Agora que vocês sabem bem o tipo de garota que eu sou, posso falar do João para vocês. Pensando agora em toda a tragetória da minha vida, tenho que confessar: João foi meu décimo namorado.
Ele era um cara legal, bonito, porém superficial; como todos os outros. Era apenas mais um desses rapazes que ligam mais para beleza do que para o conteúdo! Mas também pudera, ele tinha um corpo todo trabalhado no bronzeado, delicioso como um pão-de-mel… fora o seu beijo, que me tirava de órbita e melhor ainda, era super romântico!
Eu o conheci em um site de relacionamentos famoso por formar casais perfeitos que no fim de tudo, se casam e são felizes para sempre. Tudo bem, não ligo se você me julgar como desesperada, carente ou qualquer coisa do tipo, talvez eu realmente fosse.
Mas com o João eu realmente achei que daria certo! Eu o namorava mais ou menos na mesma época em que a Drica estava noivando — não com o Bernardo, já que eventualmente eles terminaram quando ele resolveu que não ia cursar medicina e, não obstante, foi para outra cidade onde pegava umas trinta meninas a cada fim de semana — e a Ruth estava namorando. Eu estava muito sozinha e me sentia meio jogada de lado pelos amigos… lembro que ligava para a Drica e a Ruth quase diariamente, querendo conversar, marcar um cinema, chopp, qualquer coisa… mas elas nunca tinham tempo para mim… sabe quando você percebe que a vida dos seus amigos já tomou uma forma tão sólida que você não se encaixa mais?
No nosso primeiro encontro, achei que o João não era de verdade. Eu só podia estar sonhando, afinal, o que um cara maravilhoso como ele estaria fazendo em um site de relacionamentos? A resposta mais óbvia seria: dando uma de pegador, não é? Magine então tal qual foi a minha surpresa ao descobrir que ele era um cara sério, procurando por sua alma gêmea? Entretanto o João tinha um “probleminha”, se é que você entende o uso do diminutivo. Confesso que quando baixei sua cueca cinza na nossa primeira noite de amor regada a muito espumante no motel, até me chatiei, mas ei… eu estava procurando minha alma gêmea também e considerava o amor muito mais importante que o sexo.
Nos demos muito bem na cama e recebi flores no dia seguinte no meu estágio — ah é, esqueci de mencionar que eu entrei na faculdade de Administração (não conseguia decidir o que cursar e escolhi essa mesmo, por ser mais ampla) e logo no primeiro ano comecei a trabalhar como assistente no escritório em uma marca de roupas. Minhas colegas de trabalho adoraram a surpresa, mas meu chefe não gostou nada da algazarra que se formou no horário do café.
Quem precisa se preocupar com isso quando tem o cara perfeito?
Eu e o João éramos alma gêmeas, eu tinha certeza. Avisei a Drica, mandei SMS para a Ruth que não atendia o celular e até o Bernardo há quilômetros de distância ficou sabendo do meu novo namorado, com quem eu já fazia planos de me casar.
— Leila, são duas da manhã. — ouvi o Bernardo reclamar, impaciente com minha nova história de amor, mas atribuí sua chatice ao fato de que ele estava mais bêbado que um gambá. — E você sempre acha que o cara com quem você transou é o homem da sua vida.
Eu me ofendi, desliguei o telefone na cara dele e nunca mais liguei para o Bernardo para falar do João. Mas pensando bem... era verdade. Eu transava com os caras, já achava que estava amando para sempre… mas não durava mais que um mêsa e eu acabava na fossa porque levei um fora… até, é claro, conhecer mais um no site de relacionamentos.
E não, o João não foi diferente.
Ele fugiu de mim em oito dias.
Foi um récorde.
Só que não deu nem para chorar quando o João terminou comigo, porque algo mais grave… muito mais grave, havia acontecido com a Drica.
***
Drica estava um caco e era difícil vê-la daquele jeito: sem pentear os cabelos compridos e castanhos, presos em um rabo de cavalo que mais parecia um ninho de passarinhos de tantos nós; maquiagem borrada e os olhos inchados, muito inchados, de tanto chorar.
Quando ela abriu a porta eu quase não a reconheci e meus olhos não conseguiam se despregar daquela casquinha branca que ela tinha perto da boca, de maionese ressecada. A Drica é magra igual uma bailarina, tem o costume de pular refeições para manter a forma, então se ela estava comendo qualquer coisa com maionese, era sinal de que estava realmente fora de si! Isso era um claro pedido por socorro e tanto eu como a Ruth não podíamos abandoná-la naquele instante.
Por isso a Ruth se preocupou:
— Nossa, você está um caco! — assustou-se. Ruth estava parecendo uma sereia com um vestido colado no corpo bem curtinho e os cabelos escovados no salão. Na sua mão direita ela trazia uma garrafa de Chandon Rosé, a única coisa capaz de nos deixar feliz naquele instante. — Trouxe isso para te animar. — e passou a garrafa para Drica.
— Você quer que eu... brinde? — Drica imediatamente se ofendeu. Achei que ela xingaria Ruth, pois seu rosto ficou todo vermelho como se estivesse bem irritada, mas na verdade, ela começou a chorar.
Enquanto eu esperava uma mensagem do João — quem sabe ele se arrependesse -, conferindo o celular a cada dois segundos, escutei a Drica contar sobre como havia sido horrível descobrir que seu noivo estava traindo-a… com o melhor amigo!
Tá, nada contra gays. Tenho amigos homossexuais na faculdade e eles são ao mesmo tempo fofos e malucos; mas não consigo imaginar como uma garota se sente ao descobrir que o noivo é gay. Deve ser realmente um drama e algo totalmente irreversível, pense bem, não tem volta um lance desses! Não dá pra fingir que não aconteceu e seguir em frente com a relação… você é uma mulher e ele gosta de homens, não vai “se apaixonar” e muito menos “aprender a amar” da forma mais morna possível.
E na boa, ninguém quer namorar ou amar da forma morna. Acho que é isso que dói mais.
— Eu sempre achei loucura da sua parte querer ficar com o cara só porque ele era médico. — ouvi Ruth sentenciar, sentada no sofá enquanto balançava a taça com o espumante cor-de-rosa. Era sempre assim, ela alfinetava a Drica em seu pior defeito: o de ter terminado com Bernardo só porque ele foi cursar Jornalismo em Rio Claro. — Você nunca devia ter terminado com o Bê.
Drica olhou para mim e eu engoli o espumante enchendo a boca. Não sei se eu devia aproveitar a hora para dizer a ela que beijei o Bernardo no fim do terceiro colegial ou se isso só ia piorar a sina de ter sido traída, mas acabei fazendo a única coisa que sei fazer: ficar quieta e negar meu erro.
— Ai, Ruth… me poupe! — Drica revirou os olhos inchados, como se estivesse por demais entojada do assunto. — O Bernardo não é pra mim, ele é super egoísta e mimado, eu preciso de um cara que me trate tão bem quanto eu o trato.
— Ai, isso tá difícil, viu amiga. — Ruth bufou, também aborrecida com seus relacionamentos. — Homens são como chicletes: se você trata mal, eles grudam! Mas trate bem e você verá o que é ser esculachada.
— Faz sentido… — Drica acrescentou. — Eles procuram um namoro sério, uma mocinha decente e quase virgem para casar… mas saem por aí transando com todas, traindo, etc. Um bando de hipócritas.
— Isso quando querem algo sério, não é mesmo? Porque eu já ouvi um bilhão de vezes um “eu te amo apaixonado” e no dia seguinte, tomam chá de sumiço! — Ruth continuou.
— Ao menos você ouve um “eu te amo”... eu normalmente fico no vácuo. — pronto, falei!
Vi quando tanto Ruth e Drica viraram para mim com cara de dor, provavelmente advinhando que levei mais um fora.
— E o tal João? — Ruth quis saber.
— Brigamos. Ele me disse que eu o sufoco… vocês acham que eu sufoco meus namorados?
— Não! — Drica negou, mas vi pelo seu olhar e tom de voz que ela estava disfarçando.
— Hoje em dia os caras não querem mais namoro ou casamento, o lance é cair na pegação. — Ruth falou, como se isso explicasse os atos de João. — Mas eles adoram se fazer de bons moços. É o papinho mais comum para levar uma mulher para cama, vêem cheio dos “você é especial e única” pra cima da gente! — Ruth até fez aspas com os dedos, enfatizando o quanto desacreditava nas cantadas que ouvia.
— Gente é isso! — Drica se manifestou com uma estranha euforia.
— É isso o quê? — eu não entendi.
— Nós três estamos fazendo tudo errado! — ela explicou sua teoria com um sorriso. Verteu todo o espumante de sua taça na boca e engoliu de uma só vez. — Esse negócio de ser romântica, bonitinha, responder as mensagens de carinho e ainda por cima se entregar o coração em uma bandeja tá tudo errado! Temos que usar a teoria do chiclete!
— Como assim? — Ruth pelo visto, partilhava da mesma falta de genialidade que eu.
— Sair e cair na pegação, mas sem se apaixonar! — Drica falou.
Eu já pensava em negar horrorizada, quando Ruth se manifestou a favor daquela ideia maluca.
— Olha, tem razão. Ao menos enquanto não encontramos nosso príncipe encantado! — Ruth parecia uma criança com esse papo. — Tínhamos que formar uma seita secreta das garotas contra os homens e agir como eles agem com a gente: com canalhice mesmo!
— Isso!
— E de quebra, devíamos escrever tudo em um Blog.
— Ótima ideia.
— Perfeito, eu posso fazer o site, estudo Design mesmo! — Ruth se propôs.
Ótimo, lá estavam as duas fazendo os planos mais malucos juntas e me excluindo, para variar. Aposto que iam sair e conhecer os caras mais gatos e me deixar para trás, sozinha em meu site de relacionamento.
Eu estava afundada no sentimento de solidão, quando a Drica bateu a mão na minha perna, meio que me acordando.
— E aí, Leila? Topa? — perguntou animada.
— Topo!
— Como deveríamos nos chamar? Tinha que ser algo como aquele filme super da hora que as mulheres se divorciam e armam uma vingança com os ex-maridos! — Ruth tentou pensar em algo.
Mas foi na minha cabeça que a ideia surgiu.
— Clube das Desapaixonadas. — Falei, com toda a armagura que eu sentia no meu coração.
— Perfeito!
Não se apaixonar. Pontuar a performance de 0 a 5 Postar uma vez por semana, no mínimo Essas eram as 3 regras básicas do nosso
“Ai, Leila, não acredito”, foi a frase que mais ouvi nas semanas que se seguiram ao meu fracasso número um. Foi como acumular fracassos. Eu fiquei esperando o Renato me ligar como toda adolescente fica esperando — grudada no celular, olhando de 5 em 5 minutos -, esperei domingo, segunda, terça… e ele ligou na quarta. A Ruth achava que eu devia transar com ele e me fez prometer que eu não ia deixar ele escapar, mas jantamos fora e o Renato me deixou em casa de novo. Sonhei com praia, eu estava me afogando e acordei no susto sentindo cheiro de café e ovos mexidos. Não, não, não, não! — repeti pra mim mesma mentalmente sem coragem de abrir os olhos e ver o que estava acontecendo diante de mim, na cozinha. Meu flat é pequeno, — não é meu de verdade, eu pago aluguel, — a cozinha se parece mais com um pequeno corredor com uma pia, fogão de quatro bocas, uma mini-geladeira e uma bancada de madeira que também pode ser usada de mesa, onde fica inclusive o sofá em que eu estava dormindo, de frente para a tevê recém-comprada e que eu ainda estava pagando06 Fabrício
Não se se fui muito cruel, mas acordo no meio da madrugada com a campainha tocando várias vezes. Sei que é o Fabrício querendo entrar. Eu troquei a fechadura e coloquei uma mala com todas as coisas que encontrei dele no corredor com um bilhete dizendo para ele não me procurar mais.Acho que sou covarde demais para terminar um namoro, tão convarde quanto muitos caras que já conheci e que ao invés de me dizerem que não me querem mais, simplesmente desapareceram sem dar mais notícia.
Vou separar os homens em mais dois tipos: os que se aproveitam de seu momento de fraqueza e os que te ajudam a superá-los. O Eduardo é do primeiro tipo, o famoso canalha. Mas não o culpe, eu já sabia o tipo de cara que ele era — ei, meu emprego depende de saber o tipo de cara que os homens são — quando aceitei sair com ele.O sinal? Eduardo me abordou bem quando estavam falando mal de mim na editora. Tenho certeza que ele é daqueles que adora dar em cima de mulher que acabou de levar o fora, que está carente e topa qualquer coisa
Com os olhos inchados escondidos por um par de óculos escuros na moda, entro na redação depois do meu vexaminoso feriado de carnaval! Tento passar desapercebida pela maioria das pessoas, vou driblando todos os meus conhecidos me escondendo em pilastras e esse tipo de coisa, mas ao entrar na sala da redação da revista, não tem muito o que fazer. Drica está em sua mesa, usando um terninho lindo que a deixa maravilhosamente sexy e com os cabelos presos e trançados, só esperando a hora deu aparecer para olhar com desdém para mim. Eu sei, minha roupa está horrível! Coloquei a primeira camisa q
Fabrício vem ao meu resgate. Ele equilibra o cigarro na boca e segura a caixa antes que eu possa derrubá-la no chão. Ele está de touca preta na cabeça, mas é possível ver as pontinhas de seu cabelo escuro saindo para fora dela; uma camiseta de banda, jaqueta cinza e calça jeans. Ele está sexy, como sempre, mas precisa fazer a barba urgente. Fabrício coloca a caixa em baixo do braço e puxa o cigarro da boca. — Eu estava esperando você. — A melhor proposta que eu recebi nos dias que se seguiram foi para ser Diretora Editorial de uma revista online totalmente desconhecida e que estava indo a falência.— Não, não, não… você não pode aceitar essa proposta. — Bernardo balança a cabeça de um lado para o outro abruptamente, frisando o quanto discorda da minha decisão.— Por quê não? — Pergunto enquanto seguro minha nova bebida favorita, um cosmopolitan, na minha mão esquerda. Eu estou de salto alto (eles estão me matando), com os cabelos soltos e toda produzida. Ultimamente tenho me produzido bem mais, usando saias e blusinhas mais coladas no corpo, tenho me sentindo muito sensual!Estamos em um bar. Eu vim para o aniversário do Bernardo e sinceramente, preferia não ter vindo. O Bernardo é o cara mais “em cima do muro” que eu conheço! Acredita que, além de ter me convidado para a festa, ele também convidou a Ruth e a Drica? De onde estou posso vê-las. A Ruth está em destaque na antiga revista que trabalhávamos e a11 Dando a volta por cima