ver que ela não servia para nada.
- E quais são as chances dela se juntar a família Zander de bom grado? - Urano pergunta, apontando as possíveis falhas nesse plano.
Hank sente desgosto ao responder.
- Mínimas. Pelo histórico, a Sophie tem... ela é... naturalmente rebelde. - Ele explica com dificuldade. - Não gosta de ninguém dizendo à ela o que fazer e muito menos tentando controlar suas ações. Pelo pouco que consegui sobre ela antes de se mudar para Ilha de Maya, ela não tem respeito a ninguém. Provavelmente não foi presa até agora porque nunca teve que interagir com qualquer autoridade.
Urano torce o nariz em desgosto, também enojado com o histórico da garota, mas por algum motivo, ele mostra um meio sorriso depois.
- Entendi. Qual é o seu plano?
- Assim como a Hauser pode ser um grande problema para a missão, também pode ser uma oportunidade de ouro. - Hank diz, mostrando total confiança do que dizia.- Tudo indica que a mãe dela vai tentar falar com ela cedo ou tarde, podemos usá - la para espionar a família dela e descobrir o que- como eles pretendem atacar. - Hank se corrige rápido. - Só preciso convencê - la
O que eles querem é óbvio. Tomar o trono e dizimar a família real. Hank já viu do que eles são capazes para conseguir isso. Viu com os próprios olhos.
- Vou entrar em contato com ela hoje e conseguir a colaboração dela. - Hank continua, esperando a resposta de Urano.
- Certo, Hank. - Urano diz finalmente. - É uma boa idéia.
Ele luta contra a vontade de sorrir, mas ficou feliz com a aprovação de Urano. Mesmo ele sendo irritante as vezes, Hank queria a aprovação e o orgulho do general.
- Mais uma coisa. - Urano diz rápido e desencosta da mesa. - Eu entendo o porquê, mas peço que tome cuidado, não como general nem como seu superior. Não quero você se envolvendo em outra encrenca por causa disso.
E, da mesma maneira que veio, a alegria de Hank vai embora e dá lugar a frustração de sempre. Mais uma vez aquela conversa insuportável.
- Certo. Certo. - Hank assente rápido já se virando para o monitor de novo. - Estou dispensado?
- Sim. - Urano responde de volta ao tom autoritário que todos os seus soldados conheciam. - Não faça nada sozinho.
- Sim, senhor. - Hank diz já encerrando a chamada.
Hank sai rápido da sala e bate a porta com violência. Ele entendeu o que Urano quis dizer. Ele não ficou encarregado de supervisionar a missão porque a imperatriz ficou cansada, impossível. O general provavelmente pediu e ela aceitou. Hank não sabia o argumento dele, mas deve ter sido um bem convincente. Mesmo que Urano não seja só encarregado de comandar todas as forças militares do Oeste, como também é o aliado mais próximo e fervoroso da imperatriz, Hank não acha que ela cederia tão fácil a função de liderar e supervisionar o progresso dessa missão. O rapaz se sentiu insultado e subestimado, acham que ele não sabe lidar com isso.
"Eu posso lidar com isso. Posso consertar as coisas. Finalmente, posso consertar as coisas." Hank pensa determinado.
- Tudo culpa daquele idiota. - Hank resmunga. - Idiota! Burro! Não era para...
Hank sai, pega o elevador e vai até o estacionamento, entrando no carro e fechando a porta com força. Quando o carro liga, Hank inspira e solta o ar devagar, tentando se acalmar. O próximo passo dessa missão seria muito estressante.
O som do alarme irrita Sophie mais do que qualquer coisa no mundo. Odeia acordar cedo. Ela levanta rápido para desligar o alarme e se arrepende na hora, porque toda vez que isso acontece ela fica tonta. "Minha mãe me daria uma bronca." pensou. Sua mãe era médica, e sempre priorizava pela saúde da filha mesmo que às vezes a irritasse.Ela só deixou Sophie se mudar para a Ilha de Maya para estudar e dar início ao seu projeto se ela prometesse se cuidar e seguir com a mesma alimentação que seguia em casa.Sophie não pode dizer que não tentou.Sua colega de quarto já tinha saído, melhor assim. Ela não teria que lidar com a garota sempre acordando de bom humor e cantarolando. Sophie demorava mais algum tempo para realmente ficar desperta.Ela vai até o banheiro, não iria escovar os den
- Como você permitiu isso? - Urano pergunta furioso.Hank estava de pé com os pés fincados no chão e as mãos atrás do corpo, ele teve que voltar para Gedeon depois do fiasco que foi interagir com a filha da Lídia Zander. Ela sumiu por seis meses e Hank revirou a Ilha de Maya a procurando, mas nenhum sinal, a garota desapareceu. Hank estava agora no escritório do general Urano, no QG da força de Íris, tinha o piso branco, paredes azuis cor de céu e janelas com vista para o Palácio da Imperatriz e, atrás da mesa dele, prateleiras preenchidas com fichários enormes. O general estava com o terno azul escuro habitual, algumas medalhas e botas engraxadas.- Eu tentei ir atrás dela. - Hank tenta se justificar. - Procurei ela no dormitório, mas a garota não estava mais lá. Ninguém a viu, ela sumiu.Ura
Seu quarto era espaçoso, com paredes brancas e o piso de madeira envernizada marrom, com uma suíte que tem uma banheira com hidromassagem. Parecia o quarto de uma boneca, com cadeiras de madeiras com assento estofado, uma mesa de penteadeira antiga com um espelho enorme e mais produtos do que Sophie iria usar pelo resto da sua vida, sua cama era grande o suficiente para caber três pessoas tranquilamente, com lençóis cor de grafite de seda e quatro travesseiros enormes, além de uma cobertura ornamentada acima dela preto lustroso com cortinas transparentes.Tinha duas cômodas com cinco gavetas, uma do lado da porta e outra do lado do banheiro, com roupas íntimas e jóias de metal pesado.Sophie também ganhou um closet completo, com todos os tipos de roupa, até algumas armaduras, a maioria das roupas tinha pedaços de metal presos a elas, e dezenas de pares de sap
Todos estavam armados e em posição, como nas antigas guerras, com os estandartes erguidos com o símbolo de Escarion duas fileiras atrás dele. Ao seu lado, estava a Imperatriz, com sua postura ereta e expressão fria enquanto caminhava graciosamente até os portões de Wildknight. Todos em Marillion se escondiam em suas casas diante da presença de todos os soldados escarianos que ali se estendiam até o final da estrada principal.Os portões do palácio se abriram e os escarianos chegaram em um pátio de entrada com os pisos encravados com pedras brancas e o salgueiro de bronze de Denver. De sua sacada gloriosa, estava o rei em seu esplendor e no ápice de seu orgulho, acima deles, observando sua rival de cima. Até perceber o que ela carregava. Em um embrulho de mantos pretos havia um bebê com a mesma tonalidade de pele da mãe, o cabelo preto espetado par
Sophie nunca tinha ido para Denver, sua mãe disse que já foi várias vezes, mas nunca disse o que fazia ali. A única vez em que a menina soube o que a mãe veio fazer naquele lugar foi quando toda essa situação começou. Para um reino que perdeu o seu rei, as pessoas dali pareciam bem.A capital era uma coisa fofa, as casas eram de um tom claro com telhas marrons com as varandas repletas de flores com cores vivas, com dois ou três andares; para qualquer lugar que olhava, tinha uma bancada com frutas e verduras a venda que pareciam ser feitas de plástico de tão perfeitas. As ruas eram pavimentadas com tijolos cinzas perfeitos e eram largas o suficiente para dois carros passarem lado a lado.O que não faltava lá também eram becos e passagens estreitas entre as casas, mas diferente de outras cidades, as passagens eram iluminadas pelo sol e os becos e
"Eu sou muito burro." Foi o que Hank pensou voltando para perto da Zander. "O que está acontecendo? Por que tantos policiais em um ponto só?" Ele começou a ouvir as sirenes e viu os policiais que a garota mencionou na entrada do beco. Eles apontam as armas para os dois. Antes que Hank consiga dizer qualquer coisa para eles, a Zander apenas bufa.- Eles não aprendem sobre magnetismo na escola?- Ela perguntou, revirando os olhos. Formando um círculo com o braço, todas as armas escapam das mãos dos policiais e as fivelas de seus cintos giram e os puxam para trás.A garota corre, quase empurrando Hank no chão, ele a segue depois de ver se os policiais estavam vivos. Hank estava frustrado consigo mesmo, ele mal chegou em Marillion e seu plano de ser discreto foi para os ares. A Zander olha para ele por cima do ombro com a expressão fechada e continua corrend
Um... "aquilo é um homem?" Alto e magro, com o cabelo verde musgo, a pele parecia ser feita de casca de árvore e seus olhos não tinham pupila. Ele tinha apenas três dedos contando com o polegar, ele vestia um terno verde como folha de árvore com um broto amarelo no nó da gravata. Ele é humano?- Onde ele está?- Ele se vira para Hank e segura os braços dele.- Sentimos a magia do nosso rei vindo daqui. Onde está?- Ele não está mais aqui, Leonard.- Hank responde com cuidado.- Lembra do ataque? Seu rei não está mais aqui.Leonard empurra seus ombros para trás e se afasta de Hank com uma expressão dura. Ele não tinha lábios.- Aquele dia assombra os meus pesadelos, dos mais sombrios aos mais leves, a perda de um rei para nós é como se tivés
A névoa encobria Marillion como um manto azul claro poucos instantes antes do sol nascer, o senhor Edmund já tinha acordado a essa hora. Ele observava um dos vários jardins do Wildknight, costumava admirar o lobo branco do rei andando por ali. Quando o animal não acompanhava o seu mestre, ele descansava no maior jardim do palácio. Agora não tinha nem o lobo nem o rei.Seu quarto dava a vista para o nascer do sol, onde ele podia ver o dourado banhar o reino que tanto ama. O reino que ele serviu sob três reis.Nenhum deles, nem mesmo o segundo, desejaria ver o reino como ele está agora.Edmund se dirigiu a antessala onde lhe serviram o café da manhã, café preto, salada de frutas, torradas com manteiga e sanduíche de queijo quente. Hoje seria um dia tedioso como todos os outros, ninguém se importava com um velho aposentado nem com o que e