ANA O tempo parece passar tão devagar aqui. Foi quase uma eternidade até o sol nascer e a escuridão desaparecer.Passei a noite toda sentada perto da porta. Não consegui apagar as luzes, nem dormir. Não é nada novo, considerando que estou assim há três meses inteiros.O que Zero fez com as sombras me afetou profundamente. Os pensamentos me consumiram e eu perdi o controle, exatamente como Catarina Gonçalves disse que aconteceria naquele dia.Não posso mais culpar o Zero. Só posso odiá-lo, para evitar me odiar por ser tão fraca.Quando Natália Silva revelou que ele passou séculos sob esse sono induzido, senti pena do Zero, mas não consegui simplesmente voltar ao jeito antigo.Nem consigo mais lembrar como era antes, como eu era.Como eu era? Corajosa? Direta? Ou sempre fui medrosa?Não sei dizer porque agora tenho medo de quase tudo. Estremeço só de pensar em lutar, tenho medo do escuro, tenho medo da noite.Isso é uma droga.Tentei me fortalecer nesses três meses, mas acabei apenas pa
ANA— Você nunca esteve morta. — Deixei escapar, com os olhos arregalados.Estou em estado de choque nos últimos cinco minutos. Ela me ajudou a me acomodar novamente na cadeira, da qual eu tinha me levantado desesperadamente. Minha mente ainda está entorpecida, e minhas mãos estão frias como gelo.Ela se senta ao lado direito do Rei Vampiro e me encara por uma eternidade.Lanço um olhar discreto para Zero pelo canto dos olhos. Ele está olhando pela janela, se recusando a olhar para mim ou para ela. Sei que a presença dela o está incomodando, mas ele também não vai embora. Porque não quer me deixar sozinha com eles, eu sei.— Eu morri. — Ela suspira.Olho de volta para ela, e o transe de dormência se despedaça em um milhão de pedaços. A raiva toma o lugar do choque inicial e da negação.— O que aconteceu? — Mal contenho a fúria e mantenho meu tom equilibrado, neutro.— Dado que você pensou que eu estava morta, acho que... Zero já te contou o lado dele da história. — Ela sussurra, com se
ANA — Você realmente quer ir embora? — Ele me coloca de pé e fecha a porta do meu quarto.Respiro fundo, tentando me acalmar quando tudo que quero é descer e continuar tentando arrancar suas gargantas.— Sim. — Afasto o cabelo da testa, bufando.— E quanto à Natália? — Ele me olha com aqueles olhos escuros.— O que tem ela a ver com isso? — Minha voz baixa enquanto absorvo a completa falta de emoção deste homem.Como ele está tão bem depois de descobrir sobre sua mãe? Quanto esforço ele está fazendo para manter a calma diante daquela mulher?— Você veio por ela. Vai ficar bem indo embora agora? — Ele pisca, conscientemente.— Eu não vim por ela. Vim porque... — Minha voz vai sumindo.Por quê?Claro que vim pela Natália. Franzo a testa, baixando o olhar para seu peito coberto, que sobe e desce suavemente.Ele espera até que eu me recomponha e esteja pronta para responder.Levanto a cabeça e o encaro por mais um momento. — Vim por ela. Você está certo, mas... acho que o Ricardo pode pro
ANA— E se eu disser que tenho algo seu bem seguro em minhas mãos? — Ele se inclina para frente.Ele está todo convencido. Quando se aproxima, sei que tem algo contra mim que pode me fazer vacilar por um momento.Talvez sejam meus pais. Ou talvez um daqueles falsos amigos humanos que fiz na cidade durante minha estadia.Meu coração falha uma batida, mas não deixo transparecer. — Não.Nada pode me fazer mudar de ideia quando se trata dele. E não sei por que diabos isso acontece. Preciso superar isso.— Tudo bem. — Ele assente, recostando-se. — Livre-se daquela lobinha, Liam. Ela não tem utilidade para nós.Ele não está se referindo a mim. Ele...Ele... está se referindo à Diana Mendes.— Não. — Levanto-me bruscamente do sofá, com os olhos arregalados.— O que exatamente você quer dizer com não, Ana? — Ele pergunta, divertido.Liam ri atrás de mim.— Quem é? — Preciso ter certeza.Não tem como ser Natália. E não tem como ele achar que alguém além da Diana seja mais importante para mim d
ANA— Me põe no chão. — Suspiro pesadamente ao nos aproximarmos do meu quarto.Minhas mãos vão até minhas bochechas para limpar as lágrimas. É tão estranho chorar o tempo todo.— Já acabou o showzinho? — Ele vira a cabeça para mim, me lançando um olhar perspicaz.Engulo em seco, encarando seu rosto tão de perto. É estranho como ele, às vezes, entende as coisas sem que eu precise explicar o que está acontecendo.— Acha que fui dramática o bastante? — Me pergunto se o Rei Vampiro conseguiu ver através do meu choro dramático assim como Zero.Ele não responde.Meus olhos se movem em direção ao seu pescoço, vendo a veia pulsar enquanto ele inclina a cabeça para trás. Sei que vou sentir dor novamente quando ele finalmente me colocar no chão. Pode levar muito tempo para eu me curar sozinha, já que meu processo de cura é péssimo devido aos traços hereditários de baixa linhagem.Me inclino e coloco meus lábios sobre seu pescoço. Ele sibila quando meus lábios tocam sua pele fria. Uma corrente e
ANAJá vomitei três vezes na mesma hora e me sinto morta. O osso quebrado na minha coluna era melhor que isso.Suspiro quando meu estômago se recusa a expelir a comida inexistente pela quarta vez. Me recosto e desabo nos azulejos frios do banheiro. Meus olhos se voltam para Zero, que está parado na porta como uma estátua, com o olhar fixo em mim.Eu me sentiria melhor se ele pelo menos estivesse presunçoso ou dizendo coisas como eu te avisei, mas ele está em silêncio, imóvel, me observando. No meu pior momento. Vomitando repetidamente.Que vergonha do caramba.— O que o Ricardo disse? — Franzo o nariz, enojada com meu próprio hálito fedido, o gosto metálico persistente na língua e minha garganta dolorida.— Ele vai procurar por ela imediatamente. — Me informa.Contei tudo que aconteceu lá embaixo para Zero. Pensei que ele ficaria chocado, mas estava calmo, e eu era a única em pânico.Ele nem demonstrou raiva. Simplesmente entrou no modo racional, ligou para Ricardo, contou tudo, e ent
ANADe repente, ele se inclina, nossos rostos se roçando enquanto sussurra no meu ouvido. — Ela está vindo aqui. Não fale tão alto.Tropeço para trás depois que ele termina de roubar minha alma com seu sussurro rouco no meu ouvido. Por um momento torturante, pensei que ele não gostava da ideia de eu falar sobre Liam desse jeito.Trocamos um olhar cúmplice antes dele dar um passo para trás, percebendo meu desconforto devido à proximidade com meu corpo ardente.Uma batida soa na porta, chamando minha atenção. Desviando meu olhar de Rafael, fixo-o na porta.A pessoa do outro lado bate mais uma vez, educadamente.Respirando fundo para me acalmar, marcho até a porta e a abro.— Ana. — Freya ofega do outro lado, com as mãos unidas na frente da barriga e um sorriso fraco nos lábios.Vários palavrões passam pela minha cabeça, mas os seguro. Posso fazer isso por Diana - preciso agir com cautela e bondade até tê-la de volta.— Sim? — Sorrio de volta.Sou boa em atuar. Sempre fui. Não há como ela
Saí do quarto dela depois de avisá-la para se manter longe da minha vida.Quando ela já confessou seu ódio eterno por mim inúmeras vezes, não há motivo para sua interferência nos meus assuntos.Mas ela quer saber o que sinto sobre minha família. Ela quer que eu os machuque se a situação exigir e precisa ter certeza de que não hesitarei em fazê-lo.Ela não precisa se preocupar com isso. Farei o que for necessário se precisar. Não há nada me segurando. Pelo menos nenhum tipo de afeição.A noite caiu sobre a mansão mais uma vez. É hora deles invadirem o lugar novamente.Ana Jorge brigou com Ava ontem. Esta noite, ela pode aparecer para se vingar. Seja por conta própria ou usando outra pessoa.Então, tenho que desistir de me entregar ao prazer de beber sangue humano fresco, algo que evitei depois de acordar do meu inferno pessoal. Ricardo e eu vivíamos de sangue armazenado ou sangue animal. Depois de vir para cá e presenciar derramamento de sangue quase todos os dias, tornou-se impossível