Passei metade da noite acordado, vigiando o sono da Sulamita. Sono era apenas maneira de dizer, porque a cada instante ela acordava, se debatendo e chorando.Meu coração estava apertado. Achamos por bem, contar logo a ela o que tinha acontecido a respeito do sequestro da mãe dela, e do fim do Zaruk. A Sula precisava encarar os problemas da vida e aprender a se fortalecer com eles, mas para ela, que era uma menina tão cheia de traumas, aquilo não era fácil.De tudo aquilo que vivemos nos últimos meses, a única coisa boa foi a presença da Alina em nossas vidas. Ela chegou e revirou tudo ao nosso redor. A mulher era uma fortaleza e meu amigo estava louco por ela.Eu estava feliz por ele. Leonardo passou por maus bocados na vida e desde que estávamos juntos há mais de dez anos, tudo que ele fez foi pensando na mãe e na irmã e agora ele merecia um pouco de felicidade.Olhei o relógio da mesinha de cabeceira: 05:00 e o dia ameaçava clarear pela cortina da janela. Fui até lá e fechei, escure
Nunca pensei que uma pequena reforma demorasse tanto.Já fazia um mês que o idiota do pedreiro arrumava as mais variadas situações para atrasar a reforma do apartamento.Primeiro ele inventou que precisava tirar todo o forro do teto e refazer. Concordei. Realmente estava ruim.Depois foi a pintura das paredes. Precisava.E lá se foram quatro semanas, trocando fiação, vidros, portas e janelas, consertando banheiros e armários.Quando pensei que tudo estava terminando, ele inventou de trocar o piso.Nem fodendo.— Quanto tempo para isso?Ele fez um milhão de contas nos dedos.— Mais um mês.De jeito nenhum. Eu não esperaria mais um mês para casar com a Sula. Eu enlouqueceria.— Não! pode deixar como está.— Mas...Encarei-o firme.— Eu quero deixar assim.— A Dona Sula disse que queria tro...Cortei.— Deixe a dona Sula comigo. Não vou trocar nada. Posso me mudar que dia?— Amanhã. Só preciso limpar.— Ótimo. Limpe, que a dona Sula, quer vim ver como ficou.Pronto. Agora era só comprar
Era uma sensação estranha.Quantas vezes eu já tinha sonhado com aquela cena? Eu e minha mãe passeando juntas, fazendo compras, tomando sorvete. Eu nunca tive esses momentos quando criança e agora parecia que estava acontecendo com outra pessoa.Eu tomei coragem e a convidei para sairmos. Ela andava muito triste e cabisbaixa e eu achei que deveria dar um passo para nos aproximarmos.O Rafael me disse que ela estava um pouco depressiva e que cabia a nós tentar trazê-la para perto de nós. Eu concordava.Ela resistiu um pouco ao meu convite, mas o Léo insistiu.— Vai mãe. Vai ser bom sair um pouco só vocês duas. Eu deixo vocês no shopping e vocês voltam de taxi.Eu ainda não sabia dirigir. O Rafael disse que me matricularia em uma auto escola, por que agora eu ia estudar e poderia me virar sozinha, já que ele voltaria a trabalhar.Confesso que eu estava com um pouco de medo de enfrentar o mundo. Passei minha vida inteira escondida dentro daquele mausoléu e agora a vida me apresentava um
Olhei por um bom tempo para a farda estendida sobre o sofá. Ela tinha chegado no dia anterior e a Sula tinha passado a ferro com cuidado.Eram apenas 07:00 da manhã e minha apresentação na polícia estava marcada para as 09:00. Daria tempo, mas eu estava nervoso.Eu tinha conversado muito com a Sula sobre minha decisão de voltar e ela, mesmo com medo de me ver trabalhando como policial, ficou do meu lado.— Não queria você nessa vida, é muito perigoso.Estávamos arrumando o apartamento. Alguns móveis tinham chegado e a gente estava naquela de colocar tudo no lugar do nosso jeito.Puxei-a pela mão e sentamos no sofá novo.— Eu sei meu bebê, que é uma vida cheia de risco, mas é o que eu sei fazer.Ela tinha me abraçado com força.— Então tudo bem, mas eu vou morrer de preocupação todos os dias.— Você acostuma, tudo vai dar certo.Agora não tinha mais volta.Vesti a roupa lentamente, saboreando a sensação de me senti de novo na polícia.Aquilo não foi meu sonho de infância, na verdade eu
Que ideia mais idiota aquela que o Leo e o Damon tiveram.Quem ainda fazia despedida de solteiro nos dias atuais? Até mesmo porque nenhum de nós era realmente solteiro. Então o encontro foi mais para encher a cara do que exatamente para comprar um bolo com uma mulher saindo de dentro.Cheguei antes de todos eles no barzinho na rua da casa do Damon e pedi uma cerveja. A garçonete era a mesma moça de anos atrás. Rosana, o nome dela. Agora ela não era mais tão jovem e eu soube que ela tinha casado com o dono do bar. Ela me reconheceu e puxou conversa enquanto colocava a cerveja na mesa.— Você é Rafael não é?Sorri pra ela. — Você lembra de mim?— Claro, mas você era bem mais magrinho.— Naquela época eu passava fome.Respondi divertido.Ela apontou para a porta.— Seu amigo encrenqueiro acabou de chegar.Ela se referia ao Damon. Em outras épocas ele já tinha protagonizado brigas homéricas naquele bar.— Ele agora é homem da lei, não briga mais em bares.Damon se aproximou e beijou o ro
Olhei para o vestido branco estendido na cama da Alina e pela milésima vez agradeci a deus por tê-la colocado em nossas vidas.A Gabriela estava sentada na poltrona e calçava os sapatos vermelhos com um sorriso.— Dizem que dar sorte usar alguma coisa da noiva ante do casamento.Alina levantou as mãos impaciente.— Esses sapatos não cabem no seu pé Gabi.Eu estava aprendendo que aquelas duas ou se amavam ou se odiavam, porque elas viviam brigando, mas até brigando elas eram carinhosas uma com a outra.— E Então menina, está feliz? Hoje é o dia do seu casamento.Se eu estava feliz? Agora que o momento estava chegando o medo ameaçava tomar conta de mim. Eu conseguiria ter uma relação normal com o Rafael? e se eu não conseguisse transar com ele?— Eu... acho que estou com um pouco de medo.Alina sentou ao meu lado na cama e segurou minha mão.— Ainda pode desistir se quiser.— Não! eu quero me casar com ele. Eu amo o Rafael. Só estou um pouco assustada.Gabi se aproximou.— Tadinha, Deix
Eu estava nervoso.Como me comportar com a Sula na noite de núpcias?Ela parecia prestes a ter um ataque. Fingia bem. Tentou sorrir pra mim, mas os lábios tremiam e a mão que segurava aminha estava fria e suada.Estacionei o carro na garagem do prédio e subimos calados.Na porta, segurei a chave e olhei para ela.— Temos que fazer direito para dar sorte.Me aproximei e a peguei no colo abrindo a porta.Ela segurou em meu pescoço e sorriu.— Isso é tão romântico!Coloquei-a de pé no centro da sala e a olhei rindo.— Eu sou romântico.Ela olhou lentamente ao redor.Era finalzinho de tarde e a sala estava iluminada pela luz do abajur colorido que ela tinha comprado.— Essa sala ficou tão linda!Resolvi tentar quebrar o gelo.— Eu gostei mais da decoração do quarto.Ela não respondeu e torceu as mãos.— Eu... vou trocar de roupa.Peguei-a pela mão e fomos em direção ao quarto.Aquele era o cômodo mais amplo do apartamento e ela tinha decorado nos mínimos detalhes. Eu tinha comprado a cam
— Ai Alina, me ajuda! O que eu faço?Estávamos sentadas na lanchonete do shopping próximo à delegacia.Alina me convidou para almoçar e queria saber detalhes da lua de mel.— Como assim, não aconteceu nada Sula?Encarei-a nervosa.— Não aconteceu nada! Nós não transamos ainda!Ela me encarava séria.— Sula, vocês est]ao casados faz mais de uma semana!— Eu sei. O Rafael está muito estranho.Ela arqueou a sobrancelha.— Estranho como?Procurei as palavras.— Não sei. Ele está quieto, não fala nada.— Explique melhor.— Bem... ele chega do trabalho, toma banho e dorme. Não tentou fazer nada.Alina sorriu.— Criança, talvez ele esteja esperando você fazer alguma coisa.Eu estava confusa.— Como assim? Ele quer que eu tente transar com ele?— Ele quer ter certeza que você está pronta. Talvez você tenha que dizer isso a ele.— Eu...— Você quer?Abaixei a cabeça envergonhada.— Quero.Alina segurou minha mão com carinho.— Não fique com vergonha. Isso é normal.Aquela semana tinha sido uma