NATÁLIAMinha cabeça começava a doer novamente. Era como se algo estivesse batendo contra o meu cérebro, sacudindo tudo.Meus pensamentos estavam confusos. Num momento, eu estava pensando em uma coisa, e então essa dor de cabeça surgia, como se outra entidade tentasse assumir o controle de mim, me deixando com opiniões divididas, pensamentos desconexos.— Não se estresse. Descanse. Vá dormir e não pense nisso. — Ele sempre dizia as mesmas coisas, com a mesma merda de respiração.A sensação de queimação retornava aos meus olhos, fazendo-me sentir como se o fogo estivesse prestes a jorrar deles.— Ricardo. Não me diga para descansar. Não me diga para não pensar nisso. — Suspirei, com os ombros caindo.— Eu não posso ficar aqui esperando... Por... Por eu não saber nem o quê! — Minha voz aumentou quando uma onda de dor atingiu minha cabeça.— Confie em mim. Apenas fique onde está. Eu vou descobrir. — Ele me assegurou.Um par de mãos pousou em meus antebraços. A dor diminuiu, e um s
NATÁLIAQuando Ricardo disse que precisava estar em algum lugar, pensei que ele estivesse indo para alguma missão secreta.Eu realmente não esperava que ele fosse patrulhar a fronteira sozinho. Que Alfa da comunidade dos lobisomens faria isso?Lancei a ele outro olhar fulminante enquanto ele continuava a caminhar ao meu lado, despreocupado. Não sei quanto tempo havia passado, mas minhas pernas estavam me matando. Ele era um lobisomem, então não sentia isso, mas eu sou apenas uma humana agora.— Pare de me olhar assim. Você queria saber o que eu faço. — Ele riu e me lançou um olhar pelo canto do olho.— Por que estamos patrulhando a fronteira quando os guardas de patrulha deveriam fazer isso? — me queixei, batendo os pés no chão.Para ser honesta, fui ao banheiro e chorei como uma idiota. Ardia e doía de uma maneira que eu não sabia que era possível, saber que finalmente tenho meu companheiro, estava marcada, mas meu homem ainda pertencendo a outra mulher no coração dele.Mas não
RICARDOInacreditável.Eu disse a ela quem eu sou, e ela achou que eu estava brincando. Sério.O que ela era? Uma garotinha bagunçando minha mente. Isso foi tão fodidamente estranho.Como eu acabei contando a ela sobre mim tão facilmente? Eu nunca tinha contado a ninguém antes, nem mesmo para minha própria irmã ou para Britney.O nome ecoou na minha mente e me fez suspirar. Deixei a cabeça cair nas mãos e encarei o chão.Natália estava machucada. Quando algo a machucava, meu coração também doía. Não importava o quanto ela tentasse agir indiferente sobre o fato de eu não conseguir superar Britney, eu sabia que isso a machucava profundamente.Mas o que eu deveria fazer?Eu não pensei que teria outra companheira após a morte de Britney, então vivi com suas memórias. Ela viveu comigo por anos... Como eu deveria me livrar dela de uma hora para a outra?Sem dúvida, eu tinha um ponto fraco fodido pela pequena miss irritante. Ela era minha companheira, mas... Havia algo que sempre vin
ANA— Oi? — Uma garota correu até mim quando me viu parada perto da árvore, perto do campo de treinamento.Eu olhei para trás e balancei a cabeça. Estava observando os jovens meninos e meninas treinando no campo há algum tempo e, pela aparência, ninguém ali parecia ter alto status. Todos eram filhos ou filhas de guardas de patrulha ou guerreiros de baixo escalão.Eu não deveria estar desperdiçando meu tempo com eles.— Nunca te vi por aqui antes. Quem é você, a propósito? — Ela perguntou, curiosa, sem me deixar ali.— Você veio com a nossa nova Luna? — Ela acrescentou, seus olhos cor de mel brilhando de empolgação.Pelo menos a alcateia parecia feliz com a chegada da Luna. As notícias haviam se espalhado rapidamente, no entanto. Apostei que era coisa do Ricardo ou do Bernardo.— Eu sou amiga da sua Luna. — Encolhi os ombros e olhei para trás dela.Uma nova garota entrou no campo de treinamento. Os lutadores amadores deram passagem a ela. Havia uma certa relutância na postura de
ANA— Nossa alcateia não tem coisas tão estranhas... — Ela não conseguiu encontrar as palavras certas enquanto tentava simpatizar comigo.Ela ficou em silêncio e me ajudou a ir até sua casa. Era uma grande vila, perto da casa do Bernardo. Os pais dela não estavam em casa. Ela me contou que moravam na cidade e cuidavam dos negócios do Ricardo, junto com sua irmã. Eu não sabia que ele tinha uma irmã. Uau.Depois de me sentar em um dos sofás da sala de estar, ela foi até a cozinha pegar um copo de água.Aproveitei o tempo para observar a sala de estar, bem arrumada. Havia fotos penduradas por toda parte, parecendo deslocadas, mas estranhamente combinando com o tema azul e branco.— Aqui. — Ela voltou e me entregou o copo de água.Peguei o copo e bebi de uma só vez, antes de colocá-lo de volta na mesa de centro.— Você está morando sozinha por enquanto? — Perguntei.Precisava chegar à parte importante agora.— Sim. — Ela respondeu de forma curta e se jogou no sofá ao meu lado.Fi
NATÁLIAEu estava queimando. Isso era tudo o que eu sentia e percebia.Mas não era o tipo usual de sensação de queimar que eu estava quente. Era mais como se meu corpo estivesse preso em um bloco de gelo.Eu estava desesperada para sair desse bloco ou controlar essa sensação de alguma forma.Perdida no abismo da minha própria consciência, lutando, vi a silhueta na escuridão. Uma mulher de cabelos negros estava à distância, de costas para mim.Enquanto a observava, o fogo começou a lamparinar seus longos dedos, espalhando-se para suas palmas, engolindo as mangas de seu vestido.Eu ofeguei, mas me vi incapaz de me mover, de falar, de alcançar.O fogo iluminou tudo, e a escuridão se escondeu como uma criança assustada. Ela se virou, suas feições suaves entrando em minha visão. Gradualmente, o canto de seus lábios se virou para cima. O gesto me deixou inquieta, ao contrário do que eu esperava.A queimação gelada se tornava pior. O ambiente se tornava sufocante. Eu respirava fundo,
NATÁLIA— Qu… Quem? — Eu gaguejei.Meus olhos se fixaram em meu rosto no espelho. O âmbar nos meus olhos brilhava intensamente.Toquei minhas bochechas, traçando o dedo até o olho, tentando abri-lo bem. Me inclinei para o espelho, para ter certeza de que meus olhos realmente estavam brilhando ou não.— Natália! Você está bem aí dentro? — Ana bateu na porta, me assustando.Minha cabeça se virou rapidamente para a porta. O ritmo normal do meu coração se distorceu.Engolindo em seco, olhei no espelho. Meus olhos estavam de volta ao normal. O olhar opaco, a cor âmbar, inútil.Balancei a cabeça e abri a porta do banheiro. Estava tudo na minha cabeça. Quando saí, Ana veio até mim.— Você consegue andar? — Ela perguntou, levantando as mãos para me apoiar.— Sim. Sim, eu consigo andar. — Respondi, com um tom confuso, e caminhei até a cama antes de me deixar cair sobre ela.Minhas mãos começaram a doer novamente, a sensação de queimação gelada retornando gradualmente. Ana me entregou
NATÁLIAEu inspirei lentamente e segurei a respiração para me acalmar.Ricardo me avaliou, esperando que eu explodisse com ele e despejasse tudo.— Leve-me para casa. — Eu murmurei depois de um tempo.Eu não podia descontar nele no hospital, quando tantos membros da alcateia dele podiam nos ouvir brigando. Mesmo que eu quisesse matá-lo, não conseguia me permitir deixar que outros soubessem que estávamos brigando, que havia uma rixa entre seu Alfa e a Luna. Isso prejudicaria a imagem dele e a minha também.Ricardo entendeu meu ponto e começou a sair do quarto. Eu me levantei e o segui com passos pequenos.O mesmo carro estava estacionado do lado de fora do pequeno prédio do hospital. Eu fui até o banco do passageiro e me acomodei. Ricardo ligou o motor e dirigiu o carro para longe do hospital em silêncio.— Meu amor. — Ele chamou meu apelido que ele me deu quando eu não disse nada por um bom tempo.Eu respirei pesadamente e balancei a cabeça. Por algum motivo, meu coração se rec