CLARA ASSUNÇÃO
Apoiei os cotovelos na bancada e fiquei com a cara praticamente enfiada no pote de sorvete da marca cara que costumava ver nos filmes americanos, pensava sobre o medo de me machucar e também em meu desejo de começar a viver.Estava absorta em pensamentos quando ouvi a geladeira abrir atrás de mim:_ Então descobriu o caminho até a cozinha... _ provocou com o tom debochado _ uma pena, adorei preparar Nescal pra você.O cara ainda ia me matar do coração aparecendo do nada como costumava fazer, mas daquela vez ao menos não passei a vergonha de gritar:_ Aquilo não era Nescal, era esse negocinho chique que vocês colocam naquela máquina ali. _ retruquei irônica apontando para a máquina de café expresso no balcão com utensílios.Daniel parou ao meu lado virando uma das garrafinhas de água que sempre estavam pelas geladeiras e até a água daquele lugar parecia custar uma fortuna:_ E não gostou? _ perguntou recuperando o fôlego após seu grande gole.OCLARA ASSUNÇÃO Subi as escadas insegura, não sabia como olhar na cara dele depois do que tinha acabado de acontecer, abri a porta de mansinho pensando que talvez estivesse no banho, mas Daniel não estava no quarto. E fiquei muito frustrada quando percebi que ele não iria aparecer. Não parava de pensar no que tínhamos feito, os arrepios de desejo voltavam a me atordoar com a memória de suas mãos percorrendo meu corpo. Lembrei do leve roçar de dedos em meus seios e pensei que desejava que os tivesse tocado, então eu mesma os apertei com vontade imaginando suas mãos em meu lugar. Coloquei dois dedos em minha vagina encharcada e apertei minhas coxas enquanto os pressionava em meu clitóris, afundei o dedo médio cuidadosamente pela entrada de meu canal e gemi com o tesão. Me revirei por minutos na cama, pensando em Daniel e brincando de me tocar. Quando cansei, tomei um banho rápido e logo voltei a deitar, mas ainda estava excitada e demorei para conseguir pegar no
CLARA ASSUNÇÃO Acordei em seus braços na manhã seguinte enquanto me fazia carinhos e a primeira coisa que vi naquele sábado ensolarado foram seus olhos cor de âmbar: _ Estava pensando em fazer uma social de despedida para sua família, o que acha? _ perguntou após me desejar bom dia. Agora que entendia o conceito de "social", topei na hora: _ Claro, elas vão amar! Vai ser perfeito. _ respondi sentando na cama. _ Vou chamar a Cami, você pode chamar o Lucas também, parece que se deram bem daquela vez. O Deus do Olimpo concordou e ainda disse que convidaria outros amigos próximos e para minha surpresa Laura, a moça que achava que era sua assistente e depois descobri que era assessora, também estava em sua lista de chegados. Os convidados começaram a chegar por volta do meio dia, os primeiros foram um casal mais velho e um garotinho que logo fez amizade com Lua. Se chamavam Ruth e Emílio, Dani explicou que o homem ajudava com os negóc
DANIEL ALENCAR Senti um aperto no peito quando deixei a mansão no fim da tarde daquele domingo. Um milhão de pensamentos atordoavam minha mente ao mesmo tempo e todos tinham a ver com Maria Clara. Como era possível?Como podia parecer tão forte quando na verdade não era? Estava confuso e não tinha ideia de como agir com a garota daquele momento em diante, mas já tinha planos para o responsável pelo crime que, provavelmente, continuava praticando suas atrocidades com outras meninas. Adorava punir aquele tipo de verme sem piedade e se dona Gorete não pode fazer nada por medo da retaliação, eu poderia! Naquela semana comecei a orquestrar a estratégia que levaria a no mínimo um belo processo por maus tratos, se tudo saísse bem o desgraçado e quem mais estivesse envolvido na sujeira iria parar na cadeia. Entreguei o relatório preliminar que tinha a alguns conhecidos da Policia Federal e o pouco que havia ali foi suficien
DANIEL ALENCAR Na quinta-feira próximo ao horário do almoço Gorete telefonou avisando que havia enviado o email com os prontuários e fotos de como sua filha estava quando foi resgatada do abrigo, disse que não tinha acesso aos registros da assistência social do hospital, mas que se conseguisse alguma nova informação avisaria de imediato. Quando abri o e-mail pude ter uma breve noção do porquê tinha vergonha de falar sobre aquilo. Já na primeira imagem a sensação foi exasperante, a figura deitada na maca de ferro usando camisola hospitalar me remeteu imediatamente às vítimas do holocausto. Clara estava irreconhecível! Parecia um cadáver de tão magra na verdade. Como Gorete havia mencionado, seu lindo cabelo estava muito curto e parecia ter sido picotado, deixando mechas irregulares por toda parte, em outras fotos pude ver hematomas espalhados por todo seu corpo, seus lábios rachados pelo frio e desidratação, olheiras profundas arroxeadas...
CLARA ASSUNÇÃO Estava com o emocional na merda naquela segunda feira no início de outubro. As atividades e trabalhos de meio de semestre se acumulavam aos montes e olhava para a tela do computador com total desânimo. Detestava a maioria daquelas matérias de contabilidade. Números nunca foram interessantes para mim, até possuía certa facilidade para lidar com as equações, mas as aulas de estatística financeiras pareciam estar em outro idioma naquele momento. Não estudei absolutamente nada enquanto tia Go e Lua estiveram por aqui, na verdade não fiz outra coisa além de dar atenção a elas e namorar com meu noivo de mentira. E que não conseguia tirar da cabeça, diga-se de passagem... Depois que minha família partiu de volta à Rio Claro Daniel continuou me dando a mesma atenção, mas não permanecemos juntos por muito tempo. Foi super fofo quando disse que não deveria ficar triste, falou que se sentisse falta delas po
CLARA ASSUNÇÃO Cheguei ao subsolo um pouco antes das 19hrs e Norberto me esperava com a porta do sedan preto já aberta e atrás o carro com dois seguranças também estava pronto para partir. Saímos do condomínio e perguntei a Norbi, de quem àquela altura já estava bem íntima, para onde estávamos indo, mas o motorista recusou-se a contar pois "o senhor Medeiros Alencar havia pedido sigilo". Insisti várias vezes, mas a única coisa que revelou foi que chegaríamos rápido. Quando entramos na Avenida Paulista, por um momento pensei que estávamos indo para a cede da corporação, mas o carro manobrou e desceu para a garagem de um edifício espelhado na esquina com a rua Bela Cintra. A garagem estava quase vazia, Norberto abriu a porta e sorriu de forma sugestiva quando me desejou “boa noite”, respondi o cumprimento com um sorriso curioso e entrei no elevador sem entender o que estava acontecendo. As portas fecharam e não soube o que fazer, havia um painel com os botões,
CLARA ASSUNÇÃO Daniel me levou pela mão de volta à cozinha e me fez sentar em uma das cadeiras altas atrás da bancada enquanto começava os preparativos para o jantar: _ Me deixe ajudar, não sou muito boa nisso, mas sei cortar os temperos. _ quis ser prestativa. _ De jeito nenhum! Você é minha convidada especial, quero que relaxe e aproveite, nada de ficar com esses dedinhos lindos cheirando a alho. _ E onde aprendeu a cozinhar? _ puxei assunto curiosa. _ Na internet, em livros de receita... moro sozinho desde os dezoito, tive que aprender a me virar e descobri que gosto de cozinhar. Me ajuda a relaxar, é como uma alquimia onde precisamos encontrar o equilíbrio perfeito entre os temperos e o modo de preparo para chegar ao sabor e textura satisfatórios. É desafiador... _ E mora nesse apartamento deste que saiu da casa do seu pai? _ Não, morei no exterior para fazer uma pós e outras especializações, depois ainda pas
CLARA ASSUNÇÃO Em algum momento ele me pegou distraída e aproveitou para especular: _ Você mencionou que gosta de desenhar... me conte mais sobre isso, não sei se percebeu mas gosto um pouquinho de arte. _ e apontou com os olhos para as pinturas ao redor. _ Aaaahhhh, mas eu não sei fazer nada assim. _ recuei constrangida _ Meus desenhos eram bem simples, o máximo que usava era um lápis 6B para fazer umas sombras e detalhes. Não dá pra chamar meus rabiscos de arte. _ tentei desconversar sorvendo um o último gole do vinho na taça. _ Me deixe ver, não sou nenhum crítico profissional, mas talvez consiga sacar o seu estilo. _ pediu gentilmente. _ De jeito nenhum! Daniel, você tem pinturas do Salvador Dali nas paredes de casa, provavelmente vai rir das coisas idiotas que faço. _ Pare de ser tão insegura e me deixe ver seus desenhos menina, te mostrei minha coleção de brinquedos não tem nada mais ridículo para um homem barbado, porra... _ riu