O Fabrício parece fora de si. Ele coloca as duas mãos na cabeça e posso ver os olhos dele cheios de lágrimas, intensos e cheios de emoções… mas ele não chora. Nem uma gota.
— Olha o que você está fazendo!— O que eu estou fazendo?— Uma cena! Você está me expulsando de novo, igual da primeira vez! Ao invés de resolver as coisas comigo, ao invés de conversar, você está me jogando fora pela segunda vez, Leila!— Não estou… eu só…— Está me jogando fora. — Ele afirma com amargura.É verdade, certo? Estou fugindo da situação pela opção mais fácil e rápida. Respiro fundo, descruzo meus braços e me aproximo dele.— Vai me contar o que rolou entre seu pai, seu irmão e você?— Você quer saber?— Claro que eu quero saber, Fabrício! — Jogo minhas mãos para o alto e olho para o céu. Está nublado, mas talvez pela agitação do momento, estou morrendo de calor. Não posso acreditar que ele perguntou isso pra mim.— Você nunca quis saber.— Eu quis!— Mas nunca pe— Leila?Bernardo me chama. Ele está na borda da barraca de cachorro quente e cotinua impecável como sempre. Existe algo incrível em Bernardo que me intriga: ele está sempre bem. Não o vejo vacilar nunca, desde a mecha do cabelo perfeitamente penteada a barra da calça social preta que fica a exatos centímetros do chão.Fabrício revira os olhos claros e solta fumaça pela boca. Esse por outro lado é a bagunça em pessoa e sua calça jeans rasgada é só o começo da história.Fico em pé, procuro ajeitar meus cabelos que estavam presos em um penteado lindo até que depois da briga se desmanchou por completo. Respiro fundo e ando até Bernardo com meus saltos doloridos. Eu sei que tem mulheres que acham saltos confortáveis, mas eu não sou uma delas!— Você está bem? — É a primeira coisa que ele quer saber. Estica a mão e mexe de forma íntima em meus cabelos, ajeitando-os. Ele parece preocupado, não apenas com meu bem estar, mas com o assunto interminado entre a gente.— Tira
De repente, a noite ficou mais fria do que estava e a rua, mais vazia do que antes. Vou andando a passos devagar, pela calçada. Acho que posso ver o ponto de táxi na esquina.Bem ao meu lado, um carro buzina. Levo um susto e pulo para o lado então eu percebo que é o carro do Fabrício. Ele está no banco do motorista, com a cabeça enterrada no volante, segurando-o com as duas mãos. Eu coloco uma mão em seus cabelos, fazendo um carinho e percebo quando ele se assusta, olhando para mim.— O que foi aquilo? — Ele me pergunta. — Outro cara drogado beijando você?— Foi uma declaração de amor. — Eu respondo e ele afasta a minha mão de seus cabelos. — Fabrício, eu…— Não precisa se justificar. — Ele revira os olhos e procura por mais um cigarro, mas o maço em seu bolso está vazio. Ele joga o pacote no banco do passageiros, fazendo bagunça. Aquela bagunça que me irrita profundamente. — Aquele Bernardo sempre foi apaixonado por você, mesmo...— Como você sabe disso? — Pergunto,
Na chuva, segurando um guarda-chuva velho e caindo aos pedaços, de maquiagem borrada e vestido sujo, é claro que não me deixaram voltar para dentro da festa e nem me ajudaram a chamar pelo Bernardo. Eu liguei diversas vezes em seu celular, mas Bernardo não me atendeu. Tive certeza que eu o tinha perdido para sempre. Sentei na escadaria, chorei, chorei e chorei e o Fabrício foi me resgatar quando o guincho do carro dele chegou e ofereceu para dividir um táxi comigo. Eu fui chorando o tempo todoFiquei tão cansada e tão exausta que desm
Eu e Drica entramos no Aeroporto esbaforidas. Foi difícil encontrar uma vaga e largamos o carro na porta, onde só podemos parar por cinco minutos para carregar ou descarregar, mas quem se importa de levar uma multa agora? Temos pouco tempo. Eu estou tremendo por inteiro. Na minha frente tem um enorme painel eletrônico com os destinos e horários, para indicar se os vôos estão atrasados ou não e em que portão ele vai sair. —
— Ei! — Acordei a garota com quem dormi na noite passada sem muito romantismo, jogando sobre ela seu vestido vermelho e curto que chamou a minha atenção ontem a noite. Não lembro o nome dela, mas sei que ela é bem gostosa. Entretanto, já estou entojado de sua presença ilustre na minha cama e quero que ela vá embora. Nota mental número um: não trazer mais vadias para casa, levá-las em um motel ou drive-in. É mais fácil de se livrar da bagagem nessas duas opções do que a opção que eu escolhi… isso que dá estar bêbado.— Hmmm… — Ela se espreguiça e tira o vestido de cima do rosto, com um sorrisinho. A maq
A calça era apertada demais e tiveram que chamar a costureira para dar um jeito no botão que não queria fechar. Ela era mais nova do que eu achei que costureiras eram e muito mais bonita também. Fiquei em pé. Soltei o celular em cima da mesa do camarim ignorando o que seria a décima ligação da Leila. Não sei porque, mas eu queria preocupa-la achando que eu não fosse aparecer.E também por que ficar ligando? Com certeza a recepção do estúdio já tinha avisado que eu estava lá, certo? E quem disse que ela queria falar comigo? Aquele número ficava sempre com a Yolanda. — Ai! — Olho para baixo porque a costureira acabou de me alfinetar na barrig
— Como é? — Minha mente demora um pouco para compreender o que o Sr. Biarrari está me falando. Ouvi direito ou ele disse que se eu quiser ele vai demitir a Leila só porque brigamos nos bastidores?— É uma maneira de nos desculparmos com o senhor, foi realmente um infortúnio e uma falta de profissionalismo da Srta. Meirelles.— Falta de profissionalismo? E aquela… Daniela? A figurinista?— A Srta. Daniela Spiner é uma grandiosa profissional.Eu. Não. Acredito. Entro em casa e a sala está até o teto de flores.— Mas que merda é essa? — Tropeço num vaso de... Sei lá que flor é essa e estou bêbado.— Putz! — Mathias fala atrás de mim, rindo alto tirando onda com a minha cara. — Levou um puta fora hein!— Vai se foder, filho da puta! — Não sei se tou irado porque levei mesmo um fora ou porque o Mathias presenciou.As flores são devolução da floricultura. O papel está em cima da bancada e eu tenho um pouco de dificuldade pra ler. É a terceira Extra: Fabrício #4 — Devolução