Minha irmã estava transtornada. Eu observava a discussão calada.
- Você só pode estar maluca! Eu jamais faria uma coisa dessas!
- Eu vi!
- Como você viu algo que eu não fiz! Eu quis matar o seu padrasto pelo que ele te fez e você acha que eu faria igual?
- É eu realmente achei que você o tinha matado...até encontrá-lo aqui...trabalhando pra você.
- Eu te disse que...
- Eu sei o que você disse....meu Deus como eu sou idiota.
- Pode parar Malu...
Me meti antes que ela falasse besteira.
- Parar Camilla? Ele ia estuprar uma aluna! E vai saber quantas já estuprou!
- Agora chega! Quero que saia da minha escola! Não vou admitir que me ofenda dessa maneira!
- Eu não vou a lugar algum...mas não posso dizer o mesmo de você.
- O que quer dizer com isso?
- Gabriel Barreira você está preso por aliciamento de crianças, pedofilia e estupro de vulnerável.
Minhas pern
Muitos tentam conhecer a mente de um psicopata sem sucesso. Eu tive acesso há centenas delas nos dez anos em que estou na PF. Alguns eram frios, outros se mostravam arrogantes, outros até arrependidos, mas sem dúvida nenhuma, Gabo não é possuidor de uma mente dessas. Na realidade, ver o homem que eu ainda amava protagonizar uma cena tão cruel, me fez ver estrelas. Algo que eu estava acostumada a ver com frequência me enganou facilmente. Uma imagem de câmera alterada. Mas por que? Quem queria incriminar Gabo? Eu precisava descobrir.Voltei ao quarto dele e encontrei minha irmã lá, mas ela saiu assim que entrei.Gabo aceitou conversar comigo, porém eu não tinha ideia de por onde começar.- Gabo...eu...- Olha Malu, eu não quero mais ouvir suas acusações...- Não, eu não vim te acusar!- Veio pra quê, então?- Vim pra...te pedir desculpas.Me aproximei dele para lhe tocar o rosto e ele se esquivou.
Estava terminando de me vestir, depois do banho, quando ouvi uma movimentação no corredor, já era tarde e eu imaginei que fosse Malu, que voltava de seu encontro. Senti ódio. Mas como um masoquista que era, resolvi sair. Queria interromper o que quer que fosse que eles estivessem fazendo. Meu ciúme era maior do que a decisão de me afastar dela. Abri a porta devagar e vi que o professorzinho pensava ela contra a parede. Meu ciúme se acentuou, mas se transformou em fúria assim que eu vi o pânico no rosto dela. Então notei os detalhes. Ela estava com as mãos imobilizadas. Com uma mão ele imobilizava as duas dela, com a mão livre apertava seu seio. Ele beijava seu pescoço, mas ela ia se virando de um lado para o outro tentando repelí-lo. As pernas dele a mantinham colada a parede. Tudo isso eu vi numa fração de segundo, fui até eles o mais rápido que consegui. Maldita mobilidade que me atrapalhava tanto!Uma fúria descomunal tomou conta de mim e eu avancei sobre ele. Puxei
Acordei em meio a um emaranhado de braços e pernas, sentia cada pedacinho de Gabo conectado a mim. Me desvencilhei dele com cuidado, não querendo que ele acordasse. Seu sono parecia tão gostoso.Ele se remexeu, mas não abriu os olhos. Fui ao banheiro e quando voltei ele dormia de bruços. O lençol fino, por causa do calor carioca, estava embolado em seus pés, com uma parte embaixo dele, eu poderia visualizar sua nudez completamente, se ele não estivesse de bermuda. Eu mentiria se dissesse que ele tinha o corpo torneado. Ao contrário de quando éramos garotos, ele exibia uma barriguinha saliente, não muito grande. Suas pernas ainda eram iguais, não eram finas, nem tampouco grossas demais. Eu diria que na medida certa. Sua pele era bem mais clara que a minha, mas ainda assim ele não era branco. Era moreno. Desci os olhos pelas suas pernas e parei nos pés. Os pés dele não eram do mesmo tamanho, e eram um pouco tortos. Sequelas da mielomeningocele. Mas eu não me importava. Eu amava
"ATENÇÃO, GATILHO, CONTEÚDO SEXUAL ABUSIVO E FRASES PRECONCEITUOSAS".- Que porra vocês estão fazendo aqui?!As palavras saem da minha boca como em um rosnado. Eu que pouco falo palavrão, falei vários em apenas alguns minutos. Minutos que sucederam a chegada deles.- Vim pegar o que é meu, filhinho.- Você não tem caralho nenhum aqui. A porra dessa escola é minha! Minha, entendeu!- Está enganado. A casa me pertence.Meu irmão se mantinha calado, impassível. Algo nele estava diferente, mas minha fúria não me permitia notar o que. Ele sempre agiu como um maluco. Sempre causando problemas onde passava. Colocava fogo nos gatos da vizinha, batia nos colegas de classe, ameaçava a minha mãe e a mim de morte. Batia na coitada, por fim, logo que ela morreu, sumiu no mundo. Havia ficado revoltado porque o velho havia deixado o casarão para mim. O casarão e metade da sua fortuna. A outra metade ficou para ele, que
Eu diria, que tecnicamente todos os psicopatas são sociopatas. No geral, são frios e calculistas. O que os define como sociopatas ou psicopatas são os níveis de crueldade com o qual cada um age. Fui considerado um psicopata durante muito tempo.Psicopatas possuem baixa atividade cerebral nas áreas relacionadas às emoções. Por esse motivo, são incapazes de sentir emoções fortes e não respondem a estímulos que causariam medo, nojo, felicidade ou choque a outras pessoas. No meu caso, é diferente. Eu não sou assim. Meu pai é. A prova disso é que ele não reconheceu Maria Luiza Marchesi. Eu sim.Para se camuflarem, psicopatas fingem emoções e são perfeitos atores, pois fazem isso a vida inteira, mas meu pai deixou de fazer isso faz muito tempo. Ele não precisa mais. Por serem extremamente observadores, costumam desenvolver inteligência acima da média, além de serem pessoas charmosas e sedutoras. Foi assim que ele conquistou a minha mãe.
Minha vida não foi nada fácil, isso é um fato. Concordo que a do meu irmão foi tão difícil quanto. Talvez até mais, pois minha mãe cuidava muito mais de mim. Ainda assim, o comportamento que ele teve não é justificável, não para mim. Mas o que me esperava era simplesmente demais para mim.Eu estava me arrumando para me deitar, quando fui surpreendido por uma batida na porta. Autorizei a entrada, achando que fosse Malu. Não era.- Oi.- O que você quer?- Conversar.- Não temos nada pra falar.- Está enganado e não vou sair daqui até que me ouça.- Se não tem outro jeito...diga de uma vez.Ele ficou em silêncio e trancou a porta. Se aproximou contando os passos e se apoiou na parede em frente a minha cama, com os braços cruzados. Se fosse outra pessoa eu diria para se sentar, mas queria que ele fosse logo embora.- Eu esperei até tão tarde para que o nosso...pai...- Ele é seu pai, não meu.
Sequestradas.Malu e Camilla haviam sido sequestradas e a culpa era minha.Como pude ser tão idiota? Acreditei na historinha triste do meu irmão de que havia mudado por amor e de que queria vingança. Imbecil.Pesquei o celular no bolso e disquei o número da única pessoa que poderia me ajudar nesse momento.- Alô? Senhor Santori?- Olá, Gabriel Barreira? Posso ajudar em alguma coisa?- Sim. Malu e Camilla foram sequestradas.- Não, não...você está enganado.- Encontrei o celular dela...tinha uma mensagem que...- Calma rapaz. Acha mesmo que a agente Maria Luiza seria tola o suficiente para cair nessa? Ela nos avisou, estamos na retaguarda dela.- Menos mal. Obrigado.Desliguei o telefone mais calmo, mas não estava tranquilo. Eu não podia esperar. Eu tinha que ir atrás de Malu.Como se pressentisse a minha irá, meu telefone tocou e era a única pessoa que eu não queria ouvir.<
No dia seguinte ainda não havíamos levado Breno para o hospital. Eu achava imprudência, mas ele e as garotas concordavam que ele seria um alvo fácil. Sim. Os três acreditavam que Breno seria morto caso ficasse em uma cama de hospital. O problema veio, com o passar dos dias, que ao invés de melhorar, ele apenas piorava. O ferimento a bala infeccionou e meu irmão estava com cada vez mais febre.Mais uma vez, Camilla foi trocar o curativo. Meu irmão estava inconsciente. A febre o tinha derrubado. Quando ela retirou a gaze, havia muito pus e a ferida estava avermelhada em volta e com um cheiro muito forte.- Precisamos de antibióticos...- Precisamos é levá-lo-lo para um hospital!- Vão matá-lo! Você não entende que ele mudou de lado, e não é apenas o pai de vocês que o quer morto?- Ele vai morrer se ficar aqui...- Aqui ele ainda tem