30 de janeiro de 2020, penitenciária feminina da cidade de São Paulo.
Em uma das salas reservadas do presidio, localizada no térreo, havia um padre trajando preto, com uma estola branca em volta do pescoço. Ele lê a Bíblia Sagrada enquanto espera pacientemente a próxima detenta para uma confissão com Deus. Não demora muito e uma mulher com o uniforme das presidiárias entra na sala. Mãos algemadas, cabelo solto, e um semblante de quem passou a noite inteira acordada e chorando. Mas no momento em que os olhares dos se cruzou, um sorriso surgiu naquele rosto feminino.Ella, a detenta, era acusada de matar o próprio marido e a amante, mas esse tipo de pessoa não assustava o padre, na verdade ele sentia uma leve piedade por almas perdidas como essa, que procuravam por luz.
E é assim que a história dela será contada...
─ Olá filha, boa tarde.
─ Boa tarde padre.
─ Qual a última vez que se confessou?
─ Um dia antes do meu casamento, tem uns quatro anos.
─ E o que te traz aqui?
─ Matei meu marido e a amante dele, isso porque eu os odiava tanto, que não pude perceber o que estava fazendo, foi aí que perdi o controle do meu coração, na verdade eu perdi meu coração. Eu odeio cada minuto daquela noite, mas não me arrependo do pecado, de ter atirado, faria tudo de novo, só garantiria um Djarum Black, teria mais drama. Entende? Te pergunto padre, se você tivesse encontrado o seu amor com outra na cama, teria controle? Eu duvido, você não entende essas coisas, o amor entre um homem e uma mulher. Eu nem sei o porquê de estar aqui afinal, nada apaga o meu erro.
Ele, meu marido, quebrou o silêncio quando bateu aquela porta, me deixando no escuro. Quebrou sua palavra, quando saiu com outra mulher, ele jurou diante de Deus. Eu não o odiava, mas estava perdida no amor, eu o amava tanto que de uma hora para outra, o amor fugiu ao meu controle e virou ódio. Como se aquela cena tivesse arrancado o meu coração de uma vez só, jogado no chão e pisado com força. Espero que estejam no inferno!
Nossa vida juntos era tão bem planejada, que tudo parecia perfeito, como no fim de uma novela, sem erros, sem defeitos, me lembro de suas declarações de amor eterno, dizia que me amava e eu como uma pata boba acreditava. Eu sei que nada apaga o meu pecado.
Ele tinha quebrado o silêncio, o precioso silêncio quando bateu aquela porta, me deixando no escuro. E eu posso te garantir padre, que eu fiz de tudo para recuperar aquele amor, mas de nada adiantou, do amor ao ódio, é assim que essa confissão termina, por que é uma farsa esse felizes para sempre. Isso não existe.
E eu vou me encontrar com eles no inferno, porque nada apaga os nossos pecados. Nem o deles e nem o meu.
Ele tinha batido a porta do quarto, me deixando no escuro sozinha, e a anta aqui foi desabafar com a vadia. Contei tudo para ela, eu confiava nela desde a época da escola, e foi assim que eu descobri que melhores amigas, também apunhalam pelas costas.
E nada vai apagar esse pecado, eu nem sei se estou de fato arrependida, talvez eu seja uma heroína.
Tudo começou na minha primeira aula de direitos do consumidor. Parecia só mais uma noite na faculdade, estava no terceiro trimestre do curso de direito, não me lembro bem o que estava fazendo, mas me lembro de quando ele entrou na sala de aula. Os olhos dele se encontraram com os meus, e pude sentir o arrepio na alma, algo que me dizia que não deveria me envolver, mas que seria muito prazeroso me deixar levar. Jeff Anwalt, posicionou o seu material na mesa dos professores, deu um belo sorriso e iniciou a sua aula, eu poderia dizer o que ele tinha passado de conteúdo, mas tudo o que eu percebia era a beleza dele naquele terno preto, e acredito que ele tenha notado minha total desatenção na matéria, quando olhou para mim e deu uma piscadinha. Depois daquele dia, tudo o que eu pensava era em Jeff Anwalt, até mesmo enquanto dormia. Fico até sem graça, mas
Então recapitulando tudo, eu era uma pobre menina, que se apaixonou pelo professor/chefe, que não ligava para mim, arranjei um boy, perdi o boy para Londres, mas em compensação meu chefe e ex-professor se declarou para mim, resultando em um casamento aparentemente perfeito, e internamente problemático. Mas voltemos a falar de Rita. Quando a reencontrei na estação do Brigadeiro do metrô, ela estava horrível, não porque estava chorando e cheia de olheiras, mas todo o conjunto. Ela era daquelas hipsters, que não usam sutiã, com calças largas, parecia que o cabelo não era lavado há anos e o mesmo podia se dizer do banho. Sua pele estava suja e ela estava extremamente magr
Vinte e cinco de setembro era aniversário do Jefferson e eu quis agradá-lo, dando a ele um belo jantar e o meu lindo corpo. Ideia dada pela minha mãe, preparei uma deliciosa costela de porco a primavera, completamente nua, preparei a mesa a luz de velas, comprei uma garrafa de Whisky maravilhosa de R$1.500,00 reais, e fiquei lá, sentada a mesa, nua. Esperando e esperando. As velas se derretam, a comida esfriou, e nada dele me responder as mensagens, era uma terça-feira. Eu sabia que ele chegaria tarde, mas já tinha virado o dia, era 1h da manhã e nada dele. Comecei a chorar enquanto olhava a minha imagem deprimente no espelho da parede, toda aquela cena que refletia, como me deixei virar aquele tipo de mulher, pensei em mandar uma mensagem para Rita, desabafar com ela, mas não queria acordá-la e jogar meus problemas, ela já tinha os dela, era o que eu pensava.
Quase um mês se passou e Jeff voltou a ficar longe, chegando tarde do trabalho e não me procurando mais para nada. Decidi parar de reclamar do horário, pois talvez fosse paranoia minha, nunca fui professora, mas sei como alunos podem atrasar professores muitas vezes, principalmente os de faculdade e os que estão em tempos de TCC. Decidi que seria a boa esposa, a mais excelente: Acordava cedo, preparava o café do esposo, ia para o trabalho, voltava e preparava o jantar, lia um livro ou assistia a novela enquanto ele não chegava, e quando passava das 22h ia para a cama, na esperança do meu marido chegar em casa com vida, jantasse e se deitasse ao meu lado. Em uma terça feira, enquanto eu estava no
Depois da consulta falei para Jeff que perdi o emprego, ele estava com uma vibe positiva então disse que daríamos um jeito e que de certo modo era bom, pois eu me dedicaria a família e a casa. Naquela noite jantamos fora com alguns amigos e chegando em casa nos preparamos para receber Pietro, Jeff tirou a sexta de folga da faculdade, mas teria que ir para o escritório por meio período, e mesmo parecendo um pouco nervoso, comigo ele se comportava como um anjo. Na manhã de sexta-feira, eu peguei por encomenda um delicioso bolo colorido com três bonequinhos que representavam Jeff, Pietro e eu. Decorei a casa com bexigas coloridas e Jeff preparou saborosos lanches de peito de peru. Convidei uma amiga minha que tinha duas filhas, cinco e nove anos, minha mãe, minha madrinha, que a essa altura já eram um casal, e os pais do Jeff também vieram e trouxeram salgadinhos e presentes para o meu li
Lembro muito bem desse dia, mas não me lembro da data. Acordamos aquela manhã com uma batida forte na janela do nosso quarto, que estava aberta por conta do calor, dentro do quarto se debatendo no chão um horripilante e enorme urubu, comecei a gritar de desespero, o Jeff tentou tirar a criatura espantando com os pés, e depois com travesseiros sendo jogados na direção do animal. Pietro entrou no quarto querendo saber o motivo de tanta gritaria, e eu o levei para fora dali. Jeff desistiu de espantar a ave e chamamos o zelador, mas quando o funcionário do prédio chegou a ave já tinha ido embora, e impregnando o meu apartamento com aquele cheiro de carniça, lembro de ter vomitado muito, usamos as roupas que estavam no varal e saímos de lá, para especialistas cuidarem de todo o problema, passamos no shopping para comprarmos roupas decentes para aquele dia, afinal era dia d
Aquele meu comportamento o incomodava, e voltamos para a terapia de casal com a doutora Adélia, ela não pareceu surpresa com a revelação da amante, mas disse que ficou decepcionada com a mentira e dessa vez ela caiu em cima dele, dizendo que aquilo não se fazia, marcar uma psicóloga para dizer que a mulher estava ficando louca com crises de ciúmes reais e sérias, e que se eu estava dando essa última chance ele deveria levar muito a sério. Também conversou comigo. Me disse que não adiantava nada eu ficar vendo tudo isso sempre com o pé atrás, que se fosse para viver assim, eu deveria ou me divorciar ou aceitar que ele está realmente tentando mudar, viver olhando para ele com raiva não ajudaria em nada e que o Pietro poderia perceber, e de fato ele percebia. Certa vez Jeff chamou a atenção dele por não querer sai
Passamos o ano novo e o aniversário de Pietro na Disney, em Orlando. Foram dias incríveis, algo que eu realmente almejava para a minha vida, uma família feliz viajando para fora, e quando voltamos a harmonia continuava reinando em nosso lar. Jeff estava de férias também, pois havia conseguido a promoção que ele tanto batalhou para conseguir, até subiu para o décimo oitavo andar do prédio, lembrando que lá eram vinte e um andares. Mesmo nas férias dele, fomos lá dar uma olhada com o Pietro, estava passando por um processo de reforma, trocariam alguns moveis, mas a mesa dele já havia chegado. Era enorme e de mármore branco, a sala era bem maior do que a que ele tinha antes e a vista era linda, dava para ver o parque do Ibirapuera. Voltamos para casa com ele todo feliz e orgulhoso, e prometendo que em breve nós nos mudaríamos para uma casa e que ele pensaria no fato de adotarmos um cachorrinho ou gato, pois faz menos bagunça e barulho.