RUBY PORTMAN
Katherine continuou a orientar acerca do comportamento e conduta que devo manter perante o meu chefe, caso, é claro, eu queira permanecer na empresa.
Tal como dito por Nicklaus, o Sr. Radcliffe é uma pessoa bem temperamental e perfecionista, tornando imensa a lista de secretárias despedidas aparentemente por ou não atenderem os requisitos, ou não aguentarem a pressão.
Por que ele não podia simplesmente ser apenas um rosto bonito?
Assim que retornei à empresa, na minha sala, estava a advogada saindo do escritório do Sr. Radcliffe, acompanhado por ele.
A mesma ri de alguma coisa aparentemente muito engraçada e tocou de forma sutil no peito do homem que ainda mantém a expressão indolente diante de mim.
Sem querer faço contacto visual com ele, mas trato logo de direcionar discretamente o meu olhar a qualquer outro ponto da sala que não fosse eles.
— Boa tarde, senhores — cumprimentei e Melissa virou o seu rosto na minha direção, desfazendo gradualmente o seu sorriso, na verdade, o transformando em algo mais cordial. — Sr. Radcliffe, precisa de alguma coisa?
— Acompanhe a Srta. Maribor ao elevador, ela já está de saída — ele é curto e direto. — Foi um prazer voltar a vê-la, Melissa.
Ela voltou a sorrir de forma sedutora antes dos seus lábios soarem um:
— É sempre um prazer tratar negócios consigo, Harry.
Isso não pode se tornar mais constrangedor para mim...
Evitei fazer uma careta de desagrado — ou ao menos que reparem nela — e esperei pacientemente levar a mulher ao elevador e voltar ao meu trabalho.
Mas é como dizem, felicidade de pobre dura muito pouco, porque mal sento na minha cadeira para o celular fixo tocar e a chamada ser diretamente do escritório do meu superior.
Fechei os olhos e respirei profundamente antes de tirar o celular do gancho.
— Sim, Sr. Radcliffe? Precisa de mais alguma coisa?
— Apresente-se a minha sala, Srta. Portman.
E encerrou a chamada sem me deixar ao menos aprovar ou consentir com as suas ordens.
Mal-educado.
Peguei a agenda que passei a manhã toda a analisar e fui até o seu espaço privado, batendo na porta e entrando logo após a sua autorização.
Ele estava lá, imponente, escrevendo alguma coisa no seu computador enquanto permaneço parada durante muitos segundos até o homem finalmente decidir olhar para mim.
Será que preciso também pedir permissão para me sentar?
— Sente-se, Srta. Portman — digitou mais algumas coisas e pouco depois voltou a encarar-me, apontando o seu lápis na minha direção. — Li o seu currículo e achei ele um tanto quanto entediante, se me permite dizer.
Quase abri a boca em choque, mas fiz questão de demonstrar a minha indignação com um olhar frio.
Quem ele pensa que é? O meu dia nem terminou e já estou a ser despedida? Posso ser despedida por isso? Posso pedir uma indemnização por isso? Não me admira o porquê de tantas terem ido embora.
— Se me permite, senhor, as minhas capacidades profissionais são adequadas para o perfil divulgado, não posso desculpar-me por não ser aquilo que o senhor procura.
Ele encarou-me, indiferente, com os braços esticados enquanto segurava algumas papeladas, avaliando minuciosamente cada expressão minha.
Eu já estava preparada para ser despedida, mudei até a minha postura para caso eu possa sair confiantemente, mas não sem antes o ameaçar em meter um enorme processo, caso isso seja possível.
Mas fui surpreendida com ele jogando uma imensa papelada na mesa.
— Isso é o que veremos, trata-se de uma noite de gala beneficente, em favor de uma associação que está abrindo nos países em desenvolvimento, a Radcliffe 's, que preside essa associação, também é a madrinha desse projeto.
A minha boca quase forma um perfeito, mas permaneci o encarando plena.
— Feche o orçamento para o evento e verifique as reservas para recebermos os investidores — continuou a fazer contacto visual comigo. — Pode se retirar, Srta. Portman.
Demorei alguns segundos para processar toda informação, mas logo abanei a cabeça e alcancei rapidamente a papelada.
— Licença, senhor — levantei e sai da sua sala.
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O dia terminou sem mais importuno, e graças a Deus, o sol já havia se escondido e o céu foi tomado por um negrume que envaidecia as estrelas, embora as luzes de Nova Iorque tratassem de ofuscá-las.
Organizei a minha mesa e a seguir a bolsa, guardando o arquivo da tal gala para começar o meu trabalho em casa. Eu com certeza irei arrepender-me por estar a levar trabalho no meu local de descanso.
Mas considerei o seguinte: caso eu o termine rápido, eu também poderei descansar mais, e então todo mundo estará feliz.
Entre os meus devaneios nem percebi a figura imponente saindo da sua sala, e eu observei-o pela minha visão periférica, caminhar até a saída.
— Até amanhã, Srta. Portman — ele despediu e nem me deu tempo de fazer o mesmo.
De repente o meu celular começou a vibrar com as mensagens de Milena, onde ela me notifica que já está esperando por mim na frente do edifício.
Apresso-me em apagar as luzes e sair rapidamente também da minha sala, mas no fim do corredor ainda posso avistar o Sr. Radcliffe esperando também pelo elevador.
E o homem parecia furioso, seja lá com quem discutisse ao celular, evitei olhar para ele, e então apertei continuamente o botão do elevador para que ele chegasse mais rápido.
Quando finalmente chegou, ambos entramos nele, afastados um do outro, num silêncio sepulcral, já que ele não fazia questão de sequer desviar o seu olhar do celular.
Milena voltou a ligar para mim e atendi de um jeito meio desesperado.
— Mila, já estou a descer, o quê que se passa?
— Acho que vou ser multada, aparentemente eu estava numa zona de estacionamento reservada e agora estou numa proibição.
— Calma, eu já estou a descer, vai cruzando os dedos.
Desliguei o aparelho e o voltei na bolsa, num suspiro audível quase levantei a mão e gritei um aleluia quando finalmente as portas abriram-se.
Caminhei o mais rápido possível até chegar à zona de estacionamento onde estava o carro da Milena.
— Peço imensas desculpas pela demora, o elevador demorou uma eternidade para chegar — eu disse e fechei a porta ao entrar.
— Sem problemas, como foi o primeiro dia? Você precisa contar-me tudo! — Exigiu e ligou novamente o carro para conduzir.
Esfreguei a cara freneticamente e encostei a minha cabeça no airbag.
— O meu chefe é um autêntico filho da mãe, nunca conheci um homem tão mal-educado quanto ele, chega a ser inacreditável — ouvi a risadinha da ruiva ao meu lado. — E eu pensando que seria simpático e receptivo quanto o diretor dos recursos humanos.
— Então, Ruby, relaxa, positivismo — ela falou tranquilamente e pousou uma das suas mãos nas minhas costas, esfregando elas num gesto de carinho. — Amanhã é um novo dia.
Se eu sobreviver.
— Pois é — finalizei a conversa e troquei rapidamente a conversa pelo trajeto.
O caminho não é longo da empresa para o meu apartamento, mas o problema é o trânsito que abraça as estradas no final do dia, já que absolutamente todo mundo quer voltar para casa.
E passou-se meia hora de estrada que faço normalmente pela metade, Milena recusou subir até ao meu apartamento para ao menos tomar uma taça de vinho com a desculpa de que estava tão cansada quanto eu, a entendo.
Abri a porta e as luzes do apartamento ainda estão apagadas, indicando que Sophia ainda não havia chegado.
Você só precisa de um banho e um vinho, Ruby, para levantar esse astral.
Joguei a bolsa em cima da minha cama e enchi a banheira com água quente, colocando sais de banho de essência de lavanda, perfumando o espaço todo.
Tirei a maquiagem e a roupa, entrei na banheira e senti pouco a pouco todos os meus músculos relaxarem.
Era tudo o que eu mais precisava.
Infelizmente não demorou mais do que uma hora porque ainda precisava fazer o jantar.
Enrolei-me em um robe e fui à procura de uma camisola de dormir confortável e as minhas pantufas atiradas em algum canto do meu quarto, por fim penteei o meu cabelo e parti rumo à cozinha.
Abri uma garrafa de vinho branco enquanto no fogão o macarrão a parisiense cozia, a rádio tocava na sessão nostalgia e embora o som estivesse baixo, sou incapaz de parar de cantarolar.
Liguei o meu computador que repousava em cima da mesa da cozinha e coloquei os arquivos do jantar beneficente ao lado, enquanto servia alguns petiscos no prato e sentava na mesa.
Mas antes de começar a fazer o meu trabalho, digitei calmamente Harry Radcliffe na barra de pesquisa do G****e.
— Vou descobrir quem é você, Harry.
RUBY PORTMAN Harry Radcliffe é um homem estranho...Afirmar isso não deveria ser uma surpresa, mas falar isso com essa ênfase toda só me reforça que devo tomar bastante cuidado se quiser manter meu emprego, se é que ele já está não esteja em jogo.No total de trinta e cinco secretarias passaram pelas mãos desse homem em um período de três anos, trinta e cinco secretarias. Um absurdo!Procurei em todas as colunas sociais que tinham seu sobrenome e fiquei um pouco surpresa com as poucas informações que constam em quase todas elas.Aparentemente, a família Radcliffe é bastante reservada e as únicas polêmicas envolvidas com a empresa Radcliffe 's é a permanência — digamos que bastante temporária — das secretárias executivas.E para variar, poucas, pouquíssimas mesmo aceitavam uma entrevista para clarear as dúvidas a respeito desses ocorridos, e para minha decepção as únicas desculpas foram: um fardo muito grande trabalhar numa multinacional, ou, Sr. Radcliffe é um homem bastante centrado
MILENA CHRISTIAN O vento carrega consigo uma temperatura úmida e morna, fazendo meus cabelos esvoaçarem com a brisa. A paisagem se vangloria em tons de laranja, amarelo e vermelho, tornando a época extremamente agradável e bela.Memórias distantes me fazem afirmar sempre que Outono é minha época preferida do ano, nem sequer a Primavera e nem mesmo o inverno têm a mesmo encanto que o Outono.E ao mesmo tempo, doces e velhas lembranças tomam minha mente em nostalgias leves, que de certa forma me fazem sorrir.O que considero extremamente inapropriado neste momento.Suspiro e fecho a janela de vidro, notando que algumas folhas úmidas entraram no cômodo quente e pousam na carpete bege que toma todo o piso da sala.Sento na mesa, e o álbum de fotos aberto descansa ao lado do envelope na mesa de escritório — como se fosse apenas um objeto, se é que ele não passasse apenas disso — ou pelo menos deveria.Suspiro e passo os dedos delicadamente sobre a peça dourada que adorna meu dedo anelar, e
MILENA CHRISTIAN Sem chuva, sem flores....Quando eu tinha dezanove anos, eu era apenas uma simples jovem garota, não tinha muita noção das questões profundas que envolviam o coração e a vida em si.Portanto, a chegada de um homem maduro não foi indiferente para mim, eu poderia aprender com ele a ser uma mulher madura, afinal ele com certeza tinha muito mais experiências da vida do que eu.Lembro que Enrique chegou como um furacão, derrubando qualquer muralha que houvesse. Ele era estonteante para um diretor do departamento de projetos arquitetónicos na faculdade de artes.E por céus, bastante inteligente e charmoso, fazendo questão de demonstrar todo seu esplendor em qualquer lugar por onde passasse.De fato eu fui a primeira em lhe conquistar mesmo sabendo que a competição em chamar a atenção do galã era enorme.Mas independentemente de tudo, foi para mim que seus olhos brilharam, foi para mim que aquele sorriso cheio de segundas intenções foram direcionados, foi tudo exclusivament
RUBY PORTMAN O dia se estendeu para uma metade de chuva imensa para outra de clima gélido e instável.E nesse período todo fiquei sozinha e preferi almoçar dentro da empresa, embora que duas sanduiches de fiambre de peru e um pacote de biscoitos não seja considerado um almoço decente e muito menos saudável.Harry realmente não voltou e tão pouco ligou para me notificar de alguma coisa, e o relógio já havia tocado oito da noite algum tempo, portanto, apenas organizei seu escritório para o poder trancar, assim como o meu.Ao menos consegui organizar mais da metade da papelada para o jantar beneficente, o resto levarei para casa para o terminar — como sempre.Harry precisa analisar tudo antes de sexta-feira, pois será o dia em que eu preciso verificar tudo no espaço para se seguir todo o evento no sábado.Inclusive preciso urgentemente arranjar um vestido de gala.Olho vagamente na camisa social tingida de castanho e a dobro com cuidado para colocá-la dentro da minha bolsa junto com a p
RUBY PORTMANPego com força a base do sobretudo enquanto cruzo a vasta entrada do edifício para o enfim adentrar. O vento vem acompanhando de um chuvisco leve; faço questão de me recompor de imediato, passando a mão sobre o sobretudo para tirar qualquer marca de vinco na roupa.Cumprimento rápido Katherine e aproveito o elevador aberto com outros funcionários dentro dele, verifico novamente o meu horário no relógio e aperto o botão do andar impaciente, como se isso o fosse acelerar. Eu estava consideravelmente atrasada em dez minutos, e tudo se deu em causa da circunstância deprimente de Milena, considerar aquilo deprimente deveria ser até um elogio, e eu não posso menos do que furiosa com toda situação e com tudo que está sendo acarretado por ela. Quem aquele homem pensa que é? Um deus? O melhor homem da face da terra? Como um homem tem um coração tão ruim assim para abandonar uma mulher grávida do seu próprio filho, e ainda mais, não sendo qualquer mulher... É Milena, aquela em
RUBY PORTMAN Se há uma coisa que eu estou, com toda certeza do mundo é cansada, exausta, estafada, e eu sinto que nem todos os sinónimos dessa palavra serão suficientes para definir o tamanho do meu cansaço.Além do mais, insistimos que Milena dormisse em nossa casa durante algum tempo, pelo menos até ela resolver tomar coragem para ir visitar seu pai em Califórnia, e com isso, minha cama sendo consideravelmente a maior da casa, tenho dormido meio apertada, já que o sofá é desconfortável o suficiente para afugentar qualquer pessoa que considere dormir nele.Contudo, é sábado de manhã, o dia do jantar.Passei os últimos dois dias atolada até ao pescoço de trabalho, e como dito na quarta-feira por Harry, ele realmente não deu a graça de sua presença durante esse tempo todo, e a única forma que temos nos comunicado foi exclusivamente por e-mails. Tive que ir indo verificar todas as reservas vip mandadas por ele, o menu, o espaço, absolutamente tudo e um pouco mais, aparentemente o jan
RUBY PORTMANBorrifo por fim o perfume atrás das minhas orelhas e um pouco nos pulsos, finalizando assim toda a construção sensual em minha aparência.Definitivamente eu estou com a autoestima nas alturas...Saio por fim do quarto com a bolsa clutch preta e o sobretudo da mesma cor em minhas mãos, Sophie e Milena descansam no sofá enquanto veem, distraidamente, algum filme de fantasia, mas quando enfim reparam em mim não me contenho e faço uma voltinha com o maior sorriso estampado no rosto.— Uau, é a única coisa que consigo processar na cabeça — Sophie comenta divertida, — Esse vestido ficou-te melhor do que eu esperava.— Bom.., pelo menos sei que não ficarei acanhada no meio de tanta gente influente. — digo enquanto guardo as chaves de casa, o celular e o pequeno bloco de notas com caneta dentro da bolsa. — Meu chefe é pontual demais, tenho que ir — as despeço com um beijo no ar.Mal saio do prédio e já encontro uma limousine estilo presidencial estacionada a frente da entrada pri
RUBY PORTMAN Meu corpo automaticamente para, meu coração faz questão de bombear desenfreadamente e sinto por alguns segundos que estou prestes a suar frio. Meu superior nota minha hesitação e também para a fim de me analisar minuciosamente. Seus olhos pousam em mim e não leio absolutamente nada em sua expressão, como sempre.Respiro fundo. — Sente-se bem, Srta. Portman? — ele pergunta de forma calma, restando-me assim o assentimento que saiu quase frenético. — Tem certeza? — seus dedos firmam um pouco em minha pele e sinto novamente aquela bendita descarga elétrica. O que ele está fazendo?Logo sou interrompida, e antes de conseguir voltar a responder sua pergunta, fomos ambos obrigados a olhar para os convidados que se aproximaram ainda mais de nós de forma repentina. Fernand já não parece o mesmo de antes, aliás, não é pra menos, no entanto continua lindo como sempre foi, seus fios loiros estão mais escurecidos e sua atual barba rala acompanha a mesma tonalidade, evidenciando