Francesca Montero. O nome que Christian havia pronunciado naquela noite durante a tempestade, como uma cicatriz que ainda doía ao toque. A mulher que o havia traído da pior forma possível. E agora, ela estava ali, sua mão estendida para mim, um sorriso calculado nos lábios perfeitos.— É um prazer conhecê-la — respondi, apertando sua mão com mais firmeza do que pretendia. — Zoey Aguilar.— Zoey — ela repetiu, como se saboreasse meu nome, testando-o. — Que nome... único. Christian sempre teve um gosto peculiar.Seu sotaque italiano dava às palavras um tom melodioso que contrastava com a sutileza cortante do comentário. Ao meu lado, Christian parecia uma estátua, rígido, quase irreconhecível comparado ao homem que me beijara minutos atrás.— E como vocês se conheceram? — Francesca perguntou, seus olhos escuros estudando cada centímetro do meu rosto. — Christian raramente frequenta eventos que não sejam de negócios. Ou isso mudou?— Amigos em comum — respondi automaticamente, repetindo n
Christian virou-se para mim, a pergunta sobre Francesca ainda pairando no ar entre nós. Então, surpreendentemente, ele sorriu — aquele sorriso meio torto que parecia reservado para momentos em que ele decidia mudar as regras do jogo.— E você? — ele perguntou, seus olhos nunca deixando os meus. — Ainda gosta do Alex?A pergunta me pegou completamente desprevenida. Por um instante, senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Era uma pergunta justa, mas de alguma forma parecia mais íntima, mais invasiva do que a minha sobre Francesca.— Você sabe que sim — respondi, desviando o olhar para os vinhedos escuros. — Não é algo que se supere da noite para o dia.Christian se aproximou, inclinando-se ligeiramente na varanda, nossos braços quase se tocando.— Tenho que perguntar — sua voz era surpreendentemente suave. — Você gosta realmente dele ou gosta da ideia de alguma forma recuperá-lo? De mostrar à Elise que você ganhou e ela perdeu?A pergunta era tão certeira que quase doeu
As palavras de Alex pairavam no ar entre nós, carregadas de insinuação. Meu corpo reagiu de maneira contraditória – um arrepio com a lembrança traiçoeira de sensações que meu eu não tinha esquecido completamente.Antes que eu pudesse formular uma resposta, uma voz fria e controlada cortou o momento.— Interrompendo algo?Christian estava parado na base da escada, olhando para nós com uma expressão que nunca tinha visto antes. Seus olhos, geralmente calorosos quando direcionados a mim, estavam duros como pedras. Seu maxilar estava tenso, a postura rígida.Alex sorriu, recuando um passo, mas não parecendo nem um pouco constrangido.— Apenas relembrando os velhos tempos com sua noiva — ele respondeu com uma casualidade estudada. — Zoey e eu temos... muita história.Christian atravessou o espaço entre nós com passos medidos, colocando-se ao meu lado. Seu braço deslizou ao redor da minha cintura de forma possessiva, os dedos pressionando levemente contra o tecido fino do vestido.— Históri
A pergunta pairou entre nós, pesada e inevitável. Christian manteve o olhar fixo no meu por um longo momento, como se avaliasse quanto de verdade eu merecia ouvir. Então, surpreendentemente, ele sorriu – não aquele sorriso confiante que usava com o mundo, mas algo mais suave, quase resignado.— Não é algo que se supere da noite para o dia. — Ele me devolveu minhas próprias palavras, e por algum motivo, isso doeu mais do que qualquer outra resposta teria doído.Desviei o olhar, subitamente interessada no padrão do tapete sob nossos pés. Christian se aproximou, mantendo ainda uma distância respeitosa.— Não da forma que você está pensando — ele esclareceu. — Não sinto amor por ela, não mais. Mas sinto a marca que ela deixou. — Passou a mão pelo cabelo, aquele gesto que eu já reconhecia como sinal de desconforto. — A traição dela não afetou apenas os negócios da minha família. Afetou minha capacidade de... confiar.A vulnerabilidade em sua voz me pegou desprevenida. Este não era o CEO co
Contemplei minha imagem no espelho enquanto terminava de aplicar o batom. O vestido que escolhi para o evento era de um azul profundo, com um corte que parecia ter sido feito sob medida para meu corpo. A seda fluida deslizava suavemente com cada movimento, criando um efeito etéreo que contrastava com a simplicidade do modelo. Como todos os outros presentes de Christian, era elegante sem ser chamativo, sofisticado sem exageros.Christian já tinha descido para verificar os últimos preparativos, deixando-me sozinha com meus pensamentos inquietos. A conversa da noite anterior ainda ecoava na minha mente: ele admitindo que ainda sentia algo por Francesca, eu revelando meu sonho perdido em relações públicas. Éramos duas pessoas quebradas fingindo ser um casal perfeito – a ironia não me escapava.Quando finalmente desci até os vinhedos onde o evento seria realizado, quase não reconheci o lugar. O cenário rústico e elegante da vinícola tinha se transformado em um espetáculo colorido que parec
~ Christian ~— Não, Christian. Isso já foi longe demais!Senti os dedos de Zoey escorregarem dos meus, e antes que pudesse reagir, ela já estava se afastando rapidamente, desaparecendo entre os convidados. Por um segundo, fiquei paralisado, vendo o vestido azul se distanciar enquanto dezenas de olhares curiosos alternavam entre mim e a figura em fuga.Meu avô continuava no palco, sua expressão passando da alegria orgulhosa para a confusão. O microfone amplificava seu chamado, que agora soava mais como uma ordem:— Christian? Zoey?Não havia tempo para pensar. Anos de negociações difíceis tinham me ensinado a improvisar sob pressão. Coloquei o sorriso mais convincente que consegui e subi ao palco sozinho, passando o braço pelos ombros do meu avô.— Perdoem a minha noiva — falei ao microfone, mantendo o tom leve. — Zoey tem um pouco de pânico de multidões. Especialmente quando é o centro das atenções.Burburinhos compreensivos percorreram a plateia. Alguns influenciadores já formulavam
Corri. Sem destino, sem direção, apenas para longe daquela cena. Para longe dele.A imagem de Christian e Francesca no bar, tão próximos, seus lábios quase se tocando, queimava em minha mente como um ferro em brasa. "Não se preocupe. Está tudo acabado", ele tinha dito antes de sair. Agora eu entendia o que aquelas palavras realmente significavam.Não deveria me importar. Era um acordo, apenas um acordo. Christian Bellucci não me devia fidelidade, não me devia nada além do que tínhamos combinado. Então por que meu peito doía como se tivesse levado um soco? Por que minha visão estava embaçada pelas lágrimas que insistiam em cair?Meus passos me levaram pelos jardins, depois pelos vinhedos, o luar iluminando meu caminho entre as fileiras de parreiras. O vestido azul que parecia tão perfeito horas atrás agora se enroscava entre meus joelhos, atrapalhando minha fuga. Não que importasse para onde eu estava indo. Não havia para onde fugir de mim mesma, das minhas próprias emoções traiçoeiras
O Porsche de Christian parou suavemente em frente à minha casa. O motor desligou, deixando apenas o silêncio entre nós, tão pesado que parecia uma terceira presença no carro. Pela janela, vi minha casa exatamente como a tinha deixado dias atrás – modesta, familiar, um mundo completamente diferente das vinícolas e mansões que havíamos deixado para trás.A viagem de volta tinha sido quase toda em silêncio. Algumas tentativas de conversa morreram rapidamente, como se ambos soubéssemos que qualquer palavra dita poderia romper a frágil trégua que estabelecemos. Christian tinha sido educado, perguntando se estava confortável, se precisava parar em algum lugar. Eu tinha sido igualmente polida, respondendo com monossílabos. Fingimos que não havia acontecido nada. Que não tínhamos dormido no mesmo quarto, compartilhado histórias pessoais, dançado juntos, nos beijado.Fingimos que não haveria saudade.— É isso — Christian disse finalmente, as mãos ainda no volante, embora o carro estivesse para