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Confissões de uma assassina
Confissões de uma assassina
Por: Fernanda de Jesus Passos
Nada quebra como um coração

            30 de janeiro de 2020, penitenciária feminina da cidade de São Paulo.

            Em uma das salas reservadas do presidio, localizada no térreo, havia um padre trajando preto, com uma estola branca em volta do pescoço. Ele lê a Bíblia Sagrada enquanto espera pacientemente a próxima detenta para uma confissão com Deus. Não demora muito e uma mulher com o uniforme das presidiárias entra na sala. Mãos algemadas, cabelo solto, e um semblante de quem passou a noite inteira acordada e chorando. Mas no momento em que os olhares dos se cruzou, um sorriso surgiu naquele rosto feminino.

 Ella, a detenta, era acusada de matar o próprio marido e a amante, mas esse tipo de pessoa não assustava o padre, na verdade ele sentia uma leve piedade por almas perdidas como essa, que procuravam por luz.

            E é assim que a história dela será contada...

            ─ Olá filha, boa tarde.

            ─ Boa tarde padre.

            ─ Qual a última vez que se confessou?

            ─ Um dia antes do meu casamento, tem uns quatro anos.

            ­─ E o que te traz aqui?

            ─ Matei meu marido e a amante dele, isso porque eu os odiava tanto, que não pude perceber o que estava fazendo, foi aí que perdi o controle do meu coração, na verdade eu perdi meu coração. Eu odeio cada minuto daquela noite, mas não me arrependo do pecado, de ter atirado, faria tudo de novo, só garantiria um Djarum Black, teria mais drama. Entende? Te pergunto padre, se você tivesse encontrado o seu amor com outra na cama, teria controle? Eu duvido, você não entende essas coisas, o amor entre um homem e uma mulher. Eu nem sei o porquê de estar aqui afinal, nada apaga o meu erro.

            Ele, meu marido, quebrou o silêncio quando bateu aquela porta, me deixando no escuro. Quebrou sua palavra, quando saiu com outra mulher, ele jurou diante de Deus. Eu não o odiava, mas estava perdida no amor, eu o amava tanto que de uma hora para outra, o amor fugiu ao meu controle e virou ódio. Como se aquela cena tivesse arrancado o meu coração de uma vez só, jogado no chão e pisado com força. Espero que estejam no inferno!

            Nossa vida juntos era tão bem planejada, que tudo parecia perfeito, como no fim de uma novela, sem erros, sem defeitos, me lembro de suas declarações de amor eterno, dizia que me amava e eu como uma pata boba acreditava. Eu sei que nada apaga o meu pecado.

            Ele tinha quebrado o silêncio, o precioso silêncio quando bateu aquela porta, me deixando no escuro. E eu posso te garantir padre, que eu fiz de tudo para recuperar aquele amor, mas de nada adiantou, do amor ao ódio, é assim que essa confissão termina, por que é uma farsa esse felizes para sempre. Isso não existe.

            E eu vou me encontrar com eles no inferno, porque nada apaga os nossos pecados. Nem o deles e nem o meu.

            Ele tinha batido a porta do quarto, me deixando no escuro sozinha, e a anta aqui foi desabafar com a vadia. Contei tudo para ela, eu confiava nela desde a época da escola, e foi assim que eu descobri que melhores amigas, também apunhalam pelas costas.           

            E nada vai apagar esse pecado, eu nem sei se estou de fato arrependida, talvez eu seja uma heroína.

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