A noite estava fria e o vento cortante de outono passava pelas frestas das janelas do restaurante, deixando o ambiente gelado e desconfortável. Elena sentia suas pernas arrepiadas, um arrepio que começava na ponta dos pés e subia pelo corpo todo. Seus pés estavam gelados dentro do scarpin gasto de salto baixo, que mal oferecia proteção contra o chão de azulejos frios do restaurante. Ela abraçou o cardápio contra o peito, buscando um pouco de calor, mas sabia que de nada adiantaria. O uniforme que era obrigada a usar era composto por uma saia preta justa, que ia um pouco acima dos joelhos, e uma camisa social de botões brancos, cujas mangas eram três-quartos, deixando os braços dela expostos ao frio de dez graus daquela noite.
Elena mordeu o lábio inferior, frustrada. Há quanto tempo já estava ali, naquele emprego sem futuro? Trabalhando até tarde da noite, sujeita ao assédio dos clientes e à grosseria de Cassian, o dono do restaurante. Mas não havia escolha. O salário era medíocre, mas era melhor do que nada. Com sua mãe, Corina, passando mais tempo no hospital do que em casa, os gastos com medicamentos e tratamentos só aumentavam. Elena sentia-se encurralada. Não podia deixar o emprego, e o sonho de trabalhar em uma revista de moda parecia cada vez mais distante. Ela suspirou, afundando os ombros.
Pelo menos essa noite está quase acabando, pensou, tentando se consolar. Mas o restaurante estava mais cheio do que de costume. Os grupos de clientes pareciam se multiplicar, mantendo-a em constante movimento de uma mesa para outra. Agora, caminhava em direção à área externa, onde um grupo de homens de negócios havia se instalado, ocupando uma grande mesa no terraço. O vento noturno parecia atravessar o tecido fino de sua saia, fazendo com que seus dentes batessem. Ela chegou à mesa e esboçou um sorriso, tentando parecer mais confiante do que realmente se sentia.
“Desejam fazer os pedidos, senhores?”, ela perguntou, mantendo a voz firme.
Os homens, bem agasalhados em seus ternos caros, ergueram os olhos para ela. O líder do grupo, um homem de meia-idade com uma barba bem aparada e um sorriso pretensioso, deixou seu olhar percorrer o corpo de Elena de maneira descarada antes de responder.
“Claro, docinho. Queremos o melhor que você tem a oferecer, meu bem...”, disse ele, com um sorriso lascivo nos lábios.
Elena lutou contra o impulso de revirar os olhos. Estava acostumada a ser olhada daquela forma pelos clientes, especialmente pelos homens que frequentavam o restaurante. O uniforme apertava suas curvas de forma sensual, um truque barato de Cassian para atrair clientes. Ela havia pedido, em mais de uma ocasião, um uniforme maior, que cobrisse mais o corpo, mas Cassian sempre recusava, dando-lhe um sorriso de canto de boca e dizendo que ela devia se orgulhar de sua aparência.
“Falarei com o chefe, senhor”, ela respondeu com um sorriso forçado, decidindo que pediria o prato mais caro do cardápio para eles. Se teria que aturar olhares e comentários desagradáveis, ao menos tiraria alguma vantagem disso.
Ela se virou rapidamente, desejando escapar do vento cortante e dos olhares lascivos dos homens. Seus cabelos castanhos balançaram ao vento enquanto ela caminhava de volta para a cozinha, onde se sentia um pouco mais segura. Chegando ao lado do fogão, ela colocou a comanda do pedido sobre o quadro, suspirando pesadamente.
“Pode fazer o que tiver de mais caro”, disse ela ao chef, Luca, que a olhou de soslaio.
Luca, amigo de infância de Elena e chef do restaurante, riu ao ouvir o comentário dela. Interiormente, ele sentia uma pontada de raiva por ver sua amiga ser tratada daquela forma, mas sabia que não havia muito que pudesse fazer. Ambos precisavam do trabalho. Ele pegou a comanda e começou a preparar os pratos.
“Quer sair depois que o restaurante fechar? Podemos pegar a última sessão de cinema!”, sugeriu Luca, tentando mais uma vez convencer Elena a sair com ele.
Elena sorriu, apreciando a preocupação de Luca, mas balançou a cabeça. “Acho melhor não, minha mãe tá em casa sozinha desde cedo… Sabe, não gosto de deixar ela sozinha assim”, ela suspirou, mordendo o lábio inferior. “Você entende, né?”
Luca assentiu, embora uma sombra de decepção passasse por seus olhos. Ele entendia a situação de Elena, sabia que a mãe dela estava doente e que a jovem passava todo o tempo livre cuidando dela. Mas não podia evitar sentir uma pontada de frustração. Queria passar mais tempo com Elena, estar ao lado dela, mas parecia que o destino sempre conspirava contra.
“Claro, não precisa se preocupar…”, Luca começou a responder, mas foi interrompido pela voz estridente de Cassian, que entrou na cozinha de supetão.
“Elena, não te pago pra ficar batendo papo, porra!”, gritou Cassian, com os braços cruzados e uma expressão furiosa no rosto. “Tem cliente esperando na merda do salão! Mexe essa bunda pra lá, agora!”
Elena sentiu o rosto esquentar de vergonha e raiva. “Desculpe! Sim, senhor!”, ela respondeu, abaixando a cabeça e saindo rapidamente da cozinha, sentindo o coração apertado. Ser humilhada dessa maneira era doloroso, mas ela engoliu o orgulho e seguiu em frente, sabendo que precisava do emprego.
De volta ao salão, Elena se preparava para atender outra mesa quando Cassian passou por ela, quase correndo, apontando para as escadas. “Você, lá em cima! Tem cliente esperando na área privada!”, ordenou ele.
Elena assentiu, jogando os cabelos para trás e ajeitando a postura. O andar de cima era reservado para clientes VIP, grandes empresários ou pessoas extremamente ricas. Ela respirou fundo, tentando recuperar a compostura, e subiu as escadas rapidamente. Ao chegar ao andar superior, avistou uma grande mesa no centro do salão, onde estavam sentados seis homens e duas mulheres, todas vestidas de forma luxuosa e sensual.
Elena se aproximou da mesa com passos firmes, parando ao lado e sorrindo suavemente para os presentes. Ela distribuiu os cardápios pela mesa antes de falar.
“Senhores e senhoritas, gostariam de fazer seus pedidos?”, perguntou, sua voz gentil e simpática.
Os olhares dos clientes se voltaram para ela, avaliando-a com curiosidade. Elena sentiu o olhar de um deles se demorar mais sobre ela, e quando seus olhos se encontraram, seu coração disparou. Ele era o homem que encabeçava a mesa, e sua presença era simplesmente avassaladora. Alto, com ombros largos e uma expressão austera, ele tinha um ar de autoridade que fazia Elena se sentir pequena. Seus cabelos escuros contrastavam com os olhos penetrantes, que pareciam enxergar através dela.
Elena corou intensamente sob o olhar dele, sentindo-se exposta de uma maneira que nunca havia experimentado antes. Ela desviou o olhar rapidamente, concentrando-se nos pedidos dos outros clientes. As mulheres da mesa fizeram pedidos com vozes estridentes, que fizeram Elena lembrar de garras arranhando uma lousa. Ela anotou tudo com eficiência, tentando ignorar o nó em seu estômago.
Quando chegou a vez do homem, ele demorou um pouco mais para falar, os olhos ainda fixos nela, avaliando-a. Finalmente, ele fechou o cardápio e a observou com um sorriso enigmático.
“Um tagliatelle, senhorita”, ele disse, sua voz grave enviando um arrepio pela espinha de Elena.
Ela assentiu, anotando o pedido e se virando para sair, mas antes que pudesse dar o primeiro passo, o homem falou novamente.
“Qual o seu nome?”, ele perguntou, casualmente, como se estivesse perguntando as horas.
Elena parou, surpresa, e se virou para ele. “Elena, senhor.”
“Bonito nome”, ele comentou, o sorriso se alargando um pouco. “Diga-me, Elena, você trabalha aqui há muito tempo?”
Ela hesitou antes de responder. “Há alguns meses, senhor.”
Ele assentiu, satisfeito. “Interessante. E você gosta do que faz?”
Elena não sabia o que responder. A resposta honesta seria um retumbante “não”, mas ela sabia que não podia ser rude com um cliente, especialmente um que parecia ser tão influente. “É um trabalho como outro qualquer, senhor”, respondeu cuidadosamente.
O homem riu suavemente, como se achasse a resposta dela divertida. “Entendo. Muito bem, Elena, isso é tudo por agora.”
Ela se afastou da mesa, sentindo o olhar dele seguir cada movimento seu. Quando chegou ao final do corredor, se permitiu um suspiro de alívio. Aquela troca de palavras a deixara nervosa de uma maneira que não conseguia explicar. Havia algo de perigoso naquele homem, algo que a atraía e a repeliria ao mesmo tempo.
De volta à cozinha, Elena entregou os pedidos a Luca, que olhou para ela com preocupação. “Está tudo bem?”, ele perguntou, percebendo o olhar distante da amiga.
“Sim, está tudo bem”, respondeu ela rapidamente, mas não pôde evitar que seus pensamentos voltassem para o homem misterioso da mesa VIP. Quem era ele? Por que seu olhar parecia perfurar sua alma?
Pouco tempo depois, os pratos estavam prontos, e Elena voltou ao andar superior para servi-los. Desta vez, Anton a observava de maneira mais discreta, mas Elena ainda podia sentir o peso dos olhos dele sobre ela. Cada movimento que fazia parecia mais calculado, consciente de que estava sendo observada.
Ao colocar o prato diante dele, seus dedos roçaram levemente os de Anton. A sensação foi como um choque elétrico, e Elena se afastou rapidamente, tentando esconder o rubor que subia em suas bochechas.
“Obrigada”, murmurou, evitando o olhar dele enquanto se retirava da mesa.
Anton a observava com um misto de interesse e curiosidade. Havia algo em Elena que o intrigava. Não era apenas sua beleza – embora ela fosse realmente linda, com aqueles olhos grandes e expressivos e lábios convidativos. Era a inocência que transparecia nela, uma doçura que parecia destoar do mundo duro e implacável em que ele vivia. Ela parecia frágil, e isso despertava nele um desejo de protegê-la e, ao mesmo tempo, de possuí-la.
Quando terminaram a refeição, Anton chamou Elena, entregando-lhe um maço de notas como gorjeta. Elena arregalou os olhos ao ver a quantia, muito mais do que jamais recebera como gorjeta ali.
“Isso é muito, senhor…”, começou ela, mas ele a interrompeu.
“Considere como um agradecimento pelo excelente serviço”, disse ele, levantando-se. Ao fazê-lo, tirou um cartão do bolso interno do paletó e o estendeu para ela. “Se algum dia precisar de ajuda, de qualquer tipo, entre em contato comigo. Meu número está aí.”
Elena pegou o cartão, atordoada. O nome Anton Salvatore estava impresso em letras douradas, junto com um número de telefone. Ela olhou para ele, surpresa, mas antes que pudesse responder, Anton já estava se virando, caminhando para fora da sala com seus acompanhantes.
Ela ficou olhando para o cartão em suas mãos, sentindo um turbilhão de emoções. Quem era aquele homem? E por que ele estaria interessado em ajudá-la?
Anton saiu do restaurante, um sorriso de satisfação em seu rosto. Ele tinha uma sensação de que aquele encontro não seria o último. Havia algo em Elena que o fazia querer saber mais, explorar cada aspecto da sua vida. E ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela iria procurá-lo.
Ninguém recusava Anton Salvatore por muito tempo.
Anton encostou a cabeça no banco de couro do carro, sentindo a tensão do dia pesar sobre seus ombros. O jantar com os De Luca havia sido um sucesso, e isso significava um passo importante nos negócios. No entanto, lidar com a insistência de Isabela era mais do que ele estava disposto a aguentar naquela noite. Ele precisava de um tempo para si, um momento de silêncio. Girou a chave na ignição, sentindo o motor potente do carro rugir sob seu comando.Antes que pudesse arrancar, ouviu um leve bater na janela do passageiro. Anton virou o rosto lentamente, seu olhar frio pousando na figura elegante de Isabela. Ela estava linda, como sempre, seus cabelos loiros caindo em ondas perfeitas sobre os ombros. O vestido justo destacava suas curvas, e os olhos claros brilhavam sob a luz suave dos postes de rua. Mesmo assim, tudo o que Anton sentia por ela naquele momento era irritação.“Não vai me levar pra casa?”, a voz dela era doce, mas havia uma nota de irritação ali.Anton suspirou, um som pes
Elena caminhou pelas ruas da cidade com passos apressados, a mente girando em um turbilhão de pensamentos. A noite fria parecia refletir o estado de sua mente, que estava dividida entre o medo e a desesperança. O cartão que Anton Salvatore lhe havia dado parecia pesar mais do que qualquer carga física que ela já carregara. O brilho dourado das letras e o número de telefone estavam gravados em sua memória, como uma promessa enigmática e potencialmente perigosa.Ela chegou ao apartamento onde morava com a mãe, um pequeno espaço em um edifício antigo e desgastado. O prédio estava quieto, a atmosfera carregada com a mesma sensação de desolação que Elena sentia. As luzes de seu apartamento estavam acesas, sinalizando que sua mãe ainda estava acordada. Elena respirou fundo antes de abrir a porta, sentindo o peso da responsabilidade esmagá-la.Quando entrou, encontrou sua mãe sentada na sala, lendo um livro. O olhar cansado e preocupado de Corina se iluminou ao ver a filha.“Como foi o traba
As luzes do clube noturno eram uma mistura de néon e sombras, criando um cenário quase surreal de decadência e luxo. O som grave da música fazia o chão vibrar sob os pés de Elena enquanto ela atravessava o salão principal do Inferno, o clube exclusivo de Anton Salvatore. Era ali que ela trabalhava agora, imersa em um mundo que era tanto sedutor quanto perigoso.Elena ainda não se acostumara com o ambiente. As risadas altas, o tilintar constante de copos, o cheiro de álcool misturado com perfumes caros. Tudo era intenso demais. Ela servia os clientes, entregava bebidas, e ocasionalmente dançava, como Anton sugerira. Mas sempre sentia o peso do olhar dele sobre si, uma constante lembrança de que ele estava ali, observando-a, controlando cada movimento que fazia.Naquela noite, Elena estava de serviço no bar principal, suas mãos ágeis misturando coquetéis e atendendo pedidos. Vestia um uniforme justo, uma saia preta curta e uma blusa de seda vermelha que abraçava suas curvas, escolhidos