HeitorEntrar no quarto e vê-la adormecida na cama acalmou e muito o meu coração. Isadora sempre teve esse poder de me devolver a paz, de me fazer sorrir espontaneamente, de me fazer falar coisas que eu sempre guardei para mim, mesmo eu impondo limites em minhas palavras e atitudes. Ao mesmo tempo que ela me jogava no inferno quando me fazia sentir coisas que eu não queria sentir. Na verdade, eu não podia sentir. Era algo proibido para mim. Havia uma linha tênue que eu nunca deveria ultrapassar, mas ultrapassei e agora não tem mais volta. Me aproximo calmamente da cama com as palavras não ditas gritando dentro de mim. Elas lutam para sair da minha boca, mas nesse momento ela não poderá me ouvir, não ainda. Então pacientemente apenas me sento na poltrona ao lado da sua cama, seguro a sua mão e começo a beijá-la com suavidade. Eu tenho tantas coisas para te dizer e uma delas com certeza será o meu sincero pedido de perdão. Sim, nem que para isso eu tenha que me ajoelhar aos seus pés, ma
— Obrigada por manda nos buscar, Senhor D’angelo! — Marlene fala quando aperta a minha mão e sorrio satisfeito para a jovem senhora.— Não foi nada! Eu sempre soube sobre essa nova amizade que construíram com minha esposa e pensei que ela gostaria de vê-las aqui. — Percebo os olhares das mulheres em cumplicidade com Isadora e penso que provavelmente estavam falando de mim agora.— Você disse que tem boas notícias? — Paty questiona. Os meus olhos encontram os da minha esposa e eu solto um suspiro sutil.— O doutor Benjamin virá em alguns minutos. Ele disse que em algumas horas estará alta — falo, esperando alguma reação animada da sua parte, mas ela apenas desvia os seus olhos dos meus. — Eu vou deixá-las a sós para conversarem e volto em alguns minutos — digo um tanto sem jeito.— Faça isso, Senhor D’angelo! Queremos curtir esses anjinhos e matar um pouco dessa saudade da nossa amiga. — Bia fala com humor. Apenas assinto e antes de realmente sair do quarto olho para ela outra vez envo
HeitorO momento mais esperado por mim chegou, mas ele não está acontecendo como pensei que seria. O silêncio dentro do carro é quase sepulcral. Isadora está concentrada na nossa filha em seus braços, enquanto seguro o nosso garotinho ansioso para iniciar algum tipo de interação entre nós. Encho os pulmões algumas vezes, em busca de algum assunto em comum e decido quebrar o nosso silêncio.— Ainda não demos um nome para eles. — E finalmente ela me olha, só que rapidamente e volta a mexer na criança. — Se me permitir, eu quero dar um nome para ele. — Ela ergue outro olhar para mim e morde o lábio inferior.— Qual nome?— Ethan. — Em resposta Isadora apenas meneia a cabeça de forma positiva.— É um nome bonito! Eu pensei em chamá-la de Marrie. — Meu coração se aquece quando ela continua e me pego sorrindo.— Marrie? Por quê? — Dá de ombros.— Eu gosto desse nome e... eu sempre sonhei que teria uma filha e que a chamaria assim. — Meu sorriso cresce um pouco mais e incrivelmente ela retri
Heitor — Ok, estou disposto a tudo para tê-la de volta e se preciso contar-lhe toda a minha história, eu farei isso! — confirmo com um fio de voz.— Quando? — Volto a engolir em seco.— Agora. — Ele pressiona os lábios e na sequência abre um sorriso encorajador.— Quer que eu te acompanhe? — Faço não com a cabeça e esvazio a minha xícara.— Não. Eu quero... na verdade, eu preciso fazer isso sozinho. Obrigado pelo conselho, meu amigo!— Disponha! — Ele ralha quando me ponho de pé e sigo para a porta.Falar do meu passado com a Isadora ou com qualquer outra pessoa nunca esteve nos meus planos. Ele sempre esteve bem guardado, longe da minha mente e do meu coração. A vida promíscua que vivi até agora era a minha única maneira de me manter são, e Isadora surgiu como um furacão arrastando tudo, destruindo as minhas muralhas, desafiando as minhas forças e descobrindo o que mantive escondido de tudo e de todos por anos. Amar não era o meu propósito. Eu fui instruído a não sucumbir a esse sen
HeitorDesde que voltei para a mansão, os meus dias não têm sido nada fáceis. Tenho sonhado todas as noites com o dia que Heitor entrará no meu quarto e anunciará a minha partida desse lugar, e que serei forçada a deixar os meus filhos para trás. Sei que não será uma batalha fácil. Medir forças com esse CEO será praticamente um massacre contra mim, mas eu não posso desistir deles. Enquanto Marrie e Ethan estavam guardados dentro de mim me sentia segura, mas agora não. Agora eles estão bem aqui e tudo se tornou ainda mais difícil, e mais frágil também. Menos para ele. A cada dia Heitor se mostra mais forte, duro como ferro, frio e determinado, e isso me preocupa. O choro de Ethan me desperta e sorrio ao vê-lo em seu banho morno, porém, me dedico a vestir a minha garotinha que já parece um tanto sonolenta. A porta do quarto se abre repentinamente e um Heitor irreconhecível passa por ela, e o que vejo em seus olhos me causa um arrepio descomunal. Imediatamente seguro a Marrie e protetora
IsadoraÉ doloroso demais ouvir isso e saber que desde cedo Heitor conheceu a pior das dores. Ele foi quebrado mil vezes e reconstruído da maneira mais errada e dolorosa possível. Agora entendo tamanha arrogância, tanta frieza e o descaso de um homem poderoso, e imponente.— Eu sou oco por dentro, Isadora. Completamente vazio. Ou... era, eu já não sei mais. O fato é que o meu mundo virou de cabeça para baixo e eu que quebrei essa maldita promessa. E desde então Roland D’angelo tem me atormentado. — Franzo o cenho completamente confusa.— Como assim? O que você quer dizer com isso, Heitor? — Ele se levanta do sofá e se ajoelha bem na minha frente. Os seus olhos se conectam aos meus, mas eu não sinto a sua habitual intensidade neles. Heitor parece receoso dessa vez e isso é novidade para mim.— Lembra do dia que você estava servindo naquela sala de reuniões da contábil? — Faço um sim para ele. — Quando eu entrei naquela sala e esbarrei forte na linda copeira? — Ele força um sorriso, po
Heitor— Como pode fazer isso comigo, pai? Como pode destruir o seu próprio filho desse jeito? — pergunto, me curvando sem forças enquanto os soluços de um choro descontrolado balança o meu corpo violentamente. — AAAAAAAAAAH! — grito sozinho no cômodo várias e várias vezes, tentando me livrar dessa dor, dessa angústia que parece me rasgar por dentro. Eu a perdi! Penso completamente desolado — AAAAAAAAAAH! Eu te odeio, pai! Odeio no que me transformou! Eu sou um maldito monstro e a culpa é toda sua! — Ofegante, eu paro e olho ao meu redor, e o silêncio quase toma conta do lugar se não fosse a minha respiração alterada se espalhar por todo ele! Paro o choro e as lamentações, respiro e tento pensar com clareza. — Tadeu! — digo com desespero e me sento no chão. Pego o meu celular e ligo imediatamente para ele.— E aí, você fez? — Ele pergunta com a sua habitual alegria assim que atende à ligação.— Eu a perdi, Tadeu! — sussurro com sofreguidão e entre novas lágrimas que começam a se derra
HeitorDe todas as coisas que já fiz na vida apenas duas foram as mais difíceis para mim. Uma delas foi trazer Isadora Dixon para dentro da minha casa e depois levá-la para a minha cama. Fazer amor com essa mulher sufocando os sentimentos dentro de mim que não podiam ser sufocados, pois por mais que eu quisesse matá-los, destruí-los, eles simplesmente ficavam mais fortes e sobreviviam a qualquer batalha minha. A segunda, bom, essa eu farei agora. Penso, entrando no carro e Charles imediatamente liga o motor seguindo direto para a minha casa, ou para a pior parte do meu destino, porque exatamente hoje deixarei a única pessoa que conseguiu penetrar o meu coração ir embora. Eu sei que serei atormentado pela solidão, mas Tadeu tem toda razão, ele sempre tem. Qual a graça de tê-la tão perto e tão inacessível para mim? Assim que o carro para em frente a mansão, eu solto uma respiração pesada e logo me forço a entrar na casa. Os meus pés parecem se rebelar contra mim pelo esforço sobrenatura