NATÁLIAEu estava queimando. Isso era tudo o que eu sentia e percebia.Mas não era o tipo usual de sensação de queimar que eu—estava—quente. Era mais como a sensação de que meu—corpo—estava—mantido—em—um—bloquinho—de—gelo.Eu estava coçando para sair desse bloco ou controlar essa sensação de alguma forma.Perdida no abismo da minha própria consciência lutando, eu vi a silhueta na escuridão. Uma mulher de cabelos negros estava à distância, de costas para mim.Enquanto a observava, o fogo começou a lamparinar seus longos dedos, espalhando-se para suas palmas, engolindo as mangas de seu vestido.Eu ofeguei, mas me vi incapaz de me mover, de falar, de alcançar.O fogo iluminou tudo, a escuridão se escondeu como uma criança assustada. Ela se virou, suas feições suaves entrando em minha visão. Gradualmente, o canto de seus lábios se virou para cima. O gesto me deixou inquieta, ao contrário da expectativa.A queimação gelada se tornava pior. O ambiente se tornava sufocante. Eu respira
NATÁLIA— Q—Quem? — Eu gaguejei.Meus olhos pousaram no meu rosto no espelho. O âmbar nos meus olhos brilhava intensamente.Eu toquei minhas bochechas, traçando meu dedo até meu olho para abri-lo bem. Eu me inclinei para o espelho para ter certeza de que meus olhos realmente estavam brilhando ou não.— Natália! Você está bem aí dentro? — Ana bateu na porta, me assustando.Minha cabeça se virou rapidamente para a porta. O ritmo normal do meu coração se distorceu.Engolindo em seco, eu olhei no espelho. Meus olhos estavam de volta ao normal. O olhar opaco, a cor âmbar inútil.Eu balancei a cabeça e abri a porta do banheiro. Estava tudo na minha cabeça. Quando eu saí, Ana veio até mim.— Você consegue andar? — Ela perguntou, levantando as mãos para me apoiar.— Sim. Sim, eu consigo andar. — Eu respondi em um tom confuso e caminhei de volta para a cama antes de me deixar cair sobre ela.Minhas mãos começaram a doer novamente, a sensação de queimação gelada retornou gradualmente.
NATÁLIAEu inspirei lentamente e segurei a respiração para me acalmar.Ricardo me avaliou, esperando que eu explodisse com ele e despejasse tudo. — Leve-me para casa. — Eu murmurei depois de um tempo.Eu não podia descontar nele no hospital, quando tantos membros da matilha dele podiam nos ouvir brigando. Mesmo que eu quisesse matá-lo, não conseguia me permitir deixar que outros soubessem que estávamos brigando, que havia uma rixa entre seu Alfa e a Luna. Isso prejudicaria a imagem dele e a minha também.Ricardo entendeu meu ponto e começou a sair do quarto. Eu me levantei e o segui com passos pequenos.O mesmo carro estava estacionado do lado de fora do pequeno prédio do hospital. Eu fui até o banco do passageiro e me acomodei. Ricardo ligou o motor e dirigiu o carro para longe do hospital em silêncio.— Meu amor. — Ele chamou meu apelido esquisito que ele me deu quando eu não disse nada por um bom tempo.Eu respirei pesadamente e balancei a cabeça. Por algum motivo, meu cora
NATÁLIAEsse homem diante de mim foi escolhido pela Deusa da Lua para mim. Chateá-lo, rejeitar suas investidas me fez sentir um arrependimento natural pelas minhas ações.Eu não consegui descrever o peso que caiu sobre meu peito quando vi seus olhos lentamente se voltando para minha figura e uma expressão de dor cruzando seu rosto. Isso me pesou, me urgindo a abraçá-lo, mas eu não queria acabar lá novamente.— Estamos indo rápido demais. Rápido demais para eu entender o que você quer ou o que eu quero. — Eu sussurrei, tentando fazê-lo entender meu ponto.— Precisamos parar aqui para você cuidar do seu passado primeiro, Ricardo. Se não fizermos isso hoje... — Eu apontei para o chão. — ...aqui mesmo, podemos acabar nos odiando mais tarde.Seus olhos brilharam em um tom cinza novamente. Pela minha experiência com ele, eu pude perceber que ele estava tentando ao máximo não explodir comigo ou me mostrar seu lado feio.É um progresso. Mas não o suficiente. Não quase suficiente.— Você
NATÁLIAUm nó se formou na minha garganta enquanto eu me perdia em seus olhos. Isso era tão fucked up. Ele estava machucando. Eu estava machucando. Nós dois estávamos sofrendo por dentro. E agora, estávamos nos machucando um ao outro.— Ricardo. Por favor. Isso não é o que eu quero... — Eu deixei a frase no ar, levantando minha mão para tocar seu rosto. — Isso não é o que eu quero de jeito nenhum.Ricardo agarrou minha mão assim que meus dedos tocaram sua pele suave.— Então o que você quer de mim? Diga-me! Diga-me para que eu possa fazer isso e acabar com essa dor de cabeça que me atormenta o tempo todo. — Ricardo rosnou, seus olhos piscando entre cores.O peso no meu peito se tornou mais pesado, mais mortal. Seu aperto em minha mão se tornou mais firme até começar a doer.— Eu quero que você me diga que sou importante para você. Ou — ou que eu não sou apenas uma coisa que você pode usar. Ou que eu não estou aqui com você para me tornar uma maldita máquina de dar à luz que você
RICARDOEu não via saída para isso.Eu entendia o que ela estava tentando me dizer ou o que ela queria de mim agora.Eu sabia que ela queria que seu mate a amasse, a apoiasse, a apreciasse em sua vida. A pequena chata deve ter tido tantas esperanças sobre seu relacionamento com seu mate. Mas o que ela obteve? Eu.Um homem dividido entre passado, presente e futuro. Um homem escondendo-se atrás de identidades falsas para sobreviver em um mundo onde pessoas menos poderosas são caçadas e pessoas muito poderosas são executadas.Eu queria amá-la. Quanto mais eu a olhava, mais eu a conhecia, mais me via querendo me aproximar dela e dizer que me importava com ela, mas...Isso parecia uma traição ao meu antigo eu, à mulher que eu prometi amar.Era por isso que eu não via saída para isso.Isso não é uma desculpa para continuar a machucá-la como ela gritou para mim mais cedo que eu estava fazendo, mas eu realmente, verdadeiramente não sabia como superar meus sentimentos e desenvolver al
RICARDO— E por que isso é exatamente um problema? — Minha pequena chata, a dor de cabeça mais idiota que eu já conheci, zombou de mim de forma mal-humorada.Eu suspirei, passando os dedos pelo meu cabelo.Se eu acusasse a melhor amiga dela, aquela pela qual ela poderia até estar disposta a morrer se necessário, então nosso relacionamento desmoronando seria destruído em um mero momento.Eu não tinha nenhuma evidência. Apenas uma conclusão neste momento. Seria um movimento estúpido revelar a verdade a ela.— Eu não deveria me incomodar em fazer perguntas, certo? Você não vai responder. Como sempre. — Ela bufou quando eu permaneci em silêncio por um tempo.Depois de sair do meu estado de torpor, eu a encarei. Como ela se sentiria ao descobrir o que sua amiga estava fazendo com ela todo esse tempo?Eu podia perceber que ela pensava que aquelas duas mulheres inúteis eram seu sistema de apoio, dois pilares que a mantinham de pé quando todos estavam prontos para se livrar dela ou forç
RICARDOOs olhos dela se arregalaram. Ela tropeçou para trás, com o queixo caindo. Eu estendi a mão e peguei a dela novamente.Ela queria saber.— E enquanto eu fiz isso, você deveria ficar ao meu lado. Isso significou ser meu parceiro. Para você. Certo? — Saiu como um sibilo, vicioso e cruel.— O que você estava dizendo? — Ela soltou, com os olhos se enchendo de lágrimas.— Você sabia que eu estava em guerra com seu grupo. Foi porque eles tinham uma conexão com o ataque ao meu grupo. — Eu revelei.A boca dela se fechou antes que ela a abrisse novamente, tentando dizer algo, mas sem conseguir.Uma lágrima escorreu pela bochecha dela e a dor de cabeça piorou para mim. Era toda dor, não minha, mas de Natália.— Eu queria te deixar ter uma pequena festa de ignorantes com seus amigos, mas você queria saber tanto. Você estava satisfeita agora? — Eu dei um passo para trás, esfregando meu rosto.— Eu não ia perdoar ninguém. Mesmo por você. — Minha voz diminuiu algumas oitavas.O ros