Capítulo 3

A noite estava especialmente fria quando Valentina escapou da mansão do Sr. Smith. O ar estava pesado e úmido, como se o próprio tempo conspirasse para tornar sua fuga mais difícil. A estrada escura parecia interminável, e cada passo ecoava nos seus ouvidos como um tambor batendo em seu peito. Ela não tinha um plano, apenas o desejo ardente de escapar daquele lugar de pesadelos.

Os flashes dos horrores que sofreu ainda estavam frescos em sua mente, mas a adrenalina impulsionava suas pernas a continuar correndo. As ruas de Nova York eram labirintos desconhecidos para ela, cheios de perigos invisíveis. Seu coração martelava, sua respiração estava ofegante, mas a determinação de se manter longe de Smith superava qualquer medo ou dor.

Quando finalmente parou, Valentina encontrou refúgio em um beco escuro, entre sacos de lixo e caixas velhas. Seus músculos doíam, e ela se encolheu contra a parede, abraçando os joelhos para tentar aquecer-se. O chão era duro e frio, mas sua exaustão a fez adormecer rapidamente. 

Ela acordou com o amanhecer, o corpo enrijecido pelo frio e pela dureza do chão. Seus olhos ardiam de lágrimas não derramadas, e a fome começava a roer seu estômago. Valentina sabia que precisava encontrar comida, mas sem dinheiro ou amigos, suas opções eram limitadas.

Passou os primeiros dias mendigando por comida. Nas esquinas, as pessoas olhavam para ela com indiferença ou desdém. Valentina estava suja, com o cabelo embaraçado e as roupas rasgadas. Mas apesar da sua aparência, seu olhar continuava determinado. Nos momentos de desespero, ela revirava lixeiras, procurando restos de comida que pudessem aplacar sua fome.

Certa noite, enquanto buscava comida em um beco atrás de um restaurante, Valentina foi abordada por um grupo de adolescentes. Eles tinham uma aparência desleixada, mas seus olhos mostravam uma dureza adquirida pela vida nas ruas. O líder do grupo, um garoto um pouco mais velho que Valentina, se destacou. Seu nome era Lucas, e ele tinha um olhar severo, mas ao mesmo tempo curioso.

— Você parece nova por aqui — disse Lucas, oferecendo um pedaço de pão.

Valentina hesitou antes de aceitar a oferta. Seus olhos encontraram os dele, tentando discernir suas intenções.

— Como se chama? — perguntou ele.

— Valentina — respondeu ela, finalmente pegando o pão e mordendo com voracidade.

Lucas observou por um momento, avaliando-a.

— Bem, Valentina, todos nós precisamos de um lugar seguro para dormir e de alguém para vigiar nossas costas. Se quiser, pode se juntar a nós.

Aceitar a oferta de Lucas foi uma decisão difícil, mas necessária. Ela estava sozinha e vulnerável, e a proteção de um grupo poderia ser sua única chance de sobrevivência.

Sob a proteção de Lucas e do grupo, Valentina começou a aprender as regras das ruas. Eles se moviam como uma unidade, cada um desempenhando um papel vital para a sobrevivência do grupo. Lucas era o líder estratégico, sempre um passo à frente, planejando roubos e coordenando os movimentos do grupo.

Valentina, embora ainda nova, mostrou rapidamente seu valor. Ela era rápida e ágil, conseguindo entrar e sair de lugares sem ser notada. Lucas começou a ensinar-lhe as artes do roubo e da furtividade. Ele também a apresentou a outras habilidades essenciais, como abrir fechaduras e desativar alarmes.

Durante as noites, enquanto o grupo descansava, Valentina se dedicava a treinar sozinha. Ela lembrava-se das lições de autodefesa que Alex, do orfanato, lhe havia ensinado. Praticava socos, chutes e movimentos de evasão, refinando suas técnicas até que se tornassem reflexos. Em pouco tempo, ela se tornou uma lutadora formidável, capaz de se defender contra qualquer ameaça que surgisse.

O grupo de Lucas era diversificado, cada membro trazendo uma habilidade única para a mesa. Havia Marco, um garoto de 16 anos que era um mestre em escapar de lugares apertados; Sara, uma garota de 15 anos com um talento para manipular pessoas e obter informações; e Pedro, de 17 anos, cuja força bruta era inigualável.

Lucas, com seus 17 anos, era o estrategista e líder natural. Ele tinha um carisma silencioso que inspirava confiança e respeito no grupo. Sob sua liderança, o grupo operava como uma máquina bem lubrificada, cada um desempenhando seu papel com precisão.

Valentina se adaptou rapidamente a essa dinâmica. Ela se tornou uma peça-chave nas operações, usando sua agilidade e habilidades de combate para realizar missões perigosas. O grupo confiava nela, e ela, por sua vez, começou a confiar neles. Pela primeira vez desde que fugiu da mansão, Valentina sentiu que tinha uma família novamente.

Os meses que se seguiram foram de intenso crescimento pessoal para Valentina. Ela aprendeu a controlar suas emoções, canalizando sua raiva e dor em força e determinação. Cada noite nas ruas era uma batalha, mas cada vitória, por menor que fosse, reforçava sua vontade de sobreviver.

Valentina também começou a desenvolver um senso de liderança. Embora Lucas fosse o líder indiscutível, ela frequentemente oferecia sugestões e estratégias que ajudavam o grupo. Sua capacidade de pensar rápido e se adaptar a situações em constante mudança a tornava uma conselheira valiosa para Lucas.

Um dos momentos decisivos para Valentina e o grupo veio quando Lucas planejou um grande roubo em um armazém abandonado. O armazém, de acordo com as informações que Sara havia obtido, estava cheio de suprimentos valiosos que poderiam sustentar o grupo por meses.

A operação exigia precisão e coordenação. Lucas dividiu as tarefas: Marco desativaria o sistema de segurança, Sara manteria vigia, Pedro e Valentina fariam o roubo propriamente dito, enquanto Lucas coordenaria tudo de um ponto de observação seguro.

Na noite do roubo, Valentina sentia seu coração bater acelerado, mas sua mente estava focada. Ela e Pedro entraram no armazém, movendo-se silenciosamente pelas sombras. As instruções de Lucas ressoavam em sua mente enquanto ela se movia rapidamente, enchendo as sacolas com os suprimentos.

Tudo estava indo conforme o planejado até que um guarda de segurança apareceu. Valentina e Pedro se esconderam, mas o guarda estava se aproximando. Com um sinal silencioso, Pedro indicou que ele cuidaria do guarda. Enquanto Pedro imobilizava o guarda com sua força bruta, Valentina continuou a coletar os suprimentos, cada segundo contava.

Finalmente, com as sacolas cheias, eles saíram do armazém e voltaram ao ponto de encontro. Lucas estava esperando, um sorriso satisfeito no rosto.

— Bom trabalho, pessoal. Conseguimos.

O sucesso do roubo foi um ponto de virada. O grupo não só conseguiu os suprimentos necessários, mas também provou para si mesmos que podiam realizar operações complexas. Para Valentina, foi uma confirmação de suas habilidades e de sua importância no grupo.

Com o passar dos meses, Valentina acumulou inúmeras lições de vida. Ela aprendeu a importância da confiança e da lealdade, especialmente em um ambiente onde a traição podia significar a morte. A convivência com o grupo a ensinou sobre sacrifício e camaradagem, valores que ela havia quase esquecido depois de tanto sofrimento.

Lucas, em particular, se tornou um mentor para Valentina. Ele compartilhava sua experiência e sabedoria, ensinando-lhe não apenas a sobreviver, mas a prosperar nas ruas. Sob sua orientação, Valentina aprendeu a pensar estrategicamente, a planejar com antecedência e a sempre ter uma saída de emergência.

Lucas também ensinou a Valentina a importância de cuidar dos outros. Ele frequentemente se sacrificava pelo bem do grupo, colocando a segurança deles acima da sua própria. Essa abnegação inspirou Valentina e moldou sua visão de liderança. Ela entendeu que ser líder não era apenas dar ordens, mas estar disposto a fazer qualquer coisa pelo bem do grupo.

A vida nas ruas estava longe de ser tranquila. O grupo frequentemente enfrentava gangues rivais e a ameaça constante da polícia. Houve várias ocasiões em que tiveram que lutar para defender seu território ou para proteger seus suprimentos.

Em uma dessas ocasiões, uma gangue rival tentou roubar o esconderijo do grupo. Valentina, usando suas habilidades de combate aprimoradas, liderou a defesa. Ela lutou com ferocidade e precisão, repelindo os atacantes e protegendo seus amigos. A batalha foi intensa, mas o grupo saiu vitorioso, solidificando sua reputação nas ruas.

Essas vitórias eram amargas, porém, pois sempre havia o risco de perda. Cada batalha deixava marcas, físicas e emocionais, mas também reforçava a determinação de Valentina e do grupo de continuar lutando.

À medida que o grupo ganhava mais notoriedade, a fama de Valentina crescia. Sua agilidade, habilidades de combate e inteligência estratégica a tornavam uma figura de destaque. Os rumores sobre a "garota lutadora" começaram a se espalhar pelas ruas, e logo todos sabiam quem era Valentina.

Lucas usava essa fama a favor do grupo. Ele negociava com outras gangues e estabelecia alianças, usando a reputação de Valentina como moeda de troca. Embora a atenção pudesse ser perigosa, também oferecia oportunidades. A notoriedade de Valentina significava que inimigos pensavam duas vezes antes de enfrentá-los.

Valentina enfrentou uma perda devastadora. Durante um assalto a um depósito, a polícia apareceu antes do esperado. O grupo estava encurralado, e Lucas, em um ato de heroísmo, distraiu os policiais para dar tempo aos outros de escapar. Valentina, Pedro, Sara e Marco conseguiram fugir, mas Lucas foi capturado e, posteriormente, morto em uma troca de tiros com a polícia.

A morte de Lucas foi um golpe profundo para o grupo. Valentina, em particular, sentiu a perda como uma ferida aberta. Ele havia sido seu mentor, amigo e líder. Sua morte deixou um vazio que parecia impossível de preencher. Mas, ao mesmo tempo, sua sacrifício incutiu em Valentina uma nova determinação. Ela jurou que honraria a memória de Lucas, liderando o grupo com a mesma sabedoria e coragem que ele havia demonstrado.

Com a morte de Lucas, Valentina foi forçada a assumir o papel de líder. Any, Pedro, Sara e Marco olhavam para ela em busca de direção. A responsabilidade era esmagadora, mas Valentina sabia que não tinha escolha. Ela precisava ser forte, não apenas por si mesma, mas por todos que dependiam dela.

— Nós precisamos ser mais cuidadosos, mais inteligentes — disse Valentina, no primeiro encontro após a morte de Lucas.

— Não podemos permitir que isso aconteça novamente. Devemos sempre estar um passo à frente.

Sob sua liderança, o grupo começou a operar de maneira mais estratégica e cautelosa. Valentina implementou medidas de segurança mais rigorosas e planejou cada operação com uma precisão meticulosa. Cada membro do grupo tinha um papel claro, e todos sabiam o que fazer em caso de emergência.

Ao longo do ano seguinte, o grupo floresceu sob a liderança de Valentina. Eles se tornaram mais organizados e eficientes, conseguindo realizar roubos mais complexos e lucrativos. A reputação do grupo crescia, e com isso, surgiam novas oportunidades e desafios.

Valentina, agora com 15 anos, havia se transformado em uma líder formidável. Sua combinação de inteligência estratégica, habilidades de combate e carisma natural a tornava uma figura de autoridade respeitada por todos. Ela não apenas liderava, mas também inspirava os outros a serem melhores e a se superarem.

Apesar do sucesso crescente, Valentina ainda era assombrada por seu passado. As memórias da mansão do Sr. Smith eram uma sombra constante em sua mente. Mas, ao invés de deixá-las paralisá-la, ela usou essas memórias como combustível. A dor e a raiva que sentia a impulsionavam a lutar mais, a se tornar mais forte e a nunca permitir que alguém a machucasse novamente.

Em uma noite particularmente difícil, Valentina se afastou do grupo para treinar sozinha. Ela golpeava o saco de pancadas improvisado com uma fúria intensa, cada soco e chute uma liberação de anos de sofrimento reprimido. Quando finalmente parou, suada e ofegante, sentiu uma clareza e uma determinação renovadas.

Aos 15 anos, Valentina era uma sobrevivente endurecida, uma líder respeitada e uma lutadora implacável. Ela havia encontrado uma nova família nas ruas e aprendido lições que a moldariam para o resto da vida. A dor e o sofrimento de seu passado ainda estavam presentes, mas agora eram uma fonte de força.

Valentina sabia que o caminho à frente seria cheio de desafios, mas estava pronta para enfrentá-los. Com a memória de Lucas guiando suas ações e a confiança de seus amigos fortalecendo seu espírito, ela estava determinada a não apenas sobreviver, mas a triunfar. E assim, cada dia era uma nova batalha, uma nova oportunidade para provar a si mesma e honrar aqueles que amava.

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