A pergunta pairou entre nós, pesada e inevitável. Christian manteve o olhar fixo no meu por um longo momento, como se avaliasse quanto de verdade eu merecia ouvir. Então, surpreendentemente, ele sorriu – não aquele sorriso confiante que usava com o mundo, mas algo mais suave, quase resignado.— Não é algo que se supere da noite para o dia. — Ele me devolveu minhas próprias palavras, e por algum motivo, isso doeu mais do que qualquer outra resposta teria doído.Desviei o olhar, subitamente interessada no padrão do tapete sob nossos pés. Christian se aproximou, mantendo ainda uma distância respeitosa.— Não da forma que você está pensando — ele esclareceu. — Não sinto amor por ela, não mais. Mas sinto a marca que ela deixou. — Passou a mão pelo cabelo, aquele gesto que eu já reconhecia como sinal de desconforto. — A traição dela não afetou apenas os negócios da minha família. Afetou minha capacidade de... confiar.A vulnerabilidade em sua voz me pegou desprevenida. Este não era o CEO co
Contemplei minha imagem no espelho enquanto terminava de aplicar o batom. O vestido que escolhi para o evento era de um azul profundo, com um corte que parecia ter sido feito sob medida para meu corpo. A seda fluida deslizava suavemente com cada movimento, criando um efeito etéreo que contrastava com a simplicidade do modelo. Como todos os outros presentes de Christian, era elegante sem ser chamativo, sofisticado sem exageros.Christian já tinha descido para verificar os últimos preparativos, deixando-me sozinha com meus pensamentos inquietos. A conversa da noite anterior ainda ecoava na minha mente: ele admitindo que ainda sentia algo por Francesca, eu revelando meu sonho perdido em relações públicas. Éramos duas pessoas quebradas fingindo ser um casal perfeito – a ironia não me escapava.Quando finalmente desci até os vinhedos onde o evento seria realizado, quase não reconheci o lugar. O cenário rústico e elegante da vinícola tinha se transformado em um espetáculo colorido que parec
~ Christian ~— Não, Christian. Isso já foi longe demais!Senti os dedos de Zoey escorregarem dos meus, e antes que pudesse reagir, ela já estava se afastando rapidamente, desaparecendo entre os convidados. Por um segundo, fiquei paralisado, vendo o vestido azul se distanciar enquanto dezenas de olhares curiosos alternavam entre mim e a figura em fuga.Meu avô continuava no palco, sua expressão passando da alegria orgulhosa para a confusão. O microfone amplificava seu chamado, que agora soava mais como uma ordem:— Christian? Zoey?Não havia tempo para pensar. Anos de negociações difíceis tinham me ensinado a improvisar sob pressão. Coloquei o sorriso mais convincente que consegui e subi ao palco sozinho, passando o braço pelos ombros do meu avô.— Perdoem a minha noiva — falei ao microfone, mantendo o tom leve. — Zoey tem um pouco de pânico de multidões. Especialmente quando é o centro das atenções.Burburinhos compreensivos percorreram a plateia. Alguns influenciadores já formulavam
Corri. Sem destino, sem direção, apenas para longe daquela cena. Para longe dele.A imagem de Christian e Francesca no bar, tão próximos, seus lábios quase se tocando, queimava em minha mente como um ferro em brasa. "Não se preocupe. Está tudo acabado", ele tinha dito antes de sair. Agora eu entendia o que aquelas palavras realmente significavam.Não deveria me importar. Era um acordo, apenas um acordo. Christian Bellucci não me devia fidelidade, não me devia nada além do que tínhamos combinado. Então por que meu peito doía como se tivesse levado um soco? Por que minha visão estava embaçada pelas lágrimas que insistiam em cair?Meus passos me levaram pelos jardins, depois pelos vinhedos, o luar iluminando meu caminho entre as fileiras de parreiras. O vestido azul que parecia tão perfeito horas atrás agora se enroscava entre meus joelhos, atrapalhando minha fuga. Não que importasse para onde eu estava indo. Não havia para onde fugir de mim mesma, das minhas próprias emoções traiçoeiras
O Porsche de Christian parou suavemente em frente à minha casa. O motor desligou, deixando apenas o silêncio entre nós, tão pesado que parecia uma terceira presença no carro. Pela janela, vi minha casa exatamente como a tinha deixado dias atrás – modesta, familiar, um mundo completamente diferente das vinícolas e mansões que havíamos deixado para trás.A viagem de volta tinha sido quase toda em silêncio. Algumas tentativas de conversa morreram rapidamente, como se ambos soubéssemos que qualquer palavra dita poderia romper a frágil trégua que estabelecemos. Christian tinha sido educado, perguntando se estava confortável, se precisava parar em algum lugar. Eu tinha sido igualmente polida, respondendo com monossílabos. Fingimos que não havia acontecido nada. Que não tínhamos dormido no mesmo quarto, compartilhado histórias pessoais, dançado juntos, nos beijado.Fingimos que não haveria saudade.— É isso — Christian disse finalmente, as mãos ainda no volante, embora o carro estivesse para
As palavras pairaram entre nós, carregadas de significado. O ar dentro do carro parecia denso, elétrico. Christian continuava próximo, tão próximo que eu podia sentir sua respiração, ver cada pequeno detalhe do seu rosto – o leve sombreado da barba por fazer, o brilho intenso em seus olhos, os lábios ainda úmidos do nosso beijo.Por um momento – um glorioso, esperançoso momento – pensei que ele diria sim. Que sairíamos do carro juntos, entraríamos em casa de mãos dadas, e talvez, apenas talvez, começaríamos algo real. Algo nosso.Sua mão acariciou meu rosto, tão suavemente que quase doeu. O olhar em seus olhos era diferente de qualquer um que eu já tivesse visto – vulnerável, quase reverente.— Zoey... — Meu nome saiu como uma prece de seus lábios. — Eu quero. Mais do que você imagina.Meu coração disparou. Inclinei-me em direção a ele, pronta para outro beijo, para levá-lo para dentro, para continuar o que havíamos começado. Mas suas mãos seguraram gentilmente meus ombros, mantendo u
~TRÊS MESES DEPOIS~Três meses podem mudar muita coisa.Ajustei a gravata de um dos promotores que distribuiriam amostras do novo Merlot da Vale do Sol, verificando se o logo estava perfeitamente alinhado.— Lembre-se de mencionar as notas de cereja e o tempo de barrica quando os convidados perguntarem — instruí, passando para o próximo promotor na fila.O saguão do hotel onde aconteceria a degustação já estava quase pronto. As mesas estrategicamente posicionadas para criar um fluxo natural, as taças de cristal milimetricamente alinhadas, os displays informativos elegantes mas não excessivos. Eu tinha passado as últimas duas semanas planejando cada detalhe deste evento. Não era grande como os da Bellucci, mas era meu. Completamente meu.— Zoey, esses arranjos florais estão no lugar errado! — gritou Lisa, minha assistente de 22 anos recém-saída da faculdade. — O planejamento dizia que ficariam perto da fonte, não da entrada!Respirei fundo e sorri. Há três meses, eu era a vendedora de
— Confirme com os promotores do Cabernet que eles devem ficar na estação três, não na dois — instruí Lisa, enquanto ajustava o pequeno broche com o logo da Vale do Sol em meu blazer azul-marinho.O salão do evento estava impecável. As luzes indiretas criavam uma atmosfera sofisticada, destacando os displays de vinhos e os infográficos sobre o processo de produção da vinícola. Os primeiros convidados chegariam em dez minutos, e minha equipe se movia com eficiência coordenada, fazendo os ajustes finais.— Zoey, Eduardo quer falar com você no lobby — disse um dos assistentes, passando rapidamente por mim.Encontrei meu chefe perto da entrada principal, ajustando nervosamente sua gravata. Eduardo Mendez era um homem de quarenta e poucos anos, com uma energia constante que tornava difícil ficar parado perto dele.— Ah, Zoey! — Seu rosto iluminou-se ao me ver. — Está tudo perfeito. Você superou minhas expectativas mais uma vez.— Obrigada. A equipe trabalhou duro.— A equipe seguiu suas ins