Era sábado à noite, eu acabava de chegar da casa de minha avó. A noite estava muito fria, meu cabelo esvoaçava com o vento forte e gelado. Corri para dentro da minha pequena casa, queria muito ver minha mãe e irmã de novo, eu já estava a três semanas longe e isso era muito tempo. Minha avó estava doente e minha mãe à beira da morte, eu precisava urgentemente saber como ela estava.
Entrei e fechei a porta logo em seguida, minha mãe vivia com febre e esse frio não iria fazer bem a ela. Deixei minha mala no chão e fui até seu quarto. Ela estava do mesmo jeito que a deixei há três semanas atrás, deitada na cama sem ânimo e nenhuma expressão no rosto.
Era um rosto sem vida e emoção, ela fitava o teto como alguém que só espera a morte vir buscar e aquilo me fazia querer ir junto.
- Mãe? - chamei fazendo Naiara se virar também.
- Oi filha! - ela respondeu com a voz fraca. - Como você está? E sua avó melhorou?
- Estou bem, vovó melhorou , mas está muito preocupada com a senhora e disse que vem te ver daqui uma semana.
Ela fez uma careta e sorriu, - vovó é muito difícil às vezes, e minha mãe também não tem muita paciência. - Mas acho que essa visita fará bem a ela, por mais que ela ache uma perda de tempo.
- E a senhora? - perguntei depois de dar um abraço em Naiara e dar um beijo na testa dela.
- Bom... - ela deu de ombros fazendo uma careta. - Os remédios fazem eu me sentir mais fraca, mas não posso parar de tomar e o médico me receitou mais, seu pai conseguiu mais dinheiro e comprou os remédios. Fico me perguntando onde ele consegue...? Mas esse tratamento todo só me faz me sentir pior.
- Você precisa ser forte mãe... - Naiara disse rouca.
- Acho que concordo com ela mãe, eu não tô pronta pra te deixar. - digo segurando o choro.
- Eu não sei quanto tempo vou aguentar... mas quero que saibam que amo vocês.
- Também te amo! - eu e Nai respondemos juntas, sempre falamos a mesma coisa juntas, as vezes isso é muito estranho.
Abraçamos ela e ficamos assim por um tempo, não dava para segurar, as lágrimas desceram livres sem barreira. minha mãe era meu maior tesouro e eu não estava pronta para deixá-la. Eu sabia que aquela doença era muito difícil de ser tratada e não sabíamos se havia cura ou não.
Quando minha mãe ficou assim meu pai ficou transtornado, seu mundo ficou abalado com a possibilidade de perder minha mãe, assim como eu e Nai ficamos ao simplesmente pensar nessa hipótese.
Ele não nos disse onde, mas ele conseguiu o dinheiro para o tratamento da esposa, ficamos felizes no começo quando o médico disse que tinha tratamento para a doença, mas o tratamento e os remédios se tornaram agressivos pra ela, e desde então ela só tem piorado.
Ficamos ali não sei por quanto tempo, mas minha mãe começou a ficar sonolenta então chamei Naiara e sai dali, para deixar ela dormir um pouco.
Peguei minha mala que larguei no chão da sala, e fui direto pro quarto já que meu pai não estava em casa.
- Você não ficou curiosa? - Nai perguntou assim que começou a me ajudar a desfazer a mala.
- Com o que?
- Para saber onde papai consegue o dinheiro?
- Deve ser algum trabalho extra que esteja fazendo...
- Não sei não... - ninguém enganava Nai ela podia até ter cara de sonsa, ou de muito nova, mas ela já tinha 12 e era muito esperta.
- E o que você acha que pode ser? - pergunto já curiosa também, às vezes quando ela coloca algo na cabeça, ela pode estar acerta.
- Não sei... mas acho que ele tá pegando emprestado com alguém, e pra pagar vai ser difícil...
- Por que acha isso? - perguntei, apesar de eu também pensar na mesma coisa.
- Porque esses remédios da mamãe são muito caros. Sem contar com as idas ao hospital. Olha!
Ela me mostrou um pedaço de papel cheio de contas e com vários números grandes, alguns escritos remédios e outros custo do hospital, uma bagunça meio organizada.
- O que é isso?
- É do papai, são contas dele. Todo dinheiro que ele gastou até agora.
- Meu Deus, quantos números...
- Agora olha esse valor todo junto! - ela aponta o final da folha.
Olho onde ela mostra e quase tenho um treco, é muita coisa! São mais de 55 mil. A gente tava endividado e com certeza não daria pra pagar isso nunca.
- Isso é ruim...
- É sim, e papai ainda pegou mais esses dias, não sei o valor mas sei que pegou porque ouvi ele falando com a mamãe.
- Como que a gente vai pagar isso...??
- Não faço ideia.
- Guarde isso onde você pegou, antes que o papai veja e brigue com você!
Ela saiu do quarto correndo, minha cabeça não parava de formar perguntas. tipo: Desde quando ele vem escondendo isso? com quem ele arruma o dinheiro? Quanto mais ele tinha pegado? e principalmente... Como que ele pretendia pagar tudo
isso...??
- É do papai, são contas dele. Todo dinheiro que ele gastou até agora.
- Meu Deus, quantos números...
- Agora olha esse valor todo junto! - ela aponta o final da folha.
Olho onde ela mostra e quase tenho um treco, é muita coisa! São mais de 55 mil. A gente tava endividado e com certeza não daria pra pagar isso nunca.
- Isso é ruim...
- É sim, e papai ainda pegou mais esses dias, não sei o valor mas sei que pegou porque ouvi ele falando com a mamãe.
- Como que a gente vai pagar isso...??
- Não faço ideia.
- Guarde isso onde você pegou, antes que o papai veja e brigue com você!
Ela saiu do quarto correndo, minha cabeça não parava de formar perguntas. tipo: Desde quando ele vem escondendo isso? com quem ele arruma o dinheiro? Quanto mais ele tinha pegado? e principalmente... Como que ele pretendia pagar tudo
isso...??
Voltei a arrumar minhas coisas, resolvi que deixaria pra falar isso com meu pai amanhã, seria mais fácil, já que ele devia estar cansado, se é que ele chegou.
Terminei de arrumar minhas coisas e Naiara ainda não tinha voltado. Fui até a porta e ela estava vindo tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.
- Por que demorou tanto? - a olhei série.
- Papai chegou! - ela disse como se aquilo explicasse tudo.
- E ele não brigou com você?
- Não! - ela sorriu.
- E ele disse algo sobre aquelas contas todas?
- Ele disse que não precisamos nos preocupar com isso, que ele já
resolveu, e que amanhã ele explica tudo direito. - ela entrou no quarto e se jogou na cama.
- Só isso que ele falou? - perguntei confusa.
- Ele disse também, que você não precisava desfazer sua mala.
- Por que? - isso só ficava mais estranho a cada instante.
- Sortuda! - ela me ignorou fitando o teto. - Vai viajar de novo e eu só fico em casa!
- Eu viajar? pra onde??
- Papai disse que vai, mas não disse pra onde.
- Que estranho...
- Pois é.
- Mas eu acabei de desfazer a mala. - respondi emburrada, não acredito que teria que fazer tudo de novo.
- Deixa que eu refaço pra você. - Nai respondeu pulando da cama.
- Obrigada Nai, vou tomar um banho enquanto isso.
- Tá! - ela respondeu.
Sai do quarto e fui até o banheiro que era ao lado, deixe a água cair, eu estava muito cansada e aquele banho com certeza me faria bem. Deixei com que tudo escorresse junto com a água pelo ralo, preocupações, cansaço, pensamentos ruins e curiosidade... tudo, eu só queria que tudo sumisse e acabasse. Queria me ver livre de angústias por um tempo.
Sai do banho, me troquei, apaguei a luz e desabei na cama, hoje foi um longo dia e amanhã com certeza seria outro então, nada melhor que um bom descanso, nem tanto pro corpo mais pra alma. me encobriu e logo o sono me dominou.
•~•
- Boooooommm diiiiaaaaa!!! - Nai gritou quase em cima de mim.
- Meu Deus! Quanta empolgação. - falei com tédio.
- Pode dar um jeito nesse seu mau humor! - ela mandou. - Hoje o dia está lindo, e não é hora pra ficar emburrada. - ela sai de cima de mim rindo.
- Tá entendi, mas me diz como isso é possível quando se acorda com uma doida gritando no seu ouvido!
Ela deu um sorriso travesso e foi até a porta.
- O café está na mesa, vamos.?
- Tá - respondi me levantando cheia de preguiça. Estendi minha cama e desci. Todos já estavam na mesa, mamãe estava com uma cara bem melhor, mais alegre.
- Bom dia! - falei indo até a pequena mesa da cozinha.
- Bom dia! - eles responderam. me sentei e comecei a tomar o café.
- Como você está hoje, mãe?
- Estou me sentindo bem mais disposta, às vezes sinto alguma dor, mas estou melhor. - ela respondeu sorrindo.
- Que bom que está melhor! - sorri de volta. Nai estava radiante por saber disso.
Todos terminaram e Nai foi lavar a louça, me levantei para sair mais meu pai me chamou.
- Preciso conversar com você, Lucy.
- E... do que se trata?
- Vem! - ele me chamou e fomos até a sala.
- O que é pai? - perguntei.
Ele parecia meio ansioso e nervoso, eu conhecia aquela expressão, ele iria soltar uma bomba!
- Bom... eu não queria falar perto da sua mãe, então te chamei aqui. - ele começou.
- Pode dizer.
- Acho que você já viu minhas anotações, não é?! Já que estava com Nai e ela com certeza deve ter te mostrado.
- Sim, eu vi. Aliás eu realmente queria saber quem te emprestou todo esse dinheiro. - confessei.
- Foi um amigo meu que conhece sua mãe.
- Hum... - ele parecia querer falar mais alguma coisa. Soltou um longo suspiro e virou pra mim. Com certeza ele não sabia como começar então fico por ele.
- Como o senhor vai pagar ele?
— Eu não tive outra escolha, não podia ser a Nai, então tive que ser você...— O que o senhor quer dizer com isso? — perguntei confusa.— Te ofereci pro Henry, pra você ir ficar com ele. — Sentir uma lágrima descer pelo meu rosto, ele não podia estar falando sério. E quem pelo amor de Deus é Henry?!— O senhor me vendeu???? — gritei pra ele, agora não importava se tinha alguém escutando ou não. Aquilo passou dos limites ele não podia ter me trocado por dinheiro.— Eu não te vendi...— Vendeu sim! O senhor me trocou por dinheiro!!! — respondi irritada.— Eu não tive escolha, sua mãe piorou muito nas três semanas em que você ficou fora. — ele falou quase gritando também.Não consegui segurar minhas lágrimas, tudo culpa de uma maldita doença! E como se não bastasse, meu pai me vendeu!— Em que o senhor usou o dinheiro? — per
Era um homem alto e forte, ele era loiro dos olhos azuis. Fiquei parada na porta sem saber direito o que fazer, eu nunca tinha visto esse cara na minha vida e não fazia ideia do que ele queria aqui, ainda mais com um buquê de flores na mão!Ele me olhou com uma cara de preocupado e deu um sorriso, um sorriso lindo por se dizer! Eu sei que deveria dizer algo, qualquer coisa mas não consegui. Ele devia estar pensando que estava louca, mas na verdade eu me sentia um pouco perturbada. Era como se eu tivesse olhando pra alguém que já fazia parte da minha vida, era como se o conhecesse...Ele deu um passo pra frente me fazendo ficar mais nervosa do que já estava, depois ergueu a mão devagar até meu rosto e limpou uma lágrima, me fazendo perceber só agora que eu estava chorando.— E... precisa de algo? — perguntei achando que ele tinha errado de casa.— Vim ver Karina. — ele respondeu.
Henry...Eu tinha ido buscar Lucy, assim como ficou combinado com Thomas, era para mim ter saído a duas horas atrás, mas não tive coragem. Na verdade estou até agora levantando os prós e contras de ir. Thomas disse que eu deveria ir hoje, mas eu não achava uma boa idéia, com certeza Lucy não gostaria!Sai de casa e parei o carro em frente a uma floricultura, Karina gostava muito de flores então resolvi levar umas pra ela. Cheguei lá mais rápido do que eu pretendia, desci do carro pegando as flores e fui até a porta. Mesmo já estando lá eu não tinha coragem pra bater na porta, olhei por um tempo o sol poente, tentando criar alguma coragem.Quando finalmente decide bater na porta alguém a abriu, era Lucy, ela estava mais linda do que na foto de Thomas.Sai de casa e parei o carro em frente a uma floricultura, Karina gostava muito de flores então resolvi levar umas pra ela. Cheguei lá mais rápido do qu
Lucy...Nunca pensei que veria ele nervoso, e como isso assusta! Henry saiu do quarto muito nervoso, ele bateu a porta com força, depois escutei ele fechar outra porta — devia ser a do próprio quarto — com bem mais força. Era no quarto ao lado, fiquei parada escutando — eu não entendi bem o motivo, não sei se era pura raiva ou se eu tinha dito algo errado, apesar de que eu não estava com a mínima paciência. — ele não fez barulho algum por um tempo, mas de repente algo grande caiu no chão, fazendo barulho de coisas se quebrando. Ele jogava coisas na parede, deviam ser vasos de vidro pelo barulho.Tentei tapar os ouvidos, aquilo estava me assustando e eu não queria escutar mais nada, mas não adiantou... Mas do nada a barulheira parar, tirei as mãos dos ouvidos e não escutei mais nada.Levantei-me e fui até a parede, agora eu precisava escutar algo, qualquer coisa, porque aquilo estava me deixando preocupada. Ele estav
Henry...Desde de ontem eu não tinha ânimo pra nada, Lucy mesmo sem saber conseguiu tocar no meu ponto fraco e abalar minha vida. Falar sobre meus pais era algo que eu não conseguia fazer, - pelo menos não sem ter uma grande recaída. - e Lucy ter falado aquilo realmente me deixou irritado.Ela tinha raiva de mim por eu ter aceitado a proposta do pai dela, e eu estava com raiva por ela ser tão arrogante. Karina havia avisado que ela era difícil mas não que era cruel.Passei o dia todo no escritório que era do meu pai, arrumando não sei o que. Na verdade era só mais uma desculpa pra não ter que enfrentar aquela fera!Luiza me trouxe o almoço, mas eu não estava com a mínima fome, então pedi para ela levar de volta, ela quase me mata com o olhar. Aquela ali não me engana, apesar de parecer uma senhorinha simpática, é muito brava. Continuei ali por um bom tempo sem fazer nada, apesar de agora ter companh
Lucy...Acordei sentindo o sol no rosto, me espreguicei sentido a cama macia, mas eu não fazia ideia de como fui parar ali. Me lembro de ter falado pra Luiza que não iria dormir, mas acabei pegando no sono e não me lembro de ter me levantado ou como vim parar aqui. Me levantei e fui escovar meus dentes, depois desci pra cozinha.— Bom dia! — eu disse dando um beijo no rosto de Luiza.— Bom dia, querida! — ela respondeu sorrindo. — Você não parece uma fera... — ela disse pensativa.— Mas quem disse que eu sou uma fera?— Amnh... — Ela abriu a boca sem dizer nada.— Ah claro, foi ele não foi?— Bom, ele disse que eu não achava isso porque não te vi com raiva.— É que eu tratei ele muito mal no primeiro dia que vim.— Sim... mas e você, dormiu bem?— Igual uma pedra! — ela riu. — Por falar
O relógio já marcava quase nove horas da manhã e eu ainda não tinha a mínima vontade de descer e esbarrar com Henry. Eu ainda estava meio chateada com tudo o que aconteceu ontem, mas eu não tinha pra onde correr e teria que descer, teria que enfrentar alguém que não me suporta.Levantei-me e fui até o banheiro, escovei meus dentes e lavei meu rosto, depois amarrei meu cabelo. É só mais um dia! Talvez eu consiga.Dei de ombros e desci as escadas indo direto pra cozinha, como sempre Luiza já estava lá limpando tudo.— Bom dia! — falei dando um beijo no rosto dela.— Bom dia! — ela respondeu sorrindo. — Melhorou o humor? — ela perguntou.— É acho que sim. — falei dando de ombros, e indo me sentar no banco do outro lado do balcão.— Você estava muito nervosa ontem... — ela me deu bolo e suco.— Não sei bem o que deu em mim ontem.
Henry... Não sei porque agi daquele jeito com Lucy, eu não queria ter brigado com ela, não devia! E agora eu estava me sentindo um idiota arrogante por ter inventado uma mentira tão descabida, e me sentia pior ainda por saber que ela acreditou. Ver a cara dela e os olhos cheios de lágrimas fez eu me sentir um monstro.Entrei na porta da cozinha já decidido a ir atrás dela, pedir desculpas e dizer que tudo era mentira. Mas não sai da cozinha, Luiza já me fuzilava com os olhos, ela devia estar uma fera comigo. Soltei um suspiro e me virei pra ela, eu sabia que ela queria falar comigo, então fiquei por lá.— O que você fez? — ela perguntou com um olhar ameaçador.— Com certeza não foi só uma briga! — ela falou mais irritada ainda.— A gente só discutiu. - falei dando de ombros. — Talvez eu tenha falado algo demais...<