ZERO— Parece que o Rei vai forçar você a assumir o lugar dele.Encosto minhas costas contra a parede enquanto ouço minha única amizade, Alfa Ricardo da Alcateia Caminhantes Noturnos, falando pelo viva-voz do meu celular.Faz apenas três meses desde que vim morar com meu pai, o Rei de todos os Vampiros, e eu já acho isso insuportável.O motivo da minha frustração é que sou um Híbrido. Parte lobisomem, parte vampiro. No entanto, meu lado vampiro é dominante, o que significa mais sede de sangue a cada noite e mais poderes sombrios que apenas vampiros possuem: velocidade, força e uma habilidade única de controlar sombras. Também posso me transformar, mas é quase sempre um incômodo, já que meu lobo mal fala comigo. Eu não gosto de falar com Brute, meu lobo, então isso nunca me afeta tanto. O que me incomoda de verdade é sentir que estou perdendo a pouca conexão que ainda tenho com Brute. Se eu continuar aqui por mais tempo, vou esquecer que sou meio lobisomem, um Híbrido.— Eu estou voltan
ZERO — Estou aqui por você. — Seus olhos brilham, um lampejo maligno evidente por trás do véu de polidez.— Eu a convidei para se juntar a nós. — A voz calma ecoa em meus ouvidos.Relutantemente, desvio meu olhar do rosto dela e o fixo no Rei Vampiro, que está sentado em um dos sofás, bebericando um líquido vermelho de uma taça de vinho. O cheiro metálico denuncia que é sangue. Ele está bebendo sangue em plena luz do dia, sem se importar que Ana esteja bem aqui.Cerro os dentes e mantenho meu olhar firme nele.— Você estava entediado. — Ele aponta o dedo indicador para mim.Tudo faz sentido na minha cabeça. Ela não está aqui apenas para causar problemas. Ela foi trazida aqui para me manter acorrentado às paredes desta mansão.— Liam, mostre nossa convidada ao redor e certifique-se de que ela não tenha problemas para se acomodar. — O Rei Vampiro coloca a taça de vinho sobre a mesa de centro e ordena ao meu suposto irmão. — Ela ficará por um tempo. É melhor que ela se acostume com tudo
ANASó consigo pensar em fugir daqui e nunca mais voltar.Pensei que já tinha terminado de pagar minha dívida com Natália e que finalmente poderia desaparecer em meu próprio mundo.Mas, minha mente idiota, me explica por que estou no mundo do Rei Vampiro em vez do mundo dos humanos? Não tenho resposta para isso.No momento em que Diana Mendes me contou que Ricardo Santos insistiu no retorno de Bernardo Carvalho porque eles poderiam acabar tendo uma guerra com os vampiros, eu soube que Natália estava em perigo. Mais uma vez.Diana Mendes me disse que se Zero tivesse ficado aqui até Natália dar à luz em segurança, sem ter que lidar com toda essa confusão dos vampiros, tudo seria muito melhor.Agora, Natália não pode usar todos os seus poderes. Seria prejudicial para o bebê. Este é o pior momento para ela, mesmo sendo uma Original. Ela não conseguirá se defender se uma guerra estourar.Depois de ouvir tudo isso, meu lado preocupado inexistente ganhou vida. Para minha surpresa, nem precise
ANAPermaneço dentro do quarto, inconscientemente me perguntando o que está acontecendo lá embaixo ou o que Zero está fazendo.De repente, me sinto interessada em saber o que o deixa tão perturbado e irritado o tempo todo, a ponto de deixar sua mente racional morrer para que seu lado idiota assuma o controle.Depois de passar algumas horas no quarto, apenas observando os vampiros através das janelas, finalmente decido sair do quarto e ver as coisas por mim mesma.Possivelmente, o Rei Vampiro não permitirá que nada de mal me aconteça em minha primeira noite em sua residência. Talvez eu esteja superestimando sua hospitalidade, mas não me importo.Abrindo a porta do meu quarto, saio e a fecho suavemente atrás de mim. Meus olhos examinam o ambiente escuro, enquanto meus ouvidos ecoam com o silêncio assustador.— Está tudo tão quieto. — Neela sussurra em minha mente.Concordo com ela silenciosamente e me dirijo à escada. Desço os degraus e acabo em outro corredor vazio.Este lugar é enorme.
ANA O tempo parece passar tão devagar aqui. Foi quase uma eternidade até o sol nascer e a escuridão desaparecer.Passei a noite toda sentada perto da porta. Não consegui apagar as luzes, nem dormir. Não é nada novo, considerando que estou assim há três meses inteiros.O que Zero fez com as sombras me afetou profundamente. Os pensamentos me consumiram e eu perdi o controle, exatamente como Catarina Gonçalves disse que aconteceria naquele dia.Não posso mais culpar o Zero. Só posso odiá-lo, para evitar me odiar por ser tão fraca.Quando Natália Silva revelou que ele passou séculos sob esse sono induzido, senti pena do Zero, mas não consegui simplesmente voltar ao jeito antigo.Nem consigo mais lembrar como era antes, como eu era.Como eu era? Corajosa? Direta? Ou sempre fui medrosa?Não sei dizer porque agora tenho medo de quase tudo. Estremeço só de pensar em lutar, tenho medo do escuro, tenho medo da noite.Isso é uma droga.Tentei me fortalecer nesses três meses, mas acabei apenas pa
ANA— Você nunca esteve morta. — Deixei escapar, com os olhos arregalados.Estou em estado de choque nos últimos cinco minutos. Ela me ajudou a me acomodar novamente na cadeira, da qual eu tinha me levantado desesperadamente. Minha mente ainda está entorpecida, e minhas mãos estão frias como gelo.Ela se senta ao lado direito do Rei Vampiro e me encara por uma eternidade.Lanço um olhar discreto para Zero pelo canto dos olhos. Ele está olhando pela janela, se recusando a olhar para mim ou para ela. Sei que a presença dela o está incomodando, mas ele também não vai embora. Porque não quer me deixar sozinha com eles, eu sei.— Eu morri. — Ela suspira.Olho de volta para ela, e o transe de dormência se despedaça em um milhão de pedaços. A raiva toma o lugar do choque inicial e da negação.— O que aconteceu? — Mal contenho a fúria e mantenho meu tom equilibrado, neutro.— Dado que você pensou que eu estava morta, acho que... Zero já te contou o lado dele da história. — Ela sussurra, com se
ANA — Você realmente quer ir embora? — Ele me coloca de pé e fecha a porta do meu quarto.Respiro fundo, tentando me acalmar quando tudo que quero é descer e continuar tentando arrancar suas gargantas.— Sim. — Afasto o cabelo da testa, bufando.— E quanto à Natália? — Ele me olha com aqueles olhos escuros.— O que tem ela a ver com isso? — Minha voz baixa enquanto absorvo a completa falta de emoção deste homem.Como ele está tão bem depois de descobrir sobre sua mãe? Quanto esforço ele está fazendo para manter a calma diante daquela mulher?— Você veio por ela. Vai ficar bem indo embora agora? — Ele pisca, conscientemente.— Eu não vim por ela. Vim porque... — Minha voz vai sumindo.Por quê?Claro que vim pela Natália. Franzo a testa, baixando o olhar para seu peito coberto, que sobe e desce suavemente.Ele espera até que eu me recomponha e esteja pronta para responder.Levanto a cabeça e o encaro por mais um momento. — Vim por ela. Você está certo, mas... acho que o Ricardo pode pro
ANA— E se eu disser que tenho algo seu bem seguro em minhas mãos? — Ele se inclina para frente.Ele está todo convencido. Quando se aproxima, sei que tem algo contra mim que pode me fazer vacilar por um momento.Talvez sejam meus pais. Ou talvez um daqueles falsos amigos humanos que fiz na cidade durante minha estadia.Meu coração falha uma batida, mas não deixo transparecer. — Não.Nada pode me fazer mudar de ideia quando se trata dele. E não sei por que diabos isso acontece. Preciso superar isso.— Tudo bem. — Ele assente, recostando-se. — Livre-se daquela lobinha, Liam. Ela não tem utilidade para nós.Ele não está se referindo a mim. Ele...Ele... está se referindo à Diana Mendes.— Não. — Levanto-me bruscamente do sofá, com os olhos arregalados.— O que exatamente você quer dizer com não, Ana? — Ele pergunta, divertido.Liam ri atrás de mim.— Quem é? — Preciso ter certeza.Não tem como ser Natália. E não tem como ele achar que alguém além da Diana seja mais importante para mim d