Capítulo 3

—Me diz o seu nome —eu tentei mais uma vez, ele sorriu e me abraçou, era exatamente como eu me lembro, alto e forte, ele desceu a boca até meu ouvido e eu senti quando ele umedeceu os lábios porque a ponta de sua língua roçou na minha orelha e eu me arrepiei inteira.

— Eu sou Ilya Surkov. —ele fez de novo, umedeceu os lábios e sua língua roçou minha orelha, eu segurei em seus antebraços para não cair com aquela sensação e ele deu uma risadinha cheia de maldade. -Você vai me conhecer bem, daqui pra frente, Koteнок. Eu vim buscar o que é meu.

Ele está louco. É isso. Eu soltei seus antebraços e corri, saí empurrando todos que estavam na minha frente, corri o mais rápido que pude com esses saltos, abri a porta do salão de festas e fui em direção da saída, um braço forte me jogou na parede e eu gritei, de dor e de susto

—Você disse que não ia me machucar —Eu gemi e comecei a chorar de medo, olhei para os lados mas estava tudo vazio. —Por favor, não sei que brincadeira está fazendo comigo, mas eu não sou assim.

Ele tocou no meu rosto com carinho, diferente da atitude anterior, ele parecia uma pessoa controlando os instintos, eu podia ver sua mandíbula se movendo, seus dentes apertando, como se ele estivesse tentando controlar a raiva ou outra coisa que estivesse sentindo.

—Sim, não machucarei você, mas você precisa cooperar. Nós vamos ter tempo de nos conhecer, mas tome cuidado, Ruslana. Ninguém vai tocar em você, por que acha que nenhum garoto idiota te chamou pra sair ou falou com você? Se pergunte o motivo de todos ignorarem você.—ele desceu o rosto para meu pescoço e deu uma chupada tão forte que senti minha pele queimar, comecei a chorar e empurrei ele para longe.

—Está me machucando, seu mentiroso. —levei a mão ao pescoço e fiz pressão para aliviar a dor. —Vá embora, não quero falar com você, me deixe em paz ou vou contar aos meus pais e ele irão atrás de você.

Essas palavras foram como uma piada para ele, porque ele começou a gargalhar e seus olhos ficaram tão escuros que eu temi que ele não fosse um humano, eu estava ficando louca também. Ele segurou em meu pescoço e fez minha cabeça ficar contra a parede e disse:

—Pode apostar, querida. Seus pais sabem exatamente quem eu sou, mas eles sabem que eu sou o caçador nessa história. E minha presa é você! —ele encostou a testa na minha e me beijou, a força, colou os lábios nos meus com tanta força que eu achei que ele ia se fundir comigo.

Empurrei seu peito com toda força que pude e gritei:

—Não me beije a força, seu monstro. Me deixe em paz.

Voltei a correr e dessa vez ele ficou parado, sorrindo. Eu vi quando ele tirou o cigarro da boca e veio caminhando devagar na direção da saída também, eu entrei no carro as pressas e fiquei observando. Ele saiu e acenou pra mim, encostou na parede e ficou fumando, olhando nos meus olhos, eu no carro e ele na parede.

Senti minhas bochechas molhadas e as limpei de forme desajeitada, liguei o carro e fui embora. Chegando em casa, mama e Mikhail estavam na sala vendo TV, eles viram minha aflição e vieram me receber. Eu sentei no sofá e disse. ,

-Mama, tem um homem atrás de mim. O nome dele é Ilya e... e... ele disse que vocês o conhecem, o que e-ele quer comigo? —perguntei aflita, toquei em meu pescoço por instinto, ainda estava doendo muito, ele não apenas sugou, acho que me mordeu também. Canibal.

—Onde você o viu? —ela deu um olhar de aviso para Mikhail e eu fiquei de um para o outro.

—No dia em que papai morreu, ele estava lá. E agora no baile, ele disse que eu era dele. —levantei e fui até a cozinha para pegar um copo de água, bebi dois de uma vez, meus lábios estavam doloridos e tenho certeza de que estavam inchados também.

—Ruslana, precisamos conversar. —mama fez sinal para que eu sentasse no sofá e assim eu fiz, ela ficou em silêncio por um momento, como se procurasse as palavras certas para dizer:

—Seu pai não era correto em todas as ações, querida. O governo estava procurando um homem, achávamos que ele queria cometer atos terroristas em território Russo. Seu pai assinou um documento dando liberdade a um grupo de soldados irem atrás dele. Esse homem, Arseny Romanov, morava em uma vila em Tomsk, ele era casado com uma moça, Zoya Surkov. Os soldados entraram na vila atrás de Arseny e acabaram pegando-o, geralmente a ordem é de prisão, mas seu pai ordenou a morte dele e da família, não iria ter testemunhas. Ninguém saberia do ataque, a vila seria incendiada, Zoya estava grávida e era irmã de Ilya. Desde então, ele vem atrás de todo mundo que sabia do documento. Todos os soldados já foram mortos, seu pai, e mais alguns morrerão em breve. O pai dele, Vladimir Surkov, é dono de uma empresa que até aquele tempo fornecia armas ao governo Russo, mas depois disso, o acordo foi quebrado e ele agora faz contratos com nações inimigas, vende armas para quem dá o maior valor. Nenhum deles é visto em público, muito difícil, mas o governo sabe quem eles são. —ela finalizou.

Porra. Mas espera aí, não fazia sentido, o que eu tinha haver com isso? Claro, essa história toda da irmã de Ilya me deixou completamente enojada, se fosse verdade, papa era um monstro. Mas ainda assim, eu não podia pagar por isso, o que quer que ele estivesse pensando, não era minha culpa, eu não sabia de nada e também eles já mataram o meu pai.

—Que horror, Mama. E você sabia desse documento? Você sabia e não o impediu? —eu acusei sem querer. Ela balançou a cabeça negando e olhou para Mikhail.

—Nós só descobrimos um ano depois, Mikhail soube e me avisou. Eu já vi Ilya duas ou três vezes em toda a minha vida, ele é perigoso, Ruslana. Você vai voltar para a Rússia com a gente e nós iremos ver uma forma de anular o acordo do seu pai.

—Que acordo? —ela voltou a olhar para Mikhail e eu fiquei mais nervosa ainda —Mama, que acordo? O que eu tenho haver com acordo do papa?

—Vladimir naquele dia, assinou um acordo com seu pai, o governo teria armas e todo tipo de tecnologia que eles detêm, e seu pai iria facilitar a entrada de Vladimir na política, para selar o acordo, um casamento foi o que eles julgaram ser o ideal, você se casaria com o filho mais velho. Anton Surkov. Mas o acordo foi mudado e você passou a ser noiva de Ilya, mesmo depois da morte de seu pai, Vladimir não quis anular o acordo, isso eu ainda não sei o motivo.

Eu imagino que essa parte foi uma brincadeira de muito mal gosto. Continuei olhando para mana esperando que ela começasse a rir e dizer que era uma piada, mas ela apenas balançou a cabeça concordando e suspirou. Eu surtei, é claro. Como eu era prometida a uma pessoa que vi uma vez na vida? E eu nem gostava dele, Ilya me causava medo, me causava outras coisas também mas isso não vem ao caso agora.

—Mama... Isso não pode acontecer, e-eu nem conheço e pelo pouco que vi, ele me dá medo. Não pode deixar que eu me case com ele, mama.

Comecei a implorar, isso não ia acontecer, nunca mesmo. Eu voltaria pra casa e lá eu estaria segura, é isso.

—Vamos voltar pra casa amanhã, ficarei escondida em casa o tempo inteiro mãe, não deixe que ele me encontre. —pedi.

—Você não vai se casar, eu Mikhail não vamos deixar isso acontecer. Fique calma. Voltaremos amanhã mesmo para a Rússia. —mama segurou em minhas mãos e olhou para Mikhail, meu padrasto acenou e ela voltou a olhar para mim. —Ruslana, quando chegarmos em casa, nós precisamos conversar. Isso vai ajudar a anular o acordo.

Eu limpei os olhos e acenei, isso não pode ser real, aos dezesseis anos eu fiquei fascinada por Ilya, ele me causava arrepios, mas eu era bem jovem para entender que aquilo arrepio era um aviso que ele é perigoso e malvado. E minha cabeça ainda martelava pensando nas palavras dele. Ele disse que sabia de todos os meus passos e sabia que nenhum cara se interessou por mim, mas não era verdade, ele deve ter afastado todos. Ilya me vigiou esses anos todos, mas por que? Só pra seguir um acordo que não é mais válido? Eu preciso entender.

Peguei meu telefone e mandei mensagem para Jenna e Marta, avisando que eu iria voltar pra casa no dia seguinte. Quando eu estava com o telefone na mão ele tocou, era um número desconhecido, eu não atendi, ele chamou novamente e eu mandei para a caixa postal. Alguns segundos depois apareceu uma mensagem na tela.

Número desconhecido: “Atenda, Kotehok.”

É ele. Ilya Surkov estava me ligando, o telefone tocou novamente e eu pensei seriamente em desligar, mas ele me deu uma ordem e estranhamente eu não consegui ir contra. Atendi o telefone e levei ao ouvido, apenas para ouvir o que ele ia dizer.

—Já está com saudades, Kotehok? —sua voz era grossa e rouca, todas as vezes em que eu ouvia, um calor crescia entre minhas pernas, meu coração acelerava e minha respiração ofegava como seria tivesse acabado de correr uma maratona.

—Não. Eu já sei de tudo, não vou me casar com você. Isso é loucura. Por favor, converse com seu pai e vamos anular o acordo. —eu tentei ser firme, mas minha voz não saiu mais alto que um miado de um gatinho assustado.

—malêchka (bebê) por que eu iria querer anular o acordo? Seu pai assinou e o meu também. —ele disse, parecendo se divertir com meu desespero. —A questão aqui, é que não quero honrar o acordo, não me importo com ele. Meus desejos vão além disso.

—Pare de me tratar como se fossemos íntimos, não sou sua bebê. Esse casamento não vai acontecer.— falei chateada.

Isso me irritava profundamente, Ilya me chamava sempre com termos que remetem a infância, criança, menina, bebê. Apelidos íntimos e não éramos nem um pouco íntimos. E não, esse casamento não vai acontecer.

-Vai sim, malêchka. Porque eu quero você e isso é o bastante. Não tem como fugir, qualquer lugar em que você for, eu saberei. Tudo sobre você eu sei, você é minha desde quando eu coloquei meus olhos em você. Com casamento ou sem casamento, você é minha.

Ele desligou o telefone logo em seguida. Eu queria gritar, queria chorar e fugir, mas, eu também queria saber até onde Ilya iria, ele era uma besta pronta para ser liberta e causar o maior estrago que pudesse na minha vida.

Eu não consegui dormir, a ansiedade me consumiu até o horário em que saímos para o aeroporto. Quando eu consegui pegar no sono, já estávamos voando e por alguns míseros minutos, eu me senti segura. Mesmo que o medo me enrolasse em uma escuridão silenciosa, meu corpo e minha mente desejavam sentir a agressividade dele. Mesmo que por alguns segundos antes da culpa e a vergonha me consumir.

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