Até na escuridão, pude sentir a hesitação dele.— Tem certeza?— Sim. — Engoli em seco. — Por favor.Ouvi-o se levantar, seus passos suaves no carpete. O colchão afundou levemente quando ele se deitou ao meu lado, mantendo uma distância respeitosa.O calor do seu corpo era perceptível mesmo sem nos tocarmos. Senti meu coração acalmar, apesar de outro relâmpago iluminar brevemente o quarto. O trovão que se seguiu não pareceu tão assustador agora.— Melhor? — ele perguntou, a voz mais suave do que eu jamais tinha ouvido.— Sim — admiti, agradecida pela escuridão que ocultava meu rosto corado.Ficamos em silêncio por um momento, apenas o som da chuva forte contra as janelas preenchendo o ambiente.— Então... tempestades? — Christian perguntou finalmente, sua voz um pouco divertida. — Nunca imaginei que algo te assustaria.— Todo mundo tem medo de alguma coisa.— E o seu é de tempestades. Por quê?Suspirei, virando-me de lado para encará-lo na penumbra.— É uma história ridícula.— Agora
Mas antes que pudesse continuar, meu celular vibrou na mesinha de cabeceira. O brilho da tela iluminou brevemente o quarto. Esticando-me para alcançar meu celular, quebrei o momento, o espaço entre nós subitamente aumentando. Era apenas uma mensagem de Annelise:"E aí, já dormiu com ele? Aposto que já!”Suspirei, colocando o celular de volta. Quando olhei para Christian novamente, algo havia mudado. Ele se afastou ligeiramente, como se a interrupção tivesse quebrado um feitiço.— A chuva está diminuindo — ele comentou, os trovões agora distantes, quase inaudíveis.— É... está.— Acho que vou voltar para o sofá.Quis pedir que ficasse, mas as palavras não saíram. O momento havia passado. Com um movimento suave, ele se levantou e voltou para sua cama improvisada.— Boa noite, Zoey.— Boa noite — respondi, um estranho vazio se instalando no meu peito.Apesar do cansaço, o sono demorou a chegar. Quando finalmente adormeci, sonhei com vinhedos intermináveis e segredos sussurrados na escuri
Elise se aproximou com aquele andar perfeitamente calculado, cada passo um lembrete do quão à vontade ela se sentia em ambientes como este. Usava um elegante conjunto off-white que provavelmente custava mais que três meses do meu salário, cabelos impecavelmente arrumados, maquiagem que parecia profissional.E então, como se o universo decidisse que meu dia não estava suficientemente complicado, vi Alex surgindo logo atrás dela.Minha mão encontrou a de Christian instintivamente, agarrando-a com força. Ele me lançou um olhar rápido, compreendendo a situação imediatamente.— Christian Bellucci — Elise cumprimentou quando se aproximou, seu sorriso profissional não combinando com o olhar calculista. — Que surpresa encontrá-lo aqui. Que bom ter a Vinícola Bellucci como nossa cliente.— Senhorita Costa — ele respondeu com uma educação fria. — Marco cuida dessa parte dos negócios.O olhar dela deslizou para mim, e algo brilhou em seus olhos. Não era exatamente hostilidade, mas uma mistura de
O avô de Christian era exatamente como eu havia imaginado: alto, imponente, com cabelos grisalhos perfeitamente aparados e um olhar penetrante que parecia enxergar através de qualquer fachada. Giuseppe Bellucci tinha aquela presença que comandava respeito imediato, o tipo de homem que não precisava levantar a voz para ser ouvido.Ao nos aproximarmos dele, notei como vários convidados se afastavam ligeiramente, como se cedessem espaço a uma força da natureza. Ele estava cercado por um pequeno grupo de homens de negócios, mas assim que viu Christian, dispensou-os com um simples gesto.— Vovô, esta é Zoey Aguilar, minha noiva — Christian me apresentou, sua voz calma, mas pude notar uma tensão sutil em seus ombros.— Finalmente nos conhecemos, senhorita Aguilar — disse Giuseppe, estendendo a mão para mim. Seu sotaque italiano era suave, mas perceptível.— É um prazer, senhor Bellucci — respondi, sentindo minha própria mão tremer levemente ao apertar a dele.Seus olhos, de um azul-gelo imp
A pergunta de Giuseppe pairou no ar, pesada como chumbo. Você realmente o ama? Quatro palavras simples que me deixaram sem fôlego, como se tivesse levado um soco no estômago.Minha mente girou em um turbilhão de pensamentos. Mentir para o avô de Christian sobre nosso primeiro encontro era uma coisa, mas declarar amor? Isso era diferente. Mais profundo. Mais íntimo.Abri a boca, mas nenhum som saiu. As mãos começaram a suar, e senti o peso do olhar intenso de Giuseppe sobre mim, aguardando uma resposta. A verdade? Não, eu não amava Christian. Como poderia? Nosso relacionamento era uma farsa, um acordo de negócios disfarçado de romance. Mas então...Por que as imagens dele deitado ao meu lado durante a tempestade surgiram na minha mente? Por que lembrei da vulnerabilidade em seus olhos quando falou sobre Francesca? Do modo como suas mãos seguraram as minhas quando confessou que havia crescido praticamente sozinho?— Vovô — Christian interveio, sua voz calma quebrando o silêncio tenso. —
Francesca Montero. O nome que Christian havia pronunciado naquela noite durante a tempestade, como uma cicatriz que ainda doía ao toque. A mulher que o havia traído da pior forma possível. E agora, ela estava ali, sua mão estendida para mim, um sorriso calculado nos lábios perfeitos.— É um prazer conhecê-la — respondi, apertando sua mão com mais firmeza do que pretendia. — Zoey Aguilar.— Zoey — ela repetiu, como se saboreasse meu nome, testando-o. — Que nome... único. Christian sempre teve um gosto peculiar.Seu sotaque italiano dava às palavras um tom melodioso que contrastava com a sutileza cortante do comentário. Ao meu lado, Christian parecia uma estátua, rígido, quase irreconhecível comparado ao homem que me beijara minutos atrás.— E como vocês se conheceram? — Francesca perguntou, seus olhos escuros estudando cada centímetro do meu rosto. — Christian raramente frequenta eventos que não sejam de negócios. Ou isso mudou?— Amigos em comum — respondi automaticamente, repetindo n
Christian virou-se para mim, a pergunta sobre Francesca ainda pairando no ar entre nós. Então, surpreendentemente, ele sorriu — aquele sorriso meio torto que parecia reservado para momentos em que ele decidia mudar as regras do jogo.— E você? — ele perguntou, seus olhos nunca deixando os meus. — Ainda gosta do Alex?A pergunta me pegou completamente desprevenida. Por um instante, senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Era uma pergunta justa, mas de alguma forma parecia mais íntima, mais invasiva do que a minha sobre Francesca.— Você sabe que sim — respondi, desviando o olhar para os vinhedos escuros. — Não é algo que se supere da noite para o dia.Christian se aproximou, inclinando-se ligeiramente na varanda, nossos braços quase se tocando.— Tenho que perguntar — sua voz era surpreendentemente suave. — Você gosta realmente dele ou gosta da ideia de alguma forma recuperá-lo? De mostrar à Elise que você ganhou e ela perdeu?A pergunta era tão certeira que quase doeu
As palavras de Alex pairavam no ar entre nós, carregadas de insinuação. Meu corpo reagiu de maneira contraditória – um arrepio com a lembrança traiçoeira de sensações que meu eu não tinha esquecido completamente.Antes que eu pudesse formular uma resposta, uma voz fria e controlada cortou o momento.— Interrompendo algo?Christian estava parado na base da escada, olhando para nós com uma expressão que nunca tinha visto antes. Seus olhos, geralmente calorosos quando direcionados a mim, estavam duros como pedras. Seu maxilar estava tenso, a postura rígida.Alex sorriu, recuando um passo, mas não parecendo nem um pouco constrangido.— Apenas relembrando os velhos tempos com sua noiva — ele respondeu com uma casualidade estudada. — Zoey e eu temos... muita história.Christian atravessou o espaço entre nós com passos medidos, colocando-se ao meu lado. Seu braço deslizou ao redor da minha cintura de forma possessiva, os dedos pressionando levemente contra o tecido fino do vestido.— Históri