DANIEL ALENCAR
Passamos a manhã seguinte organizando uma pequena festa de despedida para sua família, que voltaria para o interior na tarde seguinte. Clara chamou sua amiga e convidei Lucas, Laura e Emílio para participarem da recepção. Não convidaria meu pai mesmo que estivesse na cidade, sabia que provavelmente acabaria causando algum mal estar com seu comportamento autoritário e não estava nem um pouco afim de lidar com suas censuras sobre as origens de minha noiva.
Fazia um sol pálido naquele sábado, mas foi suficiente para as crianças caírem na piscina.
O menu do dia foi churrasco, no JBL tocou pagode, música sertaneja e brega funk. Lucas me olhava com ironia de vez em quando, Laura repetiu umas duas vezes que não sabia o que estava fazendo ali. Emílio veio com a esposa e o filho mais novo, Miguel de nove anos, e ao menos eles pareceram se divertir com o tom popular da reunião.
Quase todos sabiam que nosso noivado era uma mentira, mesmo assim con
CLARA ASSUNÇÃO Não queria que Lua e Tia Go fossem embora... Não queria que aquela semana cheia de momentos incríveis tivesse fim, mas teve que acabar e fiquei sozinha naquele imenso palácio de vidro outra vez. Tive medo de perder o carinho de minha dinda dando a impressão de que não gostava do cara rico com quem noivei. Sabia que ficaria decepcionada. Que mãe não ficaria chateada em saber que tem uma filha interesseira? Então tive que dar um passo para trás e pedir que Daniel me ajudasse com a parte do romance, afinal, era quase sempre ele quem conduzia aquelas situações e tinha certeza que se tia Gorete visse a personagem poderosa que havia inventando saberia que estava mentindo para o cara. A situação toda era extremamente confusa, porque sim, estava ali por interesse financeiro. Em mais alguns meses seria uma garota rica e não precisaria me preocupar com o aluguel ou ficar dividida entre fazer um lanche ou voltar de uber pra casa. Por outro
CLARA ASSUNÇÃOApoiei os cotovelos na bancada e fiquei com a cara praticamente enfiada no pote de sorvete da marca cara que costumava ver nos filmes americanos, pensava sobre o medo de me machucar e também em meu desejo de começar a viver.Estava absorta em pensamentos quando ouvi a geladeira abrir atrás de mim:_ Então descobriu o caminho até a cozinha... _ provocou com o tom debochado _ uma pena, adorei preparar Nescal pra você.O cara ainda ia me matar do coração aparecendo do nada como costumava fazer, mas daquela vez ao menos não passei a vergonha de gritar:_ Aquilo não era Nescal, era esse negocinho chique que vocês colocam naquela máquina ali. _ retruquei irônica apontando para a máquina de café expresso no balcão com utensílios.Daniel parou ao meu lado virando uma das garrafinhas de água que sempre estavam pelas geladeiras e até a água daquele lugar parecia custar uma fortuna:_ E não gostou? _ perguntou recuperando o fôlego após seu grande gole.O
CLARA ASSUNÇÃO Subi as escadas insegura, não sabia como olhar na cara dele depois do que tinha acabado de acontecer, abri a porta de mansinho pensando que talvez estivesse no banho, mas Daniel não estava no quarto. E fiquei muito frustrada quando percebi que ele não iria aparecer. Não parava de pensar no que tínhamos feito, os arrepios de desejo voltavam a me atordoar com a memória de suas mãos percorrendo meu corpo. Lembrei do leve roçar de dedos em meus seios e pensei que desejava que os tivesse tocado, então eu mesma os apertei com vontade imaginando suas mãos em meu lugar. Coloquei dois dedos em minha vagina encharcada e apertei minhas coxas enquanto os pressionava em meu clitóris, afundei o dedo médio cuidadosamente pela entrada de meu canal e gemi com o tesão. Me revirei por minutos na cama, pensando em Daniel e brincando de me tocar. Quando cansei, tomei um banho rápido e logo voltei a deitar, mas ainda estava excitada e demorei para conseguir pegar no
CLARA ASSUNÇÃO Acordei em seus braços na manhã seguinte enquanto me fazia carinhos e a primeira coisa que vi naquele sábado ensolarado foram seus olhos cor de âmbar: _ Estava pensando em fazer uma social de despedida para sua família, o que acha? _ perguntou após me desejar bom dia. Agora que entendia o conceito de "social", topei na hora: _ Claro, elas vão amar! Vai ser perfeito. _ respondi sentando na cama. _ Vou chamar a Cami, você pode chamar o Lucas também, parece que se deram bem daquela vez. O Deus do Olimpo concordou e ainda disse que convidaria outros amigos próximos e para minha surpresa Laura, a moça que achava que era sua assistente e depois descobri que era assessora, também estava em sua lista de chegados. Os convidados começaram a chegar por volta do meio dia, os primeiros foram um casal mais velho e um garotinho que logo fez amizade com Lua. Se chamavam Ruth e Emílio, Dani explicou que o homem ajudava com os negóc
DANIEL ALENCAR Senti um aperto no peito quando deixei a mansão no fim da tarde daquele domingo. Um milhão de pensamentos atordoavam minha mente ao mesmo tempo e todos tinham a ver com Maria Clara. Como era possível?Como podia parecer tão forte quando na verdade não era? Estava confuso e não tinha ideia de como agir com a garota daquele momento em diante, mas já tinha planos para o responsável pelo crime que, provavelmente, continuava praticando suas atrocidades com outras meninas. Adorava punir aquele tipo de verme sem piedade e se dona Gorete não pode fazer nada por medo da retaliação, eu poderia! Naquela semana comecei a orquestrar a estratégia que levaria a no mínimo um belo processo por maus tratos, se tudo saísse bem o desgraçado e quem mais estivesse envolvido na sujeira iria parar na cadeia. Entreguei o relatório preliminar que tinha a alguns conhecidos da Policia Federal e o pouco que havia ali foi suficien
DANIEL ALENCAR Na quinta-feira próximo ao horário do almoço Gorete telefonou avisando que havia enviado o email com os prontuários e fotos de como sua filha estava quando foi resgatada do abrigo, disse que não tinha acesso aos registros da assistência social do hospital, mas que se conseguisse alguma nova informação avisaria de imediato. Quando abri o e-mail pude ter uma breve noção do porquê tinha vergonha de falar sobre aquilo. Já na primeira imagem a sensação foi exasperante, a figura deitada na maca de ferro usando camisola hospitalar me remeteu imediatamente às vítimas do holocausto. Clara estava irreconhecível! Parecia um cadáver de tão magra na verdade. Como Gorete havia mencionado, seu lindo cabelo estava muito curto e parecia ter sido picotado, deixando mechas irregulares por toda parte, em outras fotos pude ver hematomas espalhados por todo seu corpo, seus lábios rachados pelo frio e desidratação, olheiras profundas arroxeadas...
CLARA ASSUNÇÃO Estava com o emocional na merda naquela segunda feira no início de outubro. As atividades e trabalhos de meio de semestre se acumulavam aos montes e olhava para a tela do computador com total desânimo. Detestava a maioria daquelas matérias de contabilidade. Números nunca foram interessantes para mim, até possuía certa facilidade para lidar com as equações, mas as aulas de estatística financeiras pareciam estar em outro idioma naquele momento. Não estudei absolutamente nada enquanto tia Go e Lua estiveram por aqui, na verdade não fiz outra coisa além de dar atenção a elas e namorar com meu noivo de mentira. E que não conseguia tirar da cabeça, diga-se de passagem... Depois que minha família partiu de volta à Rio Claro Daniel continuou me dando a mesma atenção, mas não permanecemos juntos por muito tempo. Foi super fofo quando disse que não deveria ficar triste, falou que se sentisse falta delas po
CLARA ASSUNÇÃO Cheguei ao subsolo um pouco antes das 19hrs e Norberto me esperava com a porta do sedan preto já aberta e atrás o carro com dois seguranças também estava pronto para partir. Saímos do condomínio e perguntei a Norbi, de quem àquela altura já estava bem íntima, para onde estávamos indo, mas o motorista recusou-se a contar pois "o senhor Medeiros Alencar havia pedido sigilo". Insisti várias vezes, mas a única coisa que revelou foi que chegaríamos rápido. Quando entramos na Avenida Paulista, por um momento pensei que estávamos indo para a cede da corporação, mas o carro manobrou e desceu para a garagem de um edifício espelhado na esquina com a rua Bela Cintra. A garagem estava quase vazia, Norberto abriu a porta e sorriu de forma sugestiva quando me desejou “boa noite”, respondi o cumprimento com um sorriso curioso e entrei no elevador sem entender o que estava acontecendo. As portas fecharam e não soube o que fazer, havia um painel com os botões,