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Capítulo 06 - Rafael

Rio de Janeiro — Dezembro de 2015

Agora que eu tinha decidido me mudar me definitivamente para a Turquia, estar ali no Brasil parecia algo estranho. Era como se eu tivesse traindo minha história de vida. Como se estivesse deixando uma parte da minha vida para trás.

Damon estava sentado do outro lado da mesa e parecia meio ausente dali. Eu estava preocupado com ele. Ele não tinha parado de beber desde que chegamos ao bar cerca de uma hora atrás. Leonardo, como sempre estava calado e introspectivo.

— Que merda vocês têm, hein? Se estavam nessa depressão, o que vieram fazer em um bar?

Damon virou mais um copo de cerveja e pigarreou.

— Eu só quero ficar bêbado e esquecer que a Juliete se casou com aquele bosta do Joan.

O caso era sério.

— Porra Dam, isso já faz dois anos e você ainda não se acostumou?

 Ele colocou as mãos atrás da cabeça e fechou os olhos. Parecia realmente esgotado.

— Nem que passe mil anos.

Respirei fundo e olhei para Leonardo. Ele encolheu os ombros e encheu o copo dele de novo.

— Bom. Eu como não estou sofrendo de amor por ninguém, vou ali tentar pegar aquela morena que não tira os olhos de mim.

Eu não sei como ele aguentava pegar tantas mulheres diferentes.

— Hoje eu não quero presenciar cenas de sexo explícito, por favor.

Ele riu divertido.

— Eu deixo você participar, se quiser.

Eu não duvidava que ele fosse capaz de dividir uma  mulher comigo, mas aquilo não era minha praia.

Observei uma garota sentada na mesa ao lado rindo com duas amigas. Talvez eu devesse fazer o Damon se alegrar um pouco.

Fiz sinal convidando as garotas para sentar em nossa mesa e tentei fazer com que ele entrasse no clima.

— Que tal terminarmos essa noite com um bom vinho, no apartamento do meu amigo?

Damon me olhou de cara feia.

A garota loira, de corpo escultural estava praticamente sentada no meu colo. Até que ela era interessante.

Pisquei o olho para amiga dela incentivando-a seduzir o Damon.

— Vamos, gatinho, não estrague a diversão.

Meio contra a vontade, mas ele aceitou e então fomos todos para o apartamento do Leonardo.

O filho da mãe, já foi logo agarrando a menina e arrancando a blusa dela sem se importar com a plateia ao redor.

Damon já meio alto pela bebida sentou no sofá e puxou a garota para o colo, alisando as pernas dela por baixo da saia curta.

Olhei para a loirinha ao meu lado e estendi a mão para ela.

— Não gosto de exibição gatinha, que tal irmos para o quarto?

Ela encostou no meu corpo e alisou meu peito.

— Por mim, já estaria lá.

Sulamita

Será que eu deveria matá-lo? Talvez não fosse tão difícil.

Segurei com força o cabo da faca de cozinha que eu tinha pego mais cedo e empurrei para baixo do travesseiro. Olhei o relógio. Eram quase dez horas da noite. Ele viria a qualquer momento.

Aquela era a pior hora do dia para mim. Era quando a casa ficava em silêncio e aquele monstro empurrava lentamente a porta do meu quarto.

Ele só vinha em momentos estratégicos. O Léo não estava em casa e meu pai deveria estar bêbado, caído no sofá da sala. A desgraçada da Samia, mesmo se visse alguma coisa não faria nada e a Zaila sempre dormia cedo. E Deus tinha me abandonado a própria sorte. Eu só podia contar comigo mesma.

— Eu vou resolver isso, eu vou me livrar dele, custe o que custar.

Eu não queria pensar que já fazia mais de um ano que eu vivia aquele tormento. Eu deveria contar para alguém, mas quem iria acreditar em mim? Talvez o Léo, mas eu tinha medo da reação dele. Eu não queria que ele se tornasse um assassino por minha causa. Eu mesma acabaria com aquilo.

Respirei fundo, sentei na cama e esperei.

Não demorou e o rangido lento da porta chegou aos meus ouvidos.

Calma Sula, Calma.

Os passos dele se aproximaram da cama no escuro e o vulto dele parou ao   meu lado.

— Vamos, sua cadela, já sabe o que fazer: tire a roupa!

Mesmo sem olhar eu sabia que ele estava com a arma na mão. Era sempre assim. Ele chegava, me fazia tirar a roupa e passava a mão em mim.

Trinquei os dentes e fiquei imóvel, deixando ele se aproximar e ajoelhar-se na cama.

O cheiro dele me enjoava e eu queria sair correndo dali.

Deus não me abandonou totalmente.  Desde o primeiro dia que começou aquela tortura ele não conseguia ficar excitado. Eu não sei o que era mais nojento, se era o corpo gordo dele em cima do meu na cama, ou quando ele pegava minha mão e me fazia segurar o membro flácido dele. Perdi a conta de quantas vezes lavei minha mãos até quase sangrar quando ele ia embora.

Hoje eu daria um fim naquele suplicio.

Coloquei a mão lentamente em baixo do travesseiro e segurei o cabo da faca.

Estava escuro e eu calculei minha força.

Quando senti a boca dele vindo em minha direção, arrastei a faca e golpeei a lateral do corpo dele.

Um grito escapou e ele caiu para o lado na cama gemendo.

Ele precisa morrer! Ele não pode sobreviver, será meu fim.

Não esperei para ver e corri para a porta, destrancando-a e saindo em disparada pelo corredor.

E agora? Aquela casa era cheia de seguranças, como eu faria para sair dali?

No último degrau da escada, a luz da sala acendeu e a Zaila estava de pé na porta da cozinha.

— Sula! O que faz de pé a essa hora menina?

— Eu...eu… estou com fome…

Ela se aproximou de mim e me segurou pelo braço.

— Nossa menina! Você está gelada! Tá vendo o que dá ficar sem comer? Venha, eu vou esquentar uma sopa pra você.

Minhas pernas tremiam e eu andei como um robô até a cozinha, aguçando os ouvidos para ouvir algum som vindo de cima. Nada.

Estava sentada esperando a Zaila esquentar a sopa quando ele entrou na cozinha.

Meu coração disparou. O miserável estava vivo.

Ele segurava o braço sujo de sangue.

— Zaila, me ajude, tive uma acidente com uma faca tentando consertar a janela do quarto.

Eu tinha errado o golpe. Foi apenas um corte no antebraço dele.

Minha satisfação era que ele não podia dizer o que foi.

Da próxima vez eu calcularia melhor.

A Zaila correu para ajudar o infame e eu peguei o prato de sopa e sai calmamente em direção ao quarto.

Pelo menos naquela noite, eu me sentia um pouco melhor. Era questão de tempo.

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