RUBY PORTMANConsultei o horário no relógio graciosamente repousado no meu pulso e pressionei os meus passos com determinação, ansiosa para ingressar no recinto da empresa antes que o frio e cortante vento alcançasse-me novamente.Empunhando os documentos com firmeza contra o meu peito, malabarrei para manter a minha bolsa imóvel no ombro, enquanto a minha mão direita segurava cuidadosamente o precioso café expresso. Os meus passos eram apressados, mas controlados, um equilíbrio entre eficiência e precaução.No meu caminho até a recepção, despejei um rápido cumprimento a Katherine, que estava sozinha atrás do balcão. Ela respondeu com um sorriso e um aceno, ciente da minha pressa. Não podia perder tempo naquele dia, então avancei sem demora em direção ao elevador. Com um toque na superfície polida, as portas se abriram, e eu entrei, pronta para a ascensão até o meu destino.O elevador, que minutos antes transportara um pequeno grupo de colegas, agora me levava sozinha para o meu andar
RUBY PORTMAN "Um fardo muito grande trabalhar numa multinacional." "O Sr. Radcliffe é um homem bastante centrado e disciplinado, temo que não sou capaz de corresponder a todas as expectativas que precisam para esse cargo." Havia chegado o momento em que tudo começava a se encaixar, como peças de um quebra-cabeça complexo que finalmente formavam uma imagem coerente. A demissão de 35 secretárias em um espaço de tempo tão curto era, sem dúvida, um sinal de alerta. O que tornava a situação ainda mais intrigante era o fato de que todas elas davam desculpas esfarrapadas para justificar o seu afastamento. Não, elas não eram demitidas. Elas optavam por se despedir, e havia um padrão claro de evasão relacionado a um homem que parecia estar à beira de um colapso. Não eram demissões, eram renúncias. Os gritos de Harry ecoavam pelas paredes da sala, criando uma atmosfera aterrorizante. Fui retirada do meu estado de choque por mãos fortes que seguraram os meus ombros e me arrastaram para
HARRY RADCLIFFEFLASHBACK ONA caminhada de volta para casa após a escola parecia uma eternidade. Cansado e solitário, preferia ir sozinho, arrastando os meus pés no chão e deixando os pensamentos pesados invadirem a minha mente. As vezes preferia a jornada de quarenta minutos a pé do que pegar sempre o ônibus escolar porque me dava tempo para refletir sobre a minha vida conturbada.Hoje, em particular, a minha raiva por minha mãe, Anne, fervia. Ela era uma boa mãe, mas havia algo sombrio pairando sobre a nossa casa. Eu sabia que, se chegasse em casa cedo demais, havia o risco de encontrar a minha mãe dormindo com o seu amante, algo que me deixava doente só de pensar.Steffan e Íris, não foram comigo hoje na escola. Ambos haviam pegado um resfriado e, por isso, Anne havia decidido que era melhor eles ficarem em casa. Eu estava sozinho, com minha raiva e meus pensamentos pesando sobre os meus ombros frágeis.Minha mãe, de alguma forma, tinha a capacidade de fazer-me sentir culpado. Ela
HARRY RADCLIFFE A caminhada de volta para casa após a escola era como atravessar um cenário prestes a adormecer. O ambiente começava a se impregnar com o frio anunciador do inverno iminente. Uma brisa cortante se infiltrava nas minhas roupas, fazendo-me estremecer a cada passo. As árvores despidas de folhas agitavam os seus galhos como esqueletos dançantes, e o céu, tingido de tons frios, anunciava a chegada de dias mais frios. Eu odeio o inverno como ninguém. Os pássaros, agitados e barulhentos, pareciam zombar da minha jornada solitária. As suas vozes estridentes ressoavam no ar gelado, irritando os meus ouvidos e intensificando a sensação de solidão que me envolvia. Cada assobio e gorjeio era como uma nota desafinada em uma sinfonia melancólica, acompanhando-me na tristeza do meu caminho. A mochila, grande demais para os meus ombros frágeis, pesava como um fardo indesejado. Os cadernos e livros dentro dela pareciam acumular não apenas conhecimento, mas também o peso dos meus pró
RUBY PORTMANDepois de presenciar o surto de Harry, cheguei em casa com um turbilhão de pensamentos. A cena angustiante ainda ecoava na minha mente, fazendo o meu estômago revirar. Pousei a bolsa com mãos trêmulas em cima da mesa, o meu coração batendo descompassado. Caminhei até o banheiro do meu quarto, ignorando a tentação da banheira e deixando que os jatos frios da água lavassem não apenas o meu corpo, mas também a imagem perturbadora que me forcei a testemunhar.A água caía sobre mim como uma chuva gelada, tentando apagar as marcas indeléveis daquele momento. Fechei os olhos e respirei fundo, mas a visão persistia. A expressão de Harry, a dor estampada nos seus olhos, aquelas palavras que ele proferiu com uma mistura de raiva e desespero. O choro preso na garganta finalmente se libertou junto com a água que escorria pelo ralo.Após o banho, vesti uma roupa confortável que mal percebi. Caminhei até a sala, ainda com a mente repleta de pensamentos que, ditos em voz alta, me faria
HARRY RADCLIFFEDois anos de sombras, dois anos afundado em lares temporários, carregando uma carga pesada de incertezas. Dois anos espreitando a escuridão, tentando encontrar uma luz em meio às nossas vidas já fragmentadas.Três meses passaram-se desde o meu último aniversário quando a notícia chegou como uma nuvem sombria. Uma carta amassada revelou o retorno do meu pai, saído da prisão algum tempo, agora casado e supostamente determinado a nos tirar deste pesadelo. O ar tornou-se mais denso enquanto eu lia aquelas palavras, antecipando um futuro que, de alguma forma, parecia mais sombrio do que o presente instável que conhecíamos.A ideia de um lar "real" pairava no ar como uma promessa vazia. Eu já havia esquecido como era ter um lugar constante, uma base para ancorar as nossas vidas efêmeras. Mas a perspectiva de voltar a uma suposta normalidade não me trouxe alívio, apenas uma sensação melancólica, tudo isso lembrava-me Anne, e eu não gostava de nenhum pouco dessas memórias.As m
RUBY PORTMANA manhã, apesar de gélida, parecia abraçar-me com uma calmaria incomum. A decisão que pesava nos meus pensamentos não me assaltara impulsivamente; estava ali, latente, após uma noite insone e reflexões bem mais profundas do que eu imaginava. Despertar antes do habitual foi surpreendentemente fácil, assim como chamar um táxi ainda sob a influência do crepúsculo matutino.Quando cheguei finalmente a empresa, Katherine, de semblante sempre impecável, arqueou as sobrancelhas ao me avistar na entrada do arranha-céu. O meu sorriso, suave e controlado, foi destinado a ela, acompanhado de um cumprimento silencioso, não é difícil imaginar que a sua surpresa se deva ao facto de eu estar de volta, seja para pegar as minhas coisas ou permanecer na empresa.Isso faz-me questionar quem mais saberia dos surtos do Harry além do Nicklaus.Atravessei as portas de vidro, cada passo ecoando uma decisão que ainda se desenhava no horizonte incerto.O elevador vazio, um fiel companheiro de roti
RUBY PORTMAN— Oi, Edward! Como vai, irmão desaparecido e que não dá atenção para sua única irmã? — Falei rapidamente mal a chamada foi atendida.— Oi, Ruby, minha querida e adorável irmã! Estou muito bem, e você?— Sempre ótima quando estou falando contigo. — Tentei soar sarcástica e tenho certeza absoluta de que um sorriso traiçoeiro deveria estar enfeitando os lábios dele. — Mas, escuta, ainda não mudou de ideia sobre a Itália, não é? É que sinceramente não acredito que você, tão contrário a ideia de passar mais tempo em Nova Iorque queira justamente fazer isso.— Ruby, já falamos sobre isso. Infelizmente, não posso ir. Tenho planos para o Natal, tal como eu havia dito, a mammina já até aceitou esse facto.— Ah, eu sei, eu sei, mas eu não sou a mamãe, até porque você vê eles a cada seis meses e eu uma vez por ano, não tem nem como comparar. Mas eu continuo pensando que seria incrível se você fosse comigo, faz um ano que não passamos o Natal todos juntos.— Amor, você sabe que eu ad