A porta da casa do Smith estava aberta e uma fria brisa, percorreu pelos cômodos até atingir o homem deitado no sofá. Daniel deu um longo suspiro e despertou, como se fosse beijado pela própria morte. Seus olhos giraram em um grau nada convencional, até pararem fixamente apontados para o teto e sua grande mancha de umidade. Quando ele olhava para aquilo, sempre imaginava que a mancha formava a imagem de um coala. Um coala gordo e feio. Sentado, retomou a consciência do que estava acontecendo. Puxou a garrafa de uísque que ainda repousava em uma mesinha de centro e lamentou-se ao perceber estar vazia, se levantou rápido, num pulo de gato, ainda tremendo com o frio que entrava sem permissão pela porta aberta. Xingou a si mesmo mentalmente por sempre fazer isso e olhou com um breve movimento de olhos, as horas no relógio de pulso que tinha sob a manga da camiseta amass
Na biblioteca, Melissa olhava impaciente as olhas no relógio, acompanhando com ansiedade o discurso amarrado de Bill Lewis e sua teoria de homem-do-saco.— São quase sete da noite, Bill. Você pode ir direto ao ponto. O que você pensa que aconteceu com o Edward? Se você sabe onde ele está, é melhor você falar agora — Melissa disse, interrompendo Bill e levantando-se da cadeira. O ambiente estava aquecido. Era agradável estar ali, mas ela desejaria, mais que qualquer coisa, estar do lado de fora, procurando pelo amigo.Bill enfiou a mão novamente no bolso, engolindo o nó que se destacava em sua garganta, ainda meio indeciso e confuso. Ele olhava para os lados com medo. Um grande e incessante es
No corredor vazio e quente, devido ao sistema de calefação que aquecia o ambiente, ele andou apressado pelos corredores, mas não queria ir ao banheiro. A desculpa era uma maneira dele sair e executar uma micro missão: chegar à biblioteca. Bill sabia haver computadores e impressoras lá. Não sabia ao certo porque queria imprimir a foto de Daniel Smith, mas faria, como parte de sua investigação.Havia dois corredores principais e ambos davam acesso aos banheiros, contudo, na ala esquerda era o banheiro masculino e na direita, o feminino. Na ala direita também havia a entrada principal para a biblioteca. Era uma grande sala inserida no coração da instituição. Um local, como um quarto secreto, sem janelas. Havia apenas fileiras e mais fileiras de estantes de livros de todos os gêneros, tamanhos e cores. Bill
Liontown. Residência dos Lewis, verão de 1994.Todos os verões, Eva e Larry tiravam férias de uma semana, de seus trabalhos monótonos para aproveitar a estação que se iniciava vívida. Eles costumavam ir para a casa dos pais da matriarca da família, que era em uma fazenda na cidade vizinha, quase que em divisa com Liontown, se não fosse separada pelo rio Wax, que se encontrava com outro famoso rio da região (Warmwater), e que vinha do leste do Estado. Bill amava isso. Gostava de ir para a fazenda, ver bichos e insetos que ele acreditava que só existiam nos programas de tevê. O jovem garotinho de quatro anos, tinha as melhores habilidades quando o assunto era, insetos e desenhos. Se ele pudesse criar seus próprios besouros, certamente faria. A criatividade dele estava no ápice. Entretanto, o passat
Bill desdobrou o papel com a imagem de Daniel e analisou o rosto dele, segurando a respiração e recordando do dia em que esteve cara a cara com o homem. O menino se questionou mentalmente se aquele homenzarrão, sem muitas suspeitas, teria coragem de fazer coisas terríveis e medonhas, das quais nem ele conseguia manter imagens imaginárias em mente por muito tempo. De todos os esboços de pensamentos que Bill teve em relação às indagações, a maioria deles concordavam que sim, Daniel Smith era tenebroso.O garoto franzino se levantou do chão frio da biblioteca, e foi até a porta que ainda estava trancada. Olhando através do que parecia ser uma janela translúcida, ele esperou, em silêncio, com a testa posta sobre o vidro, tão limpo quanto uma película invisível e concreta que parec
Um vento frio e tímido era a única coisa que parecia se mover naquele momento, onde o silêncio era o grande ator da peça de horror que se iniciava.— Talvez tenha. Eu estou tentando entender, tá legal… — respondeu Bill, tão sério quanto assustado. Adam se enraivou ainda mais e Melissa ficou apenas como um balão ao vento, sem rumo, prestes a encontrar a mais bonita cerca de arame farpado. Ela procurava nos olhos de Bill respostas que os lábios dele, não pareciam querer contar, mas ele fez, para sua surpresa — Daniel Smith. Há alguns dias, Edward me entregou este anel — ele retirou o objeto do bolso — disse-me que o encontrou no dia do ritual. Justamente próximo ao carro, que fora escondido nos arbustos que havia na estrada, talvez propositalmente para atrasar nossa saída ou para pre
Todo garoto sabe que deve enfrentar seus medos algum dia, cedo ou tarde. Alguns medos são como pequenas pedras que carregamos na mochila, que pesa com o tempo. Muitas das vezes você tem duas opções: ou as usa como arma para atacar suas ameaças ou deixa com que elas te levem para o fundo do rio. Quando Bill atravessou uma das portas do Colégio Doctor John Dalton naquela manhã estranha e fria de um princípio de inverno rigoroso, talvez ele não soubesse ainda, mas estava iniciando uma guerra contra seus maiores medos.____________________Tem um local em quase toda instituição, seja ela de ensino ou não, esquecido e inabitável. Um pedacinho de espaço onde nada de extraordinário poderia acontecer, mas que de alguma forma parece atrair certas criaturas que buscam um lugar como aquele para ficar. Pessoas como Bill Lewis. Se ele pude
Bill viu o zelador entrar no quarto e deixar algumas chaves atrás da porta, em um suspensor. Ele prendeu a respiração. Já havia se passado cerca de quarenta minutos e naquela altura ninguém estaria mais em um colégio onde não havia eletricidade. A instituição era fria e escura. Um dia inteirinho ali, naquelas condições, poderia adoecer qualquer pessoa. Bill sentiu um movimento estranho em seus pés, como se algo estivesse se mexendo. Ele não quis pensar muito no que poderia ser. Porque se pensasse que fosse um rato, isso poderia deixá-lo preocupado. Os ratos que tinham no colégio eram do tamanho de raposas, e ainda por cima, havia boatos de que aquelas criaturas tinham o hábito de atacar humanos. Como fizeram com a cozinheira no verão passado. Primeiro ela teve um mal súbito e depois foi ao chão. A encontraram com um gran
Adam olhou novamente a foto de Daniel impressa naquela folha de papel e fez um sinal de negação com a cabeça, colocando o papel novamente no bolso. Ele se sentou do lado de Melissa que estava em um banco na praça que havia em frente ao colégio. Ela estava desconectada. Seus pensamentos estavam em algum lugar escuro, como um quarto e um barulho. Adam fez o mesmo barulho de seu pensamento ao arrastar o pé no chão, despertando-a do pensamento. Ela o observou.— O que está rolando entre você e o Bill? — Adam perguntou, colocando as mãos no bolso e encostando as costas no banco. Ele só queria puxar assunto, mas também, se era para estar com o grupo dos bobões do colégio Doctor John Dalton, que pelo menos ele o conhecesse bem,Último capítulo