03 João

Agora que vocês sabem bem o tipo de garota que eu sou, posso falar do João para vocês. Pensando agora em toda a tragetória da minha vida, tenho que confessar: João foi meu décimo namorado.

Ele era um cara legal, bonito, porém superficial; como todos os outros. Era apenas mais um desses rapazes que ligam mais para beleza do que para o conteúdo! Mas também pudera, ele tinha um corpo todo trabalhado no bronzeado, delicioso como um pão-de-mel… fora o seu beijo, que me tirava de órbita e melhor ainda, era super romântico!

Eu o conheci em um site de relacionamentos famoso por formar casais perfeitos que no fim de tudo, se casam e são felizes para sempre. Tudo bem, não ligo se você me julgar como desesperada, carente ou qualquer coisa do tipo, talvez eu realmente fosse.

Mas com o João eu realmente achei que daria certo! Eu o namorava mais ou menos na mesma época em que a Drica estava noivando — não com o Bernardo, já que eventualmente eles terminaram quando ele resolveu que não ia cursar medicina e, não obstante, foi para outra cidade onde pegava umas trinta meninas a cada fim de semana — e a Ruth estava namorando. Eu estava muito sozinha e me sentia meio jogada de lado pelos amigos… lembro que ligava para a Drica e a Ruth quase diariamente, querendo conversar, marcar um cinema, chopp, qualquer coisa… mas elas nunca tinham tempo para mim… sabe quando você percebe que a vida dos seus amigos já tomou uma forma tão sólida que você não se encaixa mais?

No nosso primeiro encontro, achei que o João não era de verdade. Eu só podia estar sonhando, afinal, o que um cara maravilhoso como ele estaria fazendo em um site de relacionamentos? A resposta mais óbvia seria: dando uma de pegador, não é? Magine então tal qual foi a minha surpresa ao descobrir que ele era um cara sério, procurando por sua alma gêmea? Entretanto o João tinha um “probleminha”, se é que você entende o uso do diminutivo. Confesso que quando baixei sua cueca cinza na nossa primeira noite de amor regada a muito espumante no motel, até me chatiei, mas ei… eu estava procurando minha alma gêmea também e considerava o amor muito mais importante que o sexo.

Nos demos muito bem na cama e recebi flores no dia seguinte no meu estágio — ah é, esqueci de mencionar que eu entrei na faculdade de Administração (não conseguia decidir o que cursar e escolhi essa mesmo, por ser mais ampla) e logo no primeiro ano comecei a trabalhar como assistente no escritório em uma marca de roupas. Minhas colegas de trabalho adoraram a surpresa, mas meu chefe não gostou nada da algazarra que se formou no horário do café.

Quem precisa se preocupar com isso quando tem o cara perfeito?

Eu e o João éramos alma gêmeas, eu tinha certeza. Avisei a Drica, mandei SMS para a Ruth que não atendia o celular e até o Bernardo há quilômetros de distância ficou sabendo do meu novo namorado, com quem eu já fazia planos de me casar.

Leila, são duas da manhã. — ouvi o Bernardo reclamar, impaciente com minha nova história de amor, mas atribuí sua chatice ao fato de que ele estava mais bêbado que um gambá. — E você sempre acha que o cara com quem você transou é o homem da sua vida.

Eu me ofendi, desliguei o telefone na cara dele e nunca mais liguei para o Bernardo para falar do João. Mas pensando bem... era verdade. Eu transava com os caras, já achava que estava amando para sempre… mas não durava mais que um mêsa e eu acabava na fossa porque levei um fora… até, é claro, conhecer mais um no site de relacionamentos.

E não, o João não foi diferente.

Ele fugiu de mim em oito dias.

Foi um récorde.

Só que não deu nem para chorar quando o João terminou comigo, porque algo mais grave… muito mais grave, havia acontecido com a Drica.

***

Drica estava um caco e era difícil vê-la daquele jeito: sem pentear os cabelos compridos e castanhos, presos em um rabo de cavalo que mais parecia um ninho de passarinhos de tantos nós; maquiagem borrada e os olhos inchados, muito inchados, de tanto chorar.

Quando ela abriu a porta eu quase não a reconheci e meus olhos não conseguiam se despregar daquela casquinha branca que ela tinha perto da boca, de maionese ressecada. A Drica é magra igual uma bailarina, tem o costume de pular refeições para manter a forma, então se ela estava comendo qualquer coisa com maionese, era sinal de que estava realmente fora de si! Isso era um claro pedido por socorro e tanto eu como a Ruth não podíamos abandoná-la naquele instante.

Por isso a Ruth se preocupou:

Nossa, você está um caco! — assustou-se. Ruth estava parecendo uma sereia com um vestido colado no corpo bem curtinho e os cabelos escovados no salão. Na sua mão direita ela trazia uma garrafa de Chandon Rosé, a única coisa capaz de nos deixar feliz naquele instante. — Trouxe isso para te animar. — e passou a garrafa para Drica.

Você quer que eu... brinde? — Drica imediatamente se ofendeu. Achei que ela xingaria Ruth, pois seu rosto ficou todo vermelho como se estivesse bem irritada, mas na verdade, ela começou a chorar.

Enquanto eu esperava uma mensagem do João — quem sabe ele se arrependesse -, conferindo o celular a cada dois segundos, escutei a Drica contar sobre como havia sido horrível descobrir que seu noivo estava traindo-a… com o melhor amigo!

Tá, nada contra gays. Tenho amigos homossexuais na faculdade e eles são ao mesmo tempo fofos e malucos; mas não consigo imaginar como uma garota se sente ao descobrir que o noivo é gay. Deve ser realmente um drama e algo totalmente irreversível, pense bem, não tem volta um lance desses! Não dá pra fingir que não aconteceu e seguir em frente com a relação… você é uma mulher e ele gosta de homens, não vai “se apaixonar” e muito menos “aprender a amar” da forma mais morna possível.

E na boa, ninguém quer namorar ou amar da forma morna. Acho que é isso que dói mais.

Eu sempre achei loucura da sua parte querer ficar com o cara só porque ele era médico. — ouvi Ruth sentenciar, sentada no sofá enquanto balançava a taça com o espumante cor-de-rosa. Era sempre assim, ela alfinetava a Drica em seu pior defeito: o de ter terminado com Bernardo só porque ele foi cursar Jornalismo em Rio Claro. — Você nunca devia ter terminado com o Bê.

Drica olhou para mim e eu engoli o espumante enchendo a boca. Não sei se eu devia aproveitar a hora para dizer a ela que beijei o Bernardo no fim do terceiro colegial ou se isso só ia piorar a sina de ter sido traída, mas acabei fazendo a única coisa que sei fazer: ficar quieta e negar meu erro.

Ai, Ruth… me poupe! — Drica revirou os olhos inchados, como se estivesse por demais entojada do assunto. — O Bernardo não é pra mim, ele é super egoísta e mimado, eu preciso de um cara que me trate tão bem quanto eu o trato.

Ai, isso tá difícil, viu amiga. — Ruth bufou, também aborrecida com seus relacionamentos. — Homens são como chicletes: se você trata mal, eles grudam! Mas trate bem e você verá o que é ser esculachada.

Faz sentido… — Drica acrescentou. — Eles procuram um namoro sério, uma mocinha decente e quase virgem para casar… mas saem por aí transando com todas, traindo, etc. Um bando de hipócritas.

Isso quando querem algo sério, não é mesmo? Porque eu já ouvi um bilhão de vezes um “eu te amo apaixonado” e no dia seguinte, tomam chá de sumiço! — Ruth continuou.

Ao menos você ouve um “eu te amo”... eu normalmente fico no vácuo. — pronto, falei!

Vi quando tanto Ruth e Drica viraram para mim com cara de dor, provavelmente advinhando que levei mais um fora.

E o tal João? — Ruth quis saber.

Brigamos. Ele me disse que eu o sufoco… vocês acham que eu sufoco meus namorados?

Não! — Drica negou, mas vi pelo seu olhar e tom de voz que ela estava disfarçando.

Hoje em dia os caras não querem mais namoro ou casamento, o lance é cair na pegação. — Ruth falou, como se isso explicasse os atos de João. — Mas eles adoram se fazer de bons moços. É o papinho mais comum para levar uma mulher para cama, vêem cheio dos “você é especial e única” pra cima da gente! — Ruth até fez aspas com os dedos, enfatizando o quanto desacreditava nas cantadas que ouvia.

Gente é isso! — Drica se manifestou com uma estranha euforia.

É isso o quê? — eu não entendi.

Nós três estamos fazendo tudo errado!  — ela explicou sua teoria com um sorriso. Verteu todo o espumante de sua taça na boca e engoliu de uma só vez. — Esse negócio de ser romântica, bonitinha, responder as mensagens de carinho e ainda por cima se entregar o coração em uma bandeja tá tudo errado! Temos que usar a teoria do chiclete!

Como assim? — Ruth pelo visto, partilhava da mesma falta de genialidade que eu.

Sair e cair na pegação, mas sem se apaixonar! — Drica falou.

Eu já pensava em negar horrorizada, quando Ruth se manifestou a favor daquela ideia maluca.

Olha, tem razão. Ao menos enquanto não encontramos nosso príncipe encantado! — Ruth parecia uma criança com esse papo. — Tínhamos que formar uma seita secreta das garotas contra os homens e agir como eles agem com a gente: com canalhice mesmo!

Isso!

E de quebra, devíamos escrever tudo em um Blog.

Ótima ideia.

Perfeito, eu posso fazer o site, estudo Design mesmo! — Ruth se propôs.

Ótimo, lá estavam as duas fazendo os planos mais malucos juntas e me excluindo, para variar. Aposto que iam sair e conhecer os caras mais gatos e me deixar para trás, sozinha em meu site de relacionamento.

Eu estava afundada no sentimento de solidão, quando a Drica bateu a mão na minha perna, meio que me acordando.

E aí, Leila? Topa? — perguntou animada.

Topo!

Como deveríamos nos chamar? Tinha que ser algo como aquele filme super da hora que as mulheres se divorciam e armam uma vingança com os ex-maridos! — Ruth tentou pensar em algo.

Mas foi na minha cabeça que a ideia surgiu.

Clube das Desapaixonadas. — Falei, com toda a armagura que eu sentia no meu coração.

Perfeito!

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