CINDERELAÉ noite. Nenhum sinal de Henry.Se antes eu não tinha unhas, agora meus dedos estão sangrando.Demora tanto assim um resgate? Ele está bem?Sinto um aperto no peito. Eu não sei detalhes do que está acontecendo, mas só ouvir o nome Morro da Morte já me deixa com os nervos à flor da pele. O lugar é tão perigoso que nem entra veículos de entrega ou de aplicativo. Tudo só entra com autorização do dono do morro.— Vai abrir um buraco no chão, cunhada.Olho para Raoul despreocupado no sofá, com um livro da história do Brasil na mão.— Você não está preocupado? Anoiteceu e não deram notícias.— Não. Eles sabem o que fazem. Os Seven são os Seven desde antes de eu nascer.— Ainda assim... — Passo a mão nos cabelos, desfazendo e refazendo o rabo de cavalo. Ainda estou com o jeans e a camiseta que uso desde a manhã. Meu plano era esperar Henry para tomarmos banho juntos, de banheira, enquanto fazemos planos para nossa sementinha.— Calma, cunhada. Se tiver um treco, meu irmão vai ficar
AMAYMONDos meus cinco filhos, Florian sempre foi o que mais deu trabalho, até mesmo mais que Raoul, o que é justificado pelo seu problema de saúde. Quando olho para trás, entendo que ele sempre foi assim. Suas personalidades foram aparecendo de acordo com o tempo, não importa quantos profissionais digam que ele passou por um trauma que ocasionou.Quantos traumas para nascer tantas personalidades? Antes mesmo de aprender a falar, ele já mudava drasticamente sem nenhuma explicação.Por isso o meu menino passou grande parte da vida em clínicas ou preso em casa. O grande problema é que suas personalidades são diferentes em tudo, são extremos e com nada em comum. Ele nunca vai poder ter uma vida normal se não se livrar delas.Mas eu vou levá-lo para casa. Ele fica melhor em casa.Já tinha planos de fazer isso, até adaptei um dos quartos para quando sua personalidade suicida aparecer.Vamos buscar Florian e ele vai para o castelo comigo e com seus irmãos. Ele será tratado em casa, com sua
FELIPEAdam sempre foi o mais calado de nós, mesmo antes do acidente. Isso nunca me importou, porém hoje o seu silêncio está me incomodando.— Devíamos ver se Cinderela não é compatível — sugiro. Só para ter o que dizer.— Liga para ela. — Ele fala e começa a mexer no celular. O silêncio volta a reinar.É o que faço. Mas ligo para o Raoul. Nosso pai contou sobre a gravidez. Não quero dar a notícia de uma tragédia para uma mulher grávida.Sei que é uma chance quase nula, mas não custa tentar. Estou prestes a enlouquecer sentado nesse carro. Por que Henry tem esse tipo sanguíneo? Só pode ser pegadinha do destino, pois ninguém mais na nossa família tem, e, por tudo que sabemos, é algo genético.E Anastácia, como pode apenas ela na família Tedesco ter o mesmo sangue raro que meu irmão?É mesmo uma pegadinha do destino.Por mais que Anastácia seja a pessoa menos indicada, pelo menos existe essa chance. Se aquela mulher não aceitar nenhuma proposta, eu juro que tiro o sangue dela a força.N
O amor é uma flor azul Que desabrocha onde é desejada.CINDERELA— Seja bem-vinda, senhorita Bela Dubois! — um dos dois homens fantasiados de guardas da realeza cumprimenta ao ver meu convite.Apenas sorrio e aceno, passando rápido antes que ele descubra a farsa.O vestido é longo demais, tenho que levantar um pouco para andar melhor, o que dá um vislumbre do sapato que parece ser de cristal, quando na verdade o material é bem confortável por dentro.Esse treco é caríssimo. A Bela é louca de me pedir para usar.Entro no salão do castelo e sou brindada com puro luxo. Tem que se ter muito poder para morar em um castelo em plena Copacabana, e poder é o que os irmãos Seven mais tem. Um poder obscuro e manchado de sangue. A máfia Seven é a maior no Brasil. Nenhuma facção ou máfia conseguiu destroná-la. O que mais tem no jornal são tentativas, claro que camufladas por crimes “normais”.Eles mandam nos jornais... na verdade mandam em tudo, até na polícia. Sei que até os irmãos da minha madr
Três meses antes do baile...HENRY— Pai, o que estamos fazendo aqui? O senhor só nos reúne de portas fechadas quando o assunto é grave. — Ouço o questionamento de Raoul.Não dou muita atenção, estou focado no celular onde acabo de receber um vídeo de Anastácia nua me convidando para uma noite quente entre suas pernas.Gostosa demais! Essa ruiva é uma das minhas garotas favoritas quando o assunto é sexo casual. Sempre fogosa e disposta a tudo para agradar.Meu pai limpa a garganta no seu costume de chamar a atenção assim.Só tenho tempo de responder “chego depois da meia noite”.Hoje a noite vai ser agitada.Finalmente, com todos olhando em sua direção, nosso pai começa:— Vocês sabem o último desejo de sua mãe.— Ela quer ver do céu todos os filhos casados. — Raoul responde, mesmo sem meu pai realmente perguntar.Adolescentes!— Exato. A minha última obrigação com a mãe de vocês é obrigá-los a casar e aumentar a família. E eu farei isso, se necessário.— Parece que voltamos alguns sé
Um mês antes do baileCINDERELA— Cindy, você viu meu vestido lilás? — a porta do meu quarto abre sem aviso prévio e Anastácia já vai falando.Quarto é forma de falar. Eu durmo e moro em um pequeno cômodo nos fundos do imóvel que era dos meus pais, foi construído originalmente para ser um quarto de empregada, o que não deixa de ser, já que eu sou a empregada. Escrava, sendo mais realista.Rapidamente coloco a toalha na frente do corpo. O que não é o bastante para esconder a falta de curvas e carne.Droga! Anastácia sempre surge na hora errada.Não que eu tenha vergonha do meu corpo ou algo assim, só não gosto de não ter privacidade. E o meu quarto não tem sequer fechadura. Segundo a minha madrasta é para impedir que eu traga homens para fornicar. Mas a verdade é outra. É um verdadeiro pesadelo.Lady Tedesco é uma megera que se acha a própria rainha da Inglaterra. Ela não liga para mais ninguém além de si.Chego a pensar que se deve ao fato do seu nome ser Lady. Será que os pais dela s
HENRY— O que vai fazer com essa arma, porra?Eu não estou acreditando que meu irmãozinho pretende fazer isso.Raoul está segurando a arma do policial corrupto e ordenando que desça a calça.— Vou enfiar no rabo dele.O homem arregala os olhos. Está algemado depois que o peguei usando nosso nome para extorquir pequenos comerciantes. Os Seven jamais fariam isso, extorquimos é grandes empresas, ameaçamos poderosos, nunca os oprimidos.— Só pode estar maluco! — É impossível não rir enquanto falo.— Foi o que ele disse que faria com aquela vovô do mercadinho. Nada mais poético que o otário morrer assim, com um cano no rabo.— Sim, esse monstro me disse essa pouca vergonha.Me viro para a voz e só uma pergunta me ocorre:— O que essa mulher ainda faz aqui?— É bom que ela veja o que acontece com pessoas como ele, não é não? — Ele começa certo do que fez e acaba com dúvida.— Não sei quem é mais pirado, você ou o Florian. Tire essa senhora daqui — digo me virando para os capangas conosco.V
CINDERELA— Meu Deus, Bela! — Exclamo ao abrir a janela e encontrar Bela onde menos gostaria. — Não faz isso comigo. Você quer mesmo me matar do coração. Só pode.— E por que eu iria querer matar minha única amiga? — Ela sorri e se vira para mim, seus cabelos castanhos voando para todo lado.A garota tem toda uma casa para escolher qualquer lugar onde ler, mas ela prefere subir até o telhado.Ela adora livros de aventura, e acha sua vida monótona demais. O sonho da minha amiga era ser policial, mas descobriu que ficaria apenas no sonho já que seu pai não a deixa fazer nada perigoso. Acho que é por isso que ela vive subindo nas coisas.— Por favor, só converse comigo quando estiver com os dois pés no chão desse quarto. — Cruzo os braços.— Medrosa! — Ela fecha o livro e sobe calmamente como se fosse uma gata andando pelo telhado, até passar pela janela e entrar. — Pronto.— Depois diz que não precisa de babá — provoco.Sei que ela odeia o fato de que o pai me contratou para fazer compa