MELISSA
Quase duas semanas se passaram e eu só falei com o Rick duas vezes. Muito estranho... Da primeira vez foi ele quem me ligou com o pretexto de que precisava me avisar que havia saído da empresa do pai. Isso realmente me pegou de surpresa, nunca imaginei que ele fosse abandonar seu alto cargo na empresa da família e abrir mão das regalias de ser o herdeiro mandão. Ainda cheguei a pensar que ele fosse usar sua posição para me chantagear, colocando o emprego do meu padrasto na berlinda.
Por alguns dias eu tentei digerir essa notícia e pensar no que isso poderia significar para o futuro do Rick, e, claro, no que o motivou a tomar essa decisão. No fundo eu sabia que ele não iria se adaptar fácil a sentar-se atrás de uma mesa em um escritório e lidar com a monoton
MELISSADepois que consegui absorver que o meu desempenho foi realmente positivo, era hora de arregaçar as mangas e entrar em ação. Com a minha aprovação e nota em mãos, eu já podia correr atrás do intercâmbio e finalmente sair em busca do meu sonho. Os dias passaram voando enquanto eu me inscrevia para diversas bolsas para o mestrado no exterior, mas, claro, sempre torcendo para ser aprovada naquela que me levaria à Paris.Eu pesquisei muito a respeito, procurei referências e pessoas que tiveram experiências boas e ruins. Encontrei excelentes faculdades de Artes em vários lugares do mundo oferecendo seus cursos para alunos estrangeiros. Algumas são tão caras que eu precisaria vender um rim mesmo que fosse selecionada, já outras são mais em
RICKNa semana seguinte, recebi uma ligação do consultório do Dr. Scott. A secretária queria confirmar a consulta que estava marcada para a quarta-feira. Antes que eu saísse daquela sala perturbadora, Melissa já havia marcado a próxima consulta e nem me avisou. É claro que não confirmei nada, inventei um compromisso de última hora e a secretária disse que aguardaria minha ligação para remarcar. Pois pode esperar sentada.Após nossa discussão no carro, não nos falamos mais. Melissa ignorou todas as minhas ligações e não respondeu nenhuma mensagem. Eu detesto quando ela se comporta dessa maneira infantil. Ela precisa parar de fugir de mim ou eu vou acabar fazendo alguma besteira.
MELISSAIsso não pode estar acontecendo. “Vamos, Melissa, acorde”. Ele realmente acha que é simples assim? Se desculpar e me pedir em casamento? Pelo amor de Deus, o mundo só pode estar girando para o lado errado! E por que eu não consigo parar de vomitar? Que droga! Isso só pode ser um pesadelo... eu quero acordar agora!Rick não sai do meu lado, está segurando meus cabelos enquanto me debruço sobre o vaso sanitário. Eu quero que ele suma da minha frente e tire as mãos de mim. Eu não consigo pensar com clareza e ele me sufoca com indagações. Será que não vê que está meio difícil de responder nesse momento? Ele está me deixando asfixiada e furiosa ao mesmo tempo.Quando enf
MELISSAMeu mundo simplesmente desabou sobre a minha cabeça. Tudo que estava ao meu redor sumiu e eu só consigo sentir meu coração batendo violentamente no meu peito. Por que esse médico está me dizendo essas coisas? Eu não posso estar grávida. Eu também não estou anêmica coisa nenhuma, eu tenho exames que provam isso. São exames de alguns meses atrás, mas as coisas não podem ter mudado tanto assim. Podem?Minha mente trabalha na velocidade máxima. Eu devo estar dormindo ainda e isso é só um pesadelo. Me belisco e sinto a dor no meu braço. “Ai! Estou acordada”. Ele só pode estar mentindo para mim, deve ser uma pegadinha. Tento localizar uma câmera em algum lugar, mas não acho nada. É claro que n&ati
RICKAconteceu como eu temia. Apesar de já ter descartado essa hipótese há algum tempo, esse pesadelo voltou para me fazer cair da cama. Quando ela vomitou após o meu pedido de casamento, eu nem desconfiei, achei que ela só tivesse ficado nervosa. O choro me abalou um pouco, nunca tinha visto minha Mel chorando como naquele dia no chão do meu banheiro, mas também atribuí à emoção com o anel de noivado.Quando soube que ela estava no hospital, praticamente voei até aqui. Não sei nem descrever o que aconteceu depois da ligação do Marcos, que estava, a meu pedido, observando o prédio dela. Só desliguei o telefone e puff... apareci aqui. Eu imaginei mil coisas que podiam ter acontecido, mas a fatídica gravidez não tinha vindo &
MELISSATentei abrir meus olhos pesados e preguiçosos pelo menos umas dez vezes e vagarosamente o quarto do hospital foi voltando a aparecer diante de mim. Aconteceu de novo, eu apaguei. E como eu estou odiando isso. Minha mente está à deriva, perdida e tentando desesperadamente recordar o que me levou a esse exato momento. Alguns flashes começam a iluminar meus pensamentos, uma agitação, algo fez o nervosismo tomar conta de mim. Parece que me envolvi em uma discussão. Mas como, se estou nesse hospital cercada de médicos e enfermeiras? Forço minha cabeça a trabalhar e as imagens vão ficando mais nítidas. Rick esteve aqui. Nós discutimos. Até aí nenhuma novidade, mas por qual motivo dessa vez? Essa é a questão que ecoa na minha mente.Observo o
MELISSASou tomada por uma imensa alegria ao cruzar as portas duplas do hospital e sentir o sol aquecendo meu rosto. Acolho com prazer os raios calorosos do Rio de Janeiro que incidem sobre a minha pele enquanto meu irmão me ampara até o banquinho no jardim em frente. Como é maravilhoso poder trocar aquela camisola ridícula por minhas próprias roupas e deixar esse lugar frio e deprimente. Pedi para me sentar um instante, não por estar me sentindo mal, mas por precisar respirar um pouco desse ar poluído e ouvir os ruídos da cidade antes de seguir para casa.É um novo ano e finalmente estou livre dessa prisão. Como eu senti falta daqui de fora! Apesar de ter passado por um tratamento delicado e bem-sucedido, e de estar me sentindo renovada e pronta para enfrentar o mundo novamente, meus cuidad
MELISSAEu não fazia a menor ideia de onde estava e não tinha tempo para me ater aos nomes das ruas. Eu corria sem parar, mudando de direção em cada esquina. Queria poder cavar um buraco no chão e traçar um túnel subterrâneo, isolado, seguro, inatingível. Diante dessa impossibilidade, me dedico apenas a traçar o caminho mais difícil de ser rastreado por ele.Voo por ruas e avenidas, mal prestando atenção aos sinais de trânsito. Uma força interior me impulsiona a me afastar o máximo possível daquele lugar ameaçador e de qualquer pessoa que pudesse machucar meu filho. Desde que soube que estava grávida, tenho lutado por esse bebê e sei que daqui para frente vai ser sempre assim, eu o protegerei com a minha vida se preciso for.