Fabrício vem ao meu resgate. Ele equilibra o cigarro na boca e segura a caixa antes que eu possa derrubá-la no chão. Ele está de touca preta na cabeça, mas é possível ver as pontinhas de seu cabelo escuro saindo para fora dela; uma camiseta de banda, jaqueta cinza e calça jeans. Ele está sexy, como sempre, mas precisa fazer a barba urgente. Fabrício coloca a caixa em baixo do braço e puxa o cigarro da boca.
— Eu estava esperando você.
—
A melhor proposta que eu recebi nos dias que se seguiram foi para ser Diretora Editorial de uma revista online totalmente desconhecida e que estava indo a falência.— Não, não, não… você não pode aceitar essa proposta. — Bernardo balança a cabeça de um lado para o outro abruptamente, frisando o quanto discorda da minha decisão.— Por quê não? — Pergunto enquanto seguro minha nova bebida favorita, um cosmopolitan, na minha mão esquerda. Eu estou de salto alto (eles estão me matando), com os cabelos soltos e toda produzida. Ultimamente tenho me produzido bem mais, usando saias e blusinhas mais coladas no corpo, tenho me sentindo muito sensual!Estamos em um bar. Eu vim para o aniversário do Bernardo e sinceramente, preferia não ter vindo. O Bernardo é o cara mais “em cima do muro” que eu conheço! Acredita que, além de ter me convidado para a festa, ele também convidou a Ruth e a Drica? De onde estou posso vê-las. A Ruth está em destaque na antiga revista que trabalhávamos e a
— Acrescente na sua pauta uma matéria sobre homens que não conseguem ser pontuais e acho que podíamos fazer um mapa interativo de artigos de sex-shop, seria bom vermos alguns anunciantes nisso! — Digo para uma das meninas, a loira.— Tá bem. — Ela bate os ombros concordando. Ela se chama Ivana e apesar de estar noiva, vive traindo o namorado. — O que mais?— Nada, está ótimo. — Eu lembro sempre da minha ex-chefe e o quanto ela era grossa com a gente no serviço, por isso eu estou sempre sorrindo e sendo simpática com as minhas meninas. Elas me adoram e eu adoro o quanto elas são eficientes. — Vão correndo pro cabeleireiro que quero vocês duas deslumbrantes!— Pode deixar!— Você também!Elas dizem quase juntas, os sons se embolam. Assim que elas saem da sala, vejo que tem alguém esperando para falar comigo
Eu e Bernardo somos os primeiros a chegar no restaurante. A mesa já havia sido reservada, quatro lugares perto da janela. É onde nos sentamos. Gosto desse restaurante escolhido e isso me deixa mais confortável, embora meu estômago esteja se revirando de ansiedade. — Um Cosmopolitan e uma cerveja. — Bernardo informa ao garçom nosso pedido de bebidas. Só vamos escolher os pra
Como eu cheguei até aqui? É só o que me pergunto enquanto Lasgo berra em meus ouvidos. A boca de Eduardo tem gosto de bebida, acho que ele está bêbado. Acho não, tenho total certeza. O cosmopolitan escorre pelos meus dedos e eu quase solto a taça. Minha cabeça dói, uma espécie de dor de cabeça. Acho que chorei demais a tarde inteira… ou então já estou bêbada e a vodca do meu drink é muito barata! Tomaram a decisão de vocês? Se vocês fossem eu, ficariam com:a) O idiota número um. Amigo para todos os momentos, mas covarde para dizer o que realmente sente por você.b) O idiota número dois. O cara errado! Acho que essa é a melhor definição.c) O idiota número três. Namorado quente, mas irresponsável demais para levar a sério um comprimisso com você.Acho que nós vamos concordar que a opção “b” está fora de cogitação, certo? Então não vão ficar bravas comigo se eu jogar o meu cosmopolitan na cara dele e e berrar:— Idiota! — Foi o que eu fiz. Eduardo agora está sujo com o restinho da minha bebida e com a roupa cor-de-rosa. — Você está se drogando!— Você é louca? — O Eduardo me chacoalha com força.— Louco é você!Ele vira a mão para me bater e eu acho que vou apanhar. Pisco por um breve instante que dura uma eternidade de pavor. Todo segundo que antecede uma tragédia fica em câmera lenta, de um jeito que podemos pensar muitas coisas. Não sei se o mundo s15 Imperdoável
O Fabrício parece fora de si. Ele coloca as duas mãos na cabeça e posso ver os olhos dele cheios de lágrimas, intensos e cheios de emoções… mas ele não chora. Nem uma gota.— Olha o que você está fazendo!— O que eu estou fazendo?— Uma cena! Você está me expulsando de novo, igual da primeira vez! Ao invés de resolver as coisas comigo, ao invés de conversar, você está me jogando fora pela segunda vez, Leila!— Não estou… eu só…— Está me jogando fora. — Ele afirma com amargura.É verdade, certo? Estou fugindo da situação pela opção mais fácil e rápida. Respiro fundo, descruzo meus braços e me aproximo dele.— Vai me contar o que rolou entre seu pai, seu irmão e você?— Você quer saber?— Claro que eu quero saber, Fabrício! — Jogo minhas mãos para o alto e olho para o céu. Está nublado, mas talvez pela agitação do momento, estou morrendo de calor. Não posso acreditar que ele perguntou isso pra mim.— Você nunca quis saber.— Eu quis!— Mas nunca pe
— Leila?Bernardo me chama. Ele está na borda da barraca de cachorro quente e cotinua impecável como sempre. Existe algo incrível em Bernardo que me intriga: ele está sempre bem. Não o vejo vacilar nunca, desde a mecha do cabelo perfeitamente penteada a barra da calça social preta que fica a exatos centímetros do chão.Fabrício revira os olhos claros e solta fumaça pela boca. Esse por outro lado é a bagunça em pessoa e sua calça jeans rasgada é só o começo da história.Fico em pé, procuro ajeitar meus cabelos que estavam presos em um penteado lindo até que depois da briga se desmanchou por completo. Respiro fundo e ando até Bernardo com meus saltos doloridos. Eu sei que tem mulheres que acham saltos confortáveis, mas eu não sou uma delas!— Você está bem? — É a primeira coisa que ele quer saber. Estica a mão e mexe de forma íntima em meus cabelos, ajeitando-os. Ele parece preocupado, não apenas com meu bem estar, mas com o assunto interminado entre a gente.— Tira
De repente, a noite ficou mais fria do que estava e a rua, mais vazia do que antes. Vou andando a passos devagar, pela calçada. Acho que posso ver o ponto de táxi na esquina.Bem ao meu lado, um carro buzina. Levo um susto e pulo para o lado então eu percebo que é o carro do Fabrício. Ele está no banco do motorista, com a cabeça enterrada no volante, segurando-o com as duas mãos. Eu coloco uma mão em seus cabelos, fazendo um carinho e percebo quando ele se assusta, olhando para mim.— O que foi aquilo? — Ele me pergunta. — Outro cara drogado beijando você?— Foi uma declaração de amor. — Eu respondo e ele afasta a minha mão de seus cabelos. — Fabrício, eu…— Não precisa se justificar. — Ele revira os olhos e procura por mais um cigarro, mas o maço em seu bolso está vazio. Ele joga o pacote no banco do passageiros, fazendo bagunça. Aquela bagunça que me irrita profundamente. — Aquele Bernardo sempre foi apaixonado por você, mesmo...— Como você sabe disso? — Pergunto,