FELIPEAdam sempre foi o mais calado de nós, mesmo antes do acidente. Isso nunca me importou, porém hoje o seu silêncio está me incomodando.— Devíamos ver se Cinderela não é compatível — sugiro. Só para ter o que dizer.— Liga para ela. — Ele fala e começa a mexer no celular. O silêncio volta a reinar.É o que faço. Mas ligo para o Raoul. Nosso pai contou sobre a gravidez. Não quero dar a notícia de uma tragédia para uma mulher grávida.Sei que é uma chance quase nula, mas não custa tentar. Estou prestes a enlouquecer sentado nesse carro. Por que Henry tem esse tipo sanguíneo? Só pode ser pegadinha do destino, pois ninguém mais na nossa família tem, e, por tudo que sabemos, é algo genético.E Anastácia, como pode apenas ela na família Tedesco ter o mesmo sangue raro que meu irmão?É mesmo uma pegadinha do destino.Por mais que Anastácia seja a pessoa menos indicada, pelo menos existe essa chance. Se aquela mulher não aceitar nenhuma proposta, eu juro que tiro o sangue dela a força.N
CINDERELA— Está melhor? — Amaymon pergunta limpando as lágrimas em meus olhos.— Sim — balanço a cabeça.— Vamos sentar? Quer uma água?Não respondo, simplesmente porque meu olhos encaram quem menos imagino ver aqui: Anastácia, seguida por um médico, sua mãe e sua irmã.— O que está acontecendo?Ele segue meu olhar.— Ela vai doar sangue.— Mas eu posso doar? Ou não? — Agora não me lembro se grávidas podem doar sangue. Minha mente está bagunçada demais para sequer alinhar o que sei do que acho que sei.— Apenas o meu sangue é compatível, querida traidora. — Ela se aproxima dizendo, seu sorriso é radiante, para quem não a conhece.— Obrigada por fazer isso... — começo a dizer, mas ela me interrompe com uma risada, como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo.— Eu não vou deixar meu doce ex amante morrer — faz uma pausa —, se vocês me derem o que quero.— E o que é? — pergunto, sabendo que não vou gostar da resposta.A risada cessa e o sorriso some.— Uma aliança nesse dedo
CINDERELAEstamos todos reunidos na sala de espera mais uma vez.Enfrentei Anastácia, que não me queria por perto, e as recomendações dos meus cunhados depois do desmaio dizendo que era melhor eu ficar em casa. Nem pensar, quero passar pelo menos algumas horas do meu dia aqui, o mais perto que posso do meu marido.Acabei de ser liberada, mas vou esperar um pouco antes de voltar em casa. O médico quer avisar algo. Por isso estamos todos reunidos na sala de espera, inclusive Anastácia e sua mãe. Só Drizella que foi embora e não voltou mais.Finalmente o médico chega. Levantamos todos ao mesmo tempo, como que ensaiados.— Foi um sucesso. O seu filho respondeu bem e já foi transferido — diz olhando diretamente para Amaymon.Vinte e quatro horas depois da cirurgia, esse foi o tempo que demorou para ele ser transferido para um dos quartos.— Posso vê-lo? — pergunto. Sei que a prioridade seria seu pai, mas quero tanto vê-lo.— Ele está dormindo, senhora, sob efeitos de remédios.— Eu que dev
O amor é uma flor azul Que desabrocha onde é desejada.CINDERELA— Seja bem-vinda, senhorita Bela Dubois! — um dos dois homens fantasiados de guardas da realeza cumprimenta ao ver meu convite.Apenas sorrio e aceno, passando rápido antes que ele descubra a farsa.O vestido é longo demais, tenho que levantar um pouco para andar melhor, o que dá um vislumbre do sapato que parece ser de cristal, quando na verdade o material é bem confortável por dentro.Esse treco é caríssimo. A Bela é louca de me pedir para usar.Entro no salão do castelo e sou brindada com puro luxo. Tem que se ter muito poder para morar em um castelo em plena Copacabana, e poder é o que os irmãos Seven mais tem. Um poder obscuro e manchado de sangue. A máfia Seven é a maior no Brasil. Nenhuma facção ou máfia conseguiu destroná-la. O que mais tem no jornal são tentativas, claro que camufladas por crimes “normais”.Eles mandam nos jornais... na verdade mandam em tudo, até na polícia. Sei que até os irmãos da minha madr
Três meses antes do baile...HENRY— Pai, o que estamos fazendo aqui? O senhor só nos reúne de portas fechadas quando o assunto é grave. — Ouço o questionamento de Raoul.Não dou muita atenção, estou focado no celular onde acabo de receber um vídeo de Anastácia nua me convidando para uma noite quente entre suas pernas.Gostosa demais! Essa ruiva é uma das minhas garotas favoritas quando o assunto é sexo casual. Sempre fogosa e disposta a tudo para agradar.Meu pai limpa a garganta no seu costume de chamar a atenção assim.Só tenho tempo de responder “chego depois da meia noite”.Hoje a noite vai ser agitada.Finalmente, com todos olhando em sua direção, nosso pai começa:— Vocês sabem o último desejo de sua mãe.— Ela quer ver do céu todos os filhos casados. — Raoul responde, mesmo sem meu pai realmente perguntar.Adolescentes!— Exato. A minha última obrigação com a mãe de vocês é obrigá-los a casar e aumentar a família. E eu farei isso, se necessário.— Parece que voltamos alguns sé
Um mês antes do baileCINDERELA— Cindy, você viu meu vestido lilás? — a porta do meu quarto abre sem aviso prévio e Anastácia já vai falando.Quarto é forma de falar. Eu durmo e moro em um pequeno cômodo nos fundos do imóvel que era dos meus pais, foi construído originalmente para ser um quarto de empregada, o que não deixa de ser, já que eu sou a empregada. Escrava, sendo mais realista.Rapidamente coloco a toalha na frente do corpo. O que não é o bastante para esconder a falta de curvas e carne.Droga! Anastácia sempre surge na hora errada.Não que eu tenha vergonha do meu corpo ou algo assim, só não gosto de não ter privacidade. E o meu quarto não tem sequer fechadura. Segundo a minha madrasta é para impedir que eu traga homens para fornicar. Mas a verdade é outra. É um verdadeiro pesadelo.Lady Tedesco é uma megera que se acha a própria rainha da Inglaterra. Ela não liga para mais ninguém além de si.Chego a pensar que se deve ao fato do seu nome ser Lady. Será que os pais dela s
HENRY— O que vai fazer com essa arma, porra?Eu não estou acreditando que meu irmãozinho pretende fazer isso.Raoul está segurando a arma do policial corrupto e ordenando que desça a calça.— Vou enfiar no rabo dele.O homem arregala os olhos. Está algemado depois que o peguei usando nosso nome para extorquir pequenos comerciantes. Os Seven jamais fariam isso, extorquimos é grandes empresas, ameaçamos poderosos, nunca os oprimidos.— Só pode estar maluco! — É impossível não rir enquanto falo.— Foi o que ele disse que faria com aquela vovô do mercadinho. Nada mais poético que o otário morrer assim, com um cano no rabo.— Sim, esse monstro me disse essa pouca vergonha.Me viro para a voz e só uma pergunta me ocorre:— O que essa mulher ainda faz aqui?— É bom que ela veja o que acontece com pessoas como ele, não é não? — Ele começa certo do que fez e acaba com dúvida.— Não sei quem é mais pirado, você ou o Florian. Tire essa senhora daqui — digo me virando para os capangas conosco.V
CINDERELA— Meu Deus, Bela! — Exclamo ao abrir a janela e encontrar Bela onde menos gostaria. — Não faz isso comigo. Você quer mesmo me matar do coração. Só pode.— E por que eu iria querer matar minha única amiga? — Ela sorri e se vira para mim, seus cabelos castanhos voando para todo lado.A garota tem toda uma casa para escolher qualquer lugar onde ler, mas ela prefere subir até o telhado.Ela adora livros de aventura, e acha sua vida monótona demais. O sonho da minha amiga era ser policial, mas descobriu que ficaria apenas no sonho já que seu pai não a deixa fazer nada perigoso. Acho que é por isso que ela vive subindo nas coisas.— Por favor, só converse comigo quando estiver com os dois pés no chão desse quarto. — Cruzo os braços.— Medrosa! — Ela fecha o livro e sobe calmamente como se fosse uma gata andando pelo telhado, até passar pela janela e entrar. — Pronto.— Depois diz que não precisa de babá — provoco.Sei que ela odeia o fato de que o pai me contratou para fazer compa