Bill viu o zelador entrar no quarto e deixar algumas chaves atrás da porta, em um suspensor. Ele prendeu a respiração. Já havia se passado cerca de quarenta minutos e naquela altura ninguém estaria mais em um colégio onde não havia eletricidade. A instituição era fria e escura. Um dia inteirinho ali, naquelas condições, poderia adoecer qualquer pessoa. Bill sentiu um movimento estranho em seus pés, como se algo estivesse se mexendo. Ele não quis pensar muito no que poderia ser. Porque se pensasse que fosse um rato, isso poderia deixá-lo preocupado. Os ratos que tinham no colégio eram do tamanho de raposas, e ainda por cima, havia boatos de que aquelas criaturas tinham o hábito de atacar humanos. Como fizeram com a cozinheira no verão passado. Primeiro ela teve um mal súbito e depois foi ao chão. A encontraram com um gran
Adam olhou novamente a foto de Daniel impressa naquela folha de papel e fez um sinal de negação com a cabeça, colocando o papel novamente no bolso. Ele se sentou do lado de Melissa que estava em um banco na praça que havia em frente ao colégio. Ela estava desconectada. Seus pensamentos estavam em algum lugar escuro, como um quarto e um barulho. Adam fez o mesmo barulho de seu pensamento ao arrastar o pé no chão, despertando-a do pensamento. Ela o observou.— O que está rolando entre você e o Bill? — Adam perguntou, colocando as mãos no bolso e encostando as costas no banco. Ele só queria puxar assunto, mas também, se era para estar com o grupo dos bobões do colégio Doctor John Dalton, que pelo menos ele o conhecesse bem, “O ser humano é um bicho estranho, ora ele ama, ora machuca, depende muito de como você reflete em sua cabeça”. - Samara Morris.Se o diretor daquele ano, o ex professor, Alex Cooper, tivesse a função de vigiar os passos de cada aluno da instituição, ele precisaria se dividir em 300, mas ele tinha uma certeza quase fanática de que os alunos eram tão disciplinados quanto os apagadores de algodão que comprara aos montes para aquele ano em especial. Ah! Eles são só crianças. Costumava dizer para os professores, que só observavam com olhos compendiados, o discurso surrealista do diretor. Não há nada de errado no futuro do país, pois os jovenzinhoPARTE 26: SINAL DE FUMAÇA
Nota de destaque do The Liontown Post, Outubro de 1977. ACIDENTE FATAL NA RODOVIA 414 AINDA ESTÁ SENDO INVESTIGADO. Atropelamento na rodovia 414, que conecta Liontown a Westergreen ainda está sendo investigado pelo departamento de segurança pública. Segundo fontes, a vítima é uma jovem de Liontown, Samara Morris, de 17 anos. O corpo foi encontrado por moradores locais. Não há testemunhas. Se o culpado for encontrado, poderá ser julgado e condenado pelo crime de omissão de socorro. ________________________ Colégio Doctor John Dalton. Liotown, novembro de 2007. Bill pulou o muro do colégio, que tinha um metro e meio, e correu para o meio da rua, olhando para todos os lados. Ele tinha mais casas de aranha em seus cabel
Edward estava algemado à cama em um quarto escuro com paredes azuis. Suas roupas eram elegantes e pareciam ser da década passada. Um suéter de lã de cor vermelha-escura cobria seu torso — na vestimenta havia um broche. Era uma pombinha dourada. — O jovem olhou para os lados quando acordou novamente de seu sono nada agradável e viu, agora que seus olhos se adaptaram à escuridão, que o ambiente estava repleto de fotos de uma garota. Era Samara? Edward sabia que sim. Até onde ele se lembrava, ele veio para a casa dos Morris e sabe-se lá o motivo, ele estava no quarto que intuitivamente soava ser de uma garota. De uma garota morta. Os olhos do garoto varreram o quarto, observando cada canto e com um receio que estava no centro de sua garganta, como uma bola de muco quando se está muito gripado. Edward então escutou alguns passos que faziam as madeiras do piso rangerem
Liontown. 4 de novembro de 2007Bill achou fácil convencer sua mãe a sair depois do almoço, pelo fato de que haviam prendido o suspeito do desaparecimento de duas crianças na região e de… Ele se esforçou para manter a imagem de Edward em um lugar seguro, mas ele só conseguia vê-lo flutuando de barriga para baixo, às margens do rio Wax. Isso o deixava mal. Mas era difícil de deixar de pensar em coisas ruins. Sua mente estava viciada em possibilidades negativas e ele se odiava por isso. Bill cruzou a avenida principal da cidade e se encontraria com Melissa e Adam depois dos trilhos da estação ferroviária de Liontown e ficariam ali debatendo as investigações. E entre fatos verdadeiramente concretos e imaginários, Bill e Adam estariam sempre divididos nas opiniões. Era o que cos
4 de novembro de 1977.Ninguém quer morrer. Pelo menos é assim que a maioria das pessoas pensa. Temos um instinto de defesa e sobrevivência que evoluiu há milhares de anos e nos preparou para os piores cenários. Algo que Bill Lewis sabia muito bem. Lutar ou fugir, estas eram as duas opções interessantes quando a questão era apenas sobreviver, e Bill estava usando-as. Já Samara Morris, em seu íntimo, tinha uma certeza que era assustadora. O tipo de certeza que ela tinha medo de verificar para ver se era realmente aquilo tudo, pois sabia que poderia ser muito pior. Ela ia morrer. Assassinato talvez. Só não sabia quando, como e porquê, o que era péssimo também. Entretanto, ela tinha esperança, do tipo que a fazia viver e esquecer o inevitável. A esperança que ela encontrou t
4 de novembro de 2007Quando o opala preto que Adam Wason estava dirigindo parou frente a antiga casa dos Morris. Ele teve uma intuição esquisita de que Edward não estaria ali. O tipo de intuição que ele não poderia compartilhar com os outros. Ele achava que essas coisas só eram sentidas por mulheres. Sua intuição se intensificou ao perceber haver rastros de pneu de carro por toda parte. Se Edward estivesse ali, não estaria mais.— Será que chamamos a atenção? — perguntou Melissa, com uma preocupação evidente. — Aqui é muito silencioso.— Se chamamos, quero estar preparado e saber que estou armado — retrucou Adam, com orgulho. Um orgulho quase doentio.<
4 de novembro de 1977 - 16:30— Se você não falar para onde foi aquela retardada, pode ter certeza que eu tiro todos os dentes de sua boca e te mando para o céu, santinho — disse James, dando um soco na barriga de Paul. Tony segurava-o pelos braços, como alguém que segura um porco para o abate. — Fala!Paul puxou o ar para os pulmões e olhou para a floresta que havia logo depois da rua atrás do colégio. Era um aglomerado de árvores altas e densas. Era o caminho mais rápido se quisesse chegar à rodovia principal da cidade.— Ela foi para lá…— Maldita hora para ir pela floresta, aberração — falou James. Tony soltou Paul, que