RICK
Na semana seguinte, recebi uma ligação do consultório do Dr. Scott. A secretária queria confirmar a consulta que estava marcada para a quarta-feira. Antes que eu saísse daquela sala perturbadora, Melissa já havia marcado a próxima consulta e nem me avisou. É claro que não confirmei nada, inventei um compromisso de última hora e a secretária disse que aguardaria minha ligação para remarcar. Pois pode esperar sentada.
Após nossa discussão no carro, não nos falamos mais. Melissa ignorou todas as minhas ligações e não respondeu nenhuma mensagem. Eu detesto quando ela se comporta dessa maneira infantil. Ela precisa parar de fugir de mim ou eu vou acabar fazendo alguma besteira.
MELISSAIsso não pode estar acontecendo. “Vamos, Melissa, acorde”. Ele realmente acha que é simples assim? Se desculpar e me pedir em casamento? Pelo amor de Deus, o mundo só pode estar girando para o lado errado! E por que eu não consigo parar de vomitar? Que droga! Isso só pode ser um pesadelo... eu quero acordar agora!Rick não sai do meu lado, está segurando meus cabelos enquanto me debruço sobre o vaso sanitário. Eu quero que ele suma da minha frente e tire as mãos de mim. Eu não consigo pensar com clareza e ele me sufoca com indagações. Será que não vê que está meio difícil de responder nesse momento? Ele está me deixando asfixiada e furiosa ao mesmo tempo.Quando enf
MELISSAMeu mundo simplesmente desabou sobre a minha cabeça. Tudo que estava ao meu redor sumiu e eu só consigo sentir meu coração batendo violentamente no meu peito. Por que esse médico está me dizendo essas coisas? Eu não posso estar grávida. Eu também não estou anêmica coisa nenhuma, eu tenho exames que provam isso. São exames de alguns meses atrás, mas as coisas não podem ter mudado tanto assim. Podem?Minha mente trabalha na velocidade máxima. Eu devo estar dormindo ainda e isso é só um pesadelo. Me belisco e sinto a dor no meu braço. “Ai! Estou acordada”. Ele só pode estar mentindo para mim, deve ser uma pegadinha. Tento localizar uma câmera em algum lugar, mas não acho nada. É claro que n&ati
RICKAconteceu como eu temia. Apesar de já ter descartado essa hipótese há algum tempo, esse pesadelo voltou para me fazer cair da cama. Quando ela vomitou após o meu pedido de casamento, eu nem desconfiei, achei que ela só tivesse ficado nervosa. O choro me abalou um pouco, nunca tinha visto minha Mel chorando como naquele dia no chão do meu banheiro, mas também atribuí à emoção com o anel de noivado.Quando soube que ela estava no hospital, praticamente voei até aqui. Não sei nem descrever o que aconteceu depois da ligação do Marcos, que estava, a meu pedido, observando o prédio dela. Só desliguei o telefone e puff... apareci aqui. Eu imaginei mil coisas que podiam ter acontecido, mas a fatídica gravidez não tinha vindo &
MELISSATentei abrir meus olhos pesados e preguiçosos pelo menos umas dez vezes e vagarosamente o quarto do hospital foi voltando a aparecer diante de mim. Aconteceu de novo, eu apaguei. E como eu estou odiando isso. Minha mente está à deriva, perdida e tentando desesperadamente recordar o que me levou a esse exato momento. Alguns flashes começam a iluminar meus pensamentos, uma agitação, algo fez o nervosismo tomar conta de mim. Parece que me envolvi em uma discussão. Mas como, se estou nesse hospital cercada de médicos e enfermeiras? Forço minha cabeça a trabalhar e as imagens vão ficando mais nítidas. Rick esteve aqui. Nós discutimos. Até aí nenhuma novidade, mas por qual motivo dessa vez? Essa é a questão que ecoa na minha mente.Observo o
MELISSASou tomada por uma imensa alegria ao cruzar as portas duplas do hospital e sentir o sol aquecendo meu rosto. Acolho com prazer os raios calorosos do Rio de Janeiro que incidem sobre a minha pele enquanto meu irmão me ampara até o banquinho no jardim em frente. Como é maravilhoso poder trocar aquela camisola ridícula por minhas próprias roupas e deixar esse lugar frio e deprimente. Pedi para me sentar um instante, não por estar me sentindo mal, mas por precisar respirar um pouco desse ar poluído e ouvir os ruídos da cidade antes de seguir para casa.É um novo ano e finalmente estou livre dessa prisão. Como eu senti falta daqui de fora! Apesar de ter passado por um tratamento delicado e bem-sucedido, e de estar me sentindo renovada e pronta para enfrentar o mundo novamente, meus cuidad
MELISSAEu não fazia a menor ideia de onde estava e não tinha tempo para me ater aos nomes das ruas. Eu corria sem parar, mudando de direção em cada esquina. Queria poder cavar um buraco no chão e traçar um túnel subterrâneo, isolado, seguro, inatingível. Diante dessa impossibilidade, me dedico apenas a traçar o caminho mais difícil de ser rastreado por ele.Voo por ruas e avenidas, mal prestando atenção aos sinais de trânsito. Uma força interior me impulsiona a me afastar o máximo possível daquele lugar ameaçador e de qualquer pessoa que pudesse machucar meu filho. Desde que soube que estava grávida, tenho lutado por esse bebê e sei que daqui para frente vai ser sempre assim, eu o protegerei com a minha vida se preciso for.
RICKEm um momento eu a tinha, firmemente segura ao meu lado, e no outro momento já não a tinha mais. Ela se desvencilhou de mim habilmente e se pôs a correr para longe. Demoro alguns segundos até assimilar que ela está deliberadamente fugindo e começo a correr atrás dela. Não, dessa vez eu não a deixarei ir embora assim. Ela precisa ouvir o que tenho a dizer, me deixar explicar. Ela está apenas assustada, mas vai entender quando eu alcançá-la.Travamos uma luta e tudo se passa como um furacão, até que ela consegue escapar por meus dedos. Quando consigo passar pelo portão, vejo-a dobrando a esquina e a sigo. Ao alcançar a mesma esquina, ela já está no final da rua, atravessando descuidadamente para pegar outra direção. Eu a
MELISSALimpa e fresca é como me sinto neste momento e é só no que quero pensar por alguns minutos. Finalmente pude tomar um banho decente em meu banheiro, deixar a água fazer seu caminho por todo o meu corpo, livre de agulhas, soro e curativos. Sento-me na cama, acomodando-me em meus travesseiros cheirosos. A toalha ainda enrolada na cabeça. Nossa, como é bom estar em casa, já estava esquecendo essa sensação pacífica que o lar me traz. Afinal, foi preciso mais de uma noite em observação, já que minha pressão ficou completamente fora de controle.Passei por uma nova bateria de exames. Ainda que eu tivesse deixado aquele mesmo hospital naquele mesmo dia, a médica queria ter uma noção imediata do meu quadro geral. Ao constatar minha fr&aac